Professores de Irati ficaram feridos em confusão no Centro Cívico

Seis professores que pertencem ao Núcleo da APP-Sindicato de Irati sofreram escoriações após o ataque…

30 de abril de 2015 às 08h28m

Seis professores que pertencem ao Núcleo da APP-Sindicato de Irati sofreram escoriações após o ataque da troca de choque da PM. Fato ocorreu na manifestação que antecedeu votação do PL da ParanaPrevidência

Da Redação, com informações Gazeta do Povo e G1/PR

“Nós não tínhamos arma nenhuma para se proteger. Realmente foi uma cena de violência sem precedentes no Brasil. Não podemos citar como confronto, pois os trabalhadores não estavam armados. A história que tinha pedras e pedaços de pau é mentira. A única coisa que fizemos foi tentar resistir e fugir da violência”. O relato é da presidente da APP-Sindicato de Irati, Manoela Carneiro, que estava no Centro Cívico, em Curitiba, no momento do ataque da tropa de choque da Polícia Militar aos educadores, servidores públicos estaduais e demais manifestantes, que aguardavam a votação do projeto da ParanaPrevidência. 

Segundo Manoela, seis professores de Irati ficaram feridos durante a confusão. Todos foram atendidos e passam bem. “Alguns deles fizeram boletins de ocorrência, enquanto que outros não. Vamos fazer uma denúncia porque não é possível uma ação policial desse tamanho. Nós trabalhadores que armas que nós temos? Tinham cadeirantes, pessoas de muletas, idosos e crianças. Para fazer a dispersão dos manifestantes precisa de conversa e uma organização minimamente. De uma hora para outra começaram as ações de violência. Eles quebraram as regras de dispensar usaram de violência como se fosse uma brincadeira contra os servidores”, afirma Manoela.

A presidente da APP-Sindicato tranquiliza as famílias dos professores de Irati que ficaram feridos em Curitiba. De acordo com ela, os ferimentos foram apenas superficiais. Entretanto, Manoela destaca que a maior violência foi psicológica. “É uma dor que nós estamos sentindo e ao mesmo tempo nos causa uma indignação. A partir de ontem [quarta-feira] sentimos que na terra das araucárias, quem tem poder e dinheiro nas mãos aprova projeto mesmo sendo contra a sociedade. Além desse projeto que retira dinheiro da aposentadoria dos servidores para pagar as contas do estado, contas estas criadas por má gestão, tivemos mais um aumento de impostos. Pessoas eleitas pelo povo trabalharam contra o povo. Policiais contratados para defender o povo atacaram o povo”, desabafou. 


Projeto da ParanaPrevidência é aprovado 

Alheios a tudo que se passava do lado de fora do plenário da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), os deputados governistas pareciam participar de mais um dia normal de sessão. Com exceção do líder do Executivo, Luiz Claudio Romanelli (PMDB), 30 parlamentares aliados permaneciam impassíveis em suas cadeiras, sorrindo e jogando conversa fora. No comando de todos eles, o presidente da Casa, Ademar Traiano (PSDB), afirmou apenas que “lá fora, o problema é da segurança pública, não da Assembleia”.

Os trabalhos transcorreram normalmente em meio a essa anormalidade sob protestos da oposição. Por volta das 18 horas, a Casa aprovou, por 31 votos contra 20, a proposta da previdência em segunda discussão, sepultando qualquer possibilidade de rejeição da matéria. 

Praça de guerra, batalha campal, cenário de terror. Adjetivos não faltam para descrever o que ocorreu na Capital do Estado na tarde de quarta-feira, dia 29 de abril. Segundo a Prefeitura de Curitiba, 213 pessoas ficaram feridas, em mais de duas horas em conflito, com uso de bombas de efeito moral, spray de pimenta, balas de borracha e gás lacrimogêneo. Em meio ao conflito, o deputado estadual, Rasca Rodrigues (PV), e o cinegrafista da TV Bandeirantes de Curitiba, Luiz Carlos de Jesus, acabaram mordidos por cães da Polícia Militar.

Com a aprovação do projeto pelos deputados, 33.556 beneficiários com 73 anos ou mais serão transferidos do Fundo Financeiro para o Previdenciário.

O Fundo Financeiro é bancado pelo governo estadual. Já o Previdenciário é composto por contribuições dos servidores estaduais. Com essa mudança da origem do custeio, a administração economizaria mensalmente os referidos R$ 125 milhões.

Falta de discussão do projeto

Os servidores alegam que a mudança comprometeria a saúde financeira da ParanaPrevidência, ou seja, faria que, com o tempo, a instituição tivesse mais a pagar do que a receber.

