Agosto Dourado é o mês do incentivo ao aleitamento materno/Marina Bendhack com entrevista de Juarez Oliveira

Resumo
- Neste mês, os órgãos de saúde realizam a campanha Agosto Dourado com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da amamentação, com o objetivo de promover, proteger e apoiar a prática.
- Nos primeiros seis meses de vida é recomendado que a alimentação seja exclusivamente de aleitamento materno.
- Profissionais de saúde entrevistadas pela reportagem da Najuá contaram alguns desafios que tiveram que superar durante o período que foram mães
O Agosto Dourado é uma campanha anual de conscientização sobre a importância da amamentação, com o objetivo de promover, proteger e apoiar a prática do aleitamento materno.
Em entrevista à Najuá, a coordenadora de Saúde Bucal da secretaria de Saúde de Irati, Ana Elisa Ribeiro, e as funcionárias da Santa Casa de Irati, Karen Roberta Menon, do setor de alojamento conjunto do hospital, e Karina Johana Pizzorno Ramilo de Jesus, que é Fonoaudióloga, repassaram orientações de como realizar a amamentação e que tipo de suporte a mãe deve receber nesse período. Além disso, as profissionais falaram sobre os mitos do aleitamento materno e sobre dados científicos que embasam a importância dessa prática para a mãe e para o bebê.
Karen destacou que o mês de agosto foi escolhido para dar visibilidade à importância do aleitamento materno. “O agosto dourado, ele simboliza o incentivo ao aleitamento materno. Então, a gente faz ações para incentivar as mães na amamentação e orientar as mães. Existe a semana mundial do aleitamento materno, que é comemorado do dia 1º ao dia 7 de agosto”, diz a funcionária.
Karina relata que teve alguns desafios para amamentar, mesmo com cinco anos de experiência profissional com aleitamento materno. “A gente se encontra enquanto mãe no puerpério, que é um momento que a gente está com muita vulnerabilidade, com muitas inseguranças, com variação hormonal. Eu vejo o que fez diferença para eu conseguir amamentar meu filho é ter essa rede de apoio, que é essencial, mas também estar informada e capacitada com a informação que realmente é científico. Porque a gente também é muito bombardeada de ‘diz que me diz que’. A avó conta, traz um relato, a sogra traz outro, a mãe traz outro, e isso acaba muitas vezes gerando realmente uma confusão na cabeça da mãe, mais insegurança. Então, realmente eu vejo quanto foi essencial ter essa rede de apoio, mas também ter buscado essa informação profissional e pessoal também para estar segura nesse processo.”, diz Karina.
É comum que a mãe tenha a ideia de que a amamentação ocorrerá bem por ter conhecimentos teóricos, mas também é preciso se informar na prática e ter uma boa rede de apoio, diz Ana Elisa. “Ter uma orientação no pré-natal e já seguir, ter orientações dentro da maternidade, que as meninas dão esse suporte lá também e depois, no pós-parto, no período do puerpério, procurar por informações, faz a diferença. E a rede de apoio, a gente também tem que pensar que não é só a família. Num ambiente de trabalho, quando a mãe volta pro trabalho, é importante que se tenha um apoio para continuar essa amamentação, é procurar profissionais que vão orientar corretamente, porque vai fazer toda a diferença no processo do aleitamento”, informa a coordenadora.
Para Karen, a campanha é oportuna para diminuir a dificuldade das mães em procurarem informação e para incentivar o envolvimento da rede de apoio, que é muito importante para o sucesso da amamentação. “Elas terem alguém em casa que vai ajudar elas, a gente já orienta lá no hospital, questão de pega, de sucção, a forma correta, então elas têm que trazer essas dúvidas pra nós. E como as meninas falaram, a gente também tem as nossas dificuldades. Quando eu ganhei a minha menina, também tive minhas dificuldades, fui me socorrer com a Karina, com a Genilce [Holtmann], lá na Santa Casa. Mas consegui, mesmo voltando depois ao trabalho, que eu voltei, eu trabalhava à noite, mas eu tive essa rede de apoio, eu tive as meninas, tive em casa e eu consegui amamentar a minha menininha”, diz a funcionária da Santa Casa.
