Feira de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade será realizada na sexta e sábado em Irati

Evento contará com venda de sementes e oficinas técnicas. Feira será realizada no CT Willy…

15 de setembro de 2022 às 21h35m

Evento contará com venda de sementes e oficinas técnicas. Feira será realizada no CT Willy Laars e deve ter participação de aproximadamente 4 mil pessoas/Texto de Karin Franco, com reportagem de Rodrigo Zub e Paulo Sava

Assessor técnico da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, André Jantara, o agricultor e diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Edilson João dos Santos, e o biólogo e assessor técnico da AS-PTA, Renato Kovalski Ribeiro, falaram sobre a programação da Feira de Sementes em participação no programa Meio Dia em Notícias da Super Najuá. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo)

A 18ª Feira de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade acontece nesta sexta-feira (16) e no sábado (17) no CT Willy Laars em Irati. O evento reunirá famílias de agricultores que conservam e multiplicam sementes e mudas livres de transgênicos.

Em entrevista à Najuá, o agricultor e diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Edilson João dos Santos, conta que as sementes são cultivadas nestas famílias há diversas gerações. “É mantermos essas sementes, nós dizemos, as sementes crioulas, Os Guardiões, que as sementes foram, no passar dos tempos, de milhões e milhões de anos, as sementes sempre foram guardadas pelos agricultores e ainda continuou hoje. Porque fazemos a feira? A feira é para a troca e a comercialização dessas sementes. Porque são sementes que os agricultores têm lá, tem variedades das sementes que os agricultores têm 60, 70 anos, que vai passando de gerações de gerações”, contou Edilson. 

Serão 120 expositores de sementes, mudas e artesanatos, além de caravanas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e de outras cidades do Paraná, como Londrina. A expectativa é que até cerca de 4 mil pessoas passem pelo CT Willy Laars nos dois dias. “Esperamos que esses dois dias, entre agricultores, alunos das universidades, das escolas e de outras caravanas que nos visitarão, chegarão em torno de 4 mil pessoas que devem passar por esses dois dias no CT”, disse o diretor do Sindicato. 

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A programação inicia nesta sexta-feira (16), a partir das 9h, com a recepção das caravanas, dos estudantes e dos expositores, com o café da partilha, onde cada um levará um alimento. Em seguida, iniciam as exposições técnicas e oficinas que ocorrem durante a manhã. Ao meio-dia haverá almoço.

Durante a tarde, às 13h30, haverá oficinas técnicas voltadas à agroecologia e continuidade das visitas das caravanas estudantis. Já às 14h ocorre o seminário Alimentação Saudável. Às 19h será servido o jantar. Às 20h30 acontecem as apresentações culturais locais.

No sábado (17), a programação inicia às 8h30, com a recepção e café da partilha. Logo depois, às 9h, acontece a mística de abertura. A abertura oficial com a presença de autoridades ocorre às 9h30, seguida de uma benção inter-religiosa das sementes às 11h. Ao meio-dia será servido o almoço. À tarde, a programação continua com a partilha das sementes às 15h e o encerramento às 17h.

Na sexta-feira, as oficinas que serão realizadas tratarão de diversas temáticas a partir das 13h. As inscrições para as oficinas serão feitas no dia. “São dez oficinas até agora inscritos ali, temos desde educação no campo, tem a oficina de arquearia, de arco e flecha – temos um agricultor que chamamos de Zé Carioca, ali de São Mateus do Sul, ele é um cara que aprendeu a fazer arco de Samurai artesanal, feito de bambu. Vamos ter uma oficina técnica de produção de mudas, de mudas de hortaliças orgânicas e agroecológicas, a do macarrão feito de farinha de milho, que é uma das coisas que vamos ter. Vamos ter uma oficina de meliponicultora, de processamento de frutas nativas, de guabiroba, de goiaba. Uma oficina sobre o secador de grãos a ar frio, que é uma tecnologia social lá do nosso companheiro do Sudoeste, lá da Assessoar que vai trazer e uma oficina do Cipã, que são os sistemas importantes para o patrimônio alimentar mundial, que é um trabalho com a erva-mate. E as benzedeiras também aqui de Irati vão estar presentes para fazer uma oficina também sobre isso”, conta o biólogo e assessor técnico da AS-PTA, Renato Kovalski Ribeiro. 

