Rota turística Caminhos do Peabiru passará por Irati

22 de agosto de 2025 às 23h55m

Rota resgata trilhas indígenas que serviam para ligar o Oceano Atlântico ao Pacífico; objetivo é incentivar empreendimentos turísticos em Irati/Texto de Karin Franco, com entrevista de Rodrigo Zub e Juarez Oliveira

Hernandarias (Paraguai), 30 de novembro de 2022 – Marcação do Caminho do Peabiru no Refúgio Biológico Tati Yupi, dentro do lado paraguaio da Usina de Itaipu. Foto: Roberto Dziura Junior/AEN

Irati é um dos municípios que participará do Programa Rota Turística Caminhos do Peabiru, desenvolvido pelo Governo do Paraná. Os Caminhos do Peabiru são uma rota histórica de mais de 3 mil anos que atravessa o estado e vai até o Peru, conectando o Oceano Atlântico ao Pacífico.

Em entrevista à Najuá, o diretor de turismo da prefeitura, Adriano Godoi, citou que a rota começa no estado de Santa Catarina, cruza o Paraná e passa pelo Paraguai, chegando até o Peru. Adriano citou os benefícios do programa. “Eu me atrevo a dizer que é um dos maiores projetos turísticos do Estado porque fomenta tanto o turismo local, quanto o turismo estadual e por um viés internacional. Nós acreditamos que vai ter um fluxo muito grande de turistas, não somente do nosso estado, do nosso país, quanto internacionalmente”, disse.

O programa é desenvolvido desde o ano passado pelo Governo do Estado. Inicialmente, Irati não estava incluída na rota. Porém, com a possibilidade da inclusão de mais lugares no roteiro, a Prefeitura conseguiu organizar a documentação e inscrever Irati na rota turística, conta Adriano. “Nós pegamos meio já andando e conseguimos perceber que Irati poderia fazer parte disso e por que não? Então, nós fomos atrás, corremos e conseguimos inserir Irati nesse roteiro”, conta o diretor.

Para que o município de Irati pudesse ser incluído no roteiro, foi preciso reunir a documentação sobre a presença indígena na região. Isso porque os Caminhos do Peabiru é um caminho ancestral usado pelos povos indígenas. A diretora de Comunicação da Agência de Desenvolvimento da Região Centro Sul (ADECSUL), Fabiana Orreda, falou sobre o assunto. “Os povos que habitavam aqui em todo o território usavam há mais de 3 mil anos. Não tem uma data precisa desde quanto tempo existe, mas entendemos que onde existia uma aldeia, uma comunidade indígena, existia um caminho e era uma rede de trilhas grande que conectava todas as comunidades e existia uma rede que conectava então até Cusco [cidade do Peru], uma rota que tinha a presença dos incas e dessas populações tão antigas que existiam aqui”.

A lei que instituiu o programa no estado incluiu na primeira parte 80 municípios, configurando como uma trilha de longo percurso. No processo, Irati teve que cumprir requisitos em cinco temas para poder participar do programa, segundo Fabiana. “Nós tivemos que preencher cinco temas que incluem a presença indígena, o de sítios arqueológicos, de história prévia de comunidades indígenas. Aqui em Irati, nós temos um vasto campo de sítios arqueológicos, inclusive no centro da cidade, nos bairros, no interior, nas comunidades do interior, como Guamirim e Itapará, nos distritos”, disse a diretora.

Da esquerda para a direita: o representante do grupo de caminhada Irati Caminhar, Fábio Schwab, diretora de Comunicação da Agência de Desenvolvimento da Região Centro Sul (ADECSUL), Fabiana Orreda, diretor de turismo da prefeitura, Adriano Godoi, presidente da ADECSUL, Murilo de Lima, e o representante do grupo Acordei, Márcio Duda. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo)

De acordo com Fabiana, outros requisitos eram relacionados à existência de grupos que realizam caminhadas e trilhas. “Nós cumprimos com esses requisitos, que incluíam também a presença de caminhadas. Nós temos um movimento expressivo dos grupos de caminhadas aqui em Irati, como se tudo fosse acontecendo aos poucos para dar certo, que nós pudéssemos entrar nesse programa nesse momento”, relata.

