Campanha busca conscientizar população em valorizar o advogado que está na região/Texto de Karin Franco, com reportagem de Rodrigo Zub e Paulo Sava
Na quinta-feira, 11 de agosto, foi comemorado o Dia do Advogado. A celebração nesta data remonta a criação dos dois primeiros cursos jurídicos do Brasil na Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo, e a Faculdade de Direito, em Olinda/PE. Em Irati, a data também foi uma oportunidade para a Subseção da OAB de Irati reforçar a campanha de valorização dos profissionais da região.
Em entrevista à Najuá, o presidente da subseção da OAB de Irati, Mário Cezar Pianaro Angelo (Marinho), destacou que o objetivo da campanha é reconhecer a importância da profissão na sociedade. “Ela tem esse escopo do reconhecimento da importância social do trabalho que a nossa classe exerce, que é indispensável para qualquer empresário ou uma pessoa que tem uma situação jurídica a resolver na sua vida, ela vai precisar em algum momento de um advogado. Em outras situações, às vezes, a pessoa está lá fazendo um negócio, ela por simplicidade, deixa de fazer um contrato. Ou baixa um contrato do Google lá, que nem está muito adequado para a situação dela. Isso é muito corriqueiro de aparecer no escritório com demandas que seriam prevenidas, que seriam evitadas, às vezes, mediante uma simples consulta ao advogado, que fosse contratado para fazer uma minuta de um contrato, para uma orientação”, disse.
A secretária-geral da OAB/Irati, Tânia Marina Vicente Leite, explica que a campanha visa valorizar os advogados da região. “Esta campanha é para valorizar todos os advogados aqui da nossa cidade e da nossa região para que as pessoas que realmente necessitem do advogado, que procurem os advogados aqui da nossa cidade, que facilita muito mais para o cliente ter acesso ao seu advogado pessoalmente”, explica.
Marinho destaca que o advogado da região conhece a realidade do cliente. “Ele já está inserido no nosso contexto, na nossa comunidade. Às vezes, fica muito mais fácil para que o cliente possa se fazer entender e o advogado logo captar o que está acontecendo, qual seria a melhor solução quando ele conhece o local aonde é o imóvel, quando a discussão está envolvendo um imóvel. Às vezes, ele conhece até a parte contrária. A característica, o que pode eventualmente funcionar ali, tentar fazer um acordo. Isso tudo são benefícios que um profissional que está mais distante, ele fica totalmente sem condições de ter essa cultura, esse conhecimento que pode ser muito importante ali para facilitar a resolução do processo”, disse.
Marina conta que a campanha surgiu após vários advogados relatarem que clientes procuravam profissionais fora da cidade e acabavam não tendo respostas sobre seus processos. “É comum das pessoas procurarem até o advogado da sua confiança, mas o que acontece é que muitos advogados, eu posso falar por mim, doutor Mário depois falará por ele, de pessoas que vem ao escritório dizendo: ‘Eu contratei um advogado de outra cidade, não tenho resposta, não tenho retorno’. É isso que acabamos escutando de muitos colegas aqui, de pessoas da cidade reclamando de não ter retorno dos advogados contratados de fora. Foi a partir daí que quisemos propor essa campanha para valorizar o profissional da nossa região”, conta a advogada.
A procura de advogados fora da cidade também aconteceu por causa da pandemia, já que durante este tempo o acesso à tecnologia cresceu e muitas pessoas começaram a ter contato com profissionais de outros lugares. “Nós sentimos que a tecnologia e, principalmente, agora nesse período pós-pandemia, aproximou-se quem está longe e afastou-se quem está próximo. Tem tanta maneira de contactar um profissional que está atuando remotamente. Mas para que não se esqueça também de prestigiar aquele advogado que está aqui, com o seu escritório estabelecido aqui na cidade, pagando o seu ISS, recolhendo seu IPTU aqui também, que se ele no momento que ganhar lá os seus honorários, vai fazer esse dinheiro circular aqui na cidade, vai prestigiar o comércio aqui local. Eu acho que isso é um ciclo virtuoso que nós geramos aqui para que também os profissionais têm mais estímulo para permanecer aqui, na medida em que se sintam também mais valorizados”, explica Marinho.
