Saiba quais são as diferenças entre ensino regular e do colégio cívico-militar

Na região, são sete colégios cívico-militares. Reportagem da Najuá entrevistou representantes do Colégio Estadual Cívico-Militar…

03 de abril de 2024 às 19h15m

Na região, são sete colégios cívico-militares. Reportagem da Najuá entrevistou representantes do Colégio Estadual Cívico-Militar Duque de Caxias, do Colégio Florestal e do Colégio João XXIII para saber quais as diferenças nas metodologias de ensino/Texto de Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava

Fachada do Colégio Estadual Cívico Militar Duque de Caxias. Foto: Paulo Sava

O fim do Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares anunciado em janeiro de 2023 pelo presidente Lula não extinguiu o modelo em todos os estados. No Paraná, o modelo continuou sendo utilizado em algumas escolas da rede estadual.

Na área do Núcleo Regional de Educação de Irati, existem pelo menos sete colégios que funcionam neste sistema. São eles: Duque de Caxias e João de Mattos Pessoa (ambos de Irati), Barão de Capanema (de Prudentópolis), Parigot de Souza (de Inácio Martins), Afonso Alves de Camargo (de Rio Azul), Professora Maria Ignácia (de Rebouças) e Nicolau Copérnico (de Mallet).

A principal diferença deste modelo de ensino para outras escolas é o foco em disciplina, conforme explicou a diretora civil do Colégio Estadual Cívico-Militar Duque de Caxias, Heloísa Van Der Neut. “Nele, eu tenho algumas coisas que os alunos podem e que eles não podem, que são chamadas as regras. As regras do nosso colégio, como o corte de cabelo. As meninas prendem o cabelo, os meninos e as meninas não podem usar piercing. Essas são as orientações que fazemos perante o manual. Outra coisa que fazemos, que é peculiar ao nosso colégio, é a formatura diária. Todos os dias, os alunos chegam às 6h50. Fazemos a formatura, para depois eles entrarem para sala. À tarde, é a mesma coisa. Eles chegam às 12h50, fazem a formatura para entrar na sala. É uma rotina que fazemos de um trabalho diferenciado que os outros colégios não fazem”, conta.

Alunos da tarde do Colégio Duque de Caxias. Foto: Paulo Sava

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A formatura inclui cantar o hino e ficar em formação alinhada. Outra característica é o uniforme dos alunos. Antes de entrar na sala de aula, os alunos precisam estar com o uniforme alinhado e vestido de forma correta. A diretora destaca que as peças do uniforme são fornecidas pelo estado. “O aluno recebe nove peças de roupas. Uma delas é a farda, que chamamos, que é o uniforme do nosso colégio. O outro é o agasalho, dentre isso, ele recebe a jaqueta e todo o uniforme. Nós estamos nesse processo de distribuição. Nós distribuímos as jaquetas de inverno que chegaram”, disse.

Heloísa diz que outro diferencial é a disciplina de Cidadania e Civismo. “Nós temos algumas disciplinas que são diferentes, que são os componentes curriculares, que é Cidadania e Civismo. Essa disciplina é peculiar no nosso colégio e ela trata de formar o cidadão para honrar sua pátria, para valores, para o que a sociedade está esperando lá fora, para que quando ele saia daqui ele saia obedecendo regras. O que é certo, o que é errado”, conta a diretora.

Na disciplina de Cidadania e Civismo, o aluno aprende sobre o civismo no País. “Eles trabalham as regras. Eles trabalham o manual dentro da disciplina. Nos primeiros anos, nós trabalhamos o manual, explicando as regras para eles entenderem. São feitos projetos com eles, de como eles vão desenvolver essas regras, o porquê dessas regras, uma conversa com eles sobre isso. Os hinos são trabalhados”, explica Heloísa.

De acordo com a diretora, outra diferença para as demais escolas públicas é que nos colégios militares há ex-policiais militares que trabalham em conjunto com os professores civis. “O professor de Cidadania e Civismo faz isso. Nós temos o hinário, nós temos trabalhado com os militares em conjunto. Essa disciplina é trabalhada juntamente com o nosso diretor-militar e com os monitores. Eles fazem um trabalho em parceria”, disse a diretora.

Laboratório de informática do Colégio Duque de Caxias. Foto: Paulo Sava

O diretor militar Laertes Cardoso, que é policial militar da reserva, é um dos ex-policiais que trabalham no Colégio Estadual Cívico-Militar Duque de Caxias. Ele conta que o objetivo é trazer disciplina para os estudantes para que o aprendizado evolua. “Se não formos disciplinados na nossa vida, na nossa vida diária, no dia a dia, nós não conseguimos ser exitosos lá fora. Então, é incutir na cabeça daquele estudante que a disciplina vai fazer bem para a vida dele”, disse.

