Documentário aborda dificuldades de mulheres de darem à luz em locais sem maternidade

Documentário “Proibido Nascer no Paraíso” traz a história de mulheres que precisam sair de sua…

16 de novembro de 2022 às 19h32m

Documentário “Proibido Nascer no Paraíso” traz a história de mulheres que precisam sair de sua cidade, na ilha de Fernando de Noronha, para conseguir ter seus filhos; filme entra em cartaz em Irati a partir do dia 24 de novembro/Texto de Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava e Rose Harmuch

Documentário “Proibido nascer no paraíso” foi lançado em Irati na última terça-feira, 15. Foto: Divulgação

A partir do dia 24 de novembro entra em cartaz no Cinema.com, em Irati, o documentário “Proibido Nascer no Paraíso”, de autoria da cineasta e jornalista Joana Nin. O lançamento em Irati aconteceu na terça-feira (15), com um debate sobre a temática do filme que aborda as dificuldades de mulheres de terem seus filhos na ilha de Fernando de Noronha.

Para a cineasta, a participação de mulheres no debate foi uma surpresa, especialmente com a proximidade das histórias. “Não é só em Fernando de Noronha que as mulheres passam essa dificuldade de poder fazer as próprias escolhas durante o parto. O filme fala sobre a dificuldade de as mulheres fazer valer seus direitos e também suas escolhas, quando elas estão grávidas, quando nós estamos grávidas ou quando vamos dar à luz a uma criança. Hoje no debate tiveram várias participações de mulheres aqui de Irati, contando suas histórias de como é difícil você, por exemplo, querer um parto normal e ser levada a fazer uma cesariana não necessária. Ou, então, você querer um acompanhante e aquele acompanhante não ser aceito por uma razão ou por outra’, conta.

O documentário resgata a história de três mulheres que precisam sair da ilha em que moram para conseguir dar à luz em outro município. “São três mulheres da ilha de Fernando de Noronha, que é um dos destinos turísticos mais cobiçados do Brasil. As personagens são exemplos de várias outras mulheres que passam por isso na ilha e elas têm que sair de casa, abandonar o trabalho, marido, outros filhos, para ter o filho. Elas têm que ficar três a quatro meses longe de casa. Elas vão para o continente. Elas saem 12 semanas antes do parto. Até a 28ª semana, elas são obrigadas a sair mesmo da ilha para aguardar o bebê nascer no Recife, que é a capital do Estado de Pernambuco, onde elas moram na ilha”, explica.

A ilha de Fernando de Noronha fica a uma hora de voo do continente e o acesso é feito apenas por avião. “Nem helicóptero, nem barco. Passageiros só por avião. Antes tinha uma maternidade lá, até 2004, e é uma coisa estranha porque nem mesmo as nativas podem parir na ilha. O que é uma coisa estranha, que nem elas mesmo conseguem entender”, conta.

A cineasta conta que tem encontrado muitas experiências similares no interior do Paraná. “Através dessa turnê, estamos vendo que, claro que a situação não tão extrema assim, mas que tem vários outros lugares que as mulheres não podem ter o filho porque a cidade não tem maternidade ou acaba sendo conduzida por um centro maior”, disse.

Debate em Irati – Em Irati, uma das situações compartilhadas pelas mulheres no debate após a exibição do filme foi a dificuldade na escolha do modo como vão dar à luz. “Sabemos que a cesariana é uma cirurgia que salva vidas. Ela é necessária, mas ela deveria ser usada só em casos em que ela é realmente necessária. Não para facilitar a vida, às vezes, do hospital, do médico, para reduzir o tempo que aquela mulher fica aguardando pelo parto ou muito pior ainda, quando é agendado sem necessidade porque, às vezes, por exemplo, eu tenho uma pessoa muito próxima que ela insistiu: ‘Eu não aguento mais, o final da gestação, é muito difícil. Ai doutor, por favor, eu quero uma cesárea’. A mulher, às vezes, pede a cesárea por não ter conhecimento. Ela fez a cesárea com 28 semanas e a menina nasceu com uma porção de problema respiratórios e alérgicos porque foi uma cesárea desnecessária, feita cedo demais”, explica.

A ideia para o documentário nasceu a partir de uma visita realizada em 2010 à ilha de Fernando de Noronha. “A ideia nasceu quando eu fui à Fernando de Noronha em 2010 como turista. Assim como muitas pessoas eu queria conhecer Fernando de Noronha. Eu ouvi esse papo que era proibido nascer. Eu fui pesquisar se existe alguma lei no Brasil proibindo alguém de nascer em algum lugar e eu descobri que não existe uma lei proibindo ninguém. As pessoas podem nascer. Só que, de fato, não era permitido nem por decreto, nem por norma, nem por lei. Não era permitido porque o Estado decidiu que era mais economicamente interessante levar as mulheres para o continente”, conta.

