Provedor fala sobre situação do atendimento psiquiátrico na Santa Casa

Grande parte dos pacientes atendidos hoje tratam dependências químicas Da Redação, com reportagem de Paulo…

22 de janeiro de 2019 às 08h40m

Grande parte dos pacientes atendidos hoje tratam dependências químicas

Da Redação, com reportagem de Paulo Henrique Sava 
Desde 1982, a ala de Psiquiatria da Santa Casa de Irati vem atendendo pacientes da saúde mental. Conforme o provedor do hospital, o psiquiatra Ladislao Obrzut Neto, eram pacientes diagnosticados com esquizofrenia, psicose não-especificada, quadros de ansiedade que antigamente eram classificados como histeria e, hoje, como bipolaridade agitada ou não-agitada, e pacientes que tratavam do alcoolismo.
“Começamos [a Psiquiatria] na Santa Casa com uma enfermaria de alcoolismo, a Enfermaria M. De lá para cá, muita coisa aconteceu, pois aumentou a dependência química de crack e outras drogas, como a maconha, a cocaína, o LSD. Há até seis anos, tínhamos um convênio de credenciamento com o SUS, mas por um erro da ocasião de seis anos atrás, da Regional de Saúde, não nos encaminhou um documento para retomarmos o convênio. Perdemos esse convênio e passamos a ficar na dependência do governo do Paraná para ser remunerado”, relata o provedor.
Em um mês, são realizados 523 internamentos – ou 17,43 ao dia na ala psiquiátrica. “Temos que ter 16 leitos para atender a pacientes de Irati e do Paraná”, comenta. Hoje, a Santa Casa atende a pacientes oriundos da região de Foz do Iguaçu e de Maringá, inclusive, uma gestante com dependência química; paciente de Guarapuava, onde não há atendimento psiquiátrico; e paciente de Ponta Grossa.
“Os pacientes vêm de onde você imaginar: Antonina, Cambé, Pato Branco, Francisco Beltrão. Só que temos 14 camas para atender a 14 pacientes, dar o atendimento e ser remunerado pelo SUS, de acordo. Não existe até hoje o credenciamento ou autorização para tratamento de dependência química de menor. Não tenho nem condição física para atender a menores. Um exemplo, um paciente foi internado 12 vezes e, nas 12 vezes, permaneceu exatamente seis horas dentro do hospital. Ele pulou o muro, pulou a cerca, pulou janela, telhado… e fugiu. O que quer esse paciente? Ele não quer se tratar. Hoje ele é maior de idade, é para estar internado fora de Irati, porque eu consegui esse internamento”, conta Ladislao.
O psiquiatra destaca que esse tipo de atendimento demanda tanto uma estrutura física preparada como de amparo social, tanto da sociedade como dos Conselhos de Atenção Básica, como é o caso do CRAS, CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) e o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).
O dependente químico é internado e passa por um processo de desintoxicação, que varia entre sete a 15 dias. “Ele sai desintoxicado e, teoricamente, a comunidade e os conselhos, as estruturas sociais e da Secretaria de Saúde e outras secretarias deviam estar ‘abarcando’ esse paciente para segurá-lo. Ele sai, a família não foi trabalhada por esses conselhos para saber como ajudá-lo. O que acontece? Ele volta a se drogar, pois ele não saiu curado do hospital, apenas desintoxicado”, frisa.
O sucesso do tratamento de dependência química, segundo o psiquiatra, está muito relacionado ao esforço e empenho do paciente. “Um exemplo que dou a vocês: trabalhava no Hospital Pinheiros, há muitos anos, onde um paciente ficou internado seis meses. Era uma excelente pessoa, limpava, cozinhava e ajudava. Os outros pacientes ajudavam também. Ele teve alta às 15h e, às 18h, ele voltou a ser internado, alcoolizado. Ou seja, não é o tempo [de internação], é o desejo e a capacidade. Já tive pacientes que ficaram dois ou três dias internados e não voltaram mais a beber; e outros que ficaram 15, 20 ou 30 dias e que voltaram a beber. Pacientes que internei, que encaminhei para comunidade terapêutica e que voltaram a fazer uso da droga. O que precisamos ter é apoio familiar e apoio social. Agora, responsabilizar as instituições médicas e hospitalares pelos insucessos não tem como”, diz.
O provedor da Santa Casa ressalta que hoje o que está sendo preconizado é o tratamento ao dependente químico e de álcool no CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Outras Drogas). “Estive conversando com o prefeito [Jorge] Derbli recentemente a respeito de fazermos uma grande reunião entre a Santa Casa e todos esses conselhos que tem: da Criança e do Adolescente (CMDCA), do Idoso, CRAS e CREAS, e começarmos a montar uma estrutura de amparo social. Ele concordou com isso e só estamos esperando passar esse começo de ano para passar a estruturar isso, para que tenhamos uma rede de atenção, de amparo”, aponta.
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