Projeto Cine Rural 4×4 leva magia do cinema às escolas do interior de Irati

Projeto de cinema itinerante foi contemplado com recursos da Lei Paulo Gustavo, que destina verba…

30 de junho de 2024 às 11h29m

Projeto de cinema itinerante foi contemplado com recursos da Lei Paulo Gustavo, que destina verba para execução de ações e projetos culturais no Brasil/Texto de Edilson Kernicki, com entrevista realizada por Juarez Oliveira

Imagem mostra alunos da Escola Rural Municipal Esperança Carignano Chuilki, no Guamirim, acompanhando exibição de curtas-metragens do projeto Cine Rural 4×4. Foto: Divulgação

O projeto Cine Rural 4×4 trouxe a duas escolas do interior de Irati a magia do cinema. A primeira edição do projeto, ocorrida entre os dias 3 e 4 de junho, exibiu curtas-metragens de animação com temas relacionados ao meio ambiente e à sustentabilidade, em alusão ao Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no dia 5 de junho. Nesta etapa, o projeto do produtor Carlos Marochi passou pela Escola Municipal do Campo dos Colonizadores, de Gonçalves Júnior, e pela Escola Rural Municipal Esperança Carignano Chuilki, no Guamirim.

Em entrevista à Najuá, Marochi explicou que o projeto surgiu a partir do lançamento do edital da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar 195/2022). A Lei Paulo Gustavo representa o maior investimento direto já realizado no setor cultural e destina R$ 3,862 bilhões para a execução de ações e projetos culturais em todo o território nacional. “Eu estava olhando o edital e pensando nas categorias que foram criadas, essa excelente oportunidade de produzirmos cultura no nosso município e me chamou a atenção a oportunidade de fazer um projeto de cinema itinerante”, conta.

Segundo o produtor, ao ampliar a reflexão sobre o projeto e considerar a realidade do município de Irati, decidiu levar o cinema itinerante às escolas do interior. “Sabemos que o pessoal da cidade, mais central, tem mais oportunidade de consumir a Sétima Arte [o cinema]. Só que as crianças do interior, muitas vezes, para elas, é um pouco mais complicada a locomoção, o acesso. Então, nossa ideia foi, ao invés de trazê-las para um cinema no centro da cidade, por que não levar o cinema até elas? Isso me motivou muito, porque acredito que, para muitas delas, foi a primeira vez que tiveram contato com essa arte”, acrescenta.

Marochi explica que a Lei Paulo Gustavo direciona recursos já provisionados para todos os municípios do Brasil e que Irati fez um trabalho junto à Secretaria de Cultura e Turismo lançando um edital de ampla concorrência para quem desejasse desenvolver esses projetos em Irati. “A partir disso, sentei, escrevi o projeto, pensei nas estratégias, nas contrapartidas sociais, na acessibilidade – essa é uma questão muito importante e ressaltada da Lei Paulo Gustavo, que, necessariamente, precisam ter acessibilidade. Nossas apresentações de cinema contaram com intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais), todos os filmes com legenda. Então, é algo bem inclusivo e importante hoje em dia”, frisa.

A definição das escolas que acolheriam o projeto, nessa primeira edição, foi decidida em conversa com a Secretaria Municipal de Educação de Irati. “Não podemos chegar e fazer uma ação dentro de escolas municipais por conta própria. Temos que seguir todo um protocolo de confirmações com os responsáveis”, diz. Marochi entrou em contato com a Secretaria de Educação, repassou que o projeto tinha sido aprovado e que, nesse primeiro momento, contemplaria duas escolas selecionadas, com duas sessões em cada. Depois da indicação pela Secretaria, Marochi abordou a direção das duas escolas.
“Estamos na expectativa, agora, do lançamento da Lei Aldir Blanc [Lei Federal 14.017/2020, de apoio à cultura], que está também para ser realizada no município, para que possamos fazer outras edições e, quem sabe, contemplar todas as escolas do interior”, adianta.

Crianças acompanhando curtas-metragens exibidos na Escola Municipal do Campo dos Colonizadores, de Gonçalves Júnior. Foto: Divulgação

O produtor avalia que a recepção ao projeto foi bastante positiva. Ele enfatiza que observou as crianças encatadas de ver o cinema pela primeira vez, mesmo que num ambiente adaptado. “Sabemos que, para trazer a magia do cinema mesmo, é um pouco difícil adaptarmos uma sala de aula, porque tem toda a questão da iluminação e do som. Mas tentamos ao máximo levar essa experiência para dentro das salas de aula. Deu para ver a magia da coisa acontecendo, de olhar uma tela grande, com som bom, comendo uma pipoquinha, assistindo a um filme. Tenho a certeza absoluta de que elas adoraram essa experiência”, analisa.

