“Fraternidade e Amizade Social” são temas da 60ª Campanha da Fraternidade que começa nesta quarta-feira de cinzas, 14, e completa 60 anos em 2024/Paulo Sava
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança nesta quarta-feira de cinzas, 14, a 60ª edição da Campanha da Fraternidade.
Lançada em 1964, neste ano a Campanha completa 60 anos e traz como tema “Fraternidade e Amizade Social”, expressões pertinentes para a sociedade atual, na visão do chanceler da Diocese de Ponta Grossa, Padre Athanagildo Vaz Neto.
O lema desta edição da campanha está baseado no Evangelho de São Mateus, capítulo 23, versículo 8: “Vós sois todos irmãos e irmãs”. Em entrevista à Najuá, Athanagildo ressaltou que o tema lembra as palavras de Jesus e recorda a fraternidade existente entre seus discípulos.
“Este tema, nos dias atuais, é extremamente pertinente para a nossa comunidade, inclusive para a caminhada de igreja e inspirando a vivência em sociedade, não somente intraeclesial, mas também em um sentido social”, frisou.
Em um vídeo publicado no YouTube, o Papa Francisco cita os seres humanos como “arquitetos da amizade”. O padre comenta que a CF se inspira no pontificado do Papa, que pede aos cristãos que sejam irmãos na fé. “A CF se inspira justamente no pontificado do Papa Francisco, de um modo muito especial na encíclica “Fratelli Tutti”, ou seja, todos irmãos. O Papa Francisco coloca justamente, apresentando esta fraternidade universal que existe entre todos os seres humanos, e mais ainda entre os cristãos, pois deveriam espelhar esta fraternidade já que são irmãos em Cristo pela graça do Santo Batismo”, comentou.
Polarização – O tema apresentado é conveniente para este momento por conta da polarização ideológica, política, social, filosófica e religiosa vista nos últimos anos, na visão de Athanagildo.
“Justamente isto (polarização) cria estes conflitos, este clima belicoso de ver o outro não como alguém que pensa diferente, mas como um verdadeiro inimigo, e que eu tenho que solapar todos os argumentos que ele tem, inclusive eu posso usar até da violência contra isto. Não são poucas as vezes que vemos, de fato, a inimizade surgir por simples diferenças de pontos de vista. Um tema da CF como este vem justamente para fazer-nos pensar, refletir de maneira mais profunda e bastante concreta sobre estes vínculos que hoje precisam ser reatados e construídos, assim como o Papa Francisco nos falou”, destacou.
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Divisões na Igreja – As divisões da sociedade se refletiram também na Igreja Católica, na opinião do padre. “De fato, quando percebemos que a Igreja é divina, cuja cabeça é Jesus Cristo, mas o corpo são os batizados. Quando nós percebemos a fragilidade humana, vemos muitas vezes o orgulho, que se faz muito presente. Ele não permite que eu reconheça que estou errado ou que o outro está certo. Também muitas vezes não há necessidade de se haver justamente isto. Às vezes, tem críticas aos sucessores dos apóstolos, os bispos e até mesmo ao Papa Francisco, que vemos marcadas por um grande orgulho e dureza de coração. De fato, a Igreja precisa ser sinal desta citação de Jesus Cristo, vós sois todos irmãos, inclusive daquele que pensa diferente de mim, mas tem a mesma fé”, afirmou.
Enxergar o Cristo no próximo é uma das características principais do cristão, ou seja, sentir compaixão e se solidarizar com o sofrimento do próximo é um dos principais requisitos para a construção da amizade social.
“Quando somos capazes de perceber o outro como aquele em que Cristo também pode se manifestar, e mais ainda, como templo do Espírito Santo e membro deste único corpo, que é do Senhor, a Igreja, sinal de Cristo no mundo. Se os membros estão divididos, fica meio estranho este sacramento, este sinal. De fato, nós, como batizados, somos sinais de Cristo no mundo. A Igreja, através do Concílio Vaticano II e do documento chamado “Lumen Gencium”, é colocada como sacramento de Jesus Cristo, sinal e presença dele no mundo. Quanto mais nós buscamos vivenciar esta verdadeira fraternidade entre os membros desta igreja, mais nos tornamos sinais visíveis de Cristo para um mundo que está marcado com tanta dificuldade”, comentou.
Pós-pandemia – O padre citou ainda o caso da pandemia de Covid-19, que trouxe muitas dificuldades para a humanidade. Mesmo assim, depois deste período, na visão dele, a humanidade não amadureceu e continua deixando que o orgulho se sobressaia sobre a fraternidade. Entretanto, para os cristãos, a caridade e a fraternidade devem vir à frente do orgulho, segundo Athanagildo.