“Entendemos que o projeto de lei foi para a ALEP de forma arbitrária. Porque em fevereiro quando interrompemos a greve houve o acordo que se fosse mudar algo da previdência seria feito um amplo debate com os servidores. Esse debate não aconteceu, as emendas apresentadas pelos servidores não foram acatadas e o projeto retornou para ser aprovado em regime de urgência. Como a votação estava prevista para essa semana interrompemos nossas atividades para acompanhar. Não só os servidores em educação pública do Paraná, mas outras categorias estão em greve para demonstrar nossa contrariedade. Tínhamos uma liminar na justiça que permitia a entrada de 400 pessoas, mas foi negada essa liminar. Conseguiram na justiça que não entrasse ninguém. Nós não tivemos acesso para participar do debate. Nós fomos impedidos de chegar perto da Assembleia. Nada desencadeou a violência. Em dado momento foram lançadas bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, gás de pimenta, muitos professores foram agredidos com cassetetes, balas de borracha e num dado momento não tínhamos nem para onde correr, as bombas eram jogadas no meio das pessoas”, relata Manoela.

Cancelamento da sessão

Ela comenta que os servidores estaduais e classes contrárias a aprovação do projeto da ParanaPrevidência pretendem questionar a legitimidade da sessão realizada na ALEP. “Iremos reivindicar nossos direitos e continuar lutando contra a corrupção. Nosso sentimento é de tristeza e luto pela população, que não conseguiu ser ouvida. Estamos estudando meios jurídicos para cancelar a sessão da Assembleia. Na casa do povo, a sessão foi feita as escondidas e com policiais fortemente armados. Isso fere a constituição do País que dá direito amplo ao debate. Pretendemos cancelar a sessão, pois foi realizada de maneira irregular”, avalia. 

APP-Sindicato diz que não houve confronto

A APP-Sindicato de Irati que representa 11 municípios da região pretende realizar um levantamento de dados, imagens e vídeos para mostrar que os policiais agiram com truculência e iniciaram os ataques sem motivo aparente. “Pedimos a todos que se manifestem e contem de fato o que ocorreu porque a grande mídia diz que houve confronto. Não houve confronto e precisamos fazer o registro disso”, diz Manoela. 

O Ministério Público (MP) abriu um procedimento investigatório para apurar se houve excessos durante o confronto nas manifestações de quarta-feira, 29. O MP já ouviu mais de dez pessoas nesta quinta-feira, 30, e tem mais dez na sala de espera para serem ouvidas. O prazo da investigação é de 30 dias. Quem tiver vídeo e fotos da manifestação pode encaminhar ao Ministério Público pelo e-mail [email protected]

Os professores de Irati que ficaram feridos realizaram exame de corpo de delito na manhã desta quinta-feira, 30. Conforme a direção da APP-Sindicato, cerca de 300 educadores da região estavam presentes no Centro Cívico no momento da confusão. 

Nova assembleia irá definir rumos da paralisação

Os professores da rede estadual de ensino do Paraná, que estão em greve desde sábado, 25, se reuniram na manhã de hoje, 30, para definir os rumos da paralisação. O encontro foi acompanhado pelo representante da APP-Sindicato de Irati, professor Marco Aurélio Gaspar, de São João do Triunfo. 

Uma nova assembleia foi marcada para terça-feira, 5, às 15 h, em Curitiba. Por enquanto, não há local definido. De acordo com o presidente do APP-Sindicato, Hermes Leão, até o dia da assembleia serão organizados atos simbólicos como passeatas para manifestar a indignação dos professores em relação à aprovação do projeto de lei que altera o custeio do regime da Previdência Social dos servidores do estado–ParanaPrevidência e, principalmente, em relação ao conflito registrado no Centro Cívico.

Um novo grupo de manifestantes voltou a se concentrar no Centro Cívico de Curitiba nesta tarde. Centenas de pessoas estão em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo estadual, em solidariedade aos professores.

Suspeita de black bloc

O Governo do Paraná divulgou imagens do conflito entre professores e policiais no Centro Cívico de Curitiba que mostram a ação de pessoas que, segundo o governo, seriam black blocs – conhecidos por usarem máscaras e se infiltrarem em manifestações populares para promover o vandalismo.

As imagens divulgadas pelo governo mostram que a confusão começa com a derrubada de uma grade que cercava a Assembleia Legislativa. No material também aparecem pessoas pegando pedras da calçada para o confronto com a polícia.

Segundo a Polícia Civil, 13 pessoas foram detidas no confronto. Entre elas professores, servidores estaduais de outras categorias e estudantes.

Ainda conforme a polícia, eles portavam pedras, pedaços de pau e barras de ferro. Todos assinaram termo circunstanciado e foram liberados.

A polícia não considera essas pessoas black blocs e diz que abriu um inquérito para apurar a participação de outras pessoas que incitaram e deram início ao confronto.

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