Um dos desafios para a elaboração da rota é que não há historicamente um consenso científico exato sobre o trajeto e em quais localidades o caminho passava. O que se sabe é que era um grande conjunto de trilhas indígenas, com uma trilha principal e diversos ramais que se interconectavam, formando um caminho que saía de Santa Catarina, atravessava o Paraná e São Paulo, indo para a Argentina, o Paraguai, a Bolívia, até chegar ao Peru, com direção ao oceano Pacífico. Municípios da região, como Pitanga e Prudentópolis, estão entre as localidades com áreas de visitação e investigações sobre a passagem do caminho indígena.

Por isso, entre os materiais usados para incluir Irati no programa estadual, estão descobertas ocorridas em realização de obras, como foi o caso de um sítio arqueológico que foi encontrado durante execução da pavimentação da PR-364, segundo Fabiana. “Esse foi um descobrimento recente. Ele tem a ver com essa deriva continental. No Riozinho, em 2014, foram encontradas uma expressiva quantidade de pontas de lança que demonstram a presença ancestral aqui. Todos os lugares de Irati são lugares indígenas. Nós somos um território indígena. Portanto, isso foi um dado importante para dizer que uma rota do Peabiru, desse caminho que conecta as cidades, ela estava aqui”, explica a diretora.

Adriano revela que a documentação também contou com relatos documentados de José Maria Orreda sobre a história do município. “Por mais que saibamos que existe esses vestígios, eles não estão tão fáceis de serem encontrados oficialmente. Então, de certa forma, corremos um risco porque oficialmente eles não estão tão fáceis de serem encontrados. Mas com o belo trabalho que a Fabi fez, com texto maravilhoso, com referência ao José Maria Orreda, nós conseguimos e o Governo do Estado aceitou. Então, foi em tempo recorde. Nós fizemos isso em menos de uma semana, essa tentativa de adesão e deu certo”, conta Adriano.

Imagem mostra mapeados que serão incluídos no Caminho do Peabiru. Foto: Google Maps

A diretora da ADECSUL destaca que este tipo de iniciativa também ajuda a recuperar a história indígena na região. “Nós vamos ter esse resgate histórico desses locais indígenas e dessa presença indígena em Irati. Inclusive, a cidade era uma aldeia. Aqui no centro, existem vestígios de casas do povo Kaingang, casas tradicionais. No centro também existem vestígios de cerâmica, de urnas funerárias, de líticos, de pedras, que são as pontas de lança e as machadinhas”, explica Fabiana.

Além da documentação, Fabiana ressalta que a população pode ajudar com relatos que ajudam a comprovar a história indígena de Irati. “Por isso, convocamos as pessoas para relatarem o que está na memória, porque nós sabemos que a nossa cidade ela não é só habitada, ela não foi construída pelos colonizadores. Quando os colonizadores chegaram aqui, já existiam pessoas e está na memória de muitas pessoas, os avós, que eram chamados bugres. Então, vamos resgatar essa memória que até hoje não foi trazida para os relatos. É um momento muito especial que temos aqui em Irati e em todo o estado do Paraná”, disse.

Adriano ressalta que o objetivo do programa é estimular o turismo rural e internacional, atraindo esportistas de vários países. “Dentro dessa rota, prevê, principalmente, unir os grupos de caminhada dentro da caminhada da natureza. Ela vai ser uma rota instituída para que a pessoa, por exemplo, lá de Porto Alegre, vai poder olhar, ver como que faz e vem para Irati realizar a rota. Ela vai ser toda mapeada por GPS”, explica o diretor de turismo da Prefeitura.

