Descarte incorreto de máscaras pode causar sérios danos ao meio ambiente

Engenheira florestal destaca que uma das preocupações está relacionada ao aumento da quantidade de lixo…

26 de novembro de 2021 às 19h06m

Engenheira florestal destaca que uma das preocupações está relacionada ao aumento da quantidade de lixo produzido com o descarte das máscaras/Paulo Henrique Sava

Máscara encontrada às margens da rodovia BR 153, na Vila São João. Foto: Paulo Henrique Sava

Há pouco mais de um ano e meio, a pandemia de Covid-19 apresentou à sociedade uma nova vestimenta, que se tornou essencial: a máscara facial. Utilizada para proteger as pessoas contra o Coronavírus, elas podem ser feitas de material descartável, como o TNT, ou de tecido.

As máscaras de tecido podem ser lavadas e reutilizadas, tendo uma vida útil de até 30 lavagens. Já as de TNT ou de outros materiais descartáveis precisam ser trocadas com mais frequência. Porém, em algumas situações, elas têm sido encontradas em ruas, parques, praças públicas e rios, fato que tem causado preocupações em ambientalistas por todo o mundo. A professora e engenheira florestal Janaíne Vozniak Batista, que atua no Centro Florestal de Educação Profissional Presidente Costa e Silva, o Colégio Florestal de Irati, diz que uma delas está relacionada ao aumento da quantidade de lixo produzido com o descarte das máscaras. Por isso, ela pede que as pessoas optem por utilizar as máscaras de tecido. 

“A máscara de tecido se mostra menos eficaz comparada à máscara descartável. Porém, o ganho ambiental é que você não está descartando e vai poder reaproveitar a máscara de tecido por 30 lavagens. No meu caso, que sou professora e convivo com 20 a 30 alunos, eu acho importante utilizar a máscara descartável porque convivo com pessoas diferentes todos os dias. Agora, quem vai fazer uma compra, sair pouco de casa, é melhor que utilize a máscara de tecido, pois estará ajudando na diminuição deste volume e na não geração do resíduo, que é um dos focos da gestão ambiental”, frisou.

Uma máscara de TNT pode levar até 650 anos para se decompor. Se o material for ingerido por um animal silvestre, este poderá morrer. Além disso, não haveria mais lugar no mundo para acondicionar as cerca de 130 bilhões de máscaras descartadas mensalmente. “Estamos falando de um Tecido Não Tecido (TNT). A máscara, no meio ambiente, vai demorar 650 anos (para ser decomposta), mas no estômago de um animal silvestre ela não será digerida, então teremos mortes de animais. Pensando nos 130 bilhões de máscaras, imagine o tamanho do lugar para acondicionar este lixo. O que vai impactar é no volume, é muito material e resíduo que vai ter que ser destinado, guardado ou colocado em algum lugar”, comentou Janaíne.

Formas de descarte – A professora explica quais são as formas corretas de descarte de máscaras. “Nós vamos ter duas situações: quando vamos descartar o resíduo de pessoa infectada ou de algum familiar em isolamento, e em situações em que a família está negativada. No primeiro caso, o cuidado tem que ser extremo. A primeira indicação é de que a máscara seja descartada no banheiro, que é o lugar mais próximo de uma pia e sabonete, e faça a assepsia da mão imediatamente. Você deve retirar pelas alças, virar ela para o lado de fora e dobrar, jogando junto ao lixo orgânico. Quando estiver com aproximadamente ¾ cheio, você vai fechar o saco de lixo com um nó bem fechado, colocá-lo em outro pacote e deixá-lo em isolamento por pelo menos um mês, pois não tem nenhuma pesquisa dizendo que você já descartando no outro dia, ele não poderá contaminar os coletores. No caso de pessoas negativadas, o descarte também deve ser feito no lixo do banheiro, mas o material já pode ser colocado para a coleta do lixo orgânico”, frisou.

As máscaras jamais devem ser descartadas junto ao lixo reciclável, segundo a professora. “De maneira nenhuma, e isto temos que frisar muito, pois não podemos misturar este resíduo contaminado com o material reciclável. Temos que pensar que existem pessoas que sobrevivem deste material, trabalham nas usinas de triagem, vão abrir as sacolas, os pacotes, em muitos casos são cooperativas que não são bem organizadas e não existe conscientização sobre o uso do EPI, [os catadores] estarão sem luvas, podem pegar este material contaminado e levar a doença para outras pessoas, levar para sua casa, e é assim que a doença se dissemina”, comentou.

