Reunião discute ações para ajudar agricultores com perdas por causa de granizo e estiagem

Distribuição de cestas básicas, replantio de lavoura e disponibilização de caminhão-pipa são algumas das ações…

04 de janeiro de 2022 às 16h20m

Distribuição de cestas básicas, replantio de lavoura e disponibilização de caminhão-pipa são algumas das ações que serão realizadas/Karin Franco, com reportagem de Paulo Henrique Sava

Autoridades se reuniram para discutir ações que serão adotadas para auxiliar os agricultores prejudicados pela chuva de granizo nos últimos dias e pela estiagem na região. Foto: Paulo Henrique Sava
Autoridades locais estiveram reunidas nesta segunda-feira (03) para discutir as ações que serão adotadas para auxiliar os agricultores prejudicados pela chuva de granizo nos últimos dias e pela estiagem na região. Entre as ações que serão realizadas estão a distribuição de cestas básicas, replantio de lavoura e disponibilização de caminhão-pipa para agricultores.

A reunião contou com representantes da Defesa Civil, Emater, Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR), Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB), Câmara de Irati, Secretaria Municipal de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar, Corpo de Bombeiros e Prefeitura de Irati.

Uma das primeiras ações é a busca de ajuda do Governo Estadual e Federal. Representantes do município devem ir à Curitiba para conseguir recursos para auxiliar os agricultores. “Boa parte do secretariado nosso está indo a Curitiba, junto com a Secretaria da Agricultura, falar com o secretário Ortigara, junto com a Adriana da SEAB, para ver a possibilidade de fornecimento de sementes de milho e de feijão para o replantio, no caso dessas lavouras que foram destruídas pelo granizo”, disse o prefeito de Irati, Jorge Derbli.

O secretário de Agropecuária, Abastecimento e Segurança Alimentar de Irati, Raimundo Gnatkowski, será um dos representantes. “Ir no estado e ver o que nós iremos ter, do secretário de Estado, do apoio, para voltar ao agricultor, seja em semente ou o que for, para que ele possa se motivar novamente a preencher aquele chão que está aberto ali, onde detonou tudo com o granizo, no fumo, na soja. E preencher com uma outra cultura”, explicou.

A expectativa é que se possa adquirir recursos para fazer esse replantio até o dia 10 de fevereiro. “Da mesma forma o Estado está fazendo o levantamento dos seus estoques de sementes que tem dentro do Iapar para que nós possamos viabilizar alguma lavoura que ainda dê possibilidade de cultivo até dia 10 de fevereiro que seria a data-limite para que as pessoas possam ainda fazer a lavoura e produzir antes da geada chegar”, explica a coordenadora da Defesa Civil, Rozenilda Romaniw Bárbara.

De acordo com o prefeito de Irati, o município precisará do auxílio do Governo do Estado, mesmo que tenha limitações orçamentárias. “O Estado num primeiro momento está sem orçamento, mas eles terão que ajudar porque não é só o granizo em Irati. O problema maior é a estiagem que atinge o Paraná inteiro. O governador decretou calamidade hídrica no estado porque realmente vemos que todas as lavouras tem uns pontos que choveram, mas na grande maioria, o pessoal está perdendo. Então, não vai ter de ajudar o Estado somente a cidade de Irati, sabemos que é o estado inteiro que vai ter esse contexto de ajuda”, afirmou.

A chefe do escritório regional da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB), Adriana Baumel, disse que o Estado ainda não definiu uma ajuda, mas que está analisando. “Nosso secretário, outros vinculados estão se organizando para levantamento da possibilidade de algum tipo de ajuda como semente. Mas nós não temos ainda essa definição porque não é uma questão pontual de Irati. É o estado todo que está nesta situação de estiagem, o granizo é localizado em alguns municípios, principalmente nossa região de Irati, São João do Triunfo e Rebouças que foram os mais prejudicados. Mas por enquanto, nós não temos o apoio definido pelo estado que vai vir daqui uns dias”, disse.

Segundo a vice-prefeita, Ieda Waydzik, as autoridades devem buscar ajuda de deputados estaduais e federais para conseguir agilizar as demandas. “Nós vamos contar com os nossos deputados para que sensibilizem as nossas autoridades do Estado e do Governo Federal para que olhem para nós e nos ajudem nesse momento tão difícil para todos nós, para nossos agricultores principalmente”, conta.

