O que é feito com o lixo reciclável em Irati?

Fotos tiradas no interior e pátio da Cooperativa dos Catadores e Agentes Ambientais de Irati…

27 de abril de 2011 às 10h38m

Fotos tiradas no interior e pátio da Cooperativa dos Catadores e Agentes Ambientais de Irati – Cocaair e nas ruas do Conjunto Araucária, na Vila São João, em Irati.

Fotos: Marcos Griczinski e Jussara Harmuch Bendhack
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Jussara Harmuch Bendhack

Despertar a percepção da comunidade para os problemas causados pelo acúmulo de lixo é o compromisso da parceria estabelecida entre Najuá e G Center que começou com a campanha para reduzir o número de sacolas plásticas evitando danos ao meio ambiente. Juntos, Marcos Griczinski, um dos proprietários da rede G Center e a diretora da Rádio Najuá, Jussara Harmuch Bendhack, foram conhecer um pouco do trabalho de reciclagem do lixo feito em Irati.

A iniciativa teve apoio do secretário municipal do Meio Ambiente, Luiz Carlos de Ramos, que designou o assessor Thiago Marochi para acompanhar a reportagem na visita à Cocaair – Cooperativa dos Catadores e Agentes Ambientais de Irati.

Marilene Antunes dos Santos, diretora finaceira da Cooperativa – Cocaair
Quem pensa que ser lixeiro é coisa só de homem se engana, Marilene Antunes dos Santos trabalhou por 1 ano e meio no setor de coleta do lixo reciclado e participa da cooperativa desde o início, há 6 anos. Hoje, ela é diretora financeira da Cocaair, mas nem por isso seu trabalho ficou menos pesado. Ela trabalha diariamente em regime de igualdade com outros 22 cooperados na sede da cooperativa, que fica em um barracão cedido pela prefeitura na Vila São João. Telefone, luz, água, caminhões, combustível, motoristas e guardião, são pagos pela prefeitura.
Também faz parte da atual diretoria, o presidente, José Oscar Ribeiro; Eva da Silva Ecavei, responsável pela área comercial; Lucia Genieski, diretora administrativa e mais 2 fiscais.

Fachada do barracão da Cooperativa dos Catadores e Agentes Ambientais de Irati – Cocaair, localizada na Vila São João
As negociações de venda do material que sai do lixo são feitas pela diretoria. Marilene explica que eles não possuem um capital de giro, todos os 23 cooperados dependem deste dinheiro para sobreviver, por isso tudo que lucram é dividido em partes igualitárias e nada é retido. Também devido à pobreza, há urgência para receber os ganhos que são repassados aos trabalhadores semanalmente, na sexta-feira, dia que é feita a venda do material. A renda mensal dos cooperados gira em torno de um salário mínimo.
Atualmente as negociações são feitas com um único atravessador que aceita receber “carga mista” – quantidades menores de produtos variados -, diferente do que ocorre com a indústria que somente recebe “carga fixa” – grande quantidade do mesmo produto. Financeiramente, esta é a opção mais viável para os dias de hoje, pois a Cooperativa não tem maneiras de sustentar as pessoas até que se possa formar uma carga completa que receba um preço melhor do que o oferecido pelo atravessador. Outros fatores que interferem é a falta de local apropriado, coberto, para acomodar os fardos de material já separado e a não existência de transporte próprio que possa levar cargas para outras cidades ou estados onde existe comercialização de diferentes materiais e consequente maior valorização do produto.

Marcos Griczinski, do G Center; Jussara H. Bendhack da Rádio Najuá e Alceu Mazur, carrinheiro independente
Fora o trabalho dos cooperados, 35 carrinheiros independentes também coletam o lixo reciclável e vendem para o mesmo atravessador. “Já tivemos problemas de perder carga com negociações para fora”, comenta Marilene, que vê no atravessador uma pessoa que lhes dá segurança e ajuda.
Para Thiago Marochi o atravessador ampara a compra do catador, pois à medida que reúne um volume maior, consegue encaminhá-lo à indústria, porém, na opinião dele, o sistema deveria funcionar sob a forma de rede de cooperativas que se comunicassem em todo o estado e pudessem negociar compradores e valores. “Hoje eles (cooperados) acabam sendo explorados muitas vezes. Mas isso (sistema de rede) é algo distante ainda da realidade”.

