Parada há mais de 10 anos, estimativa é que sejam necessários R$ 10 milhões para terminar obra do Centro Cultural Denise Stoklos/Texto de Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava, Rodrigo Zub e Juarez Oliveira
O término da obra do Centro Cultural Denise Stoklos poderá ter recursos federais e estaduais. É o que espera o prefeito de Irati, Jorge Derbli, que busca em janeiro se reunir com representantes dos governos estaduais e federais para finalizar uma articulação política feita em dezembro.
Na última semana, na terça-feira (19), o prefeito se reuniu com o diretor-presidente da Itaipu Binacional, Enio Verri, em Foz do Iguaçu. A reunião foi acompanhada pela vice-prefeita, Ieda Waydzik, e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, Maurício Requião de Mello e Silva, que é irmão do ex-governador Roberto Requião.
Na reunião, Enio Verri destacou que será preciso autorização para liberar um recurso para a obra. “Ele [Enio Verri] falou que não há problema da parte deles de liberar um recurso, desde que haja uma autorização vindo de Brasília”, explica o prefeito.
O diretor-presidente da Itaipu se comprometeu a agendar uma visita com a ministra da Cultura, Margarete Menezes e com o chefe da Casa Civil da Presidência da República, Rui Costa, para que se discuta o repasse para a finalização da obra.
A reunião em Foz do Iguaçu foi resultado de uma articulação feita no dia 7 de dezembro, quando uma comitiva de Irati esteve no Gabinete do conselheiro Maurício Requião para discutir sobre o assunto. Estiveram presentes neste dia, a secretária de Estado da Cultura do Paraná, Luciana Casagrande Pereira Ferreira; a diretora de Cultura do Estado do Paraná, Elietti de Souza Vilela; o prefeito de Irati, Jorge Derbli; a secretária municipal de Cultura e Turismo de Irati, Samantha Regina dos Santos Ferreira; e o presidente do Conselho Municipal de Cultura de Irati, Leonardo Schenato Barroso.
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Recursos – De acordo com o prefeito, a estimativa é que sejam necessários R$ 10 milhões para o término da obra. A expectativa é que o Governo Federal possa enviar recursos por meio de um convênio. “Seria um convênio, via Governo Federal, via Itaipu. Apresentando depois de deliberado e autorizado o projeto, os orçamentos atualizados. Fazer um orçamento aonde viria o recurso para o município de Irati, segundo ele [Enio Verri], o trâmite seria esse e nós faríamos uma licitação, na sequência, para terminar essa obra. Eles não fazem parcial. Não tem como liberar R$ 10 milhões, fazer uma parte e parar. Libera tudo ou não libera nada. Então, há essa possibilidade de ter esse recurso via Governo Federal”, disse.
O desafio é conseguir o restante da verba com o Governo Estadual, que já sinalizou que a obra não é prioridade da atual gestão. Para o prefeito, ainda é possível uma articulação. “O governador Ratinho nunca falou que não ia terminar a obra. Ele só disse que não era prioridade quando foi lhe perguntado. Vamos, agora no início de janeiro, marcar uma audiência com o governador, uma agenda, e vamos levar lá os grupos nossos aqui”, explica.
O prefeito destaca que há recursos para a obra. “Porque recurso tem. A Itaipu, segundo não me falhe a memória, terminaram de pagar a construção da usina e agora tem um recurso em torno de R$ 2,8 bilhões por ano para distribuição para os municípios ou para obras que sejam necessárias aqui no Paraná”, afirma.
Impasse deve ser resolvido em 2024 – Derbli acredita que a solução do impasse pode ser feita no próximo ano. “Afinal todos têm interesse em terminar essa obra. O problema está num só: o dinheiro. Onde é que vamos buscar o dinheiro para terminar a obra? Houve uma movimentação com essa questão da doação do terreno, com todo mundo, com as autoridades, com o pessoal da cultura que expôs as suas vontades, a sua opinião. Isso realmente mexeu. Eu acredito e tenho fé que o ano que vem nós vamos desenrolar essa maçaroca desse teatro e terminar essa obra aqui na cidade de Irati”, disse.
Pré-requisitos – Apesar da articulação política, o presidente do Conselho Municipal de Cultura, Leonardo Schenato Barroso, destacou que o uso de verbas de Itaipu precisa estar alinhado a pré-requisitos como exigidos pela instituição, como no campo ambiental e tecnológico. “Não é qualquer tipo de projeto que pode pegar recurso de Itaipu. Mas mesmo que nós, efetivamente, consigamos – o próprio Maurício Requião na reunião que eu tive e falou: ‘Vocês não vão conseguir todo o recurso em Itaipu. Não se enganem com isso. Vocês vão ter que fazer uma captação de recurso, uma força tarefa política, em vários locais’”, destacou.
O presidente do Conselho acredita que essa força tarefa passa por conversas com representantes políticos de direita e esquerda. “Nós vamos ter que ir na direita. Por exemplo, aqui no estado do Paraná, que o governador é um governador alinhado com a direita, nós vamos ter que falar com essas forças políticas. Também com a esquerda do Paraná, a nível federal, que o presidente é mais alinhado com a esquerda, nós vamos ter que também dialogar com a esquerda, lá fora, a nível federal, para conseguir recurso”, disse.
Articulação política – Para Leonardo, é preciso sair da polarização política para conseguir os recursos. “A única possibilidade é abrir mão dessas barreiras políticas que foram, justamente elas que impediram a obra de continuar lá atrás. Nós vamos ter que quebrá-las, estabelecer pontes e tentar trabalhar em prol dessa continuidade. Não tem outro jeito. É buscar recurso”, conta.
O presidente do CMC ainda destaca que é preciso que as decisões sejam tomadas de forma pragmática. “A decisão por doar ou não doar tem que ser técnica. Ela não pode ser opinativa. Não pode ser por paixão. Não é o meu coração que diz, se eu vou fazer isso ou não. Isso é uma obra pública, com dinheiro público. A resposta para isso é técnica. Não é uma negociação de valores. É uma negociação do que pode ser feito. É uma questão de viabilidade. É nesse sentido que temos que trabalhar, na continuidade da obra, finalizar, acabar com essa nessa história que, infelizmente, entristece e cria atrito na classe cultural, gente brigando umas com as outras”, disse.
Polêmica – A polêmica sobre a obra do Centro Cultural Denise Stoklos voltou à tona depois que a Câmara de Vereadores aprovou, em agosto, a reversão do terreno para o município. Na justificativa do projeto, o Executivo manifestou a intenção de doar parte do imóvel ao Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), para a construção do novo Fórum da Comarca, que já tem projeto para ser instalado naquele local. Em novembro, uma audiência pública foi realizada na Câmara para debater o assunto.
Em reunião com vereadores, integrantes do Conselho Municipal de Cultura decidiram não solicitar pedido de vistas sobre o projeto de reversão do imóvel.