Uma das críticas feitas sobre a participação de militares nas escolas é que eles não teriam conhecimento sobre didática. Laertes conta que os colégios-militares não recebem qualquer militar e que há exigência para os que querem participar do projeto. “Nós participamos de um edital. Teve uma concorrência entre os militares e [passaram] aqueles considerados aptos. Foram várias fases do edital que tivemos como requisito para cumprir. Eu enfatizo uma delas que nos cobraram mais certidões, que quando foi do ingresso para policial militar. Nós participamos de um edital, nós concorremos entre nós e aqueles que venceram os requisitos do edital, estavam aptos para atuarem no colégio cívico-militar”, explica.

O diretor militar conta que há uma troca de aprendizado durante a vivência dos militares nas escolas. “Eu acredito muito que o ser humano todo dia aprende. Nós estamos aprendendo aqui porque viemos da segurança pública e caímos no campo da educação, que é uma seara totalmente diferente, que não estávamos habilitados e que, aos poucos, estamos construindo também”, disse.

Sala de recursos especiais do Colégio Duque de Caxias. Foto: Paulo Sava

Para Laertes, a parte pedagógica é a protagonista e que não há o objetivo de militarizar os alunos. “Longe disso. Nós frisamos e enfatizamos que o protagonismo será sempre da parte pedagógica. É um ensino-aprendizado. Não tem como ser diferente. No colégio cívico-militar, é isso. Só que de uma forma respeitosa, de uma forma acolhedora, nós tentamos, juntamente com aquele aluno, construir esse cidadão, se por ventura, alguma coisa seja necessária, em específico em cada caso”, conta.

O chefe do Núcleo Regional de Educação de Irati, Marcelo Fabrício Chociai Komar, avalia que as escolas cívico-militares auxiliam no desenvolvimento da educação. “Eles colocam uma questão muito importante que é a questão do respeito, da disciplina, da ordem, da organização, desde a questão de chegar na escola, fazer a ordem unida, no período da manhã. Fazer toda essa questão do respeito à bandeira, respeito ao hino, respeito do acolhimento do professor quando chega em sala de aula. Tem muitos diferenciais que são importantes e que marcam regras, princípios que podem contribuir para que o estudante possa se desenvolver ainda mais a educação”, conta.

Apesar de continuar com o modelo, mesmo após o fim do programa, o governo estadual não ampliou o número de escolas cívico-militares neste momento, conforme Marcelo. “Nós não temos essa ampliação até por causa dos portes das escolas. Nós estamos resgatando e criando identidades novas. No caso, em termos cívico-militares que nós temos seria isso. Nós estamos trabalhando com as novas integrais [Novo Ensino Médio] que estão surgindo, nas modalidades de 35 horas, para que possam ter novas modalidades e novas ofertas a estudantes”, disse.

Diferente dos colégios cívicos-militares, as escolas públicas têm diversas possibilidades de formação, desde uma formação técnica para o mercado de trabalho a uma formação específica para o vestibular. Com o Novo Ensino Médio, o estudante pode fazer o curso técnico com o estudo regular.

Em Irati, uma das instituições que oferece este tipo de formação é o Colégio Florestal, fundado há 50 anos. O colégio possibilita ao estudante uma formação integrada do Ensino Médio com um curso técnico. O local também possui alojamentos para os estudantes.

Sala de aula do Colégio Florestal. Foto: Paulo Sava/Arquivo Najuá

A diretora geral do Colégio Florestal, Mariane Pierin Gemin, explica que os cursos técnicos seguem uma premissa de preparar o estudante para o mercado de trabalho, de acordo com uma política estabelecida no Estado. “Tem um envolvimento com empresas, têm envolvimento com estágios, há envolvimento com um número maior de laboratórios dentro do colégio, com cerca de 50% de aulas práticas, seja laboratório, seja no campo, seja a visita técnica a outras empresas. A educação profissional sempre teve a premissa de formar um estudante para atuar naquele segmento de mercado, de forma que compõem toda essa estrutura financeira do estado do Paraná, principalmente, no abastecimento de mão de obra para todos os tipos de comércio e a empresa”, explicou Mariane.

As disciplinas do Ensino Médio são ministradas por professores com licenciatura. Porém, as aulas dos cursos técnicos, feitos de forma integral com o Ensino Médio, recebem profissionais de outras áreas. “Os professores que compõem as disciplinas técnicas, na grande maioria, são engenheiros, são advogados, são enfermeiros, são administradores. Todas as diferentes formações que, não estão diretamente no curso de licenciatura, eles também atuam na educação desses jovens, dentro dos diferentes cursos técnicos”, disse Mariane.

Sala de aula do Colégio Estadual João XXIII. Foto: Paulo Sava

No Colégio Estadual João XXIII, o estudante também pode fazer um curso técnico integrado dentro do Novo Ensino Médio, estabelecido para todas as escolas estaduais.

