Golpes pela internet fazem vítimas na região

Advogado Giordanni Dangui comenta sobre golpes mais comuns e o que fazer para prevenir/Karin Franco,…

02 de junho de 2022 às 21h36m

Advogado Giordanni Dangui comenta sobre golpes mais comuns e o que fazer para prevenir/Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava


Em entrevista à Najuá, advogado Giordanni Dangui repassou orientações para as pessoas não caírem em golpes nas redes sociais. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo)

O Brasil registrou no ano passado um ameaça de golpe financeiro a cada seis segundos. Mais de 2 milhões e 300 mil ameaças de golpes foram detectadas em uma pesquisa pela PSafe. Na região, diversas pessoas também tem sido vitimas de golpes especialmente em aplicativos como Instagram, Facebook e WhatsApp.

O advogado Giordanni Dangui explica que um dos golpes que tem sido aplicados na região é o dos “nudes”. Neste esquema, o golpista cria um perfil fake com o objetivo de ter um falso romance. “O golpista monta uma página de um fake. Coloca a uma foto de uma menina, normalmente, essa menina tem cara de 16 anos, 18 anos, uma menina nova. E começa a fazer publicações na região, começa como aqui na região de Irati, Mallet, Rio Azul, começa a pedir amizade para as pessoas. As pessoas vão lá. ‘Nossa, uma menina bonita’. Começam a aceitar amizade, ela começa a criar vínculo que quando ela começa a postar qualquer coisa começa a aparecer na linha do tempo das pessoas daqui”, disse Dangui.

Com o tempo, o golpista tenta criar algo a mais com as possíveis vítimas. “Passando um certo tempo, essa menina começa a mandar mensagem inbox. ‘Oi, tudo bem? O que você está fazendo? Coincidentemente, eu até mostrei aqui, na semana passada, que tinham mandado mensagem para mim. Estava no meu Face. ‘Oi, tudo bem? O que você está fazendo?’ Eu, educadamente: ‘Estou em viagem. Estou trabalhando’. ‘Ah, eu acabei de sair do chuveiro, só estou de calcinha e sutiã’. Já começa ali’, conta o advogado.

Com a vítima interagindo, o golpista começa a enviar nudes, como são conhecidas as fotos íntimas. “Essa pessoa que está com Fake do Facebook, não é foto dela. Ela pegou essa imagem da internet, alguma coisa assim, começa a mandar nudes para essa pessoa que vai ser enganada”, explica.

A vítima acaba acreditando nas fotos e manda imagens reais suas para o golpista. “A pessoa que está aqui normalmente são pessoas mais de idade. Se empolgam com a situação e daí começa a mandar foto de nudes também para a pessoa. ‘Eu mandei uma foto nudes minha, manda uma tua’. E a pessoa manda”, afirma Dangui.

O desfecho do golpe pode ser feito de duas formas. Uma primeira é por meio de chantagem, onde o golpista mente que o pai da jovem descobriu as imagens. “Daqui a pouco aparece o pai falando que descobriu tudo, que a menina é menor de idade, que está indo fazer um boletim na polícia, que vai colocar esse cidadão na cadeia, que ele ficou nervoso, quebrou tudo que tinha em casa, quebrou a geladeira, quebrou o fogão, que já deu prejuízo, que ele está louco da vida ter acontecido isso. A pessoa se preocupa. ‘Nossa, imagine menor de idade, eu não sabia’. E vai lá a pessoa pede R$ 2 mil, R$ 3 mil. ‘Só para compensar o que eu quebrei da raiva que eu fiquei senão eu vou na delegacia’. E eles depositam com medo”, disse.

A outra forma é mais produzida. “A pessoa lá do Rio Grande do Sul faz um vídeo do emblema da Polícia Civil mostrando e eles tinham a ficha da pessoa. Eles conseguiram pelo Facebook, parecia o emblema da polícia, com a foto da pessoa que está no cadastro da Polícia Civil, com todos os dados. Se passando por investigador, ele pega e fala: ‘Se você não passar R$ 5 mil para mim aqui, R$ 3 mil ou R$ 1 mil – dependendo o golpista – eu vou dar sequência, já está certo aqui com o delegado o seu mandado de prisão, já estou mandando te buscar no Paraná’. E as pessoas se apavoravam”, conta o advogado.

