“Se não houver ajuda dos municípios, não vai adiantar”, diz diretor da Santa Casa de Irati

Diretoria da Santa Casa de Irati busca ajuda de municípios para continuar com atendimentos/Texto de…

30 de novembro de 2024 às 19h00m

Diretoria da Santa Casa de Irati busca ajuda de municípios para continuar com atendimentos/Texto de Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava e Lenon Diego Gauron, do jornal Hoje Centro Sul

Luiz Ângelo Fornazari, diretor da maternidade da Santa Casa de Irati. Foto: Paulo Sava

A diretoria da Santa Casa de Irati quer que os municípios da região repassem valores para continuar com os atendimentos na região. A proposta é consultar o Tribunal de Contas para verificar se os municípios podem repassar um subsídio que cubra a diferença que não é repassada pelo convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS). “Vai ser feito uma força-tarefa com no Tribunal de Contas para ver se há possibilidade jurídica de fazer isso. Vamos conversando com os prefeitos, com a SESA [Secretaria Estadual de Saúde] e com o Ministério de Saúde”, disse o provedor, Ladislao Obrzut Neto.

Em reunião na qual houve a apresentação das dificuldades financeiras do hospital, o diretor da maternidade da Santa Casa, Luiz Ângelo Fornazari, disse estar indignado com a falta de ajuda da região.

“Querem ajudar? Vejam e olhem que a ajuda é mínima. São os prefeitos que vão nos ajudar. Eles se utilizam da Santa Casa. Vem uma grade de escala, o médico está as três da manhã para atender tudo aquilo que vem. Está aí. Por que não fazer com que ajude a ser pago esses médicos, desonerar esse fluxo de caixa? Não é tanto assim. Nós temos muito compromisso. Muito compromisso para a frente porque parcelamos dívidas. Mas se não houver ajuda dos municípios, não vai adiantar”, conta.

O diretor ainda rebateu críticas à gestão da Santa Casa, feitas pela prefeita de Fernandes Pinheiro, Cleonice Schuck, que também é a atual presidente do Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS/AMCESPAR). “Muitas e muitas vezes, eu discordo da dona Cleonice, porque muitas e muitas vezes nós dissemos, está lá a contabilidade. Nós não podemos tirar esses papéis e levar onde vocês querem. A contabilidade está aberta, mas não a gestão. O que foi proposto uma vez pela dona Cleonice, a prefeita do Fernandes Pinheiro, é que ela queria gestão aqui dentro. Venham ver primeiro se tiver tudo errado, daí sim gestão. Mas não, porque eu acho que não está certo, vamos fazer uma gestão. Eu não concordo com isso. Eu não vou lá no consórcio achar que existe favorecimento para um ou outro médico no consórcio. Eu vou chegar lá e vou dizer: ‘Eu quero fazer uma inversão do modelo da gestão aqui dentro do consórcio porque eu acho que tem alguma coisa’. Não. Eu tenho que ir lá ver primeiro o que está acontecendo. E aqui está tudo aberto”, afirmou.

Para Luiz Ângelo, os municípios já deveriam ter se mobilizado para ajudar o hospital. “Fico indignado porque isso já deveria ter sido resolvido. Se os prefeitos se debruçassem realmente naquilo que é o problema e nós precisamos ver a Santa Casa, porque eu prometo no palanque, que eu vou dar saúde para a população, mas eu dou saúde no posto, que não tem resolutividade, e não ajuda a Santa Casa, é um mentiroso. Ele não está cuidando da saúde. Não está cuidando da saúde dos munícipes. Por que não se debruçaram os prefeitos há oito anos? Dois mandatos atrás e não foram no Tribunal de Contas saber como é que pode fazer? Por que as ideias que nós damos nunca estão boas? Por que o consórcio não pode pagar esses especialistas na pessoa jurídica? O consórcio foi feito para isso”, conta.

O diretor disse que não admite que haja críticas à gestão sem provas. “Mas nós não aceitamos gestão. A não ser que prove que a nossa gestão não é eficaz. Uma vez provado, aceitamos o colegiado, não é, Ladislao? Aceitamos, mas o que nós queremos é solidariedade e cumplicidade. Nós queremos toda e não é só a comunidade iratiense, é a comunidade de toda a região é que tem que ter essa consciência. Não adianta falar mal da Santa Casa. Não adianta, porque cedo ou tarde todo mundo vai precisar”, comenta.