A descoberta trouxe uma curiosidade que a levou para a ilha novamente em 2014, quando fez um primeiro teaser para conseguir angariar recursos para financiar o filme. “Fui em 2014, voltei na ilha para fazer uma pesquisa e fiz umas filmagens para fazer um teaser para conseguir vender um projeto documentário, às vezes, você precisa mostrar para o pessoal: ‘Olha é assim’. Fizemos essas imagens, formatou o projeto e levei dois anos para conseguir captar os recursos”, disse.

No entanto, o filme demorou para ficar pronto. “Participamos de três editais públicos, até que conseguimos um recurso do fundo setorial do audiovisual em 2016. O filme foi filmado de 2017 a 2019 e ele ficou pronto o início de 2020. Quando aconteceu o quê? A pandemia. O filme ficou meio engavetado. Fizemos algumas sessões online, lançou numa sala de cinema só para cumprir uma obrigação, depois acabamos lançando no Google Play e na GNT. Depois é que podemos com esse edital do Estado do Paraná fazer essa turnê e finalmente dar ao filme o que ele merece que é a tela grande”, conta.

Cineasta Joana Nin participou de um debate com o grupo “Mulheres que Lutam” e o Rotary Club de Irati após a exibição do documentário no Cinema.com. Foto: Reprodução Facebook

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Financiamento – O filme foi feito com recursos financiados por um fundo setorial, gerido pela Agência Nacional de Cinema e administrado pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Na distribuição do filme, com exibição em vários municípios do Paraná, o patrocínio é feito pela Copel, por meio do Profici, que é um edital da Secretaria de Comunicação e Cultura do Estado do Paraná. O evento de lançamento em Irati contou com o apoio do grupo Mulheres que Lutam, grupo Lions e Cinema.com.

Com a distribuição em andamento, o filme está tendo diversas sessões de exibição seguido de debate em diversos municípios do estado. A cineasta tem usado esses espaços de discussão para reunir informações sobre o que as mulheres precisam em relação ao parto. A ideia é transformar isso em um documento para reivindicar projetos e políticas públicas para auxiliar esse momento. “Além de promover essa discussão em outras cidades, queremos também reunir informações porque nós estamos fazendo com o filme uma campanha que chamamos como Advoca-se. O Advoca-se é basicamente uma ação para você brigar por mudanças na legislação, mudança nas regras. Criamos um formulário, quem quiser participar também podem participar, esse formulário está online, temos um Linktree – linktr.ee/proibidonascernoparaiso. Lá tem todas as nossas redes sociais e também o link para esse formulário”, disse.

No formulário disponível no endereço linktr.ee/proibidonascernoparaiso as pessoas podem dar suas contribuições sobre o que acharam do filme. “Você pode assistir o filme e dizer o que você acha que poderia mudar nessa realidade, na sua cidade ou nas leis federais. Por exemplo, hoje no debate foi sugerido pelas mulheres que discutíssemos uma forma de treinamento para médicos fazerem um atendimento mais humanizado ao parto em todas as cidades. Nós nos acostumamos com a questão do online. Foi sugerido que esse treinamento, por exemplo, o Ministério da Saúde desce para que os médicos de todas as cidades fossem capacitados para atender partos de forma humanizada e, não só os médicos, como também enfermagem. Existe uma área da enfermagem só obstétrica, existe uma especialização de enfermeira obstétrica”, explica.

As sugestões serão compiladas e levadas para o poder público. “Vamos fazer um documento para levar o filme e essas sugestões compiladas a todos os parlamentares eleitos, deputados e senadores federais, e também ao Governo Federal que muda no ano que vem. Vamos fazer uma espécie de uma reivindicação para que os direitos das mulheres sejam preservados e que paremos de sofrer tanta violência que, hoje em dia, é conhecida como violência obstétrica”, disse.


Em Irati, o filme passa a ter exibição a partir do dia 24 de novembro no Cinema.com. “Nós estamos disponibilizando 200 ingressos gratuitos e os ingressos são a preço popular, mesmo que você não consiga um gratuito é R$ 10 inteiro e R$ 5 o meio. Estamos colocando o preço do filme popular. Esses ingressos vão ser distribuídos aqui através da Secretaria de Cultura e desse grupo de Mulheres que Lutam. Também deixamos um pouco lá no cinema para caso alguém chegue lá e se tiver ainda, pode também pegar e assistir o filme”, conta.
O filme está disponível em canais de streaming como Globoplay, Now, GNT, Google Play, Vivo Play e iTunes. Também está disponível por meio da Taturana Mobi, uma plataforma que possibilita o agendamento e organização de exibições coletivas para o fomento do debate.
Mesmo assim, a cineasta convida a população a ir aos cinemas para assistir o documentário e ter a experiência de conhecer a história em conjunto. “Eu continuo com essa sensação de que o auditório cheio de pessoas, ir lá pra assistir uma coisa cultural, um filme ou uma peça de teatro, ele é insubstituível, porque você também tem uma energia do público, trocando entre si. Sempre na entrada e na saída, as pessoas conversam”, conta.

Fotos: Reprodução Facebook

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