As fotos íntimas feitas pela vítima também podem ser usadas para a chantagem, com as pessoas. “É o que eu digo: não caiam nisso. Esse negócio de uma menina nova ficar pedindo para mandar nudes, para ficar falando bobagem. ‘Conta uma historinha, fala isso, fala aquilo’ no Messenger ou o pior pega o WhatsApp, às vezes, vai ser pelo WhatsApp, com certeza é golpe”, disse.

Golpe do boleto falso: Outro golpe aplicado é o do boleto falso que faz que a pessoa receba links falsos que podem fazer com que o Instagram ou WhatsApp seja clonado. Ao receber uma mensagem de que há um boleto a ser pago, a pessoa clica no link, fazendo com que o golpista tenha acesso aos aplicativos.

Com o aplicativo clonado, o golpista finge ser a vítima e começa a pedir dinheiro emprestado. “A pessoa é amigo e vai na boa fé, empresta. Tem muita gente que caiu nisso. Já começou esse golpe há três, quatro anos atrás. Até hoje estão caindo”, conta.

O próprio advogado conta que já recebeu esse tipo de mensagem. “Eu já recebi essa semana a mensagem no meu WhatsApp, com o emblema da vivo, passou o nome completo da minha esposa e queria confirmar os dados. Eu perguntei sobre o que seria. Eu acho que ela de certo pegou meu nome no meu WhatsApp, consultou no Google, viu que era advogado e me bloqueou”, disse.

As mensagens possuem conteúdos que podem estimular as pessoas a clicarem no link. “Ontem, eu recebi um WhatsApp com um celular que era não era 55, com início do Brasil, era 66. Não era nem do Brasil. ‘Olha esse link, eu quero trabalhar. Que você trabalha em casa, você pode ganhar até R$ 10 mil a R$ 15 mil por mês, é só você apertar o link e faça seu cadastro’. Lógico que eu não apertei, mas uma situação dessa o que é? É um vírus ou esse link eles vão conseguir pegar teu WhatsApp. Clonar seu WhatsApp para cair naquele golpe que clona o teu WhatsApp e começa a mandar mensagem para os teus amigos”, explica.

A maneira mais fácil de impedir que algo aconteça é entrando em contato diretamente com a pessoa que pode estar com o número clonado. “Quando você recebeu um WhatsApp do nome do teu filho, da tua mãe, de uma amiga que você pode emprestar esse dinheiro, primeira coisa, liga no número e fala com ela. Não vai por mensagem”, recomenda Dangui.

As falsas ofertas em Instagram e WhatsApp são também outro meio de aplicar um golpe por meio dos aplicativos clonados. O golpe usa principalmente o Instagram onde o golpista anuncia produtos falsos. “Aquela geladeira vale por R$ 3 mil, está por R$ 1 mil. ‘Me manda teu Pix que é minha’. ‘Já que o cara está torrando, é minha’. É golpe. Nessa situação, o que temos que fazer? Tem que ligar, tentar conversar com a pessoa. E se não conseguir conversar no momento, não faz. Não tem. Não, corra o risco”, orienta o advogado.

Golpe da venda de trator: Os golpes na internet ainda podem afetar pessoas que estão realmente vendendo um item. Normalmente, na região, anúncios de venda de trator tem sido o alvo deste tipo de golpe. “Você anunciou um trator. Eu vou lá, chego para você e falo: ‘O trator eu fico, mas eu vou mandar um amigo meu olhar o trator’. Eu ligo para esse meu ‘amigo’, que é conhecido e falo: ‘O trator é R$ 100 mil e te faço por R$ 70 mil’. Essa pessoa vai lá. Eu falo para você [autor do anúncio] que eu vou te pagar, é só ele gostar do trator. Eu pego essa pessoa que ele mandou ver o trator, ele pega e fala: ‘Se você gostar, é só você me pagar, que você já carrega’. A pessoa vai olhar o trator, fala comigo que sou o golpista, achando que eu sou o dono do trator. ‘Gostou do trator?’. Ele me paga. Ele quer carregar o trator. Você que é o dono do trator, não recebeu”, conta.