Boa parte do lixo reciclável coletado em Irati vai parar no aterro sanitário porque não tem comércio, é o chamado “rejeito”- lixo não orgânico que não é reciclado. Pacote de salgadinho, pacotes laminados de café. O poliestireno – PS, plástico barulhento de que é feito os copos descartáveis, que hoje está com o valor muito baixo, é estocado à espera de um aumento e de uma carga maior. Assim poderia ser feito com outros tipos de materiais, mas devido à falta de espaço adequado e também ao fato destes virem sujos, não podem ser estocados, pois acarretaria outros problemas com o mau cheiro e animais. Não fosse isso, o aterro iria ter um tempo de uso maior.

Embalagens de pizza são prensadas junto com outros produtos de papelão. Em geral vêm sujas de gordura, para serem recicladas, é preciso separar a gordura do papel, mas este processo só é feito quando retorna à indústria. “Ajuda muito quando a embalagem de pizza vem raspadinha, sem resíduos orgânicos”, comenta Marilene. Garrafas e outros materiais de vidro, mesmo em cacos, são reaproveitados. Cds podem ser comercializados, mas não são. Em Irati, há cerca de 3 anos, havia comércio para este produto. Atualmente, os cds são misturados ao “rejeito” que segue para o aterro sanitário.

50% do que é recolhido como reciclável segue para o aterro sanitário. Além dos produtos sem comércio, vem muito material orgânico misturado. A separação nos domicílios não está sendo feita adequadamente. Papel higiênico, seringas, restos de comida, sapatos etc. “O trabalho iria render mais se não ficássemos tanto tempo separando e acomodando o orgânico para encaminhar ao aterro. Economizaria tempo que seria usado para comercializar mais”, disse Marilene.

Os trabalhadores não fazem uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPIs, pois como não há reserva em caixa, não tem como a Cooperativa adquirir.

Os materiais separados são prensados, acomodados em fardos e pesados. Portanto, garrafas PET, caixas de papel, garrafas plásticas e outras embalagens podem ser amassadas em casa antes de depositadas para coleta (abrir a tampa e retirar o ar, dobrar e colocar a tampa de volta). O material limpo proporciona melhor condição de trabalho para os catadores e agentes ambientais, e maior ganho na venda do produto. Embalagens longa vida/Tetra Pak (leite e sucos de caixinha) têm o valor duplicado se estiverem limpas, mas isso só acontece em 5% do que é coletado. Marilene conta que quando acontece de encontrarem uma sacolinha com materiais limpos, os trabalhadores dizem que deveria ter o nome da pessoa que separou para que fosse divulgado no rádio.

Com a maior simplicidade, Marilene diz que gosta do trabalho que faz. Assim com a maioria das pessoas que trabalham na Cooperativa e termina a entrevista com um pedido de desculpas: |“Peço desculpas à população se não passamos na hora certa”.

A equipe de reportagem acompanhou o motorista de um dos caminhões que fazem a coleta, o Tuta – Antônio de Souza, que falou da dificuldade em coletar o reciclável no mesmo dia em que é feita a coleta do lixo orgânico, pois muitas vezes precisa ser feita uma pré-seleção no momento em que é recolhido. Diferente dos carrinheiros, a Cooperativa não deixa de recolher produtos que não comercializa e, uma vez trazidos para a sede, são encaminhados ou armazenados conforme a orientação da secretaria do Meio Ambiente, no caso de pneus, produtos eletro eletrônicos e isopor.

© Rádio Najuá

Janete de Paula, proprietária de uma panificadora no Conjunto Araucária, fala da importância de separar o lixo corretamente
Encontramos pelo caminho o Alceu Mazur, um carrinheiro independente, que prefere trabalhar sozinho porque acredita que obtém maior lucro. Ele leva o lixo das ruas para a casa onde com a ajuda de mais uma pessoa, separa o que consegue vender e o restante é encaminhado ao aterro sanitário.

No Conjunto Araucária, entrevistamos a Janete de Paula, proprietária da Panificadora Padeirinho, que reside ao lado do estabelecimento comercial. Na casa de Janete o caminhão recolheu grande quantidade de materiais recicláveis e tudo estava bem acondicionado e aparentemente limpo. Ela explicou que a cultura da separação correta já está enraizada na sua família, vem de gerações, e que educou os filhos com esta consciência desde pequenos.

Alternativas estudadas pela secretaria do Meio Ambiente
Projeto de unidades de compostagem
Este projeto se baseia no princípio da tríplice separação: Lixo úmido (orgânico), lixo seco (reciclável) e o rