Comunidade iratiense se despede do Padre Noé

Sacerdote faleceu na manhã deste domingo, 14, aos 63 anos, por conta de um AVC….

15 de agosto de 2022 às 16h27m

Sacerdote faleceu na manhã deste domingo, 14, aos 63 anos, por conta de um AVC. Ele foi o 1º padre viúvo da história da Diocese de Ponta Grossa/Paulo Henrique Sava

Padre Noé Borges Vieira faleceu na manhã deste domingo, 14, aos 63 anos. Foto: PASCOM/Diocese de Ponta Grossa

A comunidade iratiense se despediu na manhã de hoje, 15, do Padre Noé Borges Vieira, que faleceu em virtude de um AVC neste domingo, 14, aos 63 anos. Uma missa de corpo presente foi celebrada na Paróquia São João Batista, na Vila São João. O corpo dele foi enterrado no fim da manhã no cemitério da Vila São João.
Noé foi o 1º padre viúvo da história da Diocese de Ponta Grossa. Ele permaneceu casado por um ano e teve uma filha. Maria Lislaine Vieira, de 39 anos, reside na Vila São João. Ela não quis gravar entrevista, mas disse que teve uma convivência paterna profunda com ele. Segundo Maria, o pai sempre dizia que ela tinha muitas outras irmãs e irmãos, dos quais ele precisava cuidar.

Dom Sérgio Arthur Braschi, bispo da Diocese de Ponta Grossa, destacou que Noé foi um grande missionário como padre e também como pai. “Pai não só de sua família, porque depois de viúvo ele foi ser padre, mas de todos que se aproximavam dele, inclusive eu. Ele sempre tinha uma atitude paternal, de amor, compreensão e misericórdia. Não é à toa que muita gente sente hoje a sua partida, mas ele está lá junto de Jesus, o bom pastor, para interceder por nós, o Padre Noé Borges Vieira”, frisou.

De acordo com o bispo, todos os sacerdotes gostavam de conviver com o Padre Noé. “Ele, até pelo seu jeito e porte, era um paizão, que sempre nos acolhia bem, tinha uma palavra de conforto, perdão e misericórdia, sobretudo no ministério do aconselhamento e da confissão, era muito conhecido.

Em sua homilia, Dom Sérgio ressaltou o sentimento missionário do Padre Noé, que esteve com ele em Moçambique, na África, onde ficou de 2000 a 2002 e implantou a Pastoral da Criança. “Lá, nós ficamos vários dias com ele e com um padre da Diocese de Guarapuava. Dois padres do Paraná estavam lá, e um deles era o Padre Noé. Ele se despediu de sua paróquia e Dom João Braz de Avis, meu antecessor, o enviou”, comentou.

Enquanto esteve no comando da Paróquia São Miguel, o Padre Noé teve muitas dificuldades, inclusive com situações levantadas por pessoas da própria comunidade, conforme relatou o Padre Athanagildo Vaz Neto, que assumiu a paróquia após seu afastamento para tratamento de saúde, em 2011. Athanagildo, que conviveu com ele nos últimos anos na Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, em Ponta Grossa, confirmou que Noé foi vítima de calúnia e difamação feitas por perfis falsos nas redes sociais entre os anos de 2010 e 2011. Esta situação foi resolvida logo em seguida com o auxílio do Núcleo de Combate aos Cibercrimes (NUCIBER) da Polícia Civil, que descobriu quem seria o autor dos perfis.

“Não posso deixar de falar das dificuldades que ele teve na Paróquia São Miguel, que foram muito sérias e às vezes foram provocadas por pessoas da própria comunidade. Isto temos que falar e também como o Espírito Santo o fortaleceu para que ele pudesse sair de cabeça erguida e mantendo sua humildade característica. Por isto, nós, hoje, nesta celebração, devolvemos a Deus o Padre Noé que ele nos deu durante este tempo, tanto para a família dele quanto para a igreja de Ponta Grossa. O nosso coração fica saudoso, tem uma razoável tristeza, mas por baixo desta tristeza tem a alegria gerada da esperança na vida eterna e na ressurreição”, pontuou.

Dom Sérgio destacou que os padres, por serem humanos, também podem cometer erros. “Nós somos de carne e osso, e não anjos. Às vezes, o povo quer que o padre seja um anjo, não aceita que ele e o bispo tenham limitações, que nós sejamos pessoas normais, que precisa dos outros e erram também. Quando uma pessoa morre, perpassa diante de nós quem foi ela na nossa vida. Ao lado do agradecimento, às vezes precisamos pedir perdão porque não tratamos bem aquela pessoa que está ali. Agora, estamos aqui, mas às vezes falamos mal, caluniamos, e o Padre Noé sofreu com isso. Não é à toa que ele tinha problemas cardíacos, pressão alta e tudo, porque o padre e o bispo são pessoas normais, e como sofremos quando, às vezes, são levantadas certas coisas. Deixo isto como reflexão porque nunca é tarde para a gente mudar”, frisou.

O pároco da Igreja Matriz Nossa Senhora da Luz, de Irati, Padre Jorge Casimirski, ressaltou a beleza da história vocacional do Padre Noé. “O coração dele sempre esteve ardente ao caminho, ao chamado à resposta do Senhor. Eu tive a oportunidade de ajuda-lo quando ele veio fazer o estágio no Seminário Mãe de Deus. Todos sabem que ele foi casado por um ano, teve uma filha e depois a esposa dele faleceu. Depois, ele seguiu o caminho do sacerdócio”, comentou.