O advogado destacou que é importante não enviar dinheiro antecipado. “Qualquer venda de trator, de caminhonete, vocês têm que primeiro: não dê dinheiro antecipado. É melhor você perder um negócio e você ir lá olhar, ver a documentação se está certo, se é o proprietário mesmo, que você antecipar um dinheiro”, disse.

Outra situação é as pessoas aceitarem um Pix agendado, antes de conferir se o dinheiro entrou na conta. “Você pode fazer um Pix agendado. Não cai na hora. Por mais que te mostrem o comprovante, você tem que ver na tua conta se o dinheiro caiu na conta porque você pode cancelar esse Pix”, conta.

Os golpes pelo telefone também são muito comuns e podem causar prejuízos. Um dos mais comuns são ligações prometendo que há uma possibilidade de ganho de dinheiro de alguma ação. As ligações trazem, inclusive, informações pessoais como o número de RG e CPF, o que pode enganar muitas pessoas. O golpe está na promessa que em troca de um valor pequeno, a vítima poderá ganhar um valor maior. “Nós temos um processo aqui que você tem um crédito de R$ 100 mil, só que tem que pagar uma taxa. Se você pagar essa taxa, você libera esse dinheiro para você. E a pessoa cai. ‘Nossa, mas que processo que é esse?’. ‘É o processo número tal, estou com o número dos autos’. A pessoa sabe o teu nome, o teu CPF. É uma coisa bem bolada. A pessoa se empolga, às vezes, é R$ 1 mil, R$ 2 mil, R$ 5 mil e paga. É golpe”, explica.

Para evitar cair em um golpe desses, é preciso desconfiar e procurar um advogado. “Se acontecer uma situação dessa, de alguém ligar falando que tem um crédito, um processo, procura um advogado para ele constatar. Não pague taxa”, disse Dangui.

Ligações oferecendo empréstimo: As ligações oferecendo crediário também podem ser um golpe. “A pessoa ligou e queria fazer um crediário. ‘Você quer R$ 10 mil? Parcelo tanto, juro tanto, era uma beleza. Mas agora para liberar teu crédito, tem que pagar essa quantia que é um boleto que é despesa. É golpe. Se você está fazendo um empréstimo para arrumar dinheiro, daí você vai pagar um boleto? Teve uma situação que me mandaram que o golpista era tão chulo que começou a falar para a pessoa: ‘Esse empréstimo, você tem que pagar, senão eu estou mandando a polícia buscar você na tua casa. Onde já se viu? Fiz toda a documentação, agora você não quer pagar o boleto que são as despesas nossas?’. ‘Pelo jeito você é bem louca mesmo, porque pelo jeito você está fazendo empréstimo aqui para comprar droga’. Olha o nível. E a pessoa desesperada. ‘Nossa, eu fiz isso agora, será que eu tenho que pagar?’. Eu falei: lógico que não”, conta.

No caso do WhatsApp, o ideal é bloquear a mensagem que parece ser suspeita. “Esses WhatsApp que ficam mandando, vem com essas mensagens, bloqueia. Se ficar incomodando vá na delegacia e faça o boletim para tomar as devidas providências. Não pode achar que ‘tão me ameaçando, vão vir me matar, vão isso’. Normalmente, esses golpes são feitos de dentro da penitenciária. O preso está lá sem fazer nada, 24 horas, consegue um celular e precisa arrumar dinheiro. Ele fica lá com a cabeça a mil por hora. ‘O que eu vou fazer para ganhar dinheiro’. E as pessoas caem”, explica.

Golpes com máquinas de cartão: Outro golpe atinge o comércio, principalmente, os estabelecimentos que usam as máquinas de cartão de crédito. “A pessoa digita o valor a mais e você na hora não pega o comprovante, não confere. Principalmente, quando é com aquele cartão presencial. Às vezes, você gastou R$ 30 e a pessoa coloca R$ 300. Normalmente, você sempre confira”, afirma o advogado.

