UBS Adhemar Vieira de Araújo é remanejada para cuidado de pacientes da Covid-19

Medida foi tomada após aumento do número de casos de coronavírus no município. Com o…

10 de novembro de 2020 às 15h16m

Medida foi tomada após aumento do número de casos de coronavírus no município. Com o remanejamento, são três unidades voltadas ao atendimento para a Covid-19: a UBS François Abib, no bairro Joaquim Zarpellon; o Pronto Atendimento (UPA da Vila São João) e a UBS Adhemar Vieira de Araújo

UBS Adhemar Vieira de Araújo passou a atender somente pacientes com síndromes gripais. Foto: Jussara Harmuch

O município de Irati abriu mais uma unidade para receber pacientes que estão com suspeita de Covid-19. A partir desta terça-feira (10), a Unidade Adhemar Vieira de Araújo, próxima à Rádio Najuá, foi remanejada para atender pacientes com síndromes gripais. “Nós estamos abrindo mais uma unidade sentinela que é aqui no Ademar de Vieira, que é nossa UBS. A partir de hoje, ele vai ficar exclusivo só para síndromes gripais”, afirma a secretária municipal de Saúde, Jussara Aparecida Kublinski Hassen. 

Os atendimentos de demais pacientes que estavam marcados na unidade serão transferidos para outras unidades e ambulatórios, como o Ildefonso Zanetti. Com o remanejamento, são três unidades voltadas ao atendimento para a Covid-19: a UBS François Abib, no bairro Joaquim Zarpellon; o Pronto Atendimento (UPA da Vila São João) e a UBS Adhemar Vieira de Araújo. Porém, nesta terça-feira, a unidade do Joaquim Zarpellon não está atendendo por falta de médico, já que o profissional que atende na unidade ficou doente, segundo a secretária de saúde. Sendo assim, em função da grande demanda, várias pessoas formaram filas para receber atendimento na unidade Adhemar Vieira de Araújo, conforme constatado por nossa reportagem. “Estou procurando atendimento desde ontem, ontem eu passei à tarde inteira no posto no Joaquim Zarpellon quando chegou às 4 h da tarde eles mandaram todos embora, que eles não iam atender porque era o horário que eles tinham e avisaram que era para estar lá hoje às 8 h da manhã. Hoje cheguei lá antes às 8 h, quando chegou a minha vez eles falaram que não tinha médico para atender e que era para todo mundo vir no posto do Adhemar. A fila está bem lenta”, disse uma pessoa que aguardava para ser atendida na manhã de hoje, 10. 

Outro morador disse que o atendimento na unidade Adhemar Vieira de Araújo foi bom e não houve demora. Ele relatou que a coleta de exame foi rápida, mas é desconfortável. O iratiense e sua mãe procuraram o posto, pois são contatos de uma outra pessoa da família diagnosticada com a doença. “A minha mãe que precisou ir ontem na outra unidade [Joaquim Zarpellon] tinha mais de 50 pessoas esperando. Para não contrair o vírus por falta de distanciamento que as pessoas estavam amontoadas, ela preferiu ir embora para não correr o risco de ter contato com uma pessoa positivada”, afirmou o filho da paciente. 

A enfermeira do setor de Vigilância Epidemiológica, Jéssica Cristina Mattos, afirma que as pessoas serão atendidas na unidade de saúde mais próxima de sua residência. “Na verdade, está sendo feita uma territorialização, as duas unidades de saúde que foram abertas do Joaquim Zarpellon e Adhemar, ele vai ser dividido o atendimento conforme o território, de acordo com o bairro que a pessoa mora. Mais pra frente vamos fazer o mapeamento de quais bairros em quais unidades para divulgar bem certinho”. 

A secretária de Saúde diz que a pasta está tentando remanejar um médico para atender na Unidade Adhemar Vieira de Araújo para agilizar os atendimentos. Além dos pacientes com sintomas gripais, o Pronto Atendimento também atende situações de urgência e emergência. Jussara alerta que o sistema está sobrecarregado, mas o número de profissionais disponíveis é o mesmo desde o início da pandemia.

“O pessoal tem que colaborar a nossa equipe continua a mesma, mas os casos aumentaram de dois diariamente para 40. Ontem, no François Abib foi atendido 128 pessoas com síndrome gripal. Não adianta eu vou abrir três, quatro, cinco unidades e vai continuar assim. Porque as pessoas não estão se cuidando. Agora vão ter que ter paciência. Só temos três unidades disponíveis. Um médico está doente, amanhã volta a funcionar normalmente, mas hoje vai ser só no Pronto Atendimento e Adhemar. O que está acontecendo é o que nós mais temíamos. É o colapso da saúde. As pessoas não cuidaram. Tem gente procurando a saúde para pegar receita no ambulatório. Não precisa. As receitas foram prorrogadas por mais três meses. Eles não ficam em casa e os nossos funcionários também ficam doentes. Nós estamos com médicos, técnicos de enfermagem e enfermeiros doentes. A equipe que atendia duas pessoas agora atende 40 contaminados e os demais suspeitos. Ontem atendemos 128 pessoas somente em uma unidade imagine nas outras. Hoje vai passar de 300 pessoas fazendo exame do Covid”, relata a secretária. 

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Aumento de restrições

O município de Irati teve um expressivo aumento de casos de Covid-19 nos últimos dias. Segundo o boletim da Secretaria Estadual de Saúde, foram 211 casos confirmados somente entre o dia 2 de novembro a 9 de novembro, totalizando 677 casos confirmados desde o início da pandemia. 