A Prefeitura de Irati também deverá ajudar na compra de sementes para o replantio. “Hoje determinei para fazer uma cotação de semente de milho e feijão. E vermos a possibilidade, de com recurso próprio, a prefeitura comprar um pouco de semente, para pelo menos para dar uma oportunidade para as pessoas replantarem para ver se conseguem fazer uma safra como era a programada”, revela o prefeito.

O replantio das lavouras é visto como uma opção para ajudar o agricultor que ficará sem o recurso da venda da produção. “Muita gente ainda fez o financiamento, consegue que o seguro pague suas dívidas perante os bancos, mas tem muita gente que fez o investimento com recurso próprio, dinheiro que sobrou da safra passada, já tinha comprado a semente, o adubo. Infelizmente, isso foi tudo por água abaixo”, explica Derbli.

A maioria dos afetados é pequeno produtor. Segundo o secretário de Agropecuária, a preocupação é como esse agricultor vai se manter financeiramente. “O pequeno produtor, quando ele tem o fumo, ele perdeu o fumo, mas era tudo o que ele tinha. ‘Ah, tem um pouco de seguro?’. Tem, mas o que esse seguro vai cobrir? A dívida. E o que ele vai comer? Então, essa é a nossa preocupação”, disse.

Outra preocupação é em relação aos trabalhadores rurais. Com a perda das lavouras, os trabalhadores rurais que ganham por dia trabalhado terão menos oportunidades de emprego no campo e podem precisar de ajuda.

Segundo a secretária de Assistência Social, Sybil Dietrich, o objetivo será distribuir cestas básicas e kits de higiene a esse grupo. “Nós estamos fazendo esse levantamento para buscar recursos junto ao Governo Estadual, junto ao Governo Federal, para darmos uma resposta a essas famílias porque o município também precisa desse suporte a nível estadual e federal para dar conta de uma resposta que atinja as necessidades reais dessas famílias”, explicou.

O prefeito destacou que também procurará deputados para agilizar essa demanda. “Ao mesmo tempo, a Assistência Social, estamos em contato com os deputados nossos, federal e estadual, o deputado Artagão e a deputada Leandre, para conseguirmos junto aos órgãos federais e estaduais, cestas básicas com a Defesa Civil do Paraná, para fornecer para essas famílias que ficaram completamente sem nenhum ganho daqui para frente”, disse.

O levantamento das pessoas que receberão o auxílio está sendo feito com base no Cadastro Único, feito pela Assistência Social. O alvo serão as famílias que estão nas áreas afetadas e se enquadram nas faixas de renda 1 e 2. “Nesse momento fizemos o levantamento de 229 famílias, seria em torno de duas cestas básicas por família, mas esse é um pedido junto ao Governo Estadual e Federal. Nós ainda não tivemos um retorno oficial do Governo Estadual e Federal, enquanto isso, obviamente, a Assistência Social vai dando suporte às famílias que vão chegando e pedindo essa ajuda”, conta a secretária.

Para o presidente da Câmara de Vereadores, Hélio de Mello, as ações ajudarão os agricultores. “Nós temos a ideia da semente, a ideia da cesta básica, é isso que nós realmente achamos que é para o momento. Porém, necessita dessa articulação, dessa busca junto ao Governo do Estado para esse atendimento. Temos a questão da estiagem que é uma questão estadual, uma questão regional, que estamos sofrendo bastante, mas temos que brigar pelas famílias que foram atingidas pelo granizo no nosso município”, conta.

Na semana passada, a Defesa Civil realizou um levantamento dos agricultores afetados pelo granizo. Foram 230 famílias que tiveram suas propriedades rurais danificadas, o que representa 989 pessoas atingidas pelos prejuízos dos temporais no interior de Irati.

Esse número pode aumentar, já que muitos agricultores ainda estão comunicando suas perdas. Segundo o secretário Raimundo Gnatkowski, o número pode chegar a quase 300 famílias. “Mas ainda se sabe que mais porque são três regiões que pegou, a região do Guamarim, Pirapó, Boa Vista, um pouco do Rio Preto – foi pouco na região do Rio Preto -, mas na região da Colônia pegou bastante e depois pegou na região do Itapará. Lá pegou muito, região de Valeiros, toda aquela região lá tombou árvore com raiz e tudo. Lá talvez não tenhamos todos os números das pessoas atingidas ainda”, disse.

