Semana Nacional de Justiça pela Paz em Casa inicia em Irati

Violência contra a mulher e cultura de paz nas famílias são os temas centrais neste…

09 de março de 2021 às 22h17m

Violência contra a mulher e cultura de paz nas famílias são os temas centrais neste ano/Karin Franco, com reportagem de Rodrigo Zub e Paulo Sava

Um dos temas debatidos na Semana Nacional de Justiça Pela Paz em Casa é a violência contra a mulher. Foto: Divulgação

A Semana Nacional de Justiça pela Paz em Casa começou na segunda-feira (08). A campanha é uma iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e tem o objetivo de conscientizar e ampliar a efetividade da Lei Maria da Penha. Durante a campanha, o Tribunal de Justiça (TJ) tenta agilizar o andamento dos processos relacionados à violência de gênero e apoiar realizações para a prevenção da violência.

Em Irati, a programação é realizada pelo Conselho da Comunidade de Irati, com ajuda de parceiros. Por causa da pandemia, as atividades são restritas. Além de entrevista na Rádio Najuá, a Semana Nacional inclui disponibilização de materiais informativos contra a violência à mulher para escolas nesta quarta-feira e divulgação sobre meios de denúncia para casos de violência doméstica e familiar na quinta, com a publicação de vídeos nas redes sociais.

A presidente da Federação dos Conselhos da Comunidade do Paraná, Maria Helena Orreda, explica que a programação é realizada por diversas entidades que se reúnem para trabalhar sobre ações para prevenção, especialmente da violência doméstica à mulher. “Nós sabemos da importância que as mulheres precisam de conhecer quais são os tipos de violência e denunciar. Fazer as denúncias, evitando com que essa violência se perpetue ou que ela possa infelizmente a níveis mais assustadores e muitas vezes, inclusive, até o feminicídio”, explica. 

Maria Helena destaca que a violência contra a mulher acaba atingindo toda a família. “Nós temos uma preocupação muito grande da mulher, vítima da violência. Nós sabemos que não é só a mulher que acaba sofrendo a violência doméstica. A violência é familiar. Atinge toda a família. Os filhos presenciam a violência doméstica, muitas vezes o idoso que mora junto em casa presencia a violência doméstica. Todos os familiares acabam sendo envolvidos, infelizmente, com a violência doméstica e a violência familiar”, conta. 

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Por isso, a campanha em Irati também trabalha com o ambiente familiar, procurando prevenir a violência dentro das famílias e questionando as origens dessa violência. A ação inclui ainda um trabalho pela cultura da paz, trazendo projetos que podem ser aplicados na sociedade. “Como que essa família está se organizando dentro do seu núcleo familiar? As suas vivências diárias, de que forma essa vivência tem sido para essas famílias? Essa comunicação dos membros da família é mais pacífica ou já é uma comunicação mais violenta, que acaba gerando no final até a própria violência física?”, disse a presidente. 

Maria Helena destaca que ao longo do ano, diversas ações devem trabalhar a cultura da paz dentro das famílias, mas que esse é um processo lento para ter resultados. “Não existe uma receita mágica, mas ao mesmo tempo, existe uma predisposição do ser humano a querer viver de forma mais pacífica. E nós temos que incentivar as nossas crianças, os nossos adolescentes a entenderem isso desde já para que quando se tornem adultos, não se tornem violentos”, destaca. 

Além de promover uma cultura de paz, a semana também quer chamar a atenção para a necessidade do trabalho com o agressor à mulher. “Também entendemos como importante e prioritário a existência de canais que possam ser trabalhados essa questão do agressor, da violência no agressor porque esse homem violento não vai parar de agredir a mulher pelo fato dele ser preso. Ele vai ficar preso por um tempo, vai sair, ou ele vai voltar para essa mesma família, ou ele vai constituir um novo núcleo familiar, com uma outra mulher, ele vai ter outros filhos que também vão sofrer a mesma violência”, explica Maria Helan. 

A programação continua até dia 11 de março, com ações com a rede escolar e nas redes sociais, por causa da pandemia. Outras duas semanas nacionais estão programadas para serem realizadas ao longo do ano, para continuar a incentivar a cultura da paz.

A Semana Nacional de Justiça pela Paz em Casa é organizada pelo Conselho da Comunidade de Irati em parceria com a Federação dos Conselhos da Comunidade do Paraná (FECCOMPAR), a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Paraná (CEVID-TJ/PR), OAB Subseção Irati – Comissão de Direitos Humanos e de Políticas Sobre Drogas, Conselho Municipal de Políticas Públicas da Mulher, Núcleo Regional de Educação de Irati, Living Peace International, Movimento Direito e Fraternidade e Rádio Najuá.