Após as oficinas, haverá um evento sobre alimentação saudável. “Depois das oficinas às 15 horas, nós vamos ter também um seminário da alimentação saudável. Já é o terceiro, quarto ano que fazemos esse seminário. Esse seminário tem o intuito tanto de divulgar a produção de alimentos, inclusive por pessoas no meio urbano, que você pode produzir. Aqui, os nossos municípios todos tem aquele quintalzão. Então, você pode produzir seu alimento ali também nesse local. A intenção é divulgarmos isso, como o consumo também dos alimentos saudáveis. A alimentação saudável não é só orgânica. É você ter um estilo de vida mais voltado com o exercício físico e tal”, explica Renato.

Haverá venda de almoço e janta durante a feira. A organização pede que as pessoas levem pratos e talheres para evitar a geração de lixo com materiais plásticos. “Na sexta-feira, para alimentação, vamos ter um custo de R$ 5 para a pessoa que for lá almoçar conosco vai ter um custo de R$ 5 e no sábado, o custo é R$ 10 para o almoço. A pessoa vai e almoça, é um custo insignificante, mas que precisa para pagarmos os agricultores de muitos alimentos que vão vir dos agricultores. Com isso também, a alimentação que vai ser feita são todos alimentos dos agricultores, os leitões já estão no freezer, para descongelar e fazer a carne. No sábado, vamos fazer uma quirerada para os agricultores, quirera de milho crioulo e os porcos também, porcos crioulos”, afirma Edilson. 

Ainda na parte de alimentação, haverá comercialização de lanches produzidos pela Cidade da Criança.

Na feira, o público também encontrará sementes vendidas pelos agricultores. “Tem semente de verdura que vai custar R$ 2 a medida ou pacotinho, semente de uma variedade de feijão, às vezes, R$ 5 ou R$ 10. É bem menos do que o valor de mercado”, conta o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. 

O evento é organizado pelo grupo Coletivo Triunfo, formado por várias instituições e participantes, e conta com apoio da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, do Sindicato Municipal dos Trabalhadores Rurais e da Prefeitura de Irati.

A 18ª edição da feira em Irati ocorre após dois anos sem evento por causa da pandemia de coronavírus. Inicialmente, o evento estava programado para acontecer em Fernandes Pinheiro, mas problemas estruturais fizeram com que a feira voltasse a ser promovida em Irati.

Feira de Sementes Crioulas e da Agrobiodiversidade será realizada no CT Willy Laars. Foto: Divulgação

O assessor técnico da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, André Jantara, relembra que a feira iniciou no final dos anos 90 a partir de um grupo de mulheres. “A Feira de Semente surgiu em 1999, através de um grupo de mulheres, que elas se reuniam no sábado para tomar um chimarrão, conversar e levavam umas sementes para trocar. Esse grupo é um grupo de União da Vitória, da comunidade de Pinhalão. Uma mulher teve uma ideia: ‘Por que não trazemos todas, fazendo uma comunidade de uma troca de semente maior?”. Em 1999, eles realizaram uma troca com mais de 100 tipos de sementes que são as sementes crioulas, aquelas sementes que vem de geração para geração. São sementes produzidas próprias pelas famílias. Dessas mulheres surgiu a primeira Feira de Sementes Crioulas que foi no município de União da Vitória, nos anos 2000”, conta. 

O evento expandiu para o Centro-Sul do Paraná e chegou em Irati, onde a Feira de Sementes é feita há quase 20 anos. 

As sementes crioulas são cultivadas dentro da Agricultura Familiar, sendo orgânicas e não sofrendo modificações. Com isso, há sementes que são passadas há mais de 100 anos em uma mesma família. É o caso de um agricultor de Teixeira Soares que possui sementes que foram cultivadas há mais de 180 anos. “Puxando a história dessa semente, que é uma coisa bem interessante. O bisavô dele chegou da Polônia e quando ele chegou, eles não puderam trazer as sementes deles e eles ganharam de um índio um punhado de um milho rajado. Graças a esse milho, eles conseguiram se manter, a família se mantém. Conseguiu sobreviver e não morreu de fome. E foi passando geração em geração, nós chegamos e fomos fazer uma conversa com ele no ano passado, até ele comentou: ‘Fizemos os cálculos e faz 180 anos que eu estou com essa semente na minha família’. E a esposa dele tem um milho branco que tem 140 anos”, conta Renato.

