Empresários reclamam da falta de auxílio do poder público para manutenção das empresas
![]() |
No fim de março, empresários e trabalhadores do setor de transportes fizeram um protesto em Irati no Parque Aquático e saíram em passeata pelas ruas da cidade. Foto: Fábio Burgath |
Paulo Henrique Sava
A pandemia do novo coronavírus afetou diversos setores da economia e deixou muitas incertezas em relação ao futuro de algumas categorias de trabalhadores, entre eles os que atuam no ramo de turismo e transporte de estudantes. As empresas destes setores também foram afetadas neste período, uma vez que elas estão sem trabalhar há mais de 150 dias. Algumas delas enfrentam dificuldades financeiras, como relata o empresário Fábio Burgath. Ele diz que os empresários não conseguiram encontrar uma forma de amenizar os efeitos econômicos da pandemia, recorrendo até mesmo ao auxílio de familiares e à venda de bens para poderem se manter no ramo. A dificuldade com o pagamento de financiamentos e a falta de um auxílio específico dos poderes constituídos também tem causado prejuízos.
Todos nós estamos procurando auxílio. Não estamos tendo ajuda de governos municipais, estaduais ou federais. Existem algumas ofertas de linhas de crédito, como o Pronamp e a Fomento Paraná, porém estamos encontrando várias dificuldades nisto. Muitos empresários têm financiamentos de carros, que estão pagando sem poder trabalhar. Estamos trabalhando para manter as empresas abertas sem poder atender, e está muito difícil.
Um projeto de lei de autoria do deputado federal Pedro Lupion (Podemos) prevê que estudantes universitários paguem preço único ou tenham transporte gratuito em distâncias de até 250 km para todo o Brasil. Segundo Burgath, caso seja aprovada, esta matéria trará ainda mais prejuízos para o setor.
Além disso, a vinda de outras faculdades particulares para Irati fará com que muitos estudantes deixem de viajar diariamente para cidades como Ponta Grossa, Guarapuava e União da Vitória, o que deve causar prejuízo financeiro para os transportadores.
Infelizmente ficamos nesta incógnita porque não sabemos como iremos colocar nossas empresas para trabalhar. Estão diminuindo cada vez mais as ofertas que teríamos para isto, pois não estamos encontrando onde colocar estes veículos, seja para transporte escolar, universitário ou turismo. Existem alguns rumores de que as aulas em algumas faculdades particulares podem voltar nos próximos dias, mas também está parado até o momento. Estamos sem saber que norte seguir.
Fábio acredita que a retomada das aulas de forma escalonada e com revezamento de turmas, assunto que vem sendo discutido pelas secretarias de Estado da Educação e da Saúde, poderia causar prejuízos aos transportadores.
Se for voltar gradativamente, por exemplo, 10 alunos por turma, só algumas séries, os donos das empresas terão que duplicar o número de carros para trabalhar. Com isto, o custo vai dobrar e alguns pais não vão querer pagar porque o filho não precisará ir (para a aula) cinco dias por semana e durante todo o mês. Então, isto vai ficar bem complicado.
Os empresários também estão utilizando dinheiro do próprio bolso para fazer a manutenção e a documentação dos veículos. Fábio diz que, para que uma pequena empresa de transportes, com apenas um veículo e sem contratar funcionários, possa continuar funcionando, ela precisa desembolsar, em média, R$ 750 por mês. Neste valor, estão inclusas taxas de seguro de passageiros, alvará, custos de importador, vistoria do INMETRO e o tacógrafo do veículo, cujo vencimento é anual.
No meu carro, eu fiz em janeiro, mas trabalhei até 18 de março e estou há cinco meses parado. A gente fica nesta dúvida, pois só esta taxa de vistoria é de R$ 500. Será que teremos que desembolsar novamente ou esta vistoria será prorrogada? Este ‘novo normal’ está cheio.
O empresário avalia que uma alternativa para manutenção das empresas seria o pagamento de uma bolsa-auxílio empresarial por parte do Poder Público.
Deveria ser reunido o pessoal para verificar um valor para esta ajuda. Existem alguns estados que estão pagando R$ 1,2 mil para cada empresa, mas aqui no Paraná não teve conversação sobre isto ainda.
![]() |
Empresários do setor reclamam de falta de apoio do Poder Público durante a pandemia. Foto: Fábio Burgath |
A empresária Juliane Back, de União da Vitória, atua no ramo de transportes há 20 anos. Destes, são 16 em viagens de turismo. Ela afirmou que nunca esperava passar por uma situação como esta.
Nós imaginamos até ficar um mês ou dois parados por conta de doença pessoal ou de algum familiar, mas todo este tempo sem trabalhar, acredito que nenhum dos colegas do ramo tenha imaginado que iria acontecer.
Por conta da pandemia, Juliane diz que ela e o marido decidiram atuar no setor de alimentação, com a venda de cachorro quente e sushi para manter as contas em dia.
Optamos pelo delivery em alimentos aqui para a cidade. Ficamos três meses parados com a expectativa do retorno, não podendo assumir nenhum outro compromisso, mesmo sendo difícil nesta situação conseguir outro trabalho assim. Como vimos que não seria possível nada concreto tão próximo, optamos por fazer algo para o básico, para o dia a dia, para as contas de água, luz, casa e comida.
Mesmo assim, a empresária ressalta que a situação da empresa de transportes está muito difícil por conta dos encargos e da manutenção dos veículos.
Estamos em uma situação e pedindo ajuda mesmo para que algum governante olhe para nós também. Já aconteceu de percebermos algumas pessoas indagando ‘Vocês não sabem fazer outra coisa?’, ou ‘Vocês precisam saber se virar’. Falar é fácil, a gente sabe fazer outras coisas, não somos aptos apenas ao transporte. Aí você coloca esta situação na crise econômica em que o país e o Paraná se encontram e se pergunta o que fazer nesta situação, e fazer o que além do que amamos, se não conseguimos nos imaginar sem as crianças ou adultos transportados ou viajar.
Juliane torce para que o retorno dos transportes turísticos aconteça em breve, pois as empresas necessitam refazer os caixas para continuarem trabalhando dentro das normas estabelecidas por lei.
Aí você tem um carro parado, que venceu o Inmetro em maio (anual), tacógrafo, ANTT, Cadastur, um montante de R$ 3 mil em taxas. Aí estamos desde março sem trabalhar, sem uma certa expectativa, mas precisamos deixar o carro bem certinho, porque a burocracia é grande, bem difícil, para quando voltarmos, podermos trabalhar. Ou seja, não entra dinheiro, não temos ajuda, precisamos deixar os carros certos e estamos na humilhante situação de pedir ajuda e ninguém nos dar um respaldo, uma atenção. É triste, muito triste.