Através do projeto “Papo Ciclas”, alunas do IFPR visitam escolas para falar sobre saúde para meninas de escolas da região/Paulo Sava

Proporcionar mais conhecimento a respeito da saúde íntima feminina a estudantes da rede pública de ensino é o principal objetivo do projeto de extensão “Papo Ciclas”, criado por professores e estudantes do campus Irati do Instituto Federal do Paraná (IFPR).
O projeto, criado em 2018, leva informações a respeito de temas como educação menstrual, gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis, métodos contraceptivos, higiene pessoal, abuso e outros assuntos ligados à transição da adolescência para a fase adulta.

Em entrevista ao programa Espaço Cidadão, da Super Najuá, o coordenador do projeto, professor de Biologia Jessé Murilo Costa, afirmou que não é fácil abordar a educação sexual dentro das salas de aula, mesmo que a conversa seja somente entre as meninas. “Não é um assunto para as meninas tratarem com meninas. A ideia do projeto surge de uma inquietação minha, como professor dentro de sala de aula. Eu sou professor de biologia há 22 anos e percebia uma falta de informação absurda, não somente nas meninas de Ensino Fundamental, mas também nas de 3º ano, com 17 ou 18 anos, que têm uma informação muito superficial sobre o organismo delas, seu funcionamento, sobre as infecções sexualmente transmissíveis e aquilo que pode gerar problemas no dia a dia delas. Enfermidades como endometriose, ovário policístico, as alterações de ciclo e tal, e aí surge esta ideia de trazermos meninas para conversarem com meninas”, frisou.
Enquanto as estudantes conversam com as meninas, o professor aborda os temas ligados ao projeto com os meninos. Como o “Papo Ciclas” está cadastrado no Núcleo Regional de Educação (NRE) de Irati, foi possível atender quase todas as escolas da região. No total, quase 2 mil alunos da rede pública estadual de Irati e região tiveram acesso ao projeto.
De acordo com Jessé, não existe diferença de aceitação do tema entre as escolas da área urbana e da zona rural. O que há é uma necessidade maior de se abordar este tipo de assunto nas salas de aula. “Quando a gente fala que tem um projeto que fala sobre a saúde da menina, saúde menstrual e sexualidade, parece que há uma demanda muito grande. Inicialmente, o projeto tinha a ideia de trabalhar com o Ensino Médio para falar sobre isto; quando chegamos às escolas para conversar com as pedagogas e diretoras, a realidade era outra. A necessidade mesmo era no Ensino Fundamental. Elas queriam que conversássemos com as meninas e meninos de 5º e 6º ano, que era onde havia problemas nesta área. O projeto acabou mudando o foco por conta das diretoras e pedagogas das escolas, mas a recepção é sempre muito boa”, comentou o professor.

