Geraldo Nunes, morador da localidade de Cadeado Santana, diz que intenção da direção da escola é de juntar algumas turmas por falta de professores e alunos. Secretária Jandira Terezinha Girardi confirma esta posição/Paulo Henrique Sava e Rodrigo Zub
Desde terça-feira, 07, alguns pais de alunos da Escola Rural Municipal do Cerro da Ponte Alta estão entrando em contato com a Rádio Najuá para questionar o possível fechamento do estabelecimento.
Hoje, 08, o morador da localidade de Cadeado Santana, Geraldo Nunes, encaminhou um áudio dizendo que no primeiro dia de aula na segunda-feira foi realizada uma reunião onde foi comunicado que a intenção da direção é juntar algumas turmas por falta de professores e alunos. Geraldo também argumenta que até o fim do ano letivo em 2022 todas as salas estavam completas e com o número de professores suficientes. Por isso, ele questiona que a informação da possível transferência de alunos para outra escola pegou os pais de surpresa e que eles pretendem se mobilizar para que isso não aconteça.
“Já estão sendo mobilizados os pais e até amanhã [quinta-feira, dia 09] vai ter mais uma reunião. Semana que vem estamos tentando marcar [outra reunião] com o Conselho Tutelar e com a equipe da Educação da prefeitura para que não ocorra isso. Vai ser acionado o Ministério Público também para poder ajudar que a escola seja mantida no Cerro, porque já existe o ônibus para as crianças e para os pequenos. Faz algum tempo que foi conseguido um ônibus exclusivo só para as crianças pequenas. Porque levar essas crianças em uma escola adiante, sendo que todas passam em frente à escola? Podem todas ficarem ali e não serem transferidas para uma escola mais longe. Quem tem criança pequena sabe como é se deslocar quilômetros e quilômetros de manhã em estradas terríveis, que estão em todo o município. Elas podem ficar ali. É dificultoso? É, mas é uma escola mais perto”, questiona o morador.
Posicionamento da Secretaria – Em entrevista à Najuá, a secretária de Educação de Irati, Jandira Terezinha Girardi, disse que a Escola Rural Municipal do Cerro da Ponte Alta não será fechada. Ela confirmou que a pasta, a direção e a coordenação da escola estudam a possibilidade de juntar turmas porque algumas delas estão com um número de alunos muito pequeno. Conforme Jandira, apenas o 5º ano seria enviado para a Escola Rural Municipal Olavo Anselmo Santini, no Rio do Couro.
“Tem turmas com 5, 2, 4, e para você ter uma ideia o 5º ano tem 5 alunos apenas. Então, fomos estudar com a direção, a coordenação e os pais uma maneira para que pudéssemos juntar estas turmas. Lá já funciona o pré 1 e 2 juntos, então iríamos fazer isto com o 1º e o 2º, o 3º e o 4º anos. Apenas o 5º ano, como é difícil juntar neste momento porque, no ano que vem, eles vão para o 6ºano e temos que prepará-los, colocaríamos na escola mais próxima, que já tem um 5º ano e é pequeno o número de alunos. Então, faríamos esta junção dos 5ºs anos”, comentou.
Na reunião da última segunda-feira, alguns pais teriam rejeitado a proposta da Secretaria, mesmo sendo oferecido o transporte escolar. “Eles querem que cada aluno fique na sua sala, com dois alunos, mas que seja atendido por um professor, uma de três, e por isso chegamos à conclusão de que entendemos e sabemos que ninguém quer tirar (seus filhos da escola) para colocar em uma escola mais próxima, mesmo tendo transporte e eles vindo de ônibus. O nosso transporte deixa alguns alunos ali e no Olavo também, e já faz este mesmo caminho. Temos este transporte escolar ali”, frisou.
Durante a reunião, foi feita uma votação para decidir o caminho a ser tomado. Porém, ela foi anulada porque o número de votos excedeu a quantidade de pessoas presentes no encontro. Jandira esclarece que é papel da secretaria pensar no que é melhor para os alunos. “Um pensa de um jeito, outro de outro, e todo mundo quer que seja feita a sua vontade. Eu sempre digo que não é a minha vontade e nem a deles, mas temos que ver um bem comum, que são os nossos alunos, o melhor para eles. Eu não penso no que é melhor para nós, enquanto secretaria, e nem para os pais, mas sim o meu trabalho é ver o que é melhor para os alunos neste momento”, afirmou.
