Prefeitura de Irati adota medidas para conter danos ocasionados pela enxurrada

21 de fevereiro de 2019 às 09h54m

Galerias pluviais não estão dando conta de escoar a água das chuvas com precipitações rápidas e de grande volume

Da Redação, com reportagem de Paulo Henrique Sava e Rodrigo Zub 
A combinação de chuvas rápidas e de grande volume, aliada a galerias pluviais estreitas ou com pontos de estrangulamento, tem ocasionado transtornos em alguns bairros de Irati, com a ocorrência de enxurradas. Na manhã desta quarta-feira (20), moradores do Rio Bonito, nas imediações do Rio do Meio, que transbordou, enfrentaram problemas. A água invadiu algumas casas e dificultou o trânsito na região. Motoristas precisaram desviar o percurso por trás do CT Willy Laars e acessar a região central via Avenida das Torres.
Conforme a engenheira da Prefeitura, Rozenilda Romaniw Bárbara, operários da Secretaria de Serviços Urbanos, comandados pelo secretário Wilson Pedroso (Buzina) vistoriaram as imediações da Rua Erna Van Der Neut, que sofreu erosão do pavimento devido ao desgaste provocado pela enxurrada. Nessa vistoria, foram verificados os bueiros para observar se havia entupimento na região do bairro Rio Bonito nas proximidades da Rua Camacuã e adjacência. O objetivo era se certificar se o problema era pontual ou se mais abrangente.
“Se tem alguma coisa impedindo a passagem da água, é claro que ela vai fazer acumulação e vai sair naquele ponto. A equipe do Buzina, que é nosso secretário de Obras, está fazendo esse trabalho de verificar e, na medida da necessidade, fazer esse trabalho de intervenção para as desobstruções desses pontos”, afirmou a engenheira que concedeu entrevista no programa Meio Dia em Notícias de quarta-feira (20).
Rozenilda destaca também que a empresa Ferma Engenharia executa, no momento, a terceira etapa do Plano de Macrodrenagem. Nessa fase, estão em análise as obras estruturantes e as não-estruturantes. “Um conjunto de leis para fazer aquilo que é necessário para o bom uso do solo a partir de agora, fazendo um planejamento por bacias – Camacuã, Nhapindazal e Rio Bonito. Todas elas têm um conjunto de corpos hídricos que se comportam de determinada forma. Com relação a obras estruturantes, temos alguns vieses, por exemplo, sabemos de algumas pontes e bueiros que precisam de alargamento, alguns lugares onde precisa ser feita a abertura de canais para dar vazão a córregos, e muitos pontos do Rio das Antas e do Camacuã, na análise que hoje (quarta) fizemos, aqui para os lados do [Colégio] São Vicente, existem pontos onde podemos fazer lagoas de contenção. Essas lagoas seriam secas em tempos de normalidade e encheriam no dia que estiver chovendo, para fazer esse equilíbrio entre a chuva e o que está sendo mandado para aquele corpo hídrico, para que ele, naquele momento, não sature”, explica.
Essas lagoas de contenção estão sendo planejadas para o Rio das Antas, nas regiões do Camacuã e do São Vicente, e para o Arroio dos Pereira.
De acordo com Rozenilda, os problemas relacionados às enxurradas são reflexos da intervenção humana, devido à impermeabilização de solos em locais que deveriam ser áreas de preservação permanente, como margens de arroios e córregos, onde foram construídas casas. Também é por isso que hoje se faz necessário se debruçar em busca de soluções para minimizar esses efeitos.Porém, ela reconhece que essas soluções são apenas paliativas e não resolutivas, uma vez que seria impossível remover essas residências construídas ao longo do curso dos córregos e arroios da área urbana.
Quanto ao Rio do Meio, que transbordou na manhã desta quarta (20), a engenheira responde que não há condições de executar dragagem. O que pode ser feito naquele local é o desassoreamento, que consiste na remoção dos sedimentos e detritos que se acumulam às margens do rio em alguns pontos específicos, onde é possível entrar com uma máquina menor.

Bairro Lagoa

Ouvintes reclamaram do entupimento de bueiros na região do bairro Lagoa. A engenheira ressalta que há uma empresa terceirizada pela Prefeitura, responsável por fazer a manutenção da galeria e que cabe à Secretaria de Obras identificar esses pontos de estrangulamento para providenciar as intervenções necessárias e determinar se a equipe terceirizada ou a da própria Prefeitura é quem vai executar essas melhorias, conforme a especificidade.
Conforme Rozenilda, áreas muito planas, como as imediações da rua Chuva de Ouro, costumam enfrentar problemas de drenagem. “Qualquer coisa que entre dentro dela [da galeria], seja terra ou cascalho, vai acumulando e diminuindo a capacidade de passagem da água naquele lugar. Na Lagoa, pode até ter acontecido isso, sim. Quando a Prefeitura estava executando, a drenagem tinha sido feita, demorou para sair a pavimentação, e essas tubulações, normalmente, acabam sofrendo entupimento, sim”, atesta.

Áreas de risco

Rozenilda relembra que, em 2014, por ocasião da grande enchente ocorrida em junho daquele ano, se aventou a possibilidade de remover algumas casas de áreas de risco nas imediações do Rio Bonito. Essas famílias seriam realocadas em imóveis construídos em área segura, com recursos do Ministério das Cidades, que não chegaram a ser entregues ao município de Irati.
“Hoje, não estamos perdendo de vista que algumas famílias, em algumas situações, estão muito na área de risco. Elas comumente sofrem. Na medida que essas chuvas vão se tornando mais comuns, essas chuvas mais pesadas, sabemos que há muitas famílias que precisariam ser realocadas. No momento, não dispomos de nenhum projeto, nem externo, nem interno, financeiramente falando, para fazer esse tipo de situação. O que a Prefeitura fez, recentemente, foi em função daquela necessidade que houve, que o Ministério Público acionou a Prefeitura para retirar aquelas famílias da região do Nhapindazal”, diz.
A engenheira frisa que o importante, quanto às áreas de preservação, é desocupá-las e, principalmente, impedir que ocorram novas ocupações. “É um problema tanto para quem ali mora quanto para quem administra o município, pois são pessoas que sempre estarão numa área sujeita a algum tipo de interferência por parte da natureza”, complementa.

