Tendência é de redução na área a ser plantada na safra 2011/2012, o que pode significar uma produção até 10% menor do fumo Virgínia, o principal tipo produzido na região Centro-Sul.
Rodrigo Zub
Alta produtividade, redução na área plantada e nas exportações do tabaco. Estas são as características da safra 2010/2011 apontadas pela pesquisa encomendada pelo Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco) junto à PricewaterhouseCoopers, divulgada na última quarta-feira, 21. Os dados mostram que o mercado do tabaco vive um período de incertezas. O preço pago pelo quilo do produto não é o mesmo de safras anteriores gerando dúvidas aos produtores que discutem com as empresas fumageiras maneiras de garantir a sustentabilidade desta atividade, que para muitas pessoas, é a única fonte de renda e subsistência.
Basta analisarmos os dados friamente para percebermos que o momento é de reflexão. Ano passado o preço médio pago pelo quilo de fumo foi de aproximadamente R$ 7,50. Já em 2011, a média caiu para apenas R$ 4,20. Os dados revelam um princípio de crise e discussão da cadeia produtiva do fumo. De um lado produtores reivindicam que qualidade do fumo continua praticamente a mesma ou até melhor em relação à safra passada. No outro lado, as empresas fumageiras alegam que a produção foi bem maior do que se esperava e a qualidade foi inferior a safras anteriores. Outro fator que influenciou, segundo especialistas, foi à desvalorização do dólar em comparação ao real, que fez com que o número de exportações do produto caísse vertiginosamente.
Resoluções 112 e 117
Resolução 112: publicada em 30 de novembro de 2010, no Diário Oficial da União, a proposta altera a resolução existente sobre os teores de alcatrão, nicotina e monóxido de carbono nos cigarros, e pretende proibir os aditivos nos produtos derivados do tabaco. A proposta afetaria a produção do tabaco Burley, indispensável na fabricação dos cigarros produzidos e consumidos no Brasil.
Resolução 117: publicada em 28 de dezembro de 2010, com texto propositivo de Resolução para alterar drasticamente as embalagens, os materiais de propaganda e proibir a exposição dos produtos derivados do tabaco em pontos de venda. Segundo o Sinditabaco, a proposta incentivaria, principalmente, o comércio ilegal.
Produção Safra 2010/2011
Rio Grande do Sul – 411.118 toneladas
Santa Catarina – 233.683 toneladas
Paraná – 142.513 toneladas
Por tipo de tabaco
Virgínia – 666.320 toneladas
Burley – 102.519 toneladas
Comum – 18.475 toneladas
* Fonte Sinditabaco
Pensando justamente nas tendências para a safra do ano que vem, conversamos com o presidente do Sinditabaco, Iro Schunke, durante sua participação no Ciclo de Conscientização do Fumo, evento realizado no mês passado em Rio Azul. Iro destacou que a principal dica neste momento é para que os produtores ajustem a área e reduzam a quantidade de fumo plantado.
Redução da área plantada
© Rodrigo Zub
Dr. Ana Paula Costa e Iro Schunke presidente do Sinditabaco estiveram presentes no Ciclo de Conscientização mês passado em Rio Azul
De acordo com Iro, a tendência é de redução na área a ser plantada na safra 2011/2012, o que pode significar uma produção entre 6% e 10% menor do fumo Virgínia, o principal tipo produzido na região Centro-Sul.
Segundo Iro, uma dos meios de reverter esta situação é produzindo tabaco de forma sustentável, ou seja, mantendo qualidade, integridade e deixando o produto livre de impurezas. Reduzir a mão de obra infantil nas lavouras de fumo, trabalho que é proibido para menores de 18 anos e preservar a mata nativa, o solo e a água são outros pontos destacados por Iro para garantir a integridade do produtor e a qualidade do fumo.
“Mesmo com as dificuldades cambiais se nós realmente trabalharmos bem as qualidades, integridade e a sustentabilidade do setor, certamente o Brasil vai continuar sendo o segundo maior produtor e o maior exportador de fumo do mundo. Com isso, também os pequenos e médios produtores terão condições de sobreviver através desta atividade”, indica Iro.
Resoluções 112 e 117
Duas resoluções podem entrar em vigor nos próximos dias, trazendo ainda mais prejuízos e dificultando a vida dos agricultores. São as resoluções 112, que proíbe a adição de misturas que conferem sabor aos cigarros e a 117, que trata sobre a exposição de cigarros em estabelecimentos comerciais, ou seja, para que eles sejam proibidos de serem expostos. As duas consultas públicas propostas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) serão discutidas no próximo dia 6 de outubro, em uma audiência pública que será realizada no Rio de Janeiro.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas demonstra que se as duas resoluções entrarem em vigor irão desencadear grandes danos a cadeia produtiva do fumo. Entre eles, a perda de arrecadação -federal e estadual-, de aproximadamente R$ 5 bilhões, redução da mão-de-obra nas lavouras, diminuições na exportações e aumento do contrabando.
Hoje em todo o País, existem mais de 185 mil pequenos produtores e mais de 800 mil pessoas envolvidas na produção de tabaco no País. Além disso, o Brasil é o líder de exportação do tabaco no mundo. Só em 2010, o Brasil exportou 503 mil toneladas arrecadando cerca de US$ 9 bilhões de dólares.
Iro espera que todos esses números sirvam para que os diretores da Anvisa se sensibilizem de que as resoluções 112 e 117 da Anvisa pode causar inúmeros prejuízos como o aumento do êxodo rural e a perdas para o setor econômico do País. “O próprio presidente da Anvisa quando nos recebeu no final de março, ele disse que consideraria esta situação sócio econômica do tabaco não só pelo lado econômico, mas sim, na dificuldade de substituir o tabaco por outra cultura principalmente porque a maioria a cadeia concentra muitos pequenos e médios produtores”, reflete.
* Com Colaboração de Elizabete Budel