Cultura de paz nas escolas: Quando era professora de inglês na escola Pio XII, em Irati, Cristiani Moraes Leandro Molinari levou um projeto simples aos seus alunos: um dado feito de papel. Em cada lado do dado, ao invés de números, estavam frases em inglês. A tradução das frases também era simples: ‘Amar a todos’, ‘Perdoar uns aos outros’, ‘Escutar o outro’, ‘Amar o outro’, ‘Ser o primeiro a amar’.

A proposta era que os alunos jogassem o dado, lessem a frase e conversassem sobre o seu significado. “A gente tentava viver aquelas frases. Falo a gente, porque eu me colocava junto com eles porque quando pensamos na paz, em construir a paz, geralmente é o que está sendo feito, o que o outro fez. E dificilmente eu me olho, me coloco na posição de autor, onde eu também contribuo para isso”, destacou. 

Mais tarde, os alunos poderiam levar os dados para casa. Imediatamente, a experiência foi levada para as famílias, com os alunos incentivando pais e responsáveis a jogar o mesmo jogo. “A partir dali, fomos percebendo que foi extrapolando os muros da escola porque o dado começa a fazer sentido lá na família. A criança leva o dadinho para casa, joga e vai tentando viver lá na sua realidade, secando a louça para a mãe, ouvindo mais com atenção os pais. A mãe, por consequência, ou o pai, verifica essa atitude do filho, percebe que tem algo diferente e ao mesmo tempo também muda o comportamento com ele”, relata. 

A experiência positiva foi transferida para outras escolas e cidades da região. Além de escolas de Irati, o Conselho da Comunidade da comarca de Rebouças trabalhou a experiência com 600 estudantes em Rio Azul. A OAB Subseção Irati também replicou o projeto com adolescentes. 

O projeto, que faz parte do movimento Living Peace International, também foi homenageado pelo Círculo Internacional dos Embaixadores da Paz da Suíça e da França, onde Cristiani foi homenageada como embaixadora da paz. 

Hoje, Cristiani é advogada, integrante do Conselho da Comunidade e tutora Pedagógica do Núcleo de Educação, e leva essa experiência na sala de aula como um meio de levar a cultura de paz para as famílias. “Não se tem idade para construir a paz e não se tem idade para jogar o dado porque enquanto professora eu via os reflexos da violência, do desequilíbrio, dos relacionamentos, em casa e via com os meus alunos. É justamente isso que me preocupava. Como ajudá-los? Como construir um ambiente de paz?”, conta. 

Para ela, o projeto é efetivo. “Muda-se o comportamento no seio familiar porque as pessoas querem serem ouvidas, querem ser amadas. E quando dou esse passo em direção ao outro, em respeito ao outro, eu construo um ambiente de paz”, disse. 

É nesta intenção que as ações da Semana Nacional também têm se voltado às escolas. A técnica pedagógica do Núcleo de Educação e estagiária de Serviço Social, Cristiane Santos, explica que é neste ambiente que muitas violências aparecem. “A escola realmente são os olhos. O professor tem essa relação de proximidade. O adolescente confia no professor, conversa com o professor e os demais encaminhamentos são tomados sempre com o respaldo de trabalho em rede”, conta. 

O trabalho do Núcleo Regional de Educação é realizado principalmente com os professores e pedagogos para sensibilizar sobre questões de violência. São realizadas ações pontuais para ajudar pedagogas e a direção das escolas a reconhecerem a violência que podem aparecer no ambiente escolar, como o bullying. 

Além disso, o trabalho também foca na prevenção à violência de crianças e adolescentes, a partir do sexto ano, procurando trazer possibilidades para que eles possam crescer sabendo mediar um conflito. “Pensamos que um desenvolvimento saudável, um pleno desenvolvimento da criança e do adolescente, tange um ambiente em harmonia. Discussões, claro que a gente sabe que é impossível não ter atritos. Só que como vai se dar a solução? E como vai se dar esse conflito? Esse diálogo?”, disse. 

Denúncias: Os casos de violência à mulher, vítima de violência, podem ser feitos na Central de Atendimento à Mulher, no número 180; na Guarda Municipal, no número 153; na Polícia Militar, no número 190; na Patrulha Maria da Penha, pelo número (42) 3422-6117; e na Abordagem Social, pelo número (42) 9-9117-5939.

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