A venda de máquinas de crédito também é um meio usado para golpes. “A pessoa chegou no comércio para vender uma maquininha. Essas maquininhas. Parcelou em 12 vezes. Ele passou o cartão nessa maquininha, para pagar a maquininha que vinha para ele. Dois dias depois, começou a vir compra no Mercado Livre do cartão de crédito dele. Ele teve que ligar e bloquear. A pessoa foi no comércio e disse: ‘Eu tenho essa maquininha, te faço em 12 vezes’. Convence a pessoa de comprar, ela vai e paga com o cartão. Clonaram o cartão dele”, explica.

A troca de máquinas no comércio é outro tipo de golpe aplicado, especialmente em estabelecimentos movimentados. Neste caso, o golpista pega a máquina que está no balcão e troca por outra, sem o funcionário do caixa ou vendedor perceber, já que há muito movimento no estabelecimento. “A panificadora ficou recebendo ali naquela maquininha, que ia na conta do bandido. Como você tem duas, três máquinas, às vezes, um movimento grande, é difícil você compensar todo dia. Entrar no extrato para ver o que caiu, o que não caiu. Quando a pessoa foi ver, tinha ido um bom dinheiro embora, porque a maquininha que estava na panificadora não era dele. Eles trocaram”, disse.

Um modo de evitar isso é não deixar a máquina de cartão de crédito muito acessível e colocar adesivos para diferenciá-la. “Você sempre faça um sinal na tua maquininha, um adesivo, uma marca com tinta, de esmalte”, recomenda Dangui.

Repassar dados: Ainda dentro do WhatsApp, outro golpe muito comum é forçar as pessoas a repassarem os dados. “Essa situação de atualizar o cadastro pelo WhatsApp. ‘Vamos atualizar seu CPF, seu RG’. O malandro consegue pegar seus dados e hoje conforme a situação, você consegue pela internet, até aqueles cartões de crédito. Infelizmente nessa situação que ela tá recebendo tem que procurar um advogado e entrar com a medida judicial para anular, para demonstrar para a Justiça que ela foi vítima de golpe. Mas ela tem que tomar atitude, senão vão protestar e se for conforme, a empresa vai entrar executando”, disse.

O advogado ainda alerta que em caso de dívida, a pessoa precisa conferir diretamente com o cobrador e não aceitar ofertas de pagamento de dívidas por meio de terceiros. “Se você quer fazer alguma quitação, primeiro você tem que falar direto com a empresa que você está devendo. ‘Mas é uma campanha, nós somos terceirizado’. Não interessa, fale porque senão você vai pagar e normalmente, você tem que ver, quando gera o boleto, uma coisa fácil de você achar, é ver quem emitiu o boleto. Não é a empresa que você está devendo. Digamos que você está devendo para uma financeira, tinha que vir o nome da financeira ali. Mas não. Aparece lá o José da Silva, que é para quem vai o dinheiro. Qualquer boleto que venha com valor assim para você fazer quitação de carros – eu vi pessoas fazendo e perdendo dinheiro -, confirme com a financeira ou confirme para onde você está devendo, se aquele boleto é deles mesmo. Se não é golpe”, conta.

Dangui avalia que os golpes se aproveitam das fraquezas humanas. “O golpista pega uma fraqueza do ser humano. Ele é expert nisso. Nisso ele é doutorado. Ele pega a pessoa que quer comprar muito barato uma coisa, que quer conseguir um empréstimo muito barato, um carro que está pela metade do preço, que nem no Face ali, é uma pessoa que já tem uma certa idade, daqui a pouco, aparece uma menina de 18 anos, mandando foto de nudes. É a fraqueza das pessoas, ele sabe mexer nisso”, disse.

Por isso, é importante que as pessoas mantenham a calma quando algo acontece. “Você quando recebeu uma coisa dessa, você tem que pensar e respirar dez vezes para ver se é verdade ou não porque eles pegam na fraqueza do ser humano”, conta.

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