Técnicos do IDR Paraná explicam por que colheita do pinhão começa em 1º de abril

Processo de maturação de pinhas de algumas variedades de pinheiro e a proteção das araucárias…

24 de abril de 2024 às 17h50m

Processo de maturação de pinhas de algumas variedades de pinheiro e a proteção das araucárias são fatores determinantes para o início da colheita nesta data/Paulo Sava

Pinhão só pode ser colhido a partir de 1º de abril no Paraná. Foto: Paulo Sava

Teve início no último dia 1º de abril a colheita e a comercialização do pinhão no Paraná. Uma portaria editada em 2015 pelo Instituto Água e Terra (IAT) restringe o transporte, a colheita, armazenagem e a comercialização do produto antes desta data.

O chefe do escritório Regional do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR) em Irati, Bruno Krevoruczka, contou, em entrevista à Najuá no último sábado, 20, que o processo de maturação das pinhas de algumas variedades e a proteção das araucárias também são fatores determinantes para o estabelecimento da data para início da colheita.

“A maior parte das variedades de Araucaria Angustifolia (nome científico do pinheiro) que temos no Paraná têm o seu processo de maturação ocorrendo a partir de abril. Nós sabemos que tem algumas variedades, principalmente a mais conhecida, que é o famoso pinhão de São José, que a maturação começa a partir de meados de fevereiro e março. Para garantir a proteção da araucária é que foi feita esta legislação e a liberação só é permitida a partir de 1º de abril”, pontuou Bruno.

Weslei Leandro dos Santos, engenheiro agrônomo, e Bruno Krevoruczka, chefe do escritório regional do IDR Paraná em Irati. Foto: Paulo Sava

Quando o produtor colhe um pinhão antes da maturação, além de correr o risco de consumir um alimento sem qualidade, impede a perpetuação da araucária, espécie que está em extinção. Além disso, a portaria do IAT prevê a aplicação de uma multa no valor de R$ 300 por quilo de pinhão apreendido que tenha sido colhido antes de 1º de abril. Por este motivo, Bruno pede atenção dos produtores em relação a esta data. “Por isto, o pessoal tem que tomar cuidado para não colher e não comercializar pinhão antes do dia 1º de abril”, pontuou.

Técnica da enxertia – O IDR mantém uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) para transferência de tecnologia sobre a produção de pinhão e a técnica da enxertia, contou o engenheiro agrônomo do IDR de Irati, Weslei Leandro dos Santos. “Estamos focando mais na questão da enxertia, principalmente trabalhando em consórcio com outras espécies florestais, para passar uma tecnologia para o agricultor e que ele possa ter uma outra alternativa de renda. Tem um projeto piloto, no qual o produtor tem uma área de consórcio de espécies florestais que possa gerar renda para ele e que seja interessante para a preservação do pinhão”, comentou.

Muda de pinheiro produzida por enxertia. Foto: Weslei Leandro dos Santos

O projeto piloto da enxertia teve início em 2021 e tem parceria do IDR, do IAT, da Embrapa e da Secretaria de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar, com patrocínio de uma empresa de transmissão de energia. O produtor iratiense David Wnuk, de Governador Ribas, teve a propriedade selecionada para participar do projeto. Ele cedeu uma área de sua propriedade e recebeu mudas e insumos para montar um sistema de produção florestal. Segundo Wesley, a ideia é de difundir este sistema de produção para outras comunidades. “A ideia é de difundir este sistema de produção, que é um consórcio, e pode gerar renda próxima à da produção de grãos. Ali tem araucária, erva-mate, bracatinga e produção de mel”, frisou.

Depois de três anos, o projeto visa fazer a enxertia das araucárias para antecipar a produção de pinhão. Bruno ressalta que este tipo de trabalho pode ajudar a aumentar a renda do produtor rural. “A legislação é conservacionista, e nós temos uma ideia de que podemos e precisamos conservar a araucária e o pinhão pelo uso. Então, dar importância econômica para o pinhão vai nos proporcionar aumentar a conservação da araucária no estado do Paraná”, pontuou.

Na foto, o engenheiro agrônomo Weslei aparece na área da propriedade de David Wnuk, em Governador Ribas, destinada para o projeto da enxertia. Foto: Arquivo pessoal

Meta do projeto – A meta do projeto é fazer com que a produção de pinhão fique entre 10 a 12 toneladas por hectare nos próximos anos. Com isso, a renda do agricultor pode melhorar, segundo Bruno. “Se você multiplicar isto por R$ 1, R$ 2 ou R$ 3, que seria o preço por quilo do pinhão vendido, você pode ter uma ideia de quanto pode ganhar com o pinhão, em termos financeiros, além das outras espécies, da erva-mate, da bracatinga e do próprio mel, que pode entrar no sistema consorciado”, pontuou.