Um dos receios de contratar os advogados locais é que em alguns casos o profissional pode ser próximo da parte oposta no processo, como em casos trabalhistas. O presidente da Subseção da OAB de Irati destaca que nesses casos, o advogado precisa ser ético e prestar seu papel na sociedade. “Algumas pessoas, de fato, têm esse receio. Quando chega no escritório, a primeira pergunta muitas vezes é nesse sentido, se aquele advogado tem alguma relação com o empresário ou o patrão, para saber se haverá algum tipo de conflito de interesse, algum tipo de interferência, causado por uma amizade, algo assim. Mas a advocacia, como um todo, não só trabalhista, ela é uma relação de confiança. É como uma relação que você tem com seu contador, com o seu médico. Você precisa ter essa confiança na questão técnica, da habilidade profissional dele, mas também na ética dele, no caráter dele, que ele vai de fato se comprometer com a causa e não vai tomar nenhuma atitude por amizade com a outra parte. Isso seria algo totalmente fora dos padrões éticos”, disse.
A região conta com 377 advogados ativos nos dez municípios de abrangência da Subseção da OAB de Irati. Marina destaca que a procura por esses advogados é importante para que os casos sejam analisados com mais atenção. “O advogado deve ser buscado pela população para mediação de conflitos e até posteriormente já havendo, as ações. Pedimos para que realmente a população busque os advogados da nossa região, que valorize os advogados da região, que os conflitos realmente serão mais olhados com o melhor carinho, com mais jeito para a população de Irati”.
Projetos: A Subseção da OAB de Irati realiza projetos em toda a comunidade. Um dos projetos que será realizado pretende levar o advogado mais perto da sociedade por meio das escolas.
No projeto Ordem na Escola, advogados levarão a alunos das escolas de Irati informações sobre a profissão e a garantia de direitos. “A ideia é que alguns advogados vão até às escolas estaduais – a princípio, o foco serão as turmas de 8º e 9º anos – para falar sobre um pouquinho do exercício da profissão, como é a profissão, como a OAB se estrutura, o funcionamento da Justiça, noções de cidadania e de direito. Estabeleceria até, em algum momento dessa exposição, algum fórum de discussão, eventualmente, para suprir alguma dúvida sobre violência doméstica, sobre direito do idoso, sobre Estatuto da Criança e do Adolescente, alguma questão até de Direito de Trabalho. De repente, os meninos ali vão querer saber a partir de que idade que eles já podem trabalhar como aprendiz, alguma coisa assim. O que queremos é ter essa interação da advocacia com a sociedade e achamos que esse projeto direcionado para as escolas vai atender muito bem essa demanda”, conta o presidente.
Marinho destacou que outro projeto, agora mais voltado aos advogados, é tentar aproximar mais os profissionais da instituição. “Nós queremos quebrar isso e fazer com que os advogados, principalmente os advogados mais jovens que acabaram até ingressando nos quadros da Ordem, já nesse período de afastamento, não tiveram até a oportunidade de conhecer os colegas, de se integrar. Hoje nós perdemos muito da convivência que era natural dos advogados se encontrarem no fórum. Hoje, você vai no fórum, raramente você encontra um colega porque os processos são eletrônicos, as audiências em sua maioria ainda são virtuais. Para restabelecer esse convívio entre os colegas, estamos bolando algumas coisas para fomentar esse convívio”, conta.
Uma das maneiras é por meio do projeto Fora de Ordem, que é um encontro entre advogados para aproximar o relacionamento dos profissionais. Cada comissão da Subseção organiza um encontro mensal com cardápio e música. Segundo o presidente, os encontros ajudam nessa aproximação que pode trazer resultados positivos para os clientes. “Você conhecendo um colega, isso na hora que você tem uma demanda, que está cada um de um lado oposto, isso facilita a vida, abre portas para fazer um acordo, baixa o nível de litigiosidade, das demandas. Nesses ambientes que queremos criar é para isso. Para que os advogados se conheçam, quebra esse gelo, os mais novos tenham essa oportunidade de se integrar com os que já estão fazendo parte”, disse.
Representatividade: A OAB do Paraná teve uma maior representatividade feminina neste ano após a eleição de Marilena Winter, que se tornou a primeira presidente da OAB no estado. Em Irati, a representatividade feminina havia sido contemplada com a ex-presidente da instituição local, Sônia Mara Gerchevski.
A maior representatividade feminina é resultado de uma política interna da OAB estadual que estabeleceu a paridade de gênero nos processos de escolha de novas diretorias. Marina destaca que a medida é importante para auxiliar que mais mulheres participem das diretorias. “Eu acho isso de grande relevância, as mulheres estarem envolvidas nas diretorias porque todo mundo tem uma forma de pensar. As mulheres acabam tendo um pouco mais de um olhar para as próprias advogadas. Hoje no País, as advogadas são a maioria, então elas acabam sendo revistas com um olhar feminino. As mulheres acabam tendo que dividir o seu tempo de trabalho com casa, com filhos e dando a oportunidade para nós, de poder fazer parte, e até de dar um empurrão para a mulher porque ela tem, às vezes, receio até de participar. Eu acho isso de suma importância”, conta.