Unicentro promove 14º Bloomsday nesta sexta-feira em Irati

Evento terá diversas atrações e será realizado na sexta-feira, 13, a partir das 19 horas,…

10 de junho de 2025 às 18h42m

Evento terá diversas atrações e será realizado na sexta-feira, 13, a partir das 19 horas, no Empório São Luiz, com entrada gratuita/Paulo Sava

Professores Davi Silva Gonçalves e Edson Santos Silva, organizadores do 14º Bloomsday, que acontecerá na próxima sexta-feira, 13, a partir das 19 horas, no Empório São Luiz, em Irati. Fotos: Diego Gauron

A Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) vai promover na próxima sexta-feira, 13, a 14º edição do Bloomsday, a partir das 19 horas, no Empório São Luiz, em Irati, com entrada gratuita. O evento celebra a obra “Ulisses”, do escritor irlandês James Joyce. Neste ano, o tema será “Hades”, numa referência à morte e ao inferno.

Professor Edson Santos Silva, do Departamento de Letras da Unicentro. Foto: Diego Gauron

A programação terá música, poesia e outras manifestações artísticas. O evento será realizado pelo Departamento de Letras da Unicentro, com apoio do Centro de Línguas (CEL) e da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Irati.

Em entrevista à Najuá, o professor Edson Santos Silva, um dos coordenadores do evento, destacou que o Bloomsday é o primeiro feriado mundial dedicado a uma obra literária e é a única comemoração literária que acontece em bares.

“Ele é um evento muito particular, ou seja, um evento de literatura que ocorre no mundo num bar. É algo novidadeiro, inédito, que eu considero, de certa forma, exótico, porque as pessoas se perguntam o porquê de um evento literário acontecer em um bar. Tem a ver com a tradição da Irlanda, com os pubs, com cerveja. Eu tenho plena certeza de que quem for, vai gostar muito do evento, primeiro porque a entrada é gratuita, você só vai pagar o que consumir, e além de tudo, vai ter acesso a uma série de atividades, sempre claro ladeadas por uma boa música, que não pode faltar”, comentou.

O professor Davi Silva Gonçalves, que integra o Departamento de Letras do campus Irati e é um dos organizadores do Bloomsday, salientou que um dos objetivos do evento é de mostrar a literatura como algo próximo das pessoas, e não como um elemento sério, difícil e distante, que não pode ser alcançado.

“Quando trazemos uma retextualização, uma reinterpretação do James Joyce para o nosso contexto, também é querendo fazer isto com os nossos alunos: não mostrar a literatura enquanto elemento sério, distante, difícil e complexo, mas mostrar o que de divertido tem nela para eles também viverem esta experiência na pele. É super gratificante para a gente, pois fazemos ensaios de teatro com eles, aproveitamos este momento para trabalhar a literatura do corpo, a performance deles. É gratificante ver eles dando risada um do outro, rindo das apresentações, pois é precisamente para isto que serve o Ulisses, do meu ponto de vista”, frisou.

Davi Silva Gonçalves, professor de Literatura Inglesa e Norte Americana do curso de Letras da Unicentro. Foto: Diego Gauron

Participação dos estudantes

Estudantes do curso de Letras da Unicentro também participam da organização do Bloomsday, de acordo com Davi. “Eu converso com eles e sempre coloco nos meus planos de ensino que parte deles é o aluno se preparar para a apresentação do Bloomsday porque trabalhamos com questões como o teatro. Quando se fala de teatro, não adianta só ficar lendo texto em sala de aula. Aquele texto não foi feito só para ser lido no papel, ele é um roteiro para ser encenado. No momento do Bloomsday a gente vai para fora da sala de aula. Na semana passada, ficamos na grama, onde tem mais espaço, para eles interpretarem qual movimento tem que ser feito, em que posição você vai ficar em frente ao público, como é que você vai projetar a voz. Tudo isto tem a ver com a literatura, que é o tema que ensinamos, e também com a docência, pois eles vão praticar técnicas de docência, de oratória e retórica. Para nós, é uma parte importante não só pelo evento em si, mas sim porque é parte da formação dos nossos alunos também, e eles gostam muito”, comentou.

