Saiba como funcionam as filas para consultas e cirurgias especializadas

Vagas são distribuídas entre as 22 Regionais conforme disponibilidade, necessidade e prioridade de cada uma….

24 de abril de 2015 às 14h29m

Vagas são distribuídas entre as 22 Regionais conforme disponibilidade, necessidade e prioridade de cada uma. No entanto, alguns pacientes acabam esperando mais porque abrem mão do encaminhamento a outro município

Edilson Kernicki, com reportagem de Paulo Henrique Sava e Jussara Harmuch

Com determinada frequência, a população de Irati acaba tendo dúvidas sobre como ter acesso aos serviços de saúde, em especial às consultas especializadas. Após a consulta com o clínico geral, que as encaminha ao especialista, em muitos casos, os pacientes não sabem como e onde procurá-lo. Fomos atrás do responsável por este setor, dentro da Secretaria Municipal de Saúde, João Victor Musial, para saber mais detalhes sobre o procedimento a ser adotado.

Musial explica que o atendimento em consultas e exames especializados é, geralmente, eletivo – ou seja, não se trata de atendimento emergencial, e o paciente se submete à entrada numa fila de espera. “A primeira coisa que precisa ficar clara é que, quando o atendimento é emergencial, o médico nem encaminha para nossa sala [de consultas especializadas]. É outra via de atendimento, uma via mais rápida, que talvez o paciente esteja precisando de internamento na Santa Casa, um problema que tem ser resolvida em 24 ou 48 horas. O pessoal confunde prioridade com emergência”, diferencia.

Segundo Musial, quando há o encaminhamento do clínico geral para o Setor de Consultas Especializadas – seja para um cardiologista, reumatologista, endocrinologista, entre outros – inicialmente a Secretaria Municipal de Saúde tenta uma vaga em Irati e, posteriormente, na região, para evitar ou minimizar os deslocamentos de pacientes. “Se tem o profissional na cidade, tentamos primeiro encaixá-lo com um especialista daqui. Em alguns casos, em que o especialista diagnosticar um problema mais sério, pode encaminhá-lo para internamento em hospital especializado em Ponta Grossa ou Curitiba, por exemplo, que também são referências nossas”, acrescenta. O responsável pelo setor de consultas especializadas também salienta que cabe ao médico classificar essa prioridade de atendimento – eletivo, urgência e emergência.

Quando o paciente sai da consulta tendo em mãos uma avaliação cirúrgica, por exemplo, a cargo de um urologista o paciente consegue marcar a consulta com esse especialista, via Consórcio de Saúde, em até cinco dias. “Algumas especialidades não têm uma fila de espera tão grande e há bastante vagas e conseguimos encaixar na mesma semana ou mesmo na próxima”, comenta Musial.

{JIMG2}Outro caso é o das especialidades que possuem profissionais em Irati, mas que a demanda por ela é muito grande. Um exemplo é a otorrinolaringologia: o município tem dois médicos credenciados nessa especialidade, mas a fila de espera é grande, assim como na oftalmologia. “Nos chegam muitos encaminhamentos, em torno de 400 a 500 de cada uma dessas especialidades por mês”, ressalta.

Finalmente, há o caso de especialidades não ofertadas em Irati, como reumatologia e endocrinologia e que não existem médicos cadastrados aptos a atender pelo SUS nessas áreas nem em Irati, nem em Ponta Grossa, nem em Curitiba. “A rede SUS não tem esse profissional ou, se tem, o número de vagas é muito pequeno. Tem um esforço dos municípios, via Consórcio, para contratar médicos vindos de São Paulo para atender a essa demanda”, complementa o responsável pelo setor de especializadas.

A espera na fila por cirurgias eletivas pode variar: em alguns casos, se surgir um paciente que o médico avaliou como um caso mais sério ou mesmo de emergência, esse paciente passa na frente dos demais que aguardavam na fila. “O especialista determina quem precisa ser operado mais rapidamente, devido a alguma emergência ou a algum fator médico novo ou quem pode aguardar mais tempo nessa fila”, comenta. 

Musial justifica que, no entanto, quem controla essa fila de espera seria a Santa Casa, junto com o profissional especialista de cada área, ou mesmo outro hospital que dispõe desse médico, no caso de outras especialidades.

No caso da reumatologia infantil – há quatro semanas uma família procurou a rádio buscando auxílio para tratar uma criança de seis anos – os pacientes de Irati geralmente são encaminhados para o Hospital Infantil Waldemar Monastier, em Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba. 

“Esse hospital atende ao Paraná inteiro: são 399 municípios esperando vagas nesse hospital. Segundo informações da Regional, nos foi passado que em março o governo ofertou para o estado inteiro 12 vagas. É muito pouca vaga para reumatologia infantil”, diz. 

Ainda de acordo com Musial, a menina Carla Emanuele Bueno dos Santos, de seis anos, é a única criança iratiense que demanda essa especialidade – para a qual aguarda encaminhamento desde março do ano passado. “Ela é a primeira da fila. Assim que Irati receber essa vaga, ela será consultada”, afirma.