Novos empreendimentos

Alguns ouvintes reclamam também, há tempos, que novos empreendimentos particulares, como loteamentos, têm ocasionado enxurradas em bairros vizinhos, situados em áreas mais baixas. O caso de um loteamento específico, citado pela engenheira, teve alvará aprovado em 2015 e revalidado recentemente, sob o compromisso de resolver os problemas ligados à drenagem.
Em relação aos loteamentos que estão sendo formalizados agora estão obtendo licença desde que trabalhem dispositivos de drenagem como lagoas de retenção ou outros similares. Esses quesitos devem ser contemplados no projeto, antes de serem aprovados pela Prefeitura para a obtenção dos alvarás.
“Futuramente, além de os loteamentos não poderem soltar água para a área vizinha, a própria residência, caso eu venha a construir nesse loteamento, eu vou ter que me incomodar com a água que eu produzo no meu lote para que eu não afete meu vizinho”, exemplifica. Há a expectativa de que a exigência de construção de caixas de retenção em novas obras, hoje existente apenas por força de decreto, venha a se tornar lei municipal, conforme Rozenilda.

BR-153

Alguns pontos do trecho urbano da BR-153 em Irati acabam represando água quando há chuvas mais intensas. A água acaba cobrindo a pista, o que gera perigo aos motoristas. A engenheira comenta que, na semana passada, uma equipe foi encaminhada ao local para averiguar o motivo. Foi observado que as bocas-de-lobo estavam jorrando água para fora, quando elas deviam escoá-la. Segundo ela, isso ocorre porque a galeria pluvial está saturada em vários pontos e é insuficiente para o volume de água que recebe nessas ocasiões.
“Provavelmente, nesse processo de municipalização que está se pensando para a BR-153, vai ser necessário repensar também a drenagem pluvial para que ela possa dar conta. Inclusive, no próprio Jardim Aeroporto a maioria das ruas ainda não estão pavimentadas e é uma coisa que as pessoas estão pedindo por lá, para melhorar a infraestrutura urbana”, diz. A pavimentação desse bairro, que margeia a BR-153, por sua vez, acarreta no crescimento da área impermeabilizada e na necessidade de uma drenagem mais eficaz.
Uma das possibilidades seria a de que essa água fosse direcionada para o futuro Parque da Vila São João. Por enquanto, sem a municipalização do trecho urbano da BR-153, a Prefeitura fica de mãos atadas quanto às melhorias necessárias no escoamento da via federal, que é de competência da União, através do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). “Se houver alguma interferência que nós estejamos causando sobre a pista, o DNIT pode solicitar que a Prefeitura resolva”, contrapõe.
Rozenilda nega que as obras do Parque São João estejam interferindo nesse problema de escoamento nas margens da BR-153, até porque as obras ficam em nível abaixo da rodovia. Por outro lado, ela alega que essa água que fica represada na pista escorre do Jardim Aeroporto, que fica em nível acima em relação ao da BR.

Impermeabilização dos solos

A engenheira frisa que todo cidadão iratiense é codependente do outro na política que visa reduzir a impermeabilização dos solos e, assim, contribuir para reduzir os riscos de alagamentos, enxurradas e similares. Cada terreno deve ter, pelo menos, 20% de sua área sem ser impermeabilizado – ou seja, sem cobertura com calçada, a fim de que permita a absorção da água da chuva pela terra. Todo morador deve cumprir seu papel e, ao mesmo tempo, precisa contar com a boa-vontade e o bom senso do vizinho, para que faça o mesmo.

Descartes irregulares

Ouvintes também reclamam da falta de consciência de alguns moradores, que efetuam descarte irregular de móveis, eletrônicos usados, entulhos e outros tipos de material que contribuem para interromper o fluxo dos rios, com estrangulamentos, e ocasionar seu transbordo. Rozenilda enfatiza que a Prefeitura de Irati mantém coleta regular tanto de resíduos sólidos quanto de recicláveis e orienta que a população se informe sobre os horários de coleta em seu bairro e faça o descarte de resíduos adequadamente.
Para além dos problemas com alagamentos, transbordo de rios, enxurradas, vale lembrar que o descarte irregular de materiais em terrenos baldios e em margens de rios pode contribuir para o crescimento dos focos de reprodução do mosquito Aedes aegypti, vetor de transmissão da dengue.

Manual de Drenagem

O Plano de Macrodrenagem inclui um Manual de Drenagem Urbana. Esse documento deve subsidiar engenheiros e arquitetos na elaboração de projetos, sejam eles residenciais, comerciais ou industriais, ao apresentar a esses profissionais que regras devem ser observadas.
Esse documento deve ser apresentado em 15 dias e ainda será avaliado pela Comissão de Acompanhamento e seguirá para uma audiência pública, antes de ser anexado ao Plano de Macrodrenagem, elencando todas as interferências que esse manual terá sobre o Plano Diretor e sobre o setor de investimentos do município.
Este site usa cookies para proporcionar a você a melhor experiência possível. Esses cookies são utilizados para análise e aprimoramento contínuo. Clique em "Entendi e aceito" se concorda com nossos termos.