De acordo com os trabalhadores, o pedido de inclusão no grupo de vacinação contra a Covid-19 é para assegurar um direito que está previsto no Plano Estadual de Vacinação. Os assistentes sociais destacam que o Governo Estadual incluiu em janeiro os trabalhadores do SUAS junto com a vacinação de professores/Karin Franco, com reportagem de Rodrigo Zub e Paulo Sava
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Faixas e cartazes foram expostos para mostrar reivindicação dos trabalhadores do SUAS. Foto: Divulgação |
O levantamento realizado pelo movimento que organiza a paralisação verificou que Teixeira Soares é o município com maior contaminação de trabalhadores do SUAS, com 29,4%. Em seguida está Rebouças, com 29,2% de infectados, Fernandes Pinheiro, com 28,57% e Rio Azul, com 23,5%. Guamiranga, Inácio Martins e Imbituva tiveram 20% dos trabalhadores do SUAS diagnosticados com a doença. Já em Irati, a contaminação ficou em 17,29% dos trabalhadores. Mallet teve o índice mais baixo, 7,69% de contaminação.
O levantamento constatou que há 388 trabalhadores do SUAS na região, incluindo trabalhadores com ensino superior (assistentes sociais, advogados, etc) e com ensino médio (motorista, auxiliares, cuidadores, etc). São 21 profissionais em Fernandes Pinheiro, 19 em Guamiranga, 59 em Imbituva, 27 em Inácio Martins, 138 em Irati, 34 em Mallet, Rio Azul e Teixeira Soares e 22 em Rebouças.
De acordo com os trabalhadores, o pedido pela inclusão no grupo de vacinação também é para assegurar um direito que está previsto no Plano Estadual de Vacinação. Os assistentes sociais destacam que o Governo Estadual incluiu em janeiro os trabalhadores do SUAS junto com a vacinação de professores. “A proposta é efetivar mesmo o que está contido no Plano Estadual de Vacinação. Ele inicia colocando no próprio item tanto a vacinação dos trabalhadores educacionais e também os trabalhadores da Assistência Social”, explica Denis.
O assistente social do Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS) de Rebouças, Rafhael Dietrich, ressalta que o desejo é que se cumpra o que já está no planejamento. “O que a gente pede nada mais é o que o cumprimento do que o próprio Estado colocou lá atrás no Plano de Vacinação”, disse.
Outra preocupação dos assistentes sociais é a demanda que tem aumentado durante a pandemia. “O que se intensificou na assistência social realmente foi as orientações aos benefícios, principalmente, o auxílio emergencial no ano de 2020. Muitas famílias não tinham acesso, muitas vezes aos meios tecnológicos, internet, para poder solicitar, eles estavam procurando os equipamentos, orientações. Há programas tanto municipais como estaduais também. Tivemos o programa Comida Boa que teve toda uma articulação com todos os equipamentos da assistência social que fizeram o processo de entrega desse benefício às famílias”, disse Denis.
A assistente social do CREAS de Teixeira Soares, Mariane Lukavy, explica que o fechamento de outras instituições também ajudou no aumento da demanda. “Desde o início da pandemia, o aumento da demanda vem sendo muito grande com a questão dos benefícios. Também tivemos com o fechamento do INSS, com os atendimentos presenciais, uma demanda maior que chega aos equipamentos porque o usuário não tendo acesso ao INSS ele vai procurar o CRAS, até mesmo o CREAS, para pedir orientações, pedir auxílio, porque nem todos tem acesso e o INSS também não é um sistema fácil de estar tendo acesso. O usuário muitas vezes não consegue criar o perfil no Meu INSS sozinho, então eles procuram os equipamentos auxílio para isso. Sem falar no aumento nas questões de violência”, conta.
Rafhael destaca que a vacinação dos trabalhadores ajudará na proteção de quem acessa esses serviços. “A gente compreende que a imunização do grupo dos trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social protege também a população atendida porque a gente vem vindo de um momento muito grande de pessoas em situações de vulnerabilidade social, em situação de risco social em decorrência da pandemia”, relata.