Além do mapeamento, a rota deve conter sinalização das trilhas pertencentes ao Caminhos do Peabiru. A rota na região passará pela localidade de Palmital, ligando Irati e Prudentópolis, que está incluída na rota, conforme conta o presidente da ADECSUL, Murilo de Lima. Nós precisávamos obrigatoriamente estar conectado com alguma cidade do caminho oficial, no qual Prudentópolis faz parte. Então, vai unir Palmital, que é divisa com Prudentópolis, Serro da Ponte Alta, Faxinal do Rio do Couro, Campina, Gonçalves Júnior, Mato Queimado. Na cidade, vai passar pela Apae, bairro Camacuã, bairro Rio Bonito, centro e Nhapindazal”, conta o presidente.

Murilo diz que a expectativa é poder conectar essa rota com outras comunidades em Irati, como Pinho de Baixo e Caratuva, que já possuem trilhas. “A ideia é fazer uma grande rede de trilhas, no qual vai trazer muitos caminhantes, muitos trilheiros para essa nossa região”, disse o presidente.

A organização da rota turística também deve ocorrer com o apoio dos moradores da localidade. O presidente da ADECSUL explica que as localidades, por onde passará a rota, poderão conter atrativos e serviços para os turistas. A intenção é se reunir com os moradores das localidades para apresentar as oportunidades de negócios que podem ser feitas. “Nós precisamos do apoio deles e também falar que eles podem trabalhar com o turismo, se inserir no meio do turismo, no qual vão poder fazer parte da grande rede, fornecendo seus espaços para cachoeiras e tudo mais. Cobrar por visita, também fazer uma hospedagem, se alguém quiser hospedar em casa. Lembrando que vários lugares do Brasil e do mundo são hospedagens simples, são casas, no qual abrigam as pessoas que vão estar fazendo essas trilhas. Os trilheiros, basicamente do Brasil e do mundo, adoram essa pegada mais simples, no qual remetem às suas origens”, conta Murilo.

Murilo explica que a instituição atuará dando assessoria aos moradores que quiserem realizar um empreendimento turístico em suas propriedades. “O turismo é hotelaria, no ramo da alimentação, até de uma cachoeira, no fundo de casa. Muita gente do interior tem uma cachoeira. Tem um ditado que eles falam: quem que vai pagar para ver cocô de vaca? Mas geralmente as pessoas veem e gostam de estar presentes nesses lugares. Isso sim é turismo. Então, o turismo rural está muito em alta. Eu acredito que vai fomentar bastante a nossa região”, explica.

Para o diretor de turismo da prefeitura, a rota deve ser uma oportunidade de conscientização ambiental.
“Ele vai envolver muito mais do que o turismo só. Ele vai fomentar a educação ambiental, ele vai fomentar o turismo rural, ele vai fomentar a agricultura familiar. Por isso que eu disse que é um projeto muito grande, porque ele não vai envolver só, especificamente, o turismo, a hospedagem ou a alimentação. Ele vai envolver muito mais, a educação principalmente”, disse.

Ao todo, 97 cidades estão incluídas no programa estadual, integrando toda a rota turística. As prefeituras de cada cidade terão a incumbência de implementar e conservar as trilhas, dentro de uma política de financiamento que existe a partir do programa, segundo Adriano. “Vamos inserir banheiros ecológicos, toda a infraestrutura que for necessária durante o percurso, onde não tiver uma hospedagem próxima, alguma coisa assim, nós vamos investir. Principalmente, isso vai acarretar no investimento dos próprios atrativos, que muitos aqui do nosso município, que são de grande potencial turístico, encontram-se abandonados há muito tempo”, conta o diretor de turismo.

Adriano afirma que o planejamento da rota turística envolve pontos já conhecidos. “Nós temos uma cachoeira do Itapará, que é tão famosa, e precisamos de uma estrutura lá. A própria cachoeira do Pinha, quando conseguirmos recuperar ela, que ela está encampada ainda pelo Governo do Brasil. Uma coisa puxa a outra. Realmente, além da trilha em si, tudo que envolve, propriamente o turismo, ele vai ser obrigatoriamente estruturado, para o turista e para a própria população”, afirma o diretor.