Renda e agroindústria do pinhão – A produção de pinhão atingiu R$ 20 milhões no Paraná em 2022. Somente Inácio Martins foi responsável por R$ 3,5 milhões desta produção. O município está implantando uma agroindústria do pinhão, que vai transformar o produto in natura em farinha e pinhão pré-cozido e embalado a vácuo. O prefeito Júnior Benato (PSD) contou como está o processo de implantação da fábrica.

Projeto da agroindústria do pinhão de Inácio Martins. Foto: Prefeitura de Inácio Martins

“Nós temos nosso projeto apresentado na SECID (Secretaria das Cidades), estamos na fase de assinatura do convênio e logo teremos a autorização do processo de licitação para construção do espaço físico. Temos também um projeto do Conder para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Governo Federal, contemplado em um recurso de quase R$ 700 mil para compra de equipamentos com a tecnologia desenvolvida pela Embrapa, que vai proporcionar a dessecagem e a trituração do pinhão, fazendo a farinha com alto poder nutritivo e livre de glúten”, comentou.

Os subprodutos do pinhão produzidos pela agroindústria martinense estarão nas cozinhas de grandes chefs e poderão ser exportados. Porém, para Benato, a agroindústria trará uma maior valorização para os produtores que mais preservaram a natureza na região centro sul.

Projeto da fábrica de pinhão de Inácio Martins. Foto: Prefeitura de Inácio Martins.

“A agroindústria não vem só para atender o município de Inácio Martins, mas sim a toda a região. O produtor rural terá a oportunidade de vender o produto com preço justo, podendo fazer a colheita do pinhão conscientemente na época certa da maturação, e com a garantia de venda para a agroindústria, que vai ter uma diferença. Será feita uma cooperativa de mulheres para que elas trabalhem nesta agroindústria e administrem o seu empreendimento, que vai ser a primeira empresa de transformação do pinhão no Estado do Paraná”, frisou.

Benato não informou qual o prazo para a conclusão da obra e o início dos trabalhos da fábrica. Para Bruno, a instalação da agroindústria do pinhão em Inácio Martins proporcionará a comercialização do produto diretamente entre o agricultor e a indústria, sem a necessidade dos chamados “atravessadores”. “Isso só tem a proporcionar para o nosso produtor aqui da região ganhos econômicos”, frisou.

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Produção em 2024 – A produtora Cecília, que vende seus produtos na Feira do Produtor, destacou que neste ano, a produção de pinhão foi boa. “Neste ano, a produção foi muito boa. Nós tivemos uma super safra, mas com uma boa qualidade”, destacou.

Pinheiro encontrado em uma residência no centro de Irati. Foto: Paulo Sava

Wesley e Bruno explicam que a variação da produção de pinhão de um ano para outro se deve principalmente a fatores climáticos. “Nós estamos colhendo agora em abril, mas esta produção foi definida há uns 20 meses. Esta pinha foi fecundada há 20 meses. Dependendo da variedade, se ocorrer muita chuva na época da polinização, ela pode ser prejudicada. Um evento que ocorreu a 20 meses atrás vai influenciar na colheita de agora, e isto explica muito a variação. Nós estamos colhendo o pinhão agora que iniciou sua polinização em outubro e novembro de 2022. Dentro destes dois meses, podem ocorrer diversos problemas, como excesso ou falta de chuva, pode ter pouco vento, o que dificulta a polinização e podemos ter redução da produção em relação a isto, dentro deste período de polinização”, frisou.

Por conta do excesso de chuva registrado em outubro e novembro de 2023, a safra do pinhão para 2025 pode ser afetada. Outra situação que pode contribuir para a diminuição na produção é o desmatamento, comentou Wesley. “Isto vai diminuindo o número de indivíduos (árvores) na natureza e a quantidade de pólen circulando vai diminuindo. Isto vai afetando a produção ao longo do tempo. Por isso, é importante fazer a preservação”, destacou.

Proibição da entrada de pinhão de outros estados – A legislação do Paraná não permite a entrada de pinhões de outros estados, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esta normativa visa proteger o produto paranaense contra doenças e pragas que poderiam afetar as araucárias. “Podem ocorrer doenças fúngicas, pragas, que estejam em outros estados. Esta proibição possibilita que este tipo de transporte não ocorra para dentro do Paraná. É uma proteção fitossanitária do nosso pinhão e do nosso pinheiro”, finalizou.

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