Violência contra mulher é tema de passeata em Irati

Evento acontece nesta segunda-feira, dia 29, a partir das 17 horas Paulo Henrique Sava Regianas,…

27 de setembro de 2014 às 11h14m

Evento acontece nesta segunda-feira, dia 29, a partir das 17 horas

Paulo Henrique Sava


Regianas, Paulas, Marias, Joanas… Poderia ter sido qualquer uma, pois a violência contra as mulheres acontece diariamente. Em Irati, nas últimas semanas, foi registrado um assassinato e outras três mulheres foram vítimas de estupro. Fora estes acontecimentos, muitos outros casos de violência acontecem diariamente e não são noticiados.

Diante desta situação, diversas entidades irão realizar em conjunto com a comunidade iratiense uma passeata pelas ruas centrais da cidade nesta segunda-feira, dia 29. A passeata está programada para as 17 horas, mas a concentração começa mais cedo, às 16 horas, com a confecção de cartazes na Praça da Bandeira.

Caso o tempo seja chuvoso, a concentração será transferida para um local coberto.

Em seguida, os participantes sairão em passeata pelas ruas centrais de Irati, seguindo para a Câmara Municipal, onde irão acompanhar a sessão ordinária do legislativo. 

Em entrevista à Najuá, as integrantes dos movimentos intitulados “Roda Pagu” e “InspiraSUS”, Karina Schiavini e Fabíola Souza, contam que a mobilização teve início a partir do momento em que o primeiro dos três casos de estupro citados foi noticiado. 

“A gente se mobilizou e começou a discutir estas questões. Quando foi noticiada a morte desta mulher [Regiana Coltro Tohouca, de 33 anos, que foi assassinada pelo ex-marido na comunidade de Lageadinho no último dia 18] e esses outros três estupros que aconteceram, a gente pensou nesta mobilização por saber que estes casos acontecem e muitos deles nem são notificados”, ressaltou.


Karina, que é estagiária de Psicologia no Centro de Referência Especializada em Assistência Social (CREAS), destaca que muitas mulheres não sabem que podem denunciar casos de violência e nem reconhecem a violência do estupro como algo de que elas podem recorrer, e que muitos destes casos são denunciados, mas não são divulgados. 

“Aqui em Irati tem muitos casos que acontecem, a gente acompanha muitas mulheres que são vítimas de estupro, de violência doméstica e as políticas públicas da nossa cidade não estão dando conta disso”, pontuou.

Para Fabíola Souza, a sociedade civil é responsável por selecionar as políticas públicas voltadas para a violência contra a mulher, num sentido de ressaltar a importância das denúncias e da participação em movimentos, como a passeata que vai ocorrer em Irati. 

“Isso faz a diferença para pressionar o poder público a promover ações voltadas para a mulher, que são escassas em Irati. A rede tem feito o que pode, por isso até o coletivo InspiraSUS se importa com a causa, está em solidariedade e apóia as mesmas causas que a PAGU, porque a violência contra a mulher chega na rede de saúde, na rede de assistência, nas escolas, a rede toda sabe da violência contra a mulher”, afirmou Fabíola.

Ela destacou a importância de se fazer um trabalho de base no sentido de mostrar o que é a violência contra a mulher. “Hoje em dia não se tem a concepção, por exemplo, que a mulher não é obrigada a ter relações sexuais com o marido. Isso é um tabu na nossa sociedade e a gente precisa dar visibilidade para isso”, ressaltou.

Número de casos atendidos em Irati
Segundo Karina, o número de casos de violência contra a mulher atendidos em Irati é muito grande, chegando a cerca de 150 casos por mês, sendo que muitos deles não são denunciados. Fabíola destaca a importância da realização deste trabalho de base. 

“As vezes as pessoas têm concepções diferentes sobre o que é esta violência. Elas não entendem que é um estupro também ser obrigada a manter relações sexuais com o marido, e a gente entende que isso também é uma violência. Tudo depende do que a pessoa entende como violência e não tem conhecimento do que a rede tem e de como ela pode agir e onde procurar apoio”, pontuou Fabíola. Além disso, vergonha e medo também são fatores predominantes para que a mulher não denuncie casos de violência doméstica.

Outro fato que acontece com muita frequência em Irati é a violência dentro das próprias instituições. “As mulheres as vezes vão denunciar, mas acabam culpadas pela violência que ela sofreu. Se ela continua com o marido, é porque gosta de apanhar, e essas coisas acontecem dentro da própria instituição. Então, além da mulher ser violentada dentro de casa, quando ela vai fazer a denúncia, acaba sendo desencorajada a fazê-lo”, ressaltou Karina.

De acordo com Fabíola, o que se busca mostrar é que os movimentos não estão alheios a estas notificações de estupro e violência. “O que a sociedade tem a ver com isso? O machismo se reproduz pela gente, e nós temos que nos responsabilizar por isso e o poder público têm que se responsabilizar pelo que eles estão oferecendo ou não para a população”, pontuou.

Irati assina Termo de Combate a Violência contra a Mulher

Irati e mais 13 municípios do Paraná assinaram em 2013 o Termo de Combate a Violência contra a Mulher. Com isso, o município poderia receber verbas federais para o combate a violência através do programa “Mulher: viver sem violência” para manter projetos na área. De acordo com Fabíola, ações sobre o tema não estão sendo realizadas no município.

Ela questiona também sobre os repasses que deveriam ser feitos para o município, o que, segundo Fabíola, não está acontecendo. “Inclusive uma das nossas grandes questões é o por que de Irati não ter uma Secretaria da Mulher, um setor dentro da própria Delegacia para acolher as denúncias de violência contra a mulher. Isso é um preparo diferente quando se trata de uma sociedade que é machista”, finalizou. 

Passeata

Para a confecção dos cartazes que serão utilizados na passeata, as pessoas que quiserem podem enviar sugestões de frases para a roda PAGU, através da fanpage da instituição no Facebook. 

A passeata está programada para a próxima segunda-feira, 29, com concentração a partir das 16 horas na Praça da Bandeira e saída às 17 horas, com término na Câmara Municipal de Vereadores de Irati.

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