Campanha tem o objetivo de alertar a sociedade sobre a importância dos cuidados de saúde vocal e como a voz pode ser considerada um instrumento de inclusão e igualdade de direitos/Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava e Rodrigo Zub
Fonoaudióloga Ana Paula Dassie comentou sobre a campanha “Sua Voz Importa” durante participação no programa “Espaço Cidadão” da Super Najuá FM 92.5. Foto: Juarez Oliveira |
A campanha é realizada no mês em que é comemorado o Dia Mundial da Voz, celebrado no dia 16 de abril. “O Dia Mundial da Voz é comemorado desde o ano de 2001, então nós estamos no 21° ano, mas no Brasil essa iniciativa foi pioneira. Então, desde 1999, anualmente, nós comemoramos o Dia Mundial da Voz que a cada ano ganha corpo e ganha visibilidade na sociedade”, disse Ana Paula.
Neste mês, os profissionais da área de fonoaudiologia buscam alertar a população sobre os cuidados com a voz, mas neste ano, segundo a professora, a campanha quer atingir o aspecto social da voz. “Historicamente a Campanha da Voz sempre se voltou também para, por exemplo, detecção precoce de possíveis problemas de voz, de quem tem alterações e que precisam de uma avaliação, mas esse ano realmente o contexto é muito no sentido de ouvir as vozes todas que importam. Por exemplo, esse ano existe um apelo grande pensando numa comunidade que hoje demanda muito de atendimento fonoaudiológico que é a população trans, que faz parte de uma minoria, que tem uma demanda vocal importante e que precisa cada vez ser mais ouvida. E o trabalho de voz é muito importante quando falamos de identidade de gênero para ter uma inserção social”, conta.
Mas mesmo com esse objetivo, a professora alerta que os cuidados com a saúde da voz ainda fazem parte da campanha. “Costumamos falar que o que faz bem para saúde de modo geral também faz bem para a voz. Esses hábitos, anualmente nós estamos aqui falando sobre esses hábitos, mas é sempre importante relembrar quando falamos, por exemplo, de tabagismo, de fumo, estamos falando do principal hábito nocivo para a saúde da voz. Ultimamente, temos visto muitas variações dessa questão de fumo e tabagismo. Hoje em dia, jovens com outras modalidades de narguilé, cigarro eletrônico, essas outras modalidades que tem, e que são todas muito prejudiciais para a saúde da voz. Temos focado muito nessa questão porque, além de prejudicar a voz no que se refere à qualidade, também é um dos principais causadores de câncer de cabeça e pescoço, de câncer de laringe, que é uma situação mais grave. Temos que sempre falar disso porque esses hábitos também são importantes para a saúde vocal”, disse.
Outro cuidado com a voz que precisa permanecer é a hidratação. “Precisamos nos hidratar ao longo de todo dia, principalmente quem usa a voz profissionalmente. Fazer uma hidratação contínua ao longo do dia, com pequenos goles de água, totalizando uns dois litros de água por dia, para que mantenhamos o corpo hidratado e a mucosa, que é uma gelatina que reveste nossas cordas vocais, nossas pregas vocais, também fique hidratada para que a voz seja produzida de forma adequada”, explica.
Ana Paula revela ainda que estudos mais recentes mostram que a nebulização com soro fisiológico é uma boa alternativa para manter a voz de modo saudável. “A inalação com o soro fisiológico, que muitas pessoas fazem, por exemplo, para questões respiratórias, alérgicas. Vemos que muitas pessoas inclusive têm o inalador em casa, algumas pesquisas recentes têm mostrado o quanto a nebulização e a inalação ajudam na qualidade da voz e ajuda a prevenir fadiga vocal, cansaço vocal, então, principalmente, quem tem uma demanda vocal fazer nebulização é muito importante”, destaca.
O método não tem contraindicação, mas a recomendação é que se procure um profissional para acompanhar o caso. “Não existe contraindicação. O que sempre falamos é que o ideal é procurar um profissional especializado, para que possamos orientar exatamente como é que essa nebulização vai ser feita, em que hora, em que momento do dia, por quanto tempo. Isso é importante saber. Mas, é claro que quanto mais você usa a voz, maior tem que ser o seu cuidado, mas não há contraindicação”, explica.
Outras pesquisas também mostram que o café não é tão prejudicial à voz quanto se imaginava. “As últimas pesquisas não mostram relação direta entre o café e uma piora na voz, por exemplo. Embora o café tenha um componente de desidratação, de mucosas em geral, os estudos recentes não mostram a relação direta. É claro que o ideal é não abusar muito da quantidade, pensando num equilíbrio que se deve ter. Mas as pesquisas mostram que o café não é o vilão como se achava”, conta a fonoaudióloga.
