Subcomandante da 8ª CIPM tem artigo premiado em concurso nacional

Tenente Gisléia Aparecida Ferreira teve seu artigo classificado em 1º lugar no 2º Concurso Nacional…

13 de dezembro de 2021 às 11h20m

Tenente Gisléia Aparecida Ferreira teve seu artigo classificado em 1º lugar no 2º Concurso Nacional de Artigos Científicos para Profissionais da Segurança Pública no Rio de Janeiro/Paulo Henrique Sava

Trabalhos do Sargento Maximilian e 1ª Tenente Gisléia Aparecida Ferreira foram premiados em concurso nacional no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação PM 

A 1ª Tenente Gisléia Aparecida Ferreira, subcomandante da 8ª Companhia Independente da Polícia Militar (8ª CIPM) foi premiada durante o 2º Concurso Nacional de Artigos Científicos para Profissionais da Segurança Pública, realizado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. O artigo “Sou mulher e policial militar: problematizações acerca da presença de mulheres em meio à corporação militar do Estado do Paraná” ficou em 1º lugar no eixo 4 – História da Polícia Militar. A cerimônia de premiação aconteceu no último dia 03. O sargento Maximilian, que também integra o 4º Comando Regional de Ponta Grossa, teve seu trabalho classificado em 2º lugar no eixo “Gestão de Pessoas”.
Gisléia decidiu inscrever o seu trabalho no início do ano depois de ver os eixos disponíveis. Em entrevista à Najuá, a tenente contou que, mesmo sem esperar uma classificação em 1º lugar, estava ansiosa para saber o resultado.

“Eu sempre mandava e-mail para a central perguntando se já tinha o resultado, e eles diziam que ainda não, que estava com a banca. Estes dias, abri o meu e-mail e vi que tinha um da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) dizendo que o meu atrigo tinha sido classificado em primeiro lugar no meu eixo. Imagine a alegria que eu fiquei, nem acreditei mesmo. Eu queria ter sido classificada, mas em primeiro lugar nem imaginava”, frisou.

O que chamou a atenção de Gisléia foi a grande quantidade de mulheres que ocupam cargos de oficiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro presentes durante a cerimônia. “Tinha capitãs, majores, coronéis que estavam assistindo as palestras e no final elas chegaram a conversar comigo, dizendo que o que eu pesquisei representa elas também, porque, como diz o título do meu artigo, são problematizações, as dificuldades, as nossas conquistas aqui no Paraná nestes 44 anos são as mesmas no Brasil inteiro. Elas se viram como se fosse a carreira delas também, o que foi muito interessante”, frisou.

Em seu trabalho, Gisléia registrou que o primeiro concurso para admissão de mulheres na PM/PR foi realizado em 1977 para contratação em 1978, período no qual o Brasil vivia o final da Ditadura Militar.

“As pessoas tinham raiva dos militares porque todo mundo sabe como foi a história, com torturas, muita briga, luta, pessoas tendo conflitos, e os militares estavam do lado do governo e eram utilizados por ele. Como estava se abrindo a democracia naquela época, resolveu-se mudar a imagem da Polícia Militar, pois nós éramos policiais militares naquele período e os militares que faziam esta frente eram do Exército. Nós estávamos ali como braço do Exército, mas não era Exército. Então, eles resolveram abrir as vagas para as mulheres como uma forma de deixar mais bonita a imagem da PM, de mostrar este lado mais humano, mais terno e carinhoso, para tentar fazer com que a população tirasse a ideia de truculência, morte e tortura”, afirmou.

A primeira turma de mulheres se formou na Escola da Polícia Militar do Guatupê, em Curitiba. Quatro delas foram para o concurso de oficial junto com os homens. Desta turma, a tenente-coronel Rita Aparecida de Oliveira foi a 1ª colocada de todo o curso. Ela foi uma das maiores batalhadoras pelas conquistas das mulheres dentro da PM/PR. “O quadro de policiais femininas ia até o posto de capitão, mas ela foi brigando e conseguiu chegar até coronel. Devemos muito a ela, que diz que nunca fez nada sozinha, sempre tendo bastante gente por perto, mas ela sempre encabeça tudo e ainda hoje luta pelo policiamento feminino, pela nossa valorização e do trabalho dentro da instituição”, afirmou.