“A vivência da caridade é aquilo que nós levamos para a eternidade. São Paulo diz que a caridade é aquela que permanece das três virtudes. A fé e a esperança, quando estivermos junto de Deus, diante dele, não vão ser mais necessárias, pois estaremos diante daquilo que esperávamos e que, pela fé, acreditávamos. Vamos levar apenas a caridade e ela vai ser o passaporte para passarmos por esta alfândega e chegarmos à vida eterna e à bem-aventurança. A CF vem com este sentido de colocar em prática o mandamento do amai-vos uns aos outros”, destacou.
Coleta da Fraternidade – Uma das formas de colocar a caridade cristã em prática é a realização da Coleta da Fraternidade, feita no último domingo da Quaresma em todas as igrejas do Brasil. Do valor arrecadado, 40% vai para a CNBB, que distribui os donativos para a realização de projetos sociais, geralmente iniciativas de pastorais, movimentos e organizações. Outros 60% ficam para a Diocese de Ponta Grossa, que repassa os recursos para a Caritas Diocesana, que vem atendendo famílias atingidas por enchentes ou secas, acolhida e encaminhamento de imigrantes e assistência a famílias que passam necessidade.
“Algumas pastorais de determinadas paróquias, como a Pastoral Social e a Pastoral da Criança, podem encaminhar projetos para a Caritas, que analisa com muita seriedade e concede um financiamento para a realização daquele projeto. É algo que fica na nossa Diocese e é fruto justamente bem concreto daquilo que refletimos durante a Campanha da Fraternidade”, ressaltou.
Quarta-feira de Cinzas e Quaresma – A Campanha da Fraternidade começa junto com a Quaresma, nesta Quarta-feira de Cinzas, classificada pelo padre como um dia de jejum e abstinência.
“Nós somos chamados justamente a este momento de reflexão e de preparação para a celebração do tríduo pascal, o centro do ano litúrgico, é a celebração mais importante. Ela é tão importante que é dividida em três partes: começa na quinta-feira santa com o lava-pés, continua na Sexta-Feira Santa com a Celebração da Paixão do Senhor às 15 horas, e termina no sábado, com a celebração da Vigília Pascal. A Quaresma, eu gosto de colocar assim, de chamar de um grande retiro que fazemos de preparação para a celebração da Páscoa. É um tempo em que aprofundamos a busca por conversão, praticamos o jejum, a oração com mais intensidade e as obras de caridade. São estas três obras, jejum, oração e caridade, que são intensificadas nesta época da Quaresma”, destacou.
60 anos da Campanha da Fraternidade – Há 60 anos, a CNBB faz as reflexões da Campanha da Fraternidade no período da quaresma. Em 1964, o tema escolhido para a primeira edição foi “Lembre-se que você também é igreja”. O padre contou um pouco do contexto histórico e social em que a Campanha surgiu, no qual o Brasil estava vivendo o início da Ditadura Militar.
“Este tema é colocado em um período difícil para o Brasil em alguns âmbitos. Justamente, a Igreja vem com esta voz profética, lembrando que cada um é Igreja e mantendo este ânimo, mesmo diante de situações que às vezes eram opressoras e difíceis. Para nós, nestes 60 anos de caminhada enquanto Igreja, por mais que hoje existam determinadas críticas por parte de algumas pessoas com relação à CF, temos que ter a sabedoria daquele ditado popular, cuidando na hora que joga a água suja da banheira, não jogar a criança que tomou banho junto. Então, às vezes, por conta de uma ou duas palavras que existem num manual, num texto-base da CF ou num livrinho de novena, você descarta todo o resto. Na verdade, podemos de fato reconhecer que algumas coisas poderiam ser melhores redigidas, outras explicadas e outras ainda deixadas de lado. Boa parte do texto é extremamente necessária e faz com que reflitamos e nos aprofundemos e que esta reflexão se torne prática de vida”, comentou.
Celebrações em Irati – As paróquias de Irati terão celebrações de missas ao longo desta quarta-feira de cinzas. Na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, do bairro Rio Bonito, as missas serão às 08h, 10h, 16h30min e 19 horas. Já na Igreja Matriz Nossa Senhora da Luz, as celebrações acontecerão às 10h, 15h e 19 horas. Na Paróquia São Miguel, as missas serão celebradas às 09h, 15h e 19 horas. Já na Igreja São João Batista, da Vila São João, as celebrações serão às 16h e 19 horas.
Já a Paróquia Ucraniana Imaculado Coração de Maria terá via sacra às 09h e às 19 horas. No período da tarde, será feita a oração do Santo Rosário às 17 horas.