O levantamento já foi enviado para a Defesa Civil estadual para que o município possa conseguir ter ajuda. A coordenadora da Defesa Civil explica que os agricultores podem ainda entrar em contato com a prefeitura para receber ajuda. “Perante os órgãos oficiais, eu não consigo mais fazer alteração dos dados. No entanto, essas informações dos prejuízos podem continuar sendo encaminhadas para a Secretaria da Agricultura”, conta.

Ao todo, foram 750 alqueires de lavoura perdida pelo granizo, sendo 51 alqueires de milho, 41 alqueires de lavoura de feijão, 443 alqueires de soja e 218 de alqueires de fumo. A estimativa inicial é de um prejuízo de mais de R$ 7 milhões, considerando apenas o plantio. Porém, o valor pode aumentar para R$ 20 milhões de prejuízo se contar o rendimento das lavouras. “Realmente é uma situação muito difícil, destruiu completamente as lavouras, tanto de soja, como de fumo, de milho e de feijão”, conta o prefeito.

Estiagem – Além da perda por causa do granizo, outra preocupação das autoridades é a estiagem. “Também estamos preocupados com a falta de água. Sabemos que está secando os rios, as vertentes, as sangas, não está tendo água. Isso também leva para a gente despertar o conhecimento da questão da preservação do meio ambiente, a quantia que é necessário você deixar um mato na beira do rio, perto da sanga, do olho d’água, não desmatar, conservar. Essa percepção vemos neste momento”, disse.

O Paraná já decretou estado de emergência por causa da seca e com isso, municípios paranaenses começam a calcular os prejuízos para entender o que poderá ser feito. Em Irati, o prefeito conta que uma das soluções é a disponibilização de caminhões-pipa. “Já estamos vendo caminhões pipa, aqui contratando para no caso ter que atender algumas propriedades. A gente sabe que falta água numa leiteria para o gado, falta num chiqueiro de porco para dar para criação em qualquer situação”, revela.

A coordenadora da Defesa Civil destaca que as informações sobre a estiagem já estão sendo repassadas para o Governo do Estado. “Até por orientação da Defesa Civil do Estado, nós já vamos fazer o registro da questão da estiagem e como nós, aqui no município, já está tendo bastante pedido de atendimento de levar água nas propriedades rurais, a ideia é nós fazermos a contratação desse tipo de serviço também como uma questão de ajudar nesse momento que está perecendo”, alerta.

Para o secretário de Agropecuária, a estiagem já traz reflexos para o dia a dia das pessoas, mas o prejuízo aumenta após a perda de lavouras por causa do granizo. “A pouca produção da questão da falta da chuva já tem o reflexo, agora o granizo também tem o reflexo. E quando falamos do reflexo no preço ao consumidor ainda se tem alimentos, ainda dá pra se pagar. O problema é quando não se consegue alimento. Não se tem esse alimento por uma crise hídrica que está aqui ou pela questão do granizo que está aqui. Então, o agricultor já perdeu dinheiro lá no campo e os municípios perderam orçamento, os municípios também perderam arrecadação. Então, essa é uma via de duas mãos”, explica.

A coordenadora da Defesa Civil alerta que as ações atuais são momentâneas e que é preciso pensar em projetos a longo prazo para resolver o problema. “Já não é a primeira seca que estamos enfrentando aqui na região, muito menos em Irati. Então, temos que começar a pensar seriamente em captação de água de chuva, tem bastante telhado. O agricultor vai ter que entender que ele precisa ser um reservador de água, nem que seja aquele tanque de peixe pequeno, mas ele tem que ter alguma coisa que garanta a água na sua propriedade. Por outro lado, se faça um trabalho de preservação das nascentes que estamos vendo que a soja tem sido o domínio das propriedades rurais e muitas vezes as nascentes pequenas têm sido perdidas nas propriedades. Temos que começar a voltar a pensar nesse equilíbrio, porque senão vamos desestabilizar demais o nosso meio e daqui a pouco estaremos inviabilizando a agricultura como um todo”, destacou.

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