A secretária municipal destaca que houve um grande aumento da média da quantidade de casos positivos de Covid-19 na última semana.  “Nossa média móvel há três semanas era dois. Hoje nossa média móvel é de 30 casos positivados/dia. Isso vai nos preocupando”, conta Jussara. 

O aumento de casos fez com que o município anunciasse na segunda-feira (9), a volta de mais restrições para evitar uma maior contaminação. Entre as restrições está a não permissão de realização de reuniões e eventos em geral, além do uso de brinquedos e equipamentos de academia ao ar livre de todos os parques e praças públicas.

“Como não controlou, não tivemos muita a colaboração da nossa população com esse afrouxamento, então começamos a tomar essas medidas. Como eu falei, conversamos com o prefeito, a indicação do nosso COEF [Centro de Operações Especiais e de Fiscalização] era para restringir mais. Mas vamos aos poucos. Vamos restringir as partes públicas, as reuniões públicas, todo e qualquer tipo de reuniões”, explicou Jussara. 

A secretária explica que mesmo com o aumento de casos de Covid-19 na última semana, houve a opção de restringir apenas agora as atividades porque se esperou para ver se a quantidade de diagnósticos positivos continuaria subindo. Com a continuação do aumento, houve a opção da restrição. Ela também contou que ainda não há a opção de lockdown, como no início da pandemia, porque não é possível ver efetividade. “Se o prefeito resolve fechar tudo hoje como foi no lockdown. O que acontece? Sabemos, já temos experiência, já vimos. Algumas pessoas vão nos municípios vizinhos. Sabemos de município vizinho que tinha filas em panificadoras, nos mercados. É isso que não queremos. Vamos nos conscientizar, nossa população tem que se conscientizar que nós não podemos ir no parque, não podemos levar as crianças”, disse. 

Conscientização

Uma das dificuldades na prevenção é a falta de conscientização em relação aos cuidados como o uso da máscara e evitar aglomerações. A secretária explica que também há o desafio de conseguir monitorar corretamente casos suspeitos porque muitas pessoas temem perder o emprego, caso tenham que ficar isolados até a chegada do resultado do exame. “Nós temos muita omissão. As pessoas não contam os contatos que tiveram. Às vezes, elas já estão na fase de transmissibilidade e tem medo de contar porque ‘eu tive contato com o meu amigo que trabalha naquela empresa’. Se ela contar, o nosso pessoal vai monitorar e vai pedir para aquela pessoa, até que sai o resultado, se afasta também. Temos tido muita dificuldade”, disse. 

O desrespeito às regras também ocorre com pessoas com casos positivos. Há denúncias de pessoas diagnosticadas com coronavírus que não estão ficando em isolamento. “As famílias não estão levando tão a sério como deveriam levar. Temos positivados que recebemos denúncia. ‘O fulano de tal está positivado e eu vi na Munhoz da Rocha’. Por favor, vamos colaborar porque essa pessoa pode transmitir para 30, 40 pessoa em um dia”, alerta a secretária. 

Outro problema é com pacientes que já foram curados da Covid-19. A secretária explica que não há como afirmar que a pessoa já pegou a doença está imune. “Nós não temos nada que comprove que você não vai pegar novamente o vírus e nada que comprove que você vai pegar. Tem alguns estudos em alguns lugares, em algumas reportagens que vi, que parece que alguns profissionais de saúde em outros estados, pegaram pela segunda vez o Covid-19. Mas não posso afirmar nada”, disse Jussara. 

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), não há evidências de que as pessoas que se recuperaram da Covid-19 e tenham anticorpos estejam protegidas contra uma segunda infecção. Num comunicado, a organização explica que “é esperado que a maioria dos indivíduos infectados desenvolva uma resposta de anticorpos que forneça algum nível de proteção. O que ainda não se sabe é o nível de proteção ou quanto tempo vai durar. A OMS [Organização Mundial de Saúde] está trabalhando com cientistas de todo o mundo para entender melhor a resposta do corpo à infecção por Covid-19”, explica o comunicado.

A secretária ainda destaca que é preciso que as pessoas se conscientizem e cooperem com a equipe de saúde pública que está dedicada ao tratamento. “A nossa equipe está cansada. Estamos há mais de oito meses, lutando diuturnamente, de dia, de noite. Nós aumentamos a nossa equipe. Estamos remanejando. Você sabe que a saúde não tem uma grande equipe. Nós estamos remanejando, tirando de um lugar, coloca no outro para monitorar essas pessoas. Pedimos respeito com nossos profissionais. Eles trabalham 24 horas. O pessoal da epidemiologia e do monitoramento trabalha 24 horas. Quem fica de plantão, fica o tempo todo com telefone porque pode vir a dar problema, pode vir a piorar a situação”, conta. 

Jussara explica que é preciso mais empatia das pessoas. “Vamos cuidar da nossa saúde e pensar um pouco no próximo. Eu posso estar transmitindo para uma pessoa. Eu sou saudável então eu não vou usar máscara. Mas a pessoa que está do meu lado pode não ser tão saudável quanto você e você vai transmitir para ela. E vai ceifar a vida dela. Não é isso que nós queremos”, comenta. 

Texto de Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava e Jussara Harmuch

Grande número de pessoas procurou a unidade Adhemar Vieira de Araújo na manhã desta terça-feira, 10. Foto: Jussara Harmuch
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