Rua em Irati homenageia soldado iratiense que participou da Segunda Guerra Mundial

Rua no Loteamento Lagoa Dourada, no bairro Lagoa, passará a se chamar Expedicionário Stanislau Mikuczka/Karin…

24 de junho de 2023 às 12h17m

Rua no Loteamento Lagoa Dourada, no bairro Lagoa, passará a se chamar Expedicionário Stanislau Mikuczka/Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava

Pedro Mikuczka mostra quadro do seu pai Stanislau Mikuczka, que serviu na 2ª Guerra Mundial e recebeu homenagem com nome de rua em Irati. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo)

Um ex-soldado iratiense que participou da expedição brasileira na Segunda Guerra Mundial foi homenageado com o nome de uma rua em Irati. A rua número 2, do Loteamento Lagoa Dourada, no bairro Lagoa, será chamada de Expedicionário Stanislau Mikuczka.

O projeto de lei que homenageia o ex-soldado foi proposto pela vereadora Teresinha Miranda Veres e foi sancionado pelo Executivo recentemente.

Pedro Mikuczka é filho de Stanislau Mikuczka e destaca que a homenagem é emocionante, especialmente por causa da história difícil que seu pai teve após o retorno da guerra. “Eu acho que é uma justa homenagem hoje para o meu pai aqui em Irati”, disse.

A história de Stanislau é fortemente ligada à localidade do Itapará, onde nasceu. Filho de José Mikuczka e Theresa Piacezka, Stanislau casou com Hiaga Polinarski com quem teve dez filhos, nascidos na comunidade. Mas além do Itapará, a guerra também está dentro da história da origem da família na localidade.

O pai de Stanislau, José Mikuczka, foi um soldado na Primeira Guerra Mundial. Após o fim da guerra, José retornou ao Brasil, onde recomeçou a vida no Itapará. Sem documentos, a família sempre acreditou que teria origem polonesa. Contudo, a família descobriu que a origem é outra. “A família Mikuczka achava que o meu avô era polonês, por ter se colocado em Irati, morado nesses lados. E não. Agora, eu tirei o brasão da família Mikuczka e o que acontece? O meu avô não era polonês. O meu avô era tcheco”, explica Pedro.

Pedro ao lado de sua filha Fátima Mikuczka, que é neta de Stanislau. Atualmente, Pedro e Fátima moram em Curitiba. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo)

Assim como o pai, Stanislau casou e teve filhos no Itapará, até ser convocado para a Segunda Guerra Mundial. Na Itália, participou da expedição brasileira que lutou contra os nazistas.

Pedro conta que as experiências de seu avô e seu pai em guerras mundiais foram traumáticas, o que dificultava com que eles compartilhassem histórias com a família. “O meu avô não gostava de falar de guerra. Chorava e tomava umas cachaças, o meu avô. Eu perguntava para ele, para o meu pai também, como é que foi a guerra dele. Ele [o pai] também chorava, tomava umas cachaças e não falava muito de guerra”, conta.

Apesar da dificuldade, Pedro relata que houve momentos que o pai relembrava como era a vida naquele tempo de guerra. “O meu pai contava muita história que eles tomavam, no caso davam cachaça para tomar com pólvora. Se a mãe do meu pai atravessasse na frente, o comandante falava: ‘Mete bala na tua mãe’. Eles metiam bala com a maior tranquilidade porque eles tinham que ter coragem. O meu pai foi arrancado de Itapará, ele não sabia manusear um canivete”, explica.

Em sua volta ao País, Stanislau Mikuczka passou por momentos difíceis. Ele foi ferido em guerra, com estilhaços no peito e na perna, que trouxeram complicações para a sua saúde. “Meu pai ficou numa situação difícil aqui no Itapará. Doente, sem ganhar nenhum cruzeiro. Foi para Curitiba. Alguém puxou ele para Curitiba. Os parentes, minha mãe também. Lá em Curitiba, ele tinha um serviço. Se fosse hoje, ele ganhava R$ 300 por mês em Curitiba, no quartel general, na Carlos Cavalcante (praça). Era um encosto dos expedicionários. Ficava limpando o sapato dos coronéis, sujando os carros dos coronéis, com pano sujo. O cara dava R$ 2 e eles corriam na rua Riachuelo. Tomavam uma pinga em sete ou oito expedicionários. Pegavam uma pinga e tomavam um golinho. O meu pai tomava um gole, passava para o outro. Chegava no outro, só tinha o resto. Viravam e voltavam para o quartel. Meio expediente”, conta.

O filho tentou ajudar o pai, buscando aposentá-lo para melhorar a sua condição de vida. “Eu trabalhava no Rio de Janeiro e viajava todo o Brasil. Eu procurei saber para aposentar. Fui em Brasília, estava trabalhando lá no Rio de Janeiro, mexendo com os papéis e consegui aposentar o meu pai. Quando veio aposentadoria, meu pai tinha morrido fazia três dias”, disse.

Vereadora Teresinha Miranda Veres (jaqueta vermelha) ao lado dos familiares de Stanislau Mikuczka (à esquerda) e de Sérgio Luís Caetano (à direita), que foram homenageados com nomes de ruas em Irati. Teresinha foi a autora dos projetos de lei denominando as ruas do Loteamento Lagoa Dourada. Foto: Assessoria da Câmara de Irati

Stanislau Mikuczka faleceu no dia 5 de fevereiro de 1975, aos 55 anos de idade. Após a morte do pai, Pedro, que atualmente mora em Curitiba, encontrou na marcenaria um modo de continuar a vida. Em 1976, começa a fazer caixotes no porão da casa da mãe. O negócio prosperou e hoje faz móveis que são vendidos para países como o México e Estados Unidos. No País, Pedro já teve criações que foram usadas na novela Salve Jorge, em cenários que reproduziam a cidade de Capadócia. Atualmente, usa a técnica da marchetaria para construir seus móveis elaborados.

Pedro conta que algumas criações tiveram que ser transportadas de forma inusitada. “O cara levou móveis meus para os Estados Unidos e levou num avião cargueiro [risos]. Um avião cargueiro, que ele veio para o Brasil fazer corrida de cavalo no Rio de Janeiro, e nos achou em Curitiba. Comprou os móveis e levou junto com os cavalos. Olha, que desrespeito pelos meus móveis [risos]”, disse.

Apesar de ter conseguido reconstruir sua história em outro lugar, Pedro conta que guarda com carinho a história da sua família com Itapará e Irati. “O Itapará para nós, e Irati também, é tudo. Eu gosto muito desse lugar. Me sinto muito bem aí”, conta.

Confira abaixo mais fotos de Stanislau Mikuczka no período que ele serviu na 2ª Guerra Mundial

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