Até junho de 2026, o objetivo é trabalhar com as comunidades e prepará-las para receber os turistas, conforme Fabiana. “Nós já estamos desenvolvendo alguns trabalhos, como essa rota preliminar. Foi criado um grupo de trabalho pela Prefeitura, convidando algumas pessoas. Estamos abertos também a outras pessoas que queiram colaborar, instituições, empresários, toda a comunidade está convidada a fazer parte desse projeto. Nós tivemos uma oficina de mapeamento, para entender o que é esse mapeamento da rota. Nós participamos em Reserva, reunindo algumas cidades desse projeto”, conta Fabiana.

Nos próximo 30 dias, o trabalho será focado em conversar com as comunidades que participam do projeto. Numa primeira etapa serão mapeadas localidades que já estão inclusas, mas há a possibilidade de incluir mais lugares na rota, segundo Adriano. “Essa é uma trilha prévia e precisa ser instituída o quanto mais cedo possível. Eu tinha comentado que vamos criar várias ramificações dentro da nossa trilha. O que não foi citado aqui, Cerro do Canhadão, Itapará, todos estão inseridos no projeto. Mas, a princípio, como temos um prazo curto, precisamos desse mapeamento, precisa de sinalização, precisa de muita coisa. Então, se faz necessário, essa primeira trilha”, explica Adriano.

Após essa conversa inicial com os moradores, acontecerá uma audiência pública para apresentar o traçado e verificar se há mais locais que podem ser incluídos. Depois de cumprido essa etapa, o trabalho segue junto com o Governo do Estado, conta a diretora de comunicação da ADECSUL. “Nós receberemos uma consultoria contratada pela Secretaria de Turismo e Planejamento, que é da Universidade Estadual de Maringá, que abarca as questões técnicas, históricas, educativas. Nós vamos ter, durante esse próximo ano, várias atividades que a população deve se envolver, as instituições ensinam, as escolas, os empresários, todas as entidades. Um trabalho coletivo que eu acho que é pioneiro e único aqui, pela primeira vez em Irati, um trabalho desse nível, considerando o turismo também como um grande encontro de fraternidade na nossa cidade”, disse a diretora de comunicação da ADECSUL.

Ao final de todo o trabalho para a organização da rota turística, as informações serão reunidas em um site, revela Fabiana. “Todas essas informações, com os atrativos, vão estar reunidas num site, em vários sites, com links compartilhados para que as pessoas tenham essa informação. Ela é um projeto da Rede Brasileira de Trilhas, que conecta o Brasil inteiro através de trilhas. Vamos ter agora um grande percurso que vai chamar Caminhos do Peabiru e vai resgatar a nossa questão histórica, também prever uma conservação da natureza através de corredores ecológicos entre essas cidades”, explica Fabiana.

Quem participa dos grupos de caminhadas e de trilhas vê com bons olhos a inclusão de Irati na rota turística. Para o integrante do grupo Acordei, Márcio Duda, essa é uma oportunidade para o município. “Ela tem uma fundamental importância porque vai abranger vários itens. Vai envolver a questão ambiental, principalmente do turismo, a questão da educação também, sustentabilidade e várias outras coisas também que vão estar todos envolvidos”, disse.

O integrante do grupo Irati Caminhar, Fábio Schwab, conta que os grupos já fizeram o mapeamento de alguns caminhos que poderão ser incluídos na rota. “Tem a Rota do Pesco, que vai ser incluído, tem a do Caratuva, tem a do Pinho de Baixo, tem a de Gonçalves Júnior. Todos esses caminhos vão estar todos intercalados juntos, nessa mesma rede, e todos sinalizados. Quando tiver uma Caminhada da Natureza, o pessoal vai ver lá que tem duas sinalizações: a da Caminhada da Natureza e a do Caminhos do Peabiru”, conta.

Márcio destaca que a participação em grupos de caminhadas é uma forma de conhecer a realidade do município. “É muito relevante isso porque todo final de semana estamos conhecendo a cidade, lugares do interior que não conhecíamos, descobrindo novas cachoeiras, cavernas. O grupo é bem ativo. Nós participamos de caminhadas no Paraná inteiro e sempre elevando o nome da cidade, sempre elevando e trazendo experiências aqui para a cidade também”, disse.

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