Mesmo com esta orientação, os coletores da cooperativa Malinoski, uma das responsáveis pelo lixo reciclável em Irati, ainda encontram máscaras em meio ao material. “Às vezes ainda vem”, relatou Luciane Malinoski, responsável pela cooperativa. Ela conta que a quantidade diminuiu em relação à que era encontrada no início do ano, e que a maior concentração delas é coletada na área central de Irati. Luciane relatou que todos os catadores utilizam luvas e máscaras, além de lavarem as mãos e fazerem uso frequente do álcool gel. Todos já receberam a 2ª dose da vacina contra a Covid-19.

No início da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) orientava que as pessoas guardassem as máscaras em casa e fossem levando para as unidades de saúde. Porém, isto ficou inviável para os municípios, uma vez que os postos precisariam destinar funcionários devidamente paramentados com todos os equipamentos de proteção individual (EPI) para receber este material. “Isto fica inviável financeiramente. Como é que as cidades vão se organizar e ter pessoas só para fazerem isto?”, questionou.

A professora orienta os coletores a solicitarem junto à empresa Ecovale, que faz a coleta do lixo orgânico em Irati, e solicitem luvas, material primordial para que eles façam a coleta do lixo. “Que sejam dadas as luvas, porque eles [coletores] não têm como coletar de outra forma a não ser com as mãos. Eu não tenho nem palavras para agradecer os coletores urbanos pelo trabalho que fazem, retirando resíduos e deixando a cidade mais limpa”, pontuou.

Janaíne Vozniak Batista, professora e engenheira florestal do Centro Estadual de Educação Profissional Presidente Costa e Silva, o Colégio Florestal de Irati. Foto: Paulo Henrique Sava

Medidas adotadas pela Ecovale – Felipe Marcel Dalmas Kotwiski, engenheiro ambiental da Ecovale, relatou quais medidas a empresa tem adotado para preservar a saúde dos seus funcionários. “Diariamente, antes de iniciar o turno de trabalho, os veículos e equipamentos são higienizados com uma solução de Hipoclorito de Sódio diluído. Todos os veículos possuem álcool em gel. Quando o funcionário chega à empresa, ele passa álcool em gel e é realizada a aferição da temperatura para verificar se ele não está com febre. Embora não possamos obrigar, mas prezamos que os funcionários estejam vacinados. Hoje, praticamente todos já receberam a 2ª dose, o que é extremamente importante para diminuir os efeitos causados pela Covid-19 e verificar se conseguimos nos livrar da pandemia o quanto antes”, apontou.

O engenheiro ressaltou que não existem dados a respeito da quantidade de máscaras coletadas porque a maioria da população segue a orientação e as descarta  de forma correta junto com o resíduo do banheiro, uma vez que se tornam rejeitos. Ele ressalta que, com isto, o risco de contaminação dos coletores e motoristas é baixo, pois o material é encaminhado diretamente para o aterro sanitário. “É uma medida que vem sendo adotada em todas as regiões do país. Eu não tenho os dados de quantidade coletada exatamente porque não conseguimos mensurar. Se o munícipe acondicionar corretamente a máscara, ela acabará tendo o destino correto”, comentou.

Mesmo assim, ainda são encontradas máscaras em locais públicos de Irati. A secretária de Ecologia e Meio Ambiente, Magda Adriana Lozinski, destacou que os materiais são frequentemente abandonados em pontos de ônibus, ruas, parques e espaços públicos do município. “O que ocorre é que os coletores acabam se deparando com várias máscaras caídas no chão e em passeios, o que é uma problemática, pois hoje é muito difícil parar para coletar este tipo de material especificamente”, pontuou.

A incidência do descarte incorreto de máscaras de tecido é menor, mas ainda existe. Um dos pontos positivos deste material é a vida útil; porém, quando este período acaba, elas devem ser descartadas junto ao lixo do banheiro, da mesma forma que as máscaras descartáveis. “Posteriormente ao uso e ao fim da vida útil da máscara que se encontre deteriorada, temos que descartá-la. Porém, se ela for bem cuidada e higienizada, deixamos de utilizar muitas máscaras descartáveis utilizando as de tecido”, enfatizou Magda.

Secretária Municipal de Ecologia e Meio Ambiente, Magda Adriana Lozinski. Foto: Paulo Henrique Sava

 
 

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