A realização deste projeto, conforme Davi, faz com que os alunos tenham a prática da literatura e do teatro fora da sala de aula. “Eles querem fazer, eles não querem ficar presos na sala de aula. Você dá uma oportunidade de eles levarem a família para assistir, um namorado, um amigo, eles adoram esta oportunidade de misturar o que fazem em sala de aula e a literatura com este momento festivo, mais alegre, e justamente esta é a oportunidade que o evento dá num bar. Não é num contexto de ensino, de sala de aula, é num boteco”, enfatizou o professor.

A obra

Davi destacou a importância do romance Ulisses, escrito no começo do século XX por James Joyce. O professor conta que o dia 16 de junho é considerado o feriado internacional da Literatura justamente por ser exatamente o dia em que se passa a história do livro.

“É um dia da vida de Leopoldo Bloom, e aí, no caso desta celebração nossa, foi escolhida a sexta-feira 13, e pela data escolhida, o tema será do Hades, que é a visita que o personagem faz do cemitério. Este é considerado o grande romance de língua inglesa, pois ele traz a linguagem literária para os dias de hoje, para a vida do cidadão comum, tira esta ideia sofisticada do herói ter que ser muito acima de nós e viver grandes aventuras, coisas muito distantes do nosso dia a dia, e traz isto para a nossa experiência real e mundana. As performances que são pensadas são muito lúdicas e feitas para fazerem o público se divertir e dar risadas”, comentou.

No episódio a ser trabalhado durante o evento, o personagem central brinca com a visão superficial da humanidade a respeito da morte, segundo Davi. “Ele vai ridicularizar, por exemplo, o dinheiro que se gasta com caixões, o porquê de se investir tanto em caixões caríssimos, brinca sobre como diferenciar o caixão de um anão e o de uma criança. Este tipo de coisa é para tirar esta visão toda mística sobre a morte, sendo que, na nossa sociedade, não nos comportamos desta maneira e vamos nos tornando cada vez mais superficiais. Joyce nos puxa para o mundo real e brinca com assuntos sérios, neste caso, o inferno e a morte. Quem for ao bloomsday na sexta-feira, vai ver que tentamos trazer esta brincadeira, brincando com figuras como o diabo e outras que estão atreladas a esta visão mais mística da morte”, pontuou.

O livro traz em Ulisses a figura idealizada do herói, de acordo com o professor. “Ulisses vai ter esta visão idealizada do herói, que carregamos até hoje no cinema, em Hollywood, quando temos a figura de um herói que não vai ao banheiro, não se alimenta e não toma uma cerveja. Este herói está acima de nós, não é um ser superior. Não é o que o James Joyce vai fazer, ele vai pegar esta figura do herói e vai escrachar e ridicularizar ela, colocando-a no dia a dia de um cidadão comum. O Ulisses do James Joyce nada mais é do que a história de um cidadão comum”, frisou.

Basicamente, o livro retrata a rotina de uma pessoa irlandesa comum, segundo Davi. “É uma pessoa comum que saiu de casa para trabalhar, passou num bar, encontrou um amigo, ficou bêbado, fez besteira, reclamou da esposa, é basicamente isto. É um livro gigantesco em que a gente se perde muito nos pensamentos dele, por vezes pensamentos que são interrompidos, frases interrompidas porque justamente fazem esta conversa com nossa maneira de ser. Nossos dias também não são muito maravilhosos, às vezes fura um pneu, está tendo greve de caminhoneiros, para o trânsito. É mais ou menos isso, são coisas que acontecem, e neste caso específico a visita ao cemitério, que é o foco do Hades. Nesta visita, você vai ver o Leopold Bloom conversando com colegas, comparando as roupas uns dos outros, falando sobre os preços dos caixões, lendo nomes de outros mortos e pensando como morreu tanta gente e nem sabemos quem elas são e como morrem pessoas todos os dias. O foco é uma reflexão sobre a morte”, comentou.

Foto: Divulgação
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