Livro é resultado de um trabalho de dez anos de pesquisa do autor Pedro Henrique Wasilewski Almeida, que é jornalista, historiador e produtor cinematográfico. Lançamento contará com exibição de documentário no Centro Cultural Clube do Comércio, em Irati/Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava e Rodrigo Zub
Pedro Henrieque Wasilewski é o autor do livro “Cine Central: Entre Imagens e Amores”. Foto: Bete Budel |
Além de contar com depoimentos que lembram a história da comunidade com o cinema, o livro traz informações sobre outros espetáculos apresentados no local como shows, peças de teatro e a presença de artistas de renome nacional, como Grande Otelo, Agnaldo Timóteo e Teixeirinha.
Escrito pelo bisneto de João Wasilewski, o livro é resultado de um trabalho de dez anos de pesquisa do autor que iniciou sua produção ainda na faculdade. “Quando eu fiz a minha graduação em jornalismo, eu fiz o meu Trabalho de Conclusão de Curso [TCC] foi uma grande reportagem televisiva sobre o tema do cinema, o Cine Theatro Central daqui de Irati. Esse cinema que ficou em atividade durante 62 anos interruptamente. Eu fiz esse Trabalho de Conclusão de Curso e disso se transformou em um documentário de 40 minutos, onde entrevistei atores sociais, pessoas que participaram de toda essa parte histórica do cinema em variadas fases. Esse documentário foi dado de presente para a cidade, pois ali também tem muita história, muitas informações dados fotográficos, jornalísticos e etc”, conta Pedro Henrique.
O autor conta que a ideia de seguir pesquisando sobre o cinema aconteceu após a exibição do documentário, em 2013, no Cine Clube Denise Stoklos, que acontece dentro do Clube do Comércio. “As próprias pessoas que estavam ali nessa exibição começaram a debater fatos históricos sobre o cinema, sobre a sua história, a parte de sociabilidade. As pessoas falaram que era um ponto de encontro. Você não ia só para assistir filmes, mas sim, para debater fatos cotidianos da sua realidade. Claro que também através de uma provocação vinda pela tela. Então, eu comecei a observar tudo aquilo e conversar com as pessoas durante esse debate. Pensei assim, preciso fazer dar andamento essa obra”, disse.
Após entrar no curso de Mestrado do programa de pós-graduação em História, na Unicentro, Pedro Henrique seguiu conhecendo mais sobre o cinema da época. “Fiz a minha tese levando em consideração esse documentário, esses outros trabalhos que eu já vinha fazendo sobre o cinema, então debati historicamente a questão social, a questão da memória, com vários autores, buscando dados jornalísticos, dados históricos, fotografias, recortes de jornais, dados, fontes históricas para então fazer a minha tese que é o cinema como ponto de encontro, um local no coração de Irati, ao lado da Panificadora Irati, onde abrigou uma fatia relevante na nossa história da vida das pessoas”, explica.
O resultado dessas pesquisas foi reunido no livro que será lançado neste mês. A obra conta com entrevistas feitas com pessoas conhecidas em Irati como o professor José Maria Orreda (in memoriam), Gaspar Valenga (in memoriam), Luiza Nelma Fillus, Jose Maria Gracia Araujo, Júlio Wasilewski (in memoriam), Edson Santos Silva, Cássio Olavo Carvalho e Luiz Ângelo Fornazari.
O livro traz um aprofundamento dos primeiros trabalhos feitos por Pedro Henrique que teve a oportunidade de revisar o material do documentário e encontrar mais informações sobre o cinema em Irati. “Revisitei matérias, revisitei entrevistas, busquei mais entrevistados. Pesquisando através de autores da história também e outros cinemas a nível de Brasil, para então debater toda essa história do cinema, as fases dos filmes até a questão final, o que culminou no fechamento do cinema, que também foi algo que aconteceu a nível de Brasil”, conta.
A obra traz diversas histórias da cidade incluindo depoimentos como o de Gaspar Valenga, que apesar de não gostar de cinema, ia ao local para assistir filmes religiosos. Ao ler um trecho do livro, Pedro Henrique relembra as peripécias da juventude de Gaspar Valenga e como o cinema fez parte de vários segmentos da sociedade. “‘Quando eu comecei a trabalhar aqui Irati em 1940, o cinema já funcionava uma porção de anos antes. Inclusive na Sexta-Feira Santa, que passava a Paixão de Cristo, que era muito divulgado. Nós fazíamos aqui, nos reunimos em uma porção de rapazes, de jovens e alugávamos uma carroça para levar nós ao cinema para assistir o filme lá. Ia de carroça. Até uma vez deu um episódio que deixaram a carroça, meio longe do cinema. Veja como é… Deixar a carroça na rua ali. Daí roubaram o freio, o breque. Para nós vim embora, quando chegava na descida, tinha que descer dois ou três e segurar na roda para não disparar a carroça. Então, a gente tem esta lembrança do cinema. Nunca gostei de cinema sim, mas tenho lembranças que nós íamos, reunia bastante gente e fazia grande fila para assistir o Paixão de Cristo’. Eu venho com uma fala embaixo: ‘No relato é possível perceber que para algumas pessoas, como o seu Gaspar Valenga, o cinema não chamava tanta atenção, não fazia parte de suas preferências, mas quando era um filme religioso, reuniam-se e organizavam uma ida até o local das exibições. Isso prova que o cinema fez parte de vários segmentos da sociedade, principalmente, o seu entorno rural de Irati, que é muito grande”, conta.
Entre os depoimentos, também estão histórias de famílias que nasceram a partir do cinema. “Muitas entrevistas falam, estão no documentário e no livro, de pessoas que se conheceram dentro do cinema e acabaram casando, depois acabaram vindo os filhos e namoraram lá porque são seis décadas de história. O título tem a ver com isso, ‘Entre Imagens e Amores’”, explica.
O título ainda remete à relação de seu pai, Pedro Wasilewski, com o fundador, João Wasilewski. “Vem de encontro com o amor das pessoas desse ponto de encontro as pessoas. As pessoas me paravam na rua: ‘Nossa! Como o cinema era importante!’. Essa questão de amores vem sobre a minha história também, que envolve essa questão do amor. Porque pense, eu nasci e não sabia da história do cinema. Mas foi o amor do meu pai, o Pedro Wasilewski, que amava o seu avô, entende? A questão que ele amava muito o seu avô João Wasilewski, então ele sempre lembrava histórias do João Wasilewski, que era o dono desse cinema, que foi um fomentador cultural aqui da cidade de Irati”, disse.
O evento de lançamento do livro contará com a exibição de um documentário sobre o cinema e uma sessão de autógrafos. A noite contará com um coquetel e terá um carrinho de pipoca para trazer o ambiente de cinema ao local. O evento é promovido pela Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro-Sul do Paraná (ALACS), Secretaria Municipal de Cultura e Turismo do município de Irati, Centro Cultural Clube do Comércio, e pela produtora cinematográfica Cine Central Filmes, com o apoio da Representação Central da Comunidade Brasileiro-Polonesa do Brasil (BRASPOL), Núcleo de Irati, do Programa de Pós-Graduação em História e Regiões – PPGH – UNICENTRO, do Cine Clube Denise Stoklos, da Fundação Denise Stoklos e da Prefeitura de Irati.
As pessoas podem adquirir os livros no local do lançamento no dia 22, ao preço de R$50, ou diretamente com o autor, Pedro Henrique Wasilewski Almeida, por meio do seu perfil no Facebook. Também haverá venda online no site da editora Todas as Musas, de São Paulo. O lançamento online acontece na terça-feira (19), com uma entrevista com o autor.