Avaliação foi feita pela responsável pela Associação Malinoski, Luciane Malinoski, e pelo proprietário da empresa Lixo é Luxo, Clairto José Sklarski. Eles acreditam que a lei sancionada pelo Executivo é benéfica para quem trabalha com esse tipo de atividade/Paulo Henrique Sava
Material armazenado no barracão da Associação Malinoski, na Vila Nova. Foto: Paulo Henrique Sava |
No início de março, o prefeito de Irati, Jorge Derbli (PSDB), sancionou a Lei nº 4955/2022, que regulamenta a atividade dos agentes de reciclagem no município. A reportagem da Najuá ouviu Luciane Malinoski, responsável pela Associação Malinoski de catadores, na Vila Nova, e Clairto José Sklarski, proprietário da empresa Lixo é Luxo, a respeito desta regulamentação. Luciane acredita que, com a regulamentação da atividade, a situação dos catadores deve melhorar.
“A expectativa é de que melhore, agora com a lei regulamentada. Todos nós temos o nosso itinerário, então, se cada um respeitar o seu itinerário, terá trabalho para todos. Formalizando os catadores, passamos por momentos difíceis, mas graças a Deus agora vai dar uma levantada”, frisou.
Na opinião de Luciane, a regulamentação do trabalho pode ajudar a melhorar a renda familiar dos agentes. “O material diminuiu bastante, mas tendo o material suficiente para trabalhar, aumenta sim a renda deles, e, com as graças de Deus, falta bem pouco para todo mundo receber o salário mínimo de R$ 1.212,00. Você trabalhar sabendo que vai passar aquele mês e tem uma renda certa para receber, o tamanho do desemprego, e saber que a sua renda está garantida no final do mês, é outra coisa”, comentou.
Clairto acredita que a regulamentação facilitará o trabalho e a organização da empresa e dos catadores. “Eu acho que a questão da regulamentação vem a acrescentar porque aí vai facilitar o nosso trabalho e a organização vai ficar um pouco mais viável”, frisou.
Materiais coletados – Diversos tipos de materiais são coletados pela Associação Malinoski, pela Cocaair e pela empresa Lixo é Luxo, segundo Luciane. “De pouquinho em pouquinho vamos fazendo nosso salário no fim do mês. Então, o material é tudo, o isopor, litro, papelão, plástico, pet, baldes, bacias (material grosso), ferro, tudo isto é material reciclável”, frisou Luciane.
A empresa Lixo é Luxo também coleta eletrônicos e o próprio isopor, em parceria com a Associação Malinoski, cuja coleta começou há cerca de um mês e já apresenta um bom resultado. Clairto explicou que o município precisa coletar pelo menos quatro toneladas por mês deste tipo de material. “O isopor também é coletado, coloridos e brancos são separados e enfardados para serem levados pela empresa Santa Luzia, no Rio Grande do Sul”, comentou.
Segundo Clairto, a empresa fará a coleta do isopor em Irai uma vez por mês. “Fiz o nosso cadastro junto à empresa e nós estamos no rodízio. Então, uma vez por mês ela vai passar para coletar aqui”, comentou.
Luciane solicita que a população coloque o isopor junto ao lixo reciclável. “Por mais que a Associação e a Cooperativa não tenham uma venda do isopor, uma das empresas particulares tem a venda. Então, juntamos no barracão e, se ela não comprar, mesmo que não tenha venda, é obrigação tanto das empresas particulares quanto da Associação e da Cooperativa recolher o isopor”, comentou. Mais informações sobre a coleta de isopor podem ser obtidas através do telefone (42) 99992-5802.
Isopor armazenado nos barracões da empresa Lixo é Luxo é encaminhado para a empresa Santa Luzia, no Rio Grande do Sul. Foto: Paulo Henrique Sava |
Algumas pessoas costumam colocar os cacos de vidro em caixinhas de leite. Quando a quantidade é grande, é preciso que a embalagem suporte o peso. “Tem-se que, às vezes, colocar em dois ou três sacos para ficar viável para o coletor”, comentou Clairto.
A cada tonelada de cartelas de remédios, a empresa Lixo é Luxo recebe uma cadeira de rodas para doação ou empréstimo. Foto: Paulo Henrique Sava |
Os materiais eletrônicos coletados, como placas de computadores e celulares, são desmontados e separados. Outros aparelhos são vendidos como relíquias. É importante que todos os materiais recicláveis sejam entregues separados e bem limpos. Entretanto, Luciane reclamou que os catadores ainda encontram resíduos orgânicos junto ao material reciclável.
“Sempre bem limpo, o máximo possível, porque ainda vem bastante lixo orgânico, como o papel higiênico e a fralda descartável. Durante a pandemia, vinham máscaras e luvas. Então, eu acho que isto é falta de atenção das pessoas, pois são dois lixos, coloca o orgânico e o reciclável e não tem necessidade de misturar. Nós somos em 29 pessoas aqui, e todas elas separam, mas acho que, se der uma levantada em casa, é melhor para o rendimento do nosso serviço, pois não sai tanto rejeito orgânico, daí aproveita-se mais o material”, comentou.
Luciane citou o exemplo da Escola Municipal Rosa Zarpellon, do Pinho de Baixo, que fornece o material devidamente organizado e separado. “Nós coletamos lá na escola uma vez por mês, mas é tudo muito bem separado e organizado. Não posso dizer para você que pegamos material na escola do Pinho e tivemos que jogar para o rejeito: todo o material que vem deles é reaproveitado e separado dentro do barracão, é um exemplo para nós. As mulheres ficam perguntando para qual mesa vai o material porque não dá tanta separação quando vem com bastante mistura”, salientou.
Mão-de-obra – A empresa Lixo é Luxo, que atua há seis anos em Irati, contava com 15 funcionários. No entanto, a pandemia provocou uma forte redução nos valores pagos pelos materiais. Isto fez com que o número de funcionários fosse reduzido para sete. “A nossa condição vem do preço do mercado, que caiu muito. O papelão nós chegamos a vender a R$ 1,80 (o kg), e hoje estamos vendendo a R$ 0,85. Quase 1 real de diferença veio a nos prejudicar muito”, frisou.
A mão-de-obra representa um custo alto para a empresa, que precisaria ter uma grande produção para manter todo o quadro de pessoal anterior à pandemia. Entretanto, para Clairto, a maior dificuldade para conseguir trabalhadores está no fato de boa parte das pessoas ter “vergonha” de dizer que trabalha com o lixo.
“Nós temos que ser sinceros, a nossa dificuldade hoje é que o pessoal venha, mas com aquela vontade, e às vezes eles vêm meio recolhidos, pensando ‘poxa, vou trabalhar no lixo’, ficam meio envergonhados, mas é um trabalho digno e normal como qualquer outro. Aqui é um trabalho com respeito e cobramos muito por termos um padrão diferente de organização, limpeza, respeito um ao outro. Então às vezes somos chatos nesta parte, o pessoal fica meio estranho, mas é o que nós cobramos, temos que ser iguais a todos”, frisou.