Láercio Pereira, Enezito Ruppel e José Soares da Silveira são integrantes do Rotary Club de Irati. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo) |
O integrante do Rotary, José Soares da Silveira, conta que o Rotary foi uma das primeiras entidades a realizar um esforço coordenado do setor privado em apoio à saúde pública, com a campanha Pólio Plus, que tinha como meta arrecadar US$120 milhões. A campanha foi proposta em alusão ao aniversário de 80 anos da entidade. “O Rotary em 1985 queria desenvolver um projeto grandioso. Mas era muito grandioso mesmo, que era erradicar poliomielite no mundo. Existiam bilhões de seres humanos já naquela época e o Rotary queria erradicar a doença. Foi feito essa proposta e o conselho diretor do Rotary Internacional aceitou e incentivou a todos os rotarianos do mundo a fazer em doações. A previsão inicial era de US$ 100 milhões e em poucos dias o Rotary tinha arrecadado US$ 250 milhões”, explica o médico.
A campanha foi realizada em um momento em que a doença se agravava em diversos países. “A poliomielite é uma doença grave, iniciou-se sem tratamento e 75% a 80% das crianças – atingia principalmente crianças, mas atingia adultos também -, mas 80% a 85% das crianças morriam com a doença. Aquelas que escapavam, 15% a 20%, ficavam com lesões gravíssimas. Essa doença tinha uma conotação diferente das pandemias até então conhecidas porque as pandemias atingiam geralmente crianças das camadas mais pobres, países da África, algumas regiões do Leste asiático, algumas regiões da América do Sul. Essas doenças não causavam muitos problemas nas organizações responsáveis pela saúde do mundo porque não aparecia muito, eram distantes os casos e iam ficando essas doenças como diarreia, infecções intestinais e pulmonares. Mas a poliomielite, a paralisia infantil, era uma doença diferente porque ela atingiu os ricos, atingiu os brancos, principalmente, nos países avançados. Então, preocupavam muito as lideranças internacionais sobre saúde aquela doença porque as crianças morriam e quando não morreram ficavam com uma lesão física para o resto da vida, que chamavam os aleijados da pólio”, conta Silveira.
A arrecadação mundial feita pelo Rotary Internacional auxiliou no avanço do combate a pólio. “Todo esse dinheiro foi o pontapé inicial para desenvolvimento de laboratórios, desenvolvimento da vacina Sabin, porque já existia, mas era muito caro e muito difícil de uma produção em massa da vacina para estender para bilhões de pessoas de todo mundo. A doença continuava existindo nos países mais pobres e os países mais distantes. Mas o Rotary enfrentou isso e continuou, ano a ano, desenvolvendo recursos e aplicando”, relata o médico.
A doação é feita aos Rotarys que repassam para o Rotary Internacional. “Você voluntariamente sendo do Rotary ou não, você pode simplesmente doar ao Rotary alguma quantia que você acha que pode colaborar com aquilo e o Rotary, o clube leva esse dinheiro ao distrito e o distrito leva ao Rotary Internacional”, conta Silveira.
Mesmo com a erradicação da doença em diversos países, o Rotary continua o trabalho de busca por doação para conseguir erradicar a doença no mundo todo. Países como Afeganistão e Paquistão ainda possuem casos diagnosticados. “Continuamos porque a meta era erradicar a doença em 2005, quando o Rotary completasse 100 anos. O Rotary tinha 20 anos para manter essa empreitada. Infelizmente, chegou 2005 e alguns países ainda tinham casos de pólio, principalmente alguns países da África e no Sudeste Asiático como Afeganistão”, afirma o médico.
No Brasil, a doença foi erradicada nos anos 90, mas apenas recentemente, em 2020, que países africanos foram considerados zonas erradicadas de poliomielite. Silveira destaca que o combate enfrentou dificuldades em todo o mundo. “O Rotary enfrentou grandes dificuldades por causa de problemas religiosos, às vezes, as populações se recusavam a tomar vacina e por esse motivo a doença se perpetuava. Mas o Rotary continua. Ainda há casos de pólio no mundo, mas a quantidade é muito pequena”, disse.
Apesar dos poucos casos, o trabalho deve continuar para erradicar a doença. “Enquanto houver algum país com pólio ela não é considerada erradicada no mundo. É possível de que uma pessoa portadora do vírus da pólio, pegue um avião e viaje para um outro país e leve aquele vírus, sem ninguém saber que aquele vírus está sendo transmitido para um país onde já foi erradicado. No Brasil, há mais de 20 anos a poliomielite foi considerado erradicada, porém recentemente tem-se notícia de que apareceu no norte do Brasil caso suspeitos de poliomielite”, explica.
A vacinação foi uma das ferramentas importantes na erradicação da doença no país, mas a baixa adesão e o aparecimento de casos suspeitos acenderam o alerta para a necessidade de aumentar a campanha. Silveira destaca que a manutenção da vacinação é um dos desafios que precisam ser vencidos para a continuidade do projeto de erradicação da doença. “O grande problema da vacinação para doenças virais é que você precisa repetir a vacina. Não é uma vez que a criança é vacinada que ela fica imunizada para o resto da vida. Ela precisa estar repetindo pelo menos até a adolescência, ela tem que repetir cada ano, cada dois anos aquela dose, para que mantenha o nível de imunidade alto para que a pessoa, uma vez tendo contágio, não seja portadora da doença”, conta.
Em Irati, a campanha de vacinação contra a poliomielite acontece até o dia 9 de setembro, nas unidades básicas de saúde. Crianças de um a quatro anos podem receber a dose da gotinha, que protege contra poliomielite. Os menores de 15 anos também podem ir a uma sala de vacinação e atualizar o esquema vacinal. O Rotary esteve presente no lançamento da campanha. “Eu, juntamente com a companheira presidente Patrícia Bonato, estivemos na Secretaria da Saúde, na última semana, fazendo abertura da vacinação. Foi muito gratificante para nós porque nós estivemos lá, levamos algumas camisetas do clube e fizemos uma vacinação inicial. Para nós foi o bastante bom para a imagem do clube e também mostrando o que é a nossa vacinação”, disse Enezito Ruppel.