Para o coordenador da Pastoral Presbiteral da Diocese, Padre Martinho Hartmann, o padre Noé conseguiu viver profundamente sua fé com um coração muito bom. “Foi experimentado por Deus na sua vida, mas ele soube em todos os instantes responder sempre com muito amor. Padre Noé nos deixa um exemplo de caminhada, de fidelidade e amor, especialmente na questão dos sacramentos. Ele dizia sempre que, desde a sua juventude, tinha o desejo de ser padre, porém acabou tomando a decisão de se casar e constituir uma família e teve uma filha. Depois sua esposa faleceu e ele começou o acompanhamento vocacional na Diocese de Ponta Grossa. Diante destes chamados das vocações, vemos os mistérios e desígnios de Deus, que nos chama sempre. Padre Noé é um exemplo disso, nunca é tarde para responder uma vocação. Quando Deus nos chama e a vocação é verdadeira, Deus conta conosco sempre em toda a vida”, destacou.

Padre Álvaro Nortok, pároco da Igreja São Miguel, de Irati, comentou que Noé sempre foi muito próximo, especialmente dos sacerdotes mais jovens. “Então é uma perda mesmo, rezemos por ele e agradeçamos a Deus por tudo o que ele fez, que foi exemplo para todos nós”, comentou.

A disponibilidade e a dedicação para o trabalho pastoral eram duas características básicas do Padre Noé, segundo o vigário geral da Diocese, Padre Jaime Rossa. “Ele foi um padre muito dedicado e disponível. Eu mesmo tive a ocasião de contar com os trabalhos dele na Paróquia São José (em Ponta Grossa), quando às quartas-feiras, nas novenas, ele atendia as confissões do povo. Ele sempre foi muito dedicado e disponível, atendendo com muita atenção a todas as pessoas. Neste sentido, ele foi um exemplo para todos nós, de alguém que serviu ao povo de Deus, que procurou colocar a sua vida a serviço da comunidade e da Igreja”, relatou.

Leonel Stanski, sacerdote que atualmente está na Paróquia São Cristóvão, de Ponta Grossa, acompanha a vida do Padre Noé desde que fez estágio no seminário. “Ele, na época, também era seminarista e contava o seu testemunho de vida para nós. Depois, quando ele já era padre e eu seminarista, tive a oportunidade de fazer estágio pastoral com ele na Paróquia Santana de Castro. Nós temos um clero muito unido, então temos muitas oportunidades de estarmos juntos em reuniões, confraternizações, retiros e celebrações, e ele sempre foi um grande amigo nosso. Noé deu um testemunho muito bonito para a nossa Diocese, desenvolvendo um trabalho missionário na África. Assim que ele voltou de lá, estava com a saúde um pouco abalada por conta de ter pego malária algumas vezes, e já vinha sofrendo com a saúde há muito tempo. Hoje ele nos deixa, mas nós somos cristãos, cremos na vida eterna e na ressurreição e queremos rezar hoje junto com a comunidade pelo seu descanso e sua paz eterna”, comentou.

Noé Borges Vieira nasceu no dia 15 de janeiro de 1959. Natural de Teixeira Soares, fez seus estudos de 1ª a 4ª série na Escola Rural Padre Ladislau Maibuk, em Bituva dos Machados. Depois, cursou o 1º Grau supletivo no Colégio Presidente Kennedy e o 2º Grau no Colégio São Luiz, ambos em Ponta Grossa. Estudou Filosofia e Teologia no Instituto de Filosofia e Teologia “Matter Ecclesiae” (IFITEME), da Diocese de Ponta Grossa.

De 1984 a 1990, residiu na Paróquia São Sebastião, em Ponta Grossa, acompanhado pelo Padre Silvio Mocelin. Depois, ele cursou Teologia, residindo no Seminário Diocesano São José. Recebeu os ministérios de leitor, na Paróquia São Judas Tadeu, e de acólito na Paróquia Santa Rita de Cássia, em Ponta Grossa.

Noé foi ordenado diácono em 1º de agosto de 1993, na Paróquia São Sebastião, em Ponta Grossa, e recebeu a ordenação sacerdotal na Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição de Teixeira Soares no dia 15 de janeiro de 1994, pelo bispo Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger.

Durante sua vida sacerdotal, Padre Noé participou de um congresso ecumênico em Roma no ano de 1996 e fez Escola de Pregação Missionária em Curitiba com os padres missionários da África. Ele também participou da Escola de Caridade com os vicentinos e fez um curso com o Padre Oscar Quevedo sobre parapsicologia antes de ir para a África.

Noé atuou como pároco na Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, em Tibagi, de 1994 até o ano 2000, foi coordenador da catequese do setor e assessor da Renovação Carismática Católica (RCC) em Castro. Nos anos de 2002 e 2003, trabalhou como pároco na Paróquia Santana, de Castro. Ele também foi vigário paroquial da Igreja Menino Jesus, de Reserva, entre 2004 e 2006. Em Irati, Noé foi vigário da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro entre 2007 e 2008 e pároco da Paróquia São Miguel entre 2009 e 2011, quando se afastou para cuidar de problemas de saúde. Durante o período em que esteve em Irati, ajudou a implantar a Comunidade Bethânia na localidade de Arroio Grande. Desde 2012, vinha exercendo a função de vigário da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, em Ponta Grossa.

Fotos: Paulo Henrique Sava

Comunidade iratiense se reuniu na Paróquia São João Batista para se despedir do Padre Noé Borges Vieira na manhã desta segunda-feira, 15.

Na foto, de blusa verde, a filha do Padre Noé, Maria Lislaine Vieira, ao lado da família.
Este site usa cookies para proporcionar a você a melhor experiência possível. Esses cookies são utilizados para análise e aprimoramento contínuo. Clique em "Entendi e aceito" se concorda com nossos termos.