Por esse motivo, os pais que quiserem deixar seus alunos na escola terão que aceitar as turmas juntas. Quem não quiser, poderá transferi-los de escola. “Permanecendo lá, nós vamos ter que juntar as turmas e fazer multisseriada. Pode ficar lá? Pode, porque ninguém disse que iria fechar, mas vai ficar multisseriada; quem não quiser assim, vai ter que colocar em outro lugar para ter opções, pois os pais têm opção para fazer isto”, ponderou a secretária.
Funcionários – Para que uma escola de porte pequeno, como a do Cerro da Ponte Alta, possa funcionar, o número de funcionários necessário é igual ao de uma escola grande, segundo a secretária. “Eu tenho que manter nesta escola o mesmo número de funcionários que eu tenho em uma grande. Eu não posso diminuir lá, e vou ter um gasto que, mesmo tendo 10, 15, 20 ou 30 alunos no máximo, vou ter que colocar o mesmo número de pessoas de escolas com 100 ou 200. Teremos que manter merendeira, auxiliar de serviços gerais, transporte, professores, professor de hora atividade, pois não posso deixar estes alunos perecendo. Jamais eu farei isto porque o meu trabalho é fazer o melhor para aquelas crianças e os funcionários”, pontuou.
A secretária afirmou que alguns pais chegaram a dizer que já estavam acostumados com a escola funcionando com poucos alunos. “Eles dizem que já estavam acostumados com isso, e faziam do jeito que queriam e estava bom. Então, eu entendo isto porque tudo é um costume. Ninguém mexeu e a coisa foi andando para frente e fica aquela situação de manter a escola com 10 ou 15 alunos. Também não é uma coisa que se decida sozinho, nós sempre levamos à comunidade para resolvermos juntos”, pontuou.
Apesar da proposta ter sido feita pela direção e coordenação da escola e pela Secretaria de Educação, Jandira disse que não é favorável à existência de turmas multisseriadas, o que ela classifica como um retrocesso no sistema de educação. “Eu, Jandira, secretária de Educação, não sou a favor da multisseriada, que é um retrocesso na nossa educação. Hoje em dia estamos enviando televisores, investindo em tecnologia e tentando fazer as diferenças, apesar de não conseguirmos um nível grande de acompanhamento tecnológico. Quando vem para juntarmos estas turmas, é claro que é um retrocesso, mas muitas vezes precisamos retroceder para podermos trabalhar melhor no futuro. Tem casos que eu preciso dar um passo atrás para depois dar 2 ou 3 à frente”, destacou.
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Pedagoga opina sobre o tema – Nossa reportagem entrou em contato com a pedagoga Michele Fernandes Lima, chefe do Departamento de Pedagogia do Campus Irati da Unicentro. Ela comentou que as turmas multisseriadas estão muito ligadas às especificidades da educação no campo, muito por conta da necessidade de manter os filhos próximos das famílias. Para ela, o ideal é que o tamanho das turmas seja adequado para que os alunos sejam separados por séries.
“Se a quantidade de alunos e alunas for adequada para que eles sejam separados de acordo com os anos, é o ideal, porque, com isso, o professor consegue trabalhar os conteúdos de maneira igualitária, dentro de um mesmo nível”, afirmou.
Michele entende que, quando o número de alunos é pequeno, a escola multisseriada torna-se uma possibilidade. Entretanto, a qualidade do ensino vai depender do atendimento do professor e do planejamento realizado por ele e pela coordenação da escola.
“Não é que não seja possível qualidade em uma turma multisseriada, mas depende muito do atendimento que o professor vai dar, da coordenação da escola na elaboração do planejamento junto ao professor, aí as coisas podem acontecer da melhor maneira. Não é possível afirmar que as escolas multisseriadas não têm qualidade, não seria adequado afirmar”, finalizou.