Parque Aquático recebe encontro da comunidade surda no domingo

Evento acontece a partir das 14 horas e é aberto para a comunidade surda da…

05 de outubro de 2022 às 22h59m

Evento acontece a partir das 14 horas e é aberto para a comunidade surda da região e a todas as pessoas ouvintes/Texto de Karin Franco, com reportagem de Juarez Oliveira

Vice-presidente da Aspada, Gislaine Fernandes Stopassoli enfatiza que o evento é uma forma de proporcionar uma interação entre os surdos e a comunidade. Foto: Juarez Oliveira
A Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos de Irati (Aspada) realiza um encontro para a comunidade surda no domingo (09), às 14 h, no Parque Aquático, em Irati. O evento é gratuito e aberto à toda a população surda da região e também às pessoas que queiram conhecer e interagir com a comunidade.
Em entrevista à Najuá, a vice-presidente da Aspada, Gislaine Fernandes Stopassoli, contou que o evento tem o objetivo de aproximar as pessoas. “Queremos fazer num espaço mais público, mais aberto, para quem tiver ali, poder participar, tem curiosidade, porque a intenção é mesmo que o pessoal veja a comunidade surda. E para ficar mais informal, mais gostoso, uma atividade ao ar livre, com bastante brincadeira”, disse Gislaine, que é tradutora e intérprete de Libras da Unicentro e da secretaria de Estado da Educação (SEED). 

A programação do evento contará com diversas atrações, como piadas, teatros, gincanas, sorteio de brindes e lanches.

A vice-presidente explica que a abertura do evento para a população em geral é um meio de conscientizar sobre a inclusão da comunidade surda no cotidiano das pessoas. “Queremos que o surdo tenha essa visão de que ele não é diferente. Ele está no meio no nosso meio, ele só usa uma língua diferente. Essa é a intenção, que as pessoas ouvintes tirem esses estereótipos de surdo. ‘Eu não sei conversar’. ‘Eu tenho medo porque eu não vou conseguir me comunicar’. E não. Estando participando lá, vocês vão ver que vai ter essa interação. Você não precisa saber libras, mas você vai conseguir se comunicar. Essa é a intenção. Que o povo veja que eles estão no nosso meio, que nós conseguimos se comunicar, que não é impossível”, conta.

A programação faz parte das comemorações realizadas pela comunidade surda durante o mês de setembro. O chamado Setembro Azul marca as celebrações de datas importantes como o Dia Internacional da Língua de Sinais comemorado no dia 23 de setembro, Dia Nacional do Surdo celebrado no dia 26 e o Dia Internacional do Surdo e Dia do Profissional Tradutor Intérprete de Libras, comemorado no dia 30. Neste ano, devido às eleições, optou-se por transferir a programação para o início de outubro.

O encontro também é uma oportunidade para os ouvintes que dominam a Língua Brasileira de Sinais (Libras) exercitar seus conhecimentos. A Libras é uma língua que foi oficializada apenas em 2002, após diversos anos de luta da comunidade surda. “É uma Língua Brasileira de Sinais. É brasileira. Quando falamos: ‘Eu sou intérprete de Libras’. ‘Mas Libras é Universal?’. Não, Libras é a língua de sinais do Brasil e é uma língua como qualquer outra língua. Ela tem estrutura gramatical organizada. Quem vai estudar, é outra língua”, conta Gislaine.

A luta pelo uso da língua na comunicação é longa. Em 1880, um congresso em Milão, na Itália, estabeleceu que o método oralista era o meio mais adequado para ser usado na educação de surdos. Assim, surdos de diversas partes do mundo foram obrigados a se comunicarem pela fala. “Dentro das escolas, eles chegavam a ser amarrados as mãos, eles apanhavam porque eles tinham que falar. Às vezes, o surdo não escuta a palavra, se ele tiver surdez profunda severa, ele pode falar perfeitamente porque quando usamos o termo surdo-mudo é errado, porque é só surdo. Ele não tem problema no fonológico dele. O aparelho fonológico está intacto. Ele só não fez esse treino que nós fazemos quando nós ouvimos a palavra. Nós ouvimos e já reproduzimos. Ele não tem essa memória auditiva. Ele não vai reproduzir som. Se fizer um treino, ele vai falar. Usamos o termo errado, surdo-mudo. É surdo. Eles eram obrigados a falar, às vezes, eles falavam a palavra, mas nem sabia o significado. Não tinha conceito. Isso durou por mais de 100 anos”, conta a vice-presidente da Aspada.

Fora das instituições, as comunidades surdas começaram a desenvolver línguas de sinais para se comunicarem. Mas somente em 2002, a Libras foi reconhecida oficialmente como uma língua.

Agora, o desafio é conseguir dar acessibilidade a esse público para que eles sejam integrados à sociedade. “O que mais percebemos é a falta de acessibilidade. Apesar de nós termos lei, apesar da profissão de tradutor intérprete já ser oficializada, mas falta muito intérprete. Já tem curso de Bacharel, já tem licenciatura, porém ainda nos espaços públicos falta essa acessibilidade. Se o surdo precisa ir ao médico, ele leva alguém da família ou ele escreve. Quando você pega a escrita de uma pessoa surda, você vê que ela não é a nossa escrita porque a Libras é uma língua totalmente diferente do Português. Na hora de escrever, ele não vai conseguir escrever a estrutura gramatical igual à do Português. Ele vai inverter. No Português sujeito, verbo e objeto. Na Libras é verbo, sujeito, objeto e objeto, verbo, sujeito. Então, ele pode fazer uma variação muito grande. São duas línguas distintas, às vezes, a escrita também não ajuda. O que está faltando são profissionais na área para fazer esse atendimento em espaços públicos”, explica.

Os encontros promovidos pela associação é uma das oportunidades que as pessoas têm para aprender mais sobre a linguagem. Criada em 1993, a Aspada promove encontros para pessoas surdas de toda a região. Cerca de 30 integrantes participam da associação, incluindo pessoas de Irati, Rio Azul, Rebouças e Prudentópolis.

O encontro é uma realização da Aspada, com apoio da Prefeitura de Irati, loja Afubra, além da participação da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro), Centro de Línguas Estrangeiras Modernas (CELEM) de Libras e surdos de Irati e região.

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