O biólogo relata que as sementes não ficaram paradas durante as gerações. “Vemos que essas sementes, elas passaram esses 180 anos, elas não estavam paradas, elas estavam sofrendo seleção, de acordo com que esses agricultores estão fazendo, de acordo com o tempo, com o clima, com o meio que eles trabalham porque, geralmente, na Agricultura Familiar, os terrenos são mais dobrados, existe uma certa dificuldade, muitos desses agricultores trabalham com roça de toco ainda. Então, essa semente é adaptada para esse meio que você não coloca tanto insumo químico para produzir e são sementes super resistentes”, disse. 

As sementes eram trocadas pelas famílias que auxiliaram a preservar uma diversidade. “Antigamente, tinha muito essa troca entre os agricultores. Então, uma troca genética, uma troca genética de informações entre essas sementes. O que com o tempo foi se perdendo. As feiras são um local onde ainda conseguimos manter essa troca genética e manter essa diversidade entre as sementes. Você vai encontrar, o pessoal acha que só existe milho branco e amarelo. Lá, você vai encontrar milho vermelho, milho no rajado, milho preto, de várias cores. Feijão também, de tudo que é cor que se imagine”, explica o assessor técnico da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia. 

André também afirma que o objetivo é também auxiliar o desenvolvimento de uma agricultura sustentável para as famílias. “Sempre temos buscado a autonomia das famílias e a sustentabilidade. É mostrar que existe um outro meio de produzir e com custos baixos. Sabemos que hoje, o modelo tecnológico é alto custo de produção, então o investimento que aquela família faz, pode levar até a um endividamento na sua propriedade. Quando você tem tua semente própria, você já tem um berço para começar a fazer uma produção e adequada da tua forma. Sempre dizemos, o agricultor que tem a sua própria semente, ele tem autonomia. Autonomia de plantar a hora que ele quer, ele não depende de estar indo comprar, mas ele produzir daquela semente que já está adaptada ao tipo de solo dele, com o terreno que ele trabalha, para que possa produzir na época certa e alimentos com qualidade”, disse o assessor técnico.

Ele ainda destaca que esse é um meio de auxiliar na permanência de jovens na área rural. “Muitos agricultores familiares acabam deixando suas propriedades, vindo para cidade, achando que a cidade hoje é um meio mais fácil, porque tem, às vezes, um salário. E vemos essa dificuldade que hoje é totalmente diferente. O que nós temos observado, que é uma luta muito grande que fazemos, uma juventude voltando para as áreas rurais, porque o meio de sobrevivência dentro das cidades não está fácil. Quando você tem uma diversidade, às vezes, de estar colocando na mesa dez, 12 tipos de alimento, toda hora que você vai comer, isso é uma riqueza muito enorme e isso vem da Agricultura Familiar, essa diversificação”, explica André. 

O milho, o feijão e o arroz estão entre as sementes crioulas cultivadas na região. “Aqui para a nossa região, o que nós temos trabalhado muito forte são os cereais. É o milho, o feijão e o arroz. Estamos voltando a incentivar muitas pessoas que abandonaram o plantio de arroz, estão voltando. Nós trabalhamos com a questão do milho, principalmente na questão livre de transgênico. É uma outra coisa também que temos feito esse esforço desde a liberação dos transgênicos, pela contaminação do milho. O milho é uma planta muito sensível porque a polinização é aberta. Então, o pólen viaja por, já digo até quilômetros, às vezes, e pode contaminar uma lavoura de milho com uma lavoura de milho crioulo”, conta o assessor técnico. 

Durante a feira, são esperadas cerca de 400 variedades de sementes que poderão ser comercializadas. 

Mais informações nas redes sociais @ColetivoTriunfo ou pelos telefones: Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Irati 9-8891-3667 ou 9-9998-4690 (Edilson) ou ainda com Renato 9-9862-3802, e Luiza (41) 9-9570-0033.

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