Grande parte dos pacientes atendidos hoje tratam dependências químicas
Da Redação, com reportagem de Paulo Henrique Sava

Desde 1982, a ala de Psiquiatria da Santa Casa de Irati vem atendendo pacientes da saúde mental. Conforme o provedor do hospital, o psiquiatra Ladislao Obrzut Neto, eram pacientes diagnosticados com esquizofrenia, psicose não-especificada, quadros de ansiedade que antigamente eram classificados como histeria e, hoje, como bipolaridade agitada ou não-agitada, e pacientes que tratavam do alcoolismo.
“Começamos [a Psiquiatria] na Santa Casa com uma enfermaria de alcoolismo, a Enfermaria M. De lá para cá, muita coisa aconteceu, pois aumentou a dependência química de crack e outras drogas, como a maconha, a cocaína, o LSD. Há até seis anos, tínhamos um convênio de credenciamento com o SUS, mas por um erro da ocasião de seis anos atrás, da Regional de Saúde, não nos encaminhou um documento para retomarmos o convênio. Perdemos esse convênio e passamos a ficar na dependência do governo do Paraná para ser remunerado”, relata o provedor.
Em um mês, são realizados 523 internamentos – ou 17,43 ao dia na ala psiquiátrica. “Temos que ter 16 leitos para atender a pacientes de Irati e do Paraná”, comenta. Hoje, a Santa Casa atende a pacientes oriundos da região de Foz do Iguaçu e de Maringá, inclusive, uma gestante com dependência química; paciente de Guarapuava, onde não há atendimento psiquiátrico; e paciente de Ponta Grossa.
“Os pacientes vêm de onde você imaginar: Antonina, Cambé, Pato Branco, Francisco Beltrão. Só que temos 14 camas para atender a 14 pacientes, dar o atendimento e ser remunerado pelo SUS, de acordo. Não existe até hoje o credenciamento ou autorização para tratamento de dependência química de menor. Não tenho nem condição física para atender a menores. Um exemplo, um paciente foi internado 12 vezes e, nas 12 vezes, permaneceu exatamente seis horas dentro do hospital. Ele pulou o muro, pulou a cerca, pulou janela, telhado… e fugiu. O que quer esse paciente? Ele não quer se tratar. Hoje ele é maior de idade, é para estar internado fora de Irati, porque eu consegui esse internamento”, conta Ladislao.
O psiquiatra destaca que esse tipo de atendimento demanda tanto uma estrutura física preparada como de amparo social, tanto da sociedade como dos Conselhos de Atenção Básica, como é o caso do CRAS, CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) e o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).
O dependente químico é internado e passa por um processo de desintoxicação, que varia entre sete a 15 dias. “Ele sai desintoxicado e, teoricamente, a comunidade e os conselhos, as estruturas sociais e da Secretaria de Saúde e outras secretarias deviam estar ‘abarcando’ esse paciente para segurá-lo. Ele sai, a família não foi trabalhada por esses conselhos para saber como ajudá-lo. O que acontece? Ele volta a se drogar, pois ele não saiu curado do hospital, apenas desintoxicado”, frisa.
O sucesso do tratamento de dependência química, segundo o psiquiatra, está muito relacionado ao esforço e empenho do paciente. “Um exemplo que dou a vocês: trabalhava no Hospital Pinheiros, há muitos anos, onde um paciente ficou internado seis meses. Era uma excelente pessoa, limpava, cozinhava e ajudava. Os outros pacientes ajudavam também. Ele teve alta às 15h e, às 18h, ele voltou a ser internado, alcoolizado. Ou seja, não é o tempo [de internação], é o desejo e a capacidade. Já tive pacientes que ficaram dois ou três dias internados e não voltaram mais a beber; e outros que ficaram 15, 20 ou 30 dias e que voltaram a beber. Pacientes que internei, que encaminhei para comunidade terapêutica e que voltaram a fazer uso da droga. O que precisamos ter é apoio familiar e apoio social. Agora, responsabilizar as instituições médicas e hospitalares pelos insucessos não tem como”, diz.
O provedor da Santa Casa ressalta que hoje o que está sendo preconizado é o tratamento ao dependente químico e de álcool no CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Outras Drogas). “Estive conversando com o prefeito [Jorge] Derbli recentemente a respeito de fazermos uma grande reunião entre a Santa Casa e todos esses conselhos que tem: da Criança e do Adolescente (CMDCA), do Idoso, CRAS e CREAS, e começarmos a montar uma estrutura de amparo social. Ele concordou com isso e só estamos esperando passar esse começo de ano para passar a estruturar isso, para que tenhamos uma rede de atenção, de amparo”, aponta.