Para Marochi, é justamente a capacidade de proporcionar esse encantamento às crianças, que tiveram uma experiência inédita, o que faz valer a pena o esforço no projeto. “Se a comunidade gostou, se a criança gostou, é isso que faz valer a pena todo o trabalho. Por isso que escrevemos, pensamos e fazemos o que fazemos. Se não tiver esse feedback [resposta] final, não faz mais sentido, não faz valer a pena”, opina.

Filmes: A escolha dos filmes para serem exibidos nas escolas que participaram do Cine Rural 4×4 aproveitou o gancho da Semana do Meio Ambiente para a definição da temática em torno da sustentabilidade e da preservação ecológica. “Para fazer essa seleção, teve toda uma curadoria. Tivemos que entrar em plataformas de Educação, como a Curta na Escola, que foi nossa base principal e é onde temos disponíveis filmes, em curta-metragem, que podem ser utilizados em sala de aula e já têm seus direitos autorais liberados. Vamos fazer uma oficina, para os professores da rede pública das duas escolas, de como usar essa plataforma, que é sensacional. Ela tem, além dos filmes, várias atividades, sugestões de como trabalhar com as crianças. Lá tem como filtrar também os temas e foi onde encontramos os filmes ligados à sustentabilidade, em menção ao Dia Mundial do Meio Ambiente”, detalha.

O produtor acredita que levar a abordagem da sustentabilidade às crianças é crucial, em qualquer lugar, pois, para tentar reduzir o impacto proporcionado pelo ser humano à natureza no presente e no futuro – também no que se refere ao clima. “Mas eu acho interessante também fazermos um recorte mais específico para as crianças que estão no interior, porque elas são as que mais têm contato com a natureza mesmo. Muitas vezes, nós que estamos na cidade ou que moramos nas grandes capitais, o contato com a natureza é quando vamos, aos finais de semana, num parque, quando vamos passear numa praça. Já para as crianças do interior isso faz parte do cotidiano, do dia a dia delas. No momento que elas acordam e saem de casa, já estão em contato com a natureza. Trazermos este tema de preservar esse espaço é, literalmente, dizermos para elas preservarem a própria casa, o próprio convívio onde eles moram. Vejo que há uma correlação muito grande com o bem viver deles mesmos. É algo que precisa ser incentivado, precisamos trabalhar esses temas, especialmente com as crianças, para que consigamos ter um futuro minimamente decente”, observa.

Marochi opina que o homem é um dos grandes responsáveis pela crise climática que enfrentamos quando, ao mesmo tempo em que o Rio Grande do Sul é assolado pelas enchentes, o Pantanal sofre com queimadas de grandes proporções e, ainda, com a indefinição das estações, com climas atípicos para o período do inverno. “Precisamos trabalhar para que as futuras gerações não cometam os mesmos erros que cometemos”, afirma.

Projetos futuros: Enquanto aguarda o lançamento de editais da Lei Aldir Blanc para dar vida a outros projetos culturais, a produtora de Carlos Marochi, que atua em diversas frentes, desenvolve projetos em paralelo em que atua em parceria com as indústrias, levando espetáculos para dentro das empresas. “A Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) é uma oportunidade muito legal para as empresas que possuem o lucro real de deixar 4% do seu Imposto de Renda no seu próprio município, ao invés de enviar tudo para Brasília. Vejo que ela é pouco utilizada na nossa região. Tem muita oportunidade para as empresas poderem utilizar esse recurso, trazerem benefícios para sua comunidade, para seus trabalhadores”, diz.

Marochi comenta que propõe às indústrias que tipo de projeto cultural elas demandam, em vez de chegar com um projeto pronto, na hora de buscar junto a elas os recursos da Lei de Incentivo, seja um teatro, um show, um espetáculo de dança ou um festival. “Tenho a sorte de trabalhar com uma coisa muito dinâmica, que é muito gostoso e legal, que é trabalhar com cultura, que é uma das bases para a formação de qualquer ser humano. Sem ela, acabamos nos fechando demais para as coisas do mundo, tendo uma visão muito limitada do que acontece ao nosso redor”, conclui.

Como empresa, a produtora de Carlos Marochi – a Par 64 Produções Culturais – tem menos de um ano de fundação, mas ele trabalhou durante 13 anos no SESI, nas áreas de responsabilidade e cultura, o que garantiu a ele respaldo e experiência para atuar nesse setor.

Mais informações pelo Instagram: @par64producoes.

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