Qual a forma correta de pegar a criança?
Muitos obstáculos na amamentação se devem às dificuldades pontuais como a forma de pegar a criança ou erro ao posicioná-la, segundo Karina. “É importante que a mãe e o bebê estejam confortáveis, que o bebê esteja organizado, barriguinha viradinha pra barriga da mãe, cabecinha apoiada no cotovelo, a mãe também pode usar alguns dispositivos como uso de apoio de pés, travesseiros, almofadas de amamentação, tudo isso justamente para que essas dificuldades em relação a pega e posicionamento sejam sanadas, que aí a chance de ter uma efetividade, um sucesso nesse aleitamento vai ser mais efetivo e mais garantido. Então, o que eu vejo realmente é essa dificuldade com pega, quando a pega está inadequada, pode vir a causar lesões, que são as fissuras e aí, consequentemente, entra dor também. E aí, eu brinco que é totalmente diferente do que a mídia muitas vezes traz pra nós, que às vezes, eu brinco que o bebê tá lá, aquele bebê Johnson, vem andando e abocanha o peito da mãe tranquilo. E a amamentação, ela é um comportamento humano que precisa ser apreendido, tanto pelo bebê quanto pela mãe”, ressalta a fonoaudióloga.

A Santa Casa presta atendimento às mães puérperas, que tiveram filhos recentemente, para fazer ajustes e orientar as mães nesse momento tão importante que além de nutrir, também propicia que elas possam criar e fortalecer um vínculo afetivo com o bebê, reitera Karina.
Ana Elisa diz que a dificuldade na amamentação geralmente tende a aparecer em casa, depois da alta do hospital. “E aí que entra a questão também de ter um apoio, para que a mãe possa descansar. Que tenha alguém que ajude com alimentação, que ajude com aquele bebê, ou se é uma mãe que, às vezes, não tem uma rede de apoio, que ela possa se organizar durante o pré-natal, deixe comidinhas congeladas pra ela poder se alimentar, porque a questão da amamentação também envolve a alimentação da mãe. A mãe precisa estar bem, estar se alimentando bem, estar ingerindo líquidos, que é extremamente importante para a produção do leite. E quanto mais o bebê mama, mais há produção. Então, isso a gente vai identificando depois, quando você já tá em casa e não sabe nem pra onde correr, pedir um auxílio. Então, essas dificuldades que aparecem depois, tem forma de a gente resolver isso. Então, a mãe pode procurar os serviços de saúde para isso, para auxiliar com essas dúvidas, para ter um apoio na prática de como resolver, para que possa amamentar da melhor forma possível”, orienta a coordenadora.
A produção do leite materno será maior quando há estimulação, ou seja, mais sucção. Karina diz que é um mito que a ordenha fará faltar leite para o bebê.
Já Karen ressalta que outro mito é o do “leite fraco”. “Por isso que precisa a orientação desses profissionais, então, se está com dificuldade, não é que o leite é fraco, é porque tá extraindo de forma errada. Então, precisa de uma orientação das profissionais para estarem ajudando. […] Outro mito ‘preciso dar chazinho, água para o bebê?’ Não, até os seis meses, o aleitamento materno é exclusivo. Então, o leite da mãe é o suficiente pro bebê e já vem na temperatura certa, está tudo muito mais fácil pra mãe e pro bebê”, informa.
Período de aleitamento pode ser ampliado até dois anos
Karina diz que é possível e até preferível passar do prazo de seis meses de aleitamento. “O leite materno pode continuar até sendo o principal fundo de nutrição daquele bebê, a partir do sexto mês, mas é importante que isso se prolongue. Então, o que o Ministério preconiza é que seja pelo menos até os dois anos. Mas temos casos muito mais bem sucedidos, três anos ou mais. Então, realmente, não é porque vai começar a comer que o leite materno deve ser excluído, até porque ele é muito rico, ele é ouro, até pela sua coloração. O primeiro leite que traz é o Colosso, que ele tem essa coloração amarelada, e a gente brinca que ele vale ouro, realmente, porque ele tem os seus componentes que fortalecem o sistema imunológico, que faz o crescimento e ganho de peso adequado pro bebê. Então, realmente, esse mito que é tão grande em relação ao leite fraco, isso não existe. O corpo da mãe sempre vai dar conta de produzir um leite com qualidade”, garante a fonoaudióloga.