Os problemas de voz podem aparecer em qualquer idade. “Existem diferentes tipos de problemas de voz. Alguns são comuns na infância, alguns na puberdade, quando os adolescentes estão passando por aquela fase que chamamos de muda vocal e que o adolescente, às vezes, tem aquela instabilidade na voz, os adultos que são aqueles que ingressam no mercado profissional e aí o uso de voz passa a ser mais intenso. Os idosos também podem ter problema de voz, pelo próprio processo de envelhecimento que a laringe sofre, que a voz também sofre. Existem dificuldades vocais que podem acontecer ao longo de todos os ciclos da vida”, disse.
Um sintoma que as pessoas precisam estar atentas é a rouquidão sem causa aparente. “Sintomas como rouquidão, cansaço para falar, perda da voz, sensação de esforço para falar, voz falhando ao longo do dia. Todos esses sinais já indicam que pode ser que você já esteja diante de um problema de voz ou esteja em risco para desenvolver um problema de voz. Se você tem esses sintomas, por mais de 14 dias, sem nenhuma causa aparente de uma gripe, de uma infecção e isso persiste, isso precisa ser avaliado por uma fonoaudióloga ou fonoaudiólogo, que vai avaliar a função da sua voz, e por um médico otorrinolaringologista, que vai analisar as condições das suas pregas vocais para saber o que existe ali”, alerta.
A professora destaca que há duas perguntas que podem indicar quando é preciso buscar um profissional. “Tem duas perguntas chaves para você detectar ou para você se auto perceber em relação à sua voz. A primeira: ‘Faço força para falar?’. Sinto que tenho que fazer força. E a segunda: ‘Minha voz é rouca? Tenho rouquidão com frequência?’. Existe um estudo de 2021 agora bastante recente que fez um estudo de rastreio de um problema de voz, se você responde sim para essas duas questões – faço força para falar e tenho rouquidão -, você tem quase 90% de chance de já estar diante de um problema de voz instalado. É muito importante que cada um de nós estejamos atentos aos possíveis sinais que o nosso corpo dá, para que nós possamos procurar por ajuda especializada diante dessas situações”, explica.
Atualmente, o uso da máscara como forma de prevenção da contaminação da Covid-19 é opcional, mas há grupos que ainda são aconselhados a usarem em determinados ambientes. Ana Paula destaca que as pessoas precisam tomar cuidado com a voz porque quando há o uso da máscara, a tendência é que as pessoas falem mais alto, colocando mais esforço na garganta. “Embora muitas pessoas agora já não estejam usando máscara de forma tão sistemática, existem alguns grupos que sim como, por exemplo, os professores que estão em ambientes com muitas pessoas e que ainda estão usando máscara. Também é importante você citar esse ponto porque caso as pessoas estejam sentindo dificuldade em se comunicar, por conta do uso da máscara, também existe a possibilidade de nós, na fonoaudiologia, auxiliarmos no que se refere às orientações de saúde vocal e até mesmo de exercícios vocais para minimizar esses impactos’, disse.
A professora alerta que é possível ter impacto na voz quando a pessoa fala em um volume muito alto e de forma excessiva. “Vamos tendo uma sobrecarga no nosso aparelho fonador. E de forma cumulativa, nós podemos ter sim, por conta desse esforço excessivo causado pelo aumento do volume que temos que fazer, a longo prazo podemos desenvolver de fato uma alteração, então é muito importante cuidar”, conta.
Quem precisa de atendimento de fonoaudiologia em Irati e região possui uma opção gratuita na clínica-escola do curso de Fonoaudiologia da Unicentro. “É um atendimento totalmente gratuito e é voltado tanto para as pessoas que já identificam que tem alguma queixa relacionada à voz ou, por algum motivo, a voz não representa. Estamos falando que a voz importa e sobre representação, as pessoas sabem que tem alguma coisa que incomoda na voz, mas nem sabe muito bem o que é. ‘Não gosto da minha voz por algum motivo’. ‘Acho ela fina demais, grossa demais, minha voz está rouca, minha voz é muito baixa, eu não consigo falar alto’. Fazemos esse trabalho que muitas vezes envolve uma questão de reabilitação e de terapia”, disse.
Outro trabalho que é realizado pela clínica-escola é com a comunicação. “Nós também fazemos um trabalho de aprimoramento da comunicação. ‘Eu não tenho um problema de voz, mas eu quero falar melhor’. ‘Eu quero me comunicar melhor no meu trabalho, nas minhas relações pessoais’. Nós fazemos também um trabalho de aprimoramento dessa comunicação, desenvolvendo recursos para que a pessoa se comunique de forma melhor, de forma mais assertiva”, conta a fonoaudióloga.
Os atendimentos na clínica-escola são feitos nos três períodos do dia (manhã, tarde e noite). O atendimento é realizado por estagiários do curso de Fonoaudiologia, supervisionados por professores especialistas na área de voz. O contato com a clínica-escola pode ser feito por WhatsApp pelo número (42) 9-9904-0346 ou pelo telefone (42) 3421-3228.