Presença de fósseis na região não é inédita, mas reforça a importância do solo iratiense, ligado a formações geológicas muito antigas/Paulo Sava

Você sabe o que os fósseis de Irati revelam sobre a história da Terra? Acompanhe esta reportagem que traz todos os detalhes sobre as descobertas que estão no Laboratório de Geografia do campus Irati da Unicentro.
Em uma das descobertas mais recentes, operários que trabalham nas obras de interligação entre a BR 153 e a PR 364, em Irati, se depararam com fósseis incrustados nas rochas escavadas no local. A descoberta chamou a atenção de especialistas e da comunidade acadêmica. Entre os estudiosos que analisam os vestígios está o geógrafo Luiz Carlos Basso, vice-diretor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). A presença de fósseis na região não é inédita, mas reforça a importância científica do subsolo iratiense, ligado a formações geológicas muito antigas.
Em entrevista à Najuá, Basso conta que, logo depois que os fósseis foram encontrados, a empresa responsável pela obra entrou em contato com a universidade alertando que o material estava surgindo em grande quantidade e colocou a instituição como fiel depositária dele.
“Este material já é muito conhecido a nível de município, de estado e até a nível mundial. É uma riqueza paleontológica que nós temos e não podemos desperdiçar. O DER e a empresa nos nomearam como a instituição depositária deste material”, frisou.
Material encontrado
Entre os fósseis encontrados, está o de uma espécie conhecida como Mesossaurus Brasiliensis, um réptil considerado como um dos antepassados dos dinossauros, que viveu há cerca de 280 milhões de anos na região, antes ainda da separação dos continentes. “Aqui nós temos um dos mais conhecidos, que é o Mesossaurus Brasiliensis. É um fragmento dele, e provavelmente à primeira vista, vemos uma parte da coluna, das vértebras, das costelas, alguns fragmentos e também de outros fósseis bem fininhos, que são os dentes do Mesossaurus Brasiliensis. Não é o único fóssil que encontramos aqui: como répteis, já foram encontrados dois aqui na região”, afirmou.
Além do Mesossaurus, também foram encontrados fósseis do que pode ser considerada uma espécie de camarão bastante antiga, que ficou preservada no xisto que forma o solo da região, uma vez que Irati já foi fundo de mar.
“Até há um questionamento a nível científico de que ele era o alimento principal do Mesossaurus Brasiliensis porque bibliografias mais antigas achavam que ele se alimentava de peixes, que começaram a surgir naquela época na face da Terra, mas eram muito raros. Encontra-se escamas de peixes e até alguns vestígios de insetos, mas são raríssimos. Hoje já está se constatando que, provavelmente, o Pigaspys (espécie de camarão muito antiga) fazia parte do cardápio principal do Mesossaurus, que tinha dentes muito finos. Os peixes tinham como se fosse uma placa óssea, do tipo cascudo, talvez muito difícil dele triturar ou se alimentar. Acha-se que o Pigaspys funciona como se fossem os Crios, camarões pequenos que são a base da alimentação das baleias”, pontuou.
Basso comenta que as universidades do sul do Brasil estão bastante adiantadas em relação aos estudos referentes ao Mesossaurus. O geógrafo conta que a diferença de tamanho entre ele e os dinossauros era muito grande. “Os Mesossaurus chegavam a 1 metro, desde o seu focinho até o final da cauda. Mais do que isto não se tem notícia, e eles eram extremamente aquáticos, tanto é que alguns fósseis raros encontramos as patas adaptadas para natação, parecendo nadadeiras”, afirmou Basso.

Outras rochas encontradas em Irati
Uma outra rocha encontrada na região de Itapará contém uma grande quantidade de informações que poderão ser desvendadas futuramente, segundo Basso. “Em primeira mão, eu posso dizer que, quando esta rocha foi formada, houve uma catástrofe ambiental. Temos uma mistura, um revolto de rochas. Fósseis ainda não constatamos aqui, mas temos bastante coisas interessantes porque elas não têm uma sequência de folhas. Provavelmente quando houve a formação do folhelho, aqui houve uma revolta, ou seja, talvez, na época da separação dos continentes, podemos dizer que, quando isto aconteceu, neste caso podemos dizer que houve uma catástrofe, uma manifestação atípica do que temos aqui”, comentou.
Em alguns lugares de Irati, foram encontrados fósseis quase perfeitos. Em outros, os materiais estavam totalmente separados. Para o geógrafo, quanto mais perfeito o fóssil, é possível atestar que o animal morreu naquele local e ficou. Ao contrário disso, outros que estão misturados provavelmente foram arrastados na separação dos continentes.
Irati já foi fundo de mar
O laboratório de Geografia da Unicentro tem também materiais que comprovam que o território iratiense já fez parte de um fundo de mar, chamado de “Irati”. Basso conta de que forma um engenheiro que estava construindo a estrada de ferro que passava por Engenheiro Gutierrez encontrou fósseis que comprovam o fato.
“Ali onde era a estação ferroviária, este engenheiro que estava acompanhando as construções encontrou estes fósseis. Ele tinha um amigo que estava desenvolvendo um trabalho na África do Sul, pegou o material e mandou para ele, que estava tentando encontrar vestígios para comprovar que a América estava unida à África. O nome deste engenheiro que esteve em Engenheiro Gutierrez é Israel Wright, muito famoso na geologia. O outro pesquisador constatou que estava sendo feito um estudo de dois fósseis. Daí ele encontrou a chave que hoje, mais que 100%, na realidade prova que os dois continentes estavam unidos”, pontuou.
Exposição na Casa da Cultura
Em breve, o material poderá ser exposto na Casa da Cultura de Irati para toda a população, de acordo com Basso. “Logo que nós organizemos este material, vamos projetar uma exposição na Casa da Cultura. Já está certo que vamos fazer uma exposição e eu acho importante porque a comunidade tem que saber deste material. O mundo inteiro sabe e conhece, mas nós, muitas vezes, moramos aqui e não damos o devido valor”, lamentou.
Além dos fósseis, o laboratório conta com outros materiais, como rochas, minerais, pedras preciosas e amostras de água de diversos locais. Escolas podem agendar visita ao local através do telefone (42) 3421-3000. Além disso, estudantes de Geografia atuam junto às escolas Trajano Gracia, de Engenheiro Gutierrez, e Luiza Rosa Zarpellon, do bairro Lagoa, através do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da Unicentro, proporcionando aos alunos do Ensino Médio o contato direto com os materiais do laboratório.
“Geografia não é só mapa: aqui no curso, temos o prazer de trabalhar com muitas coisas. Eu digo sempre que geografia é uma ciência muito ampla, com muito conhecimento, que trabalha desde a economia até a geologia. Venha trabalhar e estudar com a gente, pois o ensino é muito importante”, finalizou Basso.