Denis conta que há distribuição de Equipamento de Proteção Individual (EPI) para os trabalhadores, mas que isso não é suficiente. “O meio mais eficaz para prevenir esses trabalhadores e para que eles possam de alguma forma também prestar um atendimento com qualidade para esse usuário é a vacina. O trabalhador precisa estar bem, precisa estar seguro, para poder passar essa segurança para o usuário”, conta.
Mariane destacou que os profissionais estão em busca de um direito e que também defendem a ampla vacinação da população. “A gente defende a vacinação para todo mundo, não só para os trabalhadores do SUAS. Acredito que todos os trabalhadores do SUAS acreditam nisso. Que a vacinação já deveria estar ocorrendo de forma universal para todos”, explica.
Paralisação: A decisão da paralisação veio após diversos eventos ocorridos nos últimos dias. Segundo Rafhael, até há pouco tempo havia a expectativa para a vacina, mas rumores da não inclusão dos profissionais no calendário de vacinação preocupou os trabalhadores. “Alguns dias atrás a gente estava convicto que a gente ia receber essa vacina. Estava todo mundo tranquilo e aguardando a chegada da vacina. Ocorre que começaram alguns murmúrios de que a vacina seria apenas para os profissionais de educação nesse momento, sem a gente ter nenhum tipo de orientação por parte do Estado”, comenta.
Com os rumores, os trabalhadores do SUAS enviaram no dia 12 de maio um oficio à Secretaria de Estado da Saúde (SESA), por meio da 4ª Regional de Saúde, pedindo esclarecimentos. “Há cerca de 15 dias a gente começou a se organizar de forma muito pontual. Alguns municípios começaram se organizaram. A gente mandou um ofício para Secretaria da 4ª Regional de Saúde, que posteriormente mandou para SESA. Teve algumas articulações com deputados estaduais, alguns municípios oficiaram seus executivos. Porém, não tinha nada de muito concreto”, conta Rafhael.
A SESA não respondeu o ofício encaminhado pelos trabalhadores do SUAS. “Essa é uma situação que de fato nos colocam em posição de invisíveis perante o Estado”, disse Rafhael.
O falecimento da assistente social Rafaela Letícia de Souza, aos 29 anos, no domingo (23), foi o estopim para o início da movimentação. Ela morreu em virtude de complicações por Covid-19 enquanto esperava uma vaga de leito em UTI. “Infelizmente, domingo, a gente recebe essa triste notícia do falecimento precoce da Rafaela. A Rafaela é nossa colega, assistente social. Ela era nossa amiga, ela nossa companheira de luta em defesa do SUAS, em defesa dos direitos dos trabalhadores, em defesa dos usuários da política de assistência social. Essa perda precoce veio como uma bomba no nosso colo. Trouxe uma comoção muito grande para todos os trabalhadores e nesse momento a gente viu que não dava para ficar parado. A gente precisava fazer alguma coisa”, afirma Rafhael.
Mariane destaca que o trabalho de Rafaela ia além das obrigações como assistente social. “A Rafaela, além de profissional, era uma pessoa muito querida por todos que lutava muito. Ela lutou até os últimos dias para garantir os direitos dos usuários dela, os direitos de toda a sociedade porque as ações dela iam além do trabalho, ela fazia várias atividades, várias ações fora do trabalho em prol dos usuários. A gente enquanto assistente social tem um Núcleo Regional do nosso Conselho, ela fazia parte por muito tempo, então, ela era bastante ativa. Nós não podemos deixar que a luta dela seja esquecida”, conta.
A movimentação iniciou após o cortejo realizado em homenagem a Rafaela. Os trabalhadores de Rebouças iniciaram a paralisação, que ganhou adesão regional em pouco tempo. Na segunda-feira (24) aconteceu uma assembleia onde a proposta foi aprovada pelos participantes. Na terça-feira (25), os trabalhadores publicaram um manifesto público onde relatam a situação da contaminação de Covid-19 entre profissionais do SUAS.
Durante os dias de paralisação, os trabalhadores têm realizado manifestações com cartazes e panfletagens pela região. Os atos são divulgados em uma página no Facebook, que pode ser acessada aqui.
Na paralisação, serviços de assistência social estão fechados. Funcionarão apenas os serviços de urgência e emergência.
Após o início da paralisação, a Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente da OAB, Subseção de Irati, apoiou o movimento realizado.