Cooperativas reclamam que empresa terceirizada para coletar lixo orgânico estaria também recolhendo o material reciclável
Edilson Kernicki, com reportagem de Sassá Oliveira
A presidente da Associação de Reciclagem Malinoski, Luciane Blanski, demonstrou à reportagem da Najuá a atual situação do barracão usado pela cooperativa: está vazio, pois coletores precisaram ser dispensados porque não há material para ser recolhido. “Hoje pela manhã, a coleta do orgânico estava passando e meu marido teve que gritar para eles que deixassem o reciclável. Não temos mais como sair. As mesas estão vazias e não tenho mais como esperar mais 15 dias ou um mês para ter uma atitude”, reclamou.
Para Luciane, basta que a Secretaria de Ecologia e Meio Ambiente reforce a orientação à HMS, responsável pela coleta de resíduos orgânicos, para que não recolha o material reciclável, pois existem duas cooperativas designadas para este serviço. Conforme Luciane relata, há um mês, houve uma redução de 60% na quantidade de material coletado. Ela explica que é comum haver essa redução após o fim do verão, mas não nas proporções que ocorreram esse ano.
Peterson Salamão, chefe de gabinete do Executivo municipal de Irati, entrou em contato com a rádio Najuá a pedido do prefeito Odilon Burgath, para comentar que o cronograma de coleta do material reciclável sofreu alteração, que teria sido repassada à imprensa pela Secretaria de Comunicação Social para divulgação.
Nesta quarta (16), às 15h, ocorre uma reunião convocada pelo prefeito, em caráter de urgência, com o secretário de Ecologia e Meio Ambiente, Osvaldo Zaboroski, com a Luciane Blanski, da cooperativa de reciclagem Malinoski, com a presidente da Cooperativa dos Catadores e Agentes Ambientais de Irati – COCAAIR e com o responsável pela empresa HMS, para equacionar a situação que envolve a coleta do material reciclável.
Presidente da cooperativa aponta problemas
© Juarez Oliveira
Em entrevista à Najuá, Luciane Blanski disse que houve redução de 60% no material coletado
Luciane reclama também do fato de que vê pouco sendo feito pela população no sentido de colaborar com a coleta, pois ainda restam materiais misturados aos recicláveis que precisam ser encaminhados ao aterro. Ela também disse que, apesar da ampla divulgação na imprensa de campanhas educativas sobre o correto descarte, separando material orgânico do reciclável, ainda é comum o descarte junto ao lixo comum, o que atrapalha o trabalho das cooperativas.
“É desesperador, porque a maioria das pessoas que trabalha conosco é carente e depende do que ganha aqui. Não conseguem outro serviço por causa dos horários”, relatou. Luciane também destacou as dificuldades enfrentadas pelo pessoal da cooperativa para administrar as despesas de casa e com os filhos.
Ela alertou para o fato de que latas, garrafa pet e outros tipos de plástico levam muitos anos para se degradarem no ambiente se descartados erroneamente no aterro e por isso apela para que a população se conscientize em fazer o descarte correto.
Luciane observa que tanto a Malinoski quanto a cooperativa COCAAIR vem sendo prejudicadas pela desorganização que tem ocorrido na coleta. Dos 18 funcionários que a COCAAIR mantinha, quatro já precisaram ser dispensados porque reduziu o volume de coleta de material reciclável. “A situação da nossa associação também me preocupa, porque somos em dez sócios e 20 colaboradores. O dia que eu montei essa associação, cheguei para todos e falei: se nós crescermos, crescemos todos juntos; se nós cairmos, caímos todos juntos. Então, o salário aqui é tudo acima de R$ 350, de 15 em 15 dias, não abaixo”, comenta.
Os pagamentos são feitos aos coletores a cada quinze dias. O material reciclável é todo vendido, são pagas as despesas da associação e o que sobra é dividido entre os sócios, em partes iguais. “Numa situação dessas, estou colocando eles em prioridade e nós sócios ficando de fora”, comenta. Segundo Luciane, já é a segunda quinzena que ela mesma e o marido ficam sem pagamento para poder continuar as atividades na Associação Malinoski sem precisar dispensar ninguém.
Luciane reclama também da desvalorização do serviço de coletor de recicláveis. De acordo com ela, por mais que o município tenha se empenhado em colaborar com barracão, caminhões e fornecimento de energia elétrica, água, entre outros, para as cooperativas, de nada adianta se eles não tiverem matéria prima. A presidente da cooperativa notou que o material reciclável coletado passou a reduzir semana a semana.
“Procurei o Peterson [Salamão, chefe de gabinete do prefeito], procurei o [Osvaldo] Zaboroski (secretário de Meio Ambiente), procurei todos os recursos que tinha. E todas as vezes, a resposta era a mesma: de que a ordem foi dada, a ordem tem que ser cumprida”, diz Luciane.
De acordo com ela, a prefeitura teria recomendado à HMS que recolhesse todo o material das ruas para manter a cidade limpa, independente de ser lixo orgânico ou reciclável.
Luciane comentou que durante uma quinta-feira, enquanto coletava material na Vila São João, seu celular não parava de tocar: eram moradores avisando que os caminhões de coleta da HMS estariam levando todo o material e dizendo que a ordem dada era a de recolher tudo. “Agora o povo não sabe mais se separa ou não, se vai passar o caminhão de reciclável ou não”, desabafa.
No dia em que a reportagem da Najuá visitou o galpão, os caminhões da cooperativa já estavam parados às 16h. Naquele dia, durante a manhã, a cooperativa recolheu material no Alto da Glória, e veio menos do que de costume, segundo Luciane. Durante a tarde, também foi coletado pouco reciclável na Lagoa e no Centro. Conforme a presidente da cooperativa, desde as 14h30 já não havia mais serviço a ser feito naquele dia, por falta de material a ser recolhido.
A presidente da cooperativa Malinoski espera que o prefeito Odilon Burgath convoque a Secretaria de Meio Ambiente para retroceder a suposta ordem para que a HMS recolha todo o material que estiver depositado nas ruas à espera da coleta, seja reciclável ou não. “De agora em diante, o orgânico não pegue mais o reciclável, e o reciclável quem pega são os cinco caminhões das cooperativas”, sugere.
Outro lado
O chefe de gabinete frisou que o prefeito não deu ordem alguma para que fosse recolhido o material reciclável junto com o orgânico. “O que foi determinado pelo prefeito é que não podemos deixar o lixo muito tempo em frente às residências”, explicou. Segundo ele, a reunião foi marcada para que todas as partes envolvidas na coleta de resíduos no município possam dialogar e resolver o problema de uma forma que convenha a todos.
“Desde o início da gestão, quando o prefeito constatou que as duas cooperativas estavam em um ambiente não muito apropriado, buscou um novo local, buscou adequar e dar todo o suporte para as duas cooperativas. O prefeito está disposto a continuar dando todo o suporte necessário para que a coleta do material reciclável volte ao normal e que esses funcionários que estavam trabalhando nas cooperativas possam retornar e desenvolver seus trabalhos o mais breve possível”, ressaltou Salamão.
O chefe do gabinete também se comprometeu a voltar a entrar em contato com a emissora para divulgar à população um posicionamento concreto a partir desta reunião.