Apesar de o setor de consultas especializadas conseguir o encaminhamento de pacientes para especialistas em outras cidades, a Secretaria Municipal de Saúde observa alguma resistência desses pacientes em viajar para poderem ser atendidos. “Conseguimos 55 vagas de cirurgia cardiovascular no Hospital Nossa Senhora do Rocio [também em Campo Largo]. Encaixamos todos os pacientes, ligamos, falamos que tínhamos conseguido a vaga e, simplesmente, algumas pessoas vêm até aqui e optam por ficar em Irati e desistem da vaga pela comodidade de querer ficar em Irati”, observa. Musial estima que cerca da metade das vagas conquistadas não foram aproveitadas por esse motivo.

“Cerca de três em cada dez consultas deixam de ser aproveitadas. Nós pegamos o encaminhamento, ligamos para o paciente e avisamos que a consulta saiu, que ele tem que vir até nosso setor para retirar o papel [guia de encaminhamento] e, pura e simplesmente, ela não vem retirar esse papel. Ou seja, perdemos duas vezes: esse paciente não vai à consulta, perdemos a consulta porque ele não foi ao tratamento dele e poderíamos encaixar outra pessoa que também está precisando”, observa Musial. 

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No entanto, conforme o chefe da 4ª Regional de Saúde, João Almeida Júnior, as vagas não aproveitadas não acabam perdidas, pois outros pacientes passam na frente dos que optaram recusar em função da necessidade de viajar.

João Almeida afirma que o atual sistema de fila de espera por consultas e cirurgias especializadas está em funcionamento há três anos e que, gradualmente, esse setor tem apresentado melhoras em agilidade. Da unidade básica de saúde, o paciente é encaminhado a um médico auditor, que o reavalia e, aí, sim, encaminhado para a cirurgia. Nesses casos, ele é submetido a uma bateria de exames e a documentação do paciente é enviada à 4ª Regional de Saúde, que se encarrega de encaminhar o paciente aos hospitais parceiros do Estado (ou seja, que atendam pelo SUS): Santa Casa de Irati ou hospitais de Ponta Grossa, Curitiba, Campina Grande do Sul ou Campo Largo.

“Para esse encaminhamento, a 4ª Regional depende que o paciente tenha um diagnóstico o mais apurado possível. Temos casos de pacientes que estão há algum tempo nas filas de algumas especialidades porque o diagnóstico não foi fechado da maneira correta”, explica. João Almeida cita como exemplo casos em que o paciente era encaminhado para a cirurgia geral e, no entanto, durante os exames, se detectava a necessidade de reencaminhá-lo para a gastroenterologia ou outra especialidade. “Quanto mais especifica for a cirurgia, é mais rápido e mais fácil encaminharmos”, acrescenta o chefe da 4ª Regional.

João Almeida atribui o crescimento de algumas filas de espera por consultas e cirurgias especializadas justamente em função das desistências que ocorrem, entre os pacientes que preferem não viajar e aguardar o atendimento em Irati. Segundo ele, os pacientes não perdem a vaga, mas devem aguardar, portanto, na fila, até que surja uma em Irati. Enquanto em Campo Largo essa cirurgia seria imediata, por aqui vão precisar esperar por até cinco meses.

A Secretaria Estadual de Saúde (SESA) é quem distribui as vagas pelo estado todo entre as especialidades. A SESA se vale de um estudo sobre quantas vagas são necessárias, por especialidade, para cada uma das 22 Regionais. Em alguns casos, essa distribuição é negociada, pois em algumas especialidades há mais disponibilidade de vagas do que necessidade delas, enquanto que para outras a procura é maior do que a oferta. 

“No ano passado, vimos que a necessidade de vagas era maior do que a disponibilidade que tínhamos. Sentamos com a Santa Casa e com os municípios e fizemos um convênio com eles para disponibilizarem mais 100 cirurgias por mês para nós”, frisa. Contudo, segundo o chefe da Regional, é necessário sempre ter em conta o equilíbrio entre a oferta e a procura, para que o Estado não acabe pagando por consultas ou cirurgias que sobrem, o que corresponderia ao mau uso do dinheiro público.

Na 4ª Regional de Saúde, a especialidade com maior fila de espera é a de otorrinolaringologia. Há oferta de consultas com esse especialista, via SUS, em outras cidades. Porém, ressalta João Almeida, como a maior parte desses pacientes são crianças em casos eletivos, os pais preferem aguardar a vaga em Irati. Entre 35 a 40 cirurgias otorrinolaringológicas são realizadas mensalmente na Santa Casa de Irati e a 4ª Regional está contratando mais 17. O atendimento nessa especialidade também é disponibilizado, para pacientes da 4ª Regional, em hospitais em Campo Largo e em Curitiba. 

“Temos em torno de 500 pacientes para pré-consulta. Não que necessariamente esses pacientes se tornem cirúrgicos, porque algumas vezes eles vêm dos municípios para nós e não necessitam de uma cirurgia, mas pela demanda que temos, e pela oferta, são pacientes que aguardam, no máximo, 90 dias por uma cirurgia”, destaca.  

Segundo informações da Santa Casa de Irati, o menino Renan Gabriel, de 05 anos, que estava na fila para uma cirurgia na garganta há cerca de um ano, teve seu quadro agravado e foi operado há cerca de duas semanas. A reportagem da Najuá procurou a mãe do menino Renan Gabriel, de 05 anos, mas ela não quis falar sobre a cirurgia 

Confira abaixo a tabela completa com o número de pacientes na fila de espera por especialidade.


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