Procurada por nossa reportagem, a presidente do CIS/Amcespar e prefeita de Fernandes Pinheiro, Cleonice Schuck, disse em nota que a intenção dos municípios sempre foi de ajudar a Santa Casa de Irati.
“A intenção dos Prefeitos sempre foi ajudar, e foi o que fizeram. Nunca desrespeitamos ou lançamos desconfiança de ninguém, mas sim procuramos alternativas juntos para solucionar a questão crítica da parte financeira da entidade. A Santa Casa é patrimônio da região, não de alguns. Queremos o melhor atendimento para a população. Infelizmente algumas pessoas tem feito referências aos prefeitos e à minha pessoa de forma desrespeitosa. Acredito não ser esta a forma de agregar ajuda. Confiamos no estado, na regional de saúde e aguardaremos as próximas tratativas”, disse ela.

Bruno Alencar, representante do Conselho Regional de Medicina do Paraná. Foto: Paulo Sava

Situação financeira – A situação financeira da Santa Casa de Irati se agravou após a pandemia. Um dos motivos é o aumento dos preços de medicamentos e insumos. “Desde luva, máscara, triplicaram de preço, os medicamentos. Como as UTIs usaram demais medicamentos para sedação, para UTI, para manter paciente entubado, existiu falta no mercado. Esses medicamentos chegaram a aumentar, acho que cinco a seis vezes o valor, e depois não abaixou”, explica o representante do Conselho Regional de Medicina do Paraná, Bruno Alencar.

Outro custo é a folha de pagamento que absorve metade da receita. São R$ 1,2 milhão para o pagamento de 328 funcionários. “Nós temos um ponto eletrônico, que é a Paloma que faz o controle todo mês. Geralmente no começo do mês, nós fazemos o pagamento. É todo o regime CLT. Não tem problema algum, só que não divulgamos porque não temos autorização dos funcionários, ninguém autoriza. Como estão falando, que é para colocar em transparência, mas juridicamente, pelo que sabemos, não tem como ser colocado no portal”, conta o responsável pelo setor de Recursos Humanos do hospital, Élcio Menon.

Ladislao Obrzut Neto, provedor da Santa Casa de Irati. Foto: Paulo Sava

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O provedor da Santa Casa, Ladislao Obrzut Neto, explica que a dívida do hospital cresceu com a necessidade de fazer parcelamentos. “São impostos que nós fizemos. Fizemos o parcelamento deles. Conforme ia faltar dinheiro, alguns impostos foram deixados e nós fizemos o realinhamento da dívida, parcelamos a dívida. Esse parcelamento, com a Caixa Econômica, já faz o desconto direto da nossa conta. A Receita Federal, o Ministério do Trabalho, nós fomos pagando parcelado, que é essa dívida, esse montante”, explica.

A intenção da Santa Casa de Irati é que os municípios subsidiem o valor restante da Tabela do SUS, que é o repasse do Ministério da Saúde para o custeamento dos medicamentos e itens médicos. Cerca de 150% a mais que o valor repassado seria o ideal para o hospital. “Esse seria via prefeitura. Existe a ideia de o consórcio remunerar os plantões médicos presenciais aqui. Isso é uma coisa que o consórcio tem que rever”, disse o provedor.

Renato Hora, presidente da ACIAI. Foto: Paulo Sava

ACIAI – A Associação Comercial e Empresarial de Irati (ACIAI) tem buscado ajuda para a Santa Casa. “Nós conversando após a última reunião social, vislumbramos a possibilidade de uma ida até o Tribunal de Contas para que lá nós tivéssemos um parecer, seja favorável ou contrário a essa suplementação que foi proposta pela Santa Casa. De modo que os municípios pudessem, com base nesse parecer, terem segurança. Se podem ou não promover essa suplementação”, conta o presidente da ACIAI, Renato Hora.

Para o presidente da ACIAI, é preciso assegurar a ajuda à Santa Casa. “Se do modo como está, não está bom, creio que com a cessão parcial ou total dos serviços, nós entraremos num tempo de colapso. Não podemos permitir que isso aconteça. Como sociedade civil organizada, como entidade que reúne quase 600 empresas, parte da diretoria que está hoje, da ACIAI, nós estamos abraçando essa causa. Não estamos defendendo pessoas, estamos defendendo um bem muito maior, que é uma entidade que contribui para a saúde, não só dos munícipes de Irati, mas de toda a região”, explica.

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