Trajetória de Gisléia – A tenente já está há quase 26 anos na Polícia Militar. Em 1996, quando passou a integrar a corporação, os quadros masculino e feminino eram separados. “Então nós entramos em um concurso para 40 policiais femininas em Guarapuava. Depois de seis meses de formação, nós fomos trabalhar com homens. A nossa formação foi normal, todas as matérias que eles tinham nós também tínhamos. Não tem por que haver diferenciação. Com o tempo, fomos conseguindo alguns direitos, e hoje temos 50% (das vagas em concurso) femininas e 50% masculino. O Paraná é o único estado do Brasil que tem esta definição, os demais limitam”, comentou.

Assim que terminou sua formação, em fevereiro de 1997, Gisléia foi escalada para trabalhar na P2. No ano seguinte, em 1998, foi realizado um concurso para cabo, com 300 vagas masculinas e apenas duas femininas. A tenente conseguiu uma das vagas; a outra ficou com uma candidata de Curitiba.

Em 1999, foi realizado um concurso para sargentos da PMPR. Na oportunidade, não foi ofertada nenhuma vaga feminina, lamentou a tenente. “O pessoal que fez o curso de cabo comigo, alguns deles saíram sargentos no outro ano e eu não pude porque não tinha vaga. No ano seguinte, saiu outro concurso com 60 vagas, sendo quatro femininas em 2001. De lá até 2011, eu fiquei como 3ª sargento. Eu vim como sargento em 2006”, comentou.

Gisléia está há 15 anos em Irati. Neste período, entre outras funções, ela já foi oficial de comunicação, comandante da Polícia Ambiental em Guarapuava e voltou para a 8ª Companhia, onde assumiu como subcomandante da corporação. A tenente acredita que a presença feminina na Polícia Militar aproximou a corporação da população e humanizou o trabalho. Isto se fortaleceu a partir do ano 2000, quando começou a ser feito o policiamento comunitário.

“O que é o policiamento comunitário? É a atuação preventiva, é o policial andando de viatura pelo bairro, descendo, conversando com a população, indo até as escolas, aos conselhos da comunidade e da criança e do adolescente, tendo este contato direto com a população. A mulher tem um melhor trato com as pessoas, com crianças, de conseguir conversar e eles chegarem em nós. Os homens também têm isto, é só querer e ter vontade de desenvolver mais, e a formação hoje na PMPR está indo por este eixo, de policiamento comunitário, de aproximação, de ouvir as pessoas e estar sempre do lado delas para que sejamos vistos como amigos da população”, frisou.

Mulheres na 8ª CIPM – Atualmente, entre 130 policiais, 20 mulheres integram o quadro da 8ª Companhia. Algumas trabalham no COPOM, no setor administrativo e na radiopatrulha. Entre as oficiais, além de Gisléia, está também a Tenente Thaísa Nabozny, oficial de comunicação da 8ªCIPM e comandante do 3º Pelotão de Imbituva. Em cidades como Imbituva e Teixeira Soares, as policiais trabalham nas radiopatrulhas. “Aqui está bem distribuído, em todas as áreas estamos presentes e fazendo o nosso melhor, que é prestar segurança pública igual aos homens. Não queremos que ninguém veja diferenciação nenhuma nisso porque temos o treinamento igual”, afirmou.

Recentemente, a PMPR realizou o Curso de Operações Especiais (COESP). A tenente Bruna, de Maringá, foi a primeira oficial do estado a concluir o curso. Dos 40 alunos que iniciaram as aulas, apenas 12 conseguiram concluí-las, conforme Gisléia. “Quem não se adapta, não tem um perfil para aquele curso, vai pedindo para ir embora, e só se forma quem aguenta todo o curso. A Bruna raspou a cabeça, tem uma forma física muito boa e se preparou durante três anos para o curso. Não tem uma área em que a mulher não consiga atuar dentro da Polícia Militar, é só questão de treinamento. Se a pessoa não tiver treinamento, não vai chegar ao seu objetivo”, pontuou.

Gisléia dedicou sua premiação a todos os professores que participaram da sua vida, a incentivando a ler, estudar e se aprimorar. Ela aconselha os jovens a continuarem estudando. “Se não for por estudo, não conseguimos mudar nada. Então, às vezes chegamos perto de alguém que tem 40 ou 50 anos de idade e não tem uma profissão definida, dizendo que se arrepende de não ter continuado com os estudos. Para quem está no grau de estudos, iniciando, os adolescentes, eu digo que não parem de estudar porque tem que ter um objetivo, e isto só conseguimos alcançar através dos estudos mesmo”, finalizou.

Fotos: Divulgação PM

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