A diretora auxiliar do colégio, Fabiana Godoy Rocha, explica que diferente dos colégios cívicos-militares, não há uma disciplina especifica para trabalhar civismo. Contudo, ela aponta que o currículo do Novo Ensino Médio possui a disciplina Projeto de Vida que possibilita que os alunos planejem o seu futuro. “Ela vai dar aos jovens e às crianças um momento de parar e pensar na sua vida, além dos muros da escola. O que eu vou fazer quando eu terminar o nono ano? O que eu vou fazer quando eu terminar o terceiro ano do Ensino Médio? A disciplina Projeto de Vida, no meu entender, e não estou nem menosprezando ou diminuindo nada, porque eu acredito que na sociedade, nós temos espaço para todos os tipos e modalidades de educação, mas a disciplina projeto de vida tem que ficar e ela tem que ser trabalhada em todas as séries da educação”, conta.

Quadra de esportes do Colégio João XXIII. Foto: Paulo Sava

A diretora geral do Colégio Florestal destaca que, independentemente do tipo de escola (ensino regular, profissional, integral ou cívico-militar), todos precisam obedecer aos parâmetros ditados pela Base Nacional Comum Curricular, do Ministério da Educação. “As dez competências gerais da BNCC dizem para nós, em todas as modalidades, em todas as etapas de ensino (Ensino Fundamental, Médio, Anos Iniciais) que existem as competências socioemocionais e existem as competências ligadas diretamente ao aprendizado, ao cognitivo. O socioemocional tem que ser trabalhado. O aluno tem que entender da empatia, da cooperação, do trabalho em equipe, da visão de mundo, do que eu quero para o meu futuro”, disse.

Nos colégios cívico-militares, a segurança pública é um dos assuntos tratados. Segundo o diretor-militar Laerte, a segurança é um dos pilares trabalhados dentro dos colégios cívico-militares, auxiliando na prevenção de crimes. “Nós trazemos esse olhar que a população, de uma forma geral não tem, na questão de segurança. Nós trazemos isso para o colégio e tentamos, juntamente com a equipe diretiva e o corpo docente, construir essa imagem. Convenhamos que é um desafio para a sociedade, de uma forma geral, a questão de segurança. O que vivíamos e ouvíamos nos canais de comunicação, a insegurança querendo invadir o campo educacional. Temos esse viés e é bastante forte”, disse.

Nas escolas públicas, a segurança foi tema de preocupação de muitos pais após ataques em escolas em estados do Sul do País. Mariane aponta que essa também é uma preocupação da escola, mas que é preciso investir na infraestrutura dos prédios escolares para que mais segurança seja proporcionada ao aluno. “Quando o nosso colega, diretor [diretor militar Laertes], coloca da preocupação e da necessidade, ele bem falou que isso está na nossa rotina diária. Embora, nós devemos ter uma estruturação em termos de funcionários, em termos de edificações, de construções, que ainda não nos garantem uma segurança 100%”, disse.

No caso do Colégio Florestal, muitos investimentos foram realizados pela comunidade escolar e não pelo governo estadual. “No Colégio Florestal, nós somos uma fazenda. O nosso limite são todas cercas de arame. Mesmo havendo, em vários momentos, solicitações para muro, ainda não houve recurso público para isso. Esse é um dos exemplos. A construção da portaria foi feita alguns anos atrás com o recurso da nossa associação porque o Estado também não dispunha, no momento, para um controle de fluxo de entrada e saída de pessoas. Assim como um projeto de combate de incêndio dentro dos alojamentos. Nós fizemos também com o recurso próprio da associação, prezando pela segurança dos internos, com alarme de incêndio, com os detectores de fumaça. Tudo isso, aos poucos. Com o recurso, com a boa vontade, com os programas de governo, eles vão sendo ajustados. Mas, inicialmente, a segurança é um problema de segurança pública social que envolve todos os estabelecimentos, sejam educacionais, comerciais, as nossas residências e isso é um alerta social bem grande”, conta.

Fabiana ressaltou a necessidade de os governos estadual e federal auxiliarem na área de segurança. “Essa questão de estrutura, essa questão de segurança é uma questão que permeia a nossa sociedade. Não só as escolas. Mas, na questão das escolas, é exatamente isso. Nós, enquanto gestores, buscamos melhorar, porque não deixar até perfeita a segurança? Mas são ações que não cabem totalmente a nós. Nós precisamos da parceria do Estado. Precisamos da parceria dos Governos, das políticas públicas para melhorar essa questão”, explica.

Mariane Pierin Gemin, diretora geral do Colégio Florestal, e Fabiana de Godoy Rocha, diretora auxiliar do Colégio Estadual João XXIII. Foto: Paulo Sava
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