Material institucional
O grupo também produziu um material institucional com informações básicas sobre saúde, que foi distribuído dentro do campus do IFPR e nas escolas visitadas, segundo Jessé. “As escolas que visitamos têm o nosso material e esta recepção também é importante: a gente coloca a logo da escola no material, como se ela também tivesse feito em parceria com o projeto, é bem interessante”, pontuou.
Visão das monitoras do projeto
A estudante Ana Luíza Breginski Kos teve acesso ao projeto enquanto estava no 1º ano do Ensino Médio. Ela disse que se apaixonou pelo Papo Ciclas desde o momento em que conheceu o projeto. “Eu sou muito apaixonada pelo projeto desde sempre, eu já fui bolsista do projeto, que faz parte da minha vida. A gente entra em contato com as pessoas e vê que muita gente não tem contato com o assunto da saúde. A gente fala muito sobre pobreza menstrual e outros assuntos”, destacou.
Na visão de Ana Luíza, a maioria dos adolescentes em idade escolar não tem acesso a informações relacionadas à vida sexual nem em casa e nem na escola. “Aí, as meninas crescem sem saber as coisas que precisam para a saúde delas. Eu só fui me tocar disso entrando no projeto e indo às escolas”, afirmou.
Já a estudante Yasmin Trennephol, que também conheceu o projeto no 1º ano do Ensino Médio, conta que aprendeu mais sobre educação sexual depois que entrou para o grupo das monitoras do “Papo Ciclas”. “Eu me interessei muito pelo projeto e, entrando nele, eu fui aprendendo mais sobre a saúde menstrual, os ciclos da mulher, coisas sobre as quais eu realmente não tinha noção e fui aprendendo junto”, comentou.
A estudante do Ensino Médio, Maria Fernanda Gomes Pioni, resumiu o que é, de fato, o projeto. “Nós não apresentamos: falamos sobre a saúde da mulher. Não é só uma apresentação, mas é um papo, uma conversa, de uma forma muito leve, porque, querendo ou não, é um assunto que as pessoas acham muito delicado, que ficam com vergonha. Então, tentamos levar este assunto de uma maneira muito leve e tranquila, para as meninas realmente se sentirem confortáveis em querer fazer perguntas e saber mais”, frisou.
Para a estudante Milena Chepluki de Lara, participar do Papo Ciclas é uma experiência única. “É uma experiência muito única, quando eu entrei no projeto, estava no primeiro ano, mas eu conheci ele antes de vir para o IFPR, porque eu já tinha uma amiga aqui, que sempre comentou comigo sobre o projeto. No ano em que eu entrei, 2023, tinha muitas meninas, e até fizemos uma entrevista para conseguir entrar no projeto. É algo muito único: temos um papo de menina e elas se abrem muito com a gente. Teve vários casos que descobrimos nas salas. A maioria das escolas nos recebe muito bem, mas é um tabu muito grande. É um assunto delicado, temos que saber conversar, independentemente da idade. Eu, como estudava à tarde, conversava mais com as meninas do Ensino Médio, e as outras meninas conversavam com os menores”, contou.
Milena conta que sempre conversou sobre educação sexual dentro de casa. “Para mim, é muito tranquilo, eu sempre tive contato, minha mãe sempre me explicou muito bem, e para mim é normal. É um choque saber que as meninas não têm informação básica, por ser um tabu ou algo assim. Eu vejo que a gente muda muito a visão das meninas em muitas coisas. Eu moro só com minha mãe e minha irmã, então é um assunto muito tranquilo”, ressaltou.
A estudante Kamilly Rodrigues de Toledo diz que ela era uma das meninas que tinha dificuldade em conversar sobre educação sexual, especialmente dentro da sala de aula. “Eu vinha de uma escola rural, onde estas informações são muito escassas. Então, eu tive acesso ao projeto um ano antes de entrar no IFPR nas redes sociais e achei superinteressante. Este foi um dos motivos de eu ter escolhido a instituição para fazer meu Ensino Médio. Quando eu vi que abriram as vagas para fazer parte do projeto, eu quis participar tanto para aprender quanto para ajudar meninas que, assim como eu, não sabiam como funcionava a saúde da mulher”, comentou.
Kamilly acredita que o grupo está fazendo a diferença na sociedade ao ajudar adolescentes a tirarem suas dúvidas em relação à saúde sexual. “Para mim, é muito gratificante poder ajudar a fazer a diferença, poder melhorar a vida das meninas, deixá-las confortáveis para tirar suas dúvidas, explicar como funciona o seu corpo e mostrar para elas que não é um tabu. Você tem que aprender sobre seu corpo, pois isto faz parte da sua saúde”, afirmou.
A adolescente Isabela Oliveira conta que, na escola que ela visitou, os alunos ficaram espantados quando o assunto foi apresentado. “A informação, para eles, é um choque. Quando chegamos, nos apresentamos e dissemos o que iríamos falar, elas olharam e fizeram uma cara como se fosse um assunto de outro mundo. Tranquilizamos elas e mostramos que não era tão de outro mundo assim. Muitas meninas, quando falamos sobre o que era o projeto, ficaram com uma cara, outras se olharam, e percebemos que, em algumas casas, não são passadas tantas informações como para mim foram passadas. Eu também sabia bastante coisa, mas consegui aprender mais dando minhas informações para as meninas”, finalizou.
Colégios que queiram receber o grupo em suas dependências podem entrar em contato pelo Instagram @papociclas e solicitar mais informações sobre o projeto.