A produção do leite está associada à sucção, por isso é perfeitamente possível amamentar gêmeos. A apojadura (descida do leite) pode demorar de três a cinco dias, por isso é importante que a mãe, sendo de gêmeos ou não, se hidrate, se alimente saudavelmente e tenha uma boa rede de apoio, conforme a fonoaudióloga Karina. “O bem-estar da mãe, a sua hidratação, ingerir bastante líquido, se alimentar bem, ter seus períodos de descanso, porque também esses hormônios que a Karen falou, da oxitocina, prolactina, que são aqueles que vão produzir o leite, eles ficam ativos no corpo da mãe quando ela tá mais relaxada, quando tá tranquila, quando ela entra em sono profundo. Então, tudo isso vai auxiliar. Logicamente que amamentar duas crianças, duas na mesma idade, um recém-nascido requer muitos cuidados diários. Realmente vai precisar de uma atenção dobrada, uma rede de apoio realmente bem efetiva e bem presente, mas isso é possível sim”, relata Karina.
Ela ainda reconhece que o fortalecimento do vínculo e a ajuda do pai também é um fator importante para a saúde da mãe e do bebê. “A gente está vendo nossa barriga crescer, nosso corpo mudar, o bebê nasce. É, realmente, a sobrecarga é muito mais a mãe. A mãe é o peito o tempo todo. Mas o pai, às vezes, acaba não tendo muito espaço para conseguir criar esse laço, para se afetuar com a criança. E são nessas pequenas coisas do dia a dia, que pode parecer pouco, mas se tornam grandes pra fortalecer esse vínculo bebê e o pai. Então, trocar uma fralda, dar um banho, estar perto, colocar o bebê em pezinho, depois, pra arrotar… É esse processo que, realmente, vai fortalecer esse vínculo.”, continua a fonoaudióloga.
Amamentação em locais públicos
Ana Elisa diz que a sociedade tem um papel importante para dar condições a mãe de amamentar e também de não causar constrangimento com a situação. “Às vezes, a mãe, ela pode sentir vergonha de amamentar num ambiente público. E isso não precisa acontecer. Amamentação, ela pode ocorrer em qualquer lugar, seja num comércio, seja numa igreja, seja num ambiente social, em qualquer espaço em que ela sinta que é necessário, porque o bebê, ele não tem um relógio, que ele vai mamar exatamente agora e daqui tantas horas. Ele vai mamar em livre demanda. Então, quando houver essa necessidade, que a mãe se sinta tranquila para fazer isso. E que esses ambientes também estejam preparados para acolher essa mãe, para ter uma poltrona pra ela sentar, para ter um espaço em que ela possa fazer a amamentação com tranquilidade”, diz a coordenadora.
Uso de chupetas e mamadeira é indicado?
Uma das situações que não é indicada na amamentação pelas funcionárias do setor de saúde de Irati são o uso de chupetas e mamadeira, explica Karen.
Karina reitera que a amamentação é uma prática que exige cuidados da mãe e da rede de apoio. “A confusão de bico é muito comum. O que acontece? O bebê vai pegar a chupeta que é aquele plástico, ou a mamadeira, e ele vai fazer a confusão de bico. E na hora de amamentar vai acontecer aquela confusão e pode fazer uma pega errada ali na mama. Então, assim, por isso é bem importante as mães que forem para maternidade não levar nem chupeta e nem mamadeira, porque isso pode afetar a amamentação exclusiva no seio”, informa.
A Secretaria de Saúde de Irati irá divulgar neste mês, em suas redes sociais, vídeos de mães dando relatos sobre amamentação com o intuito de promover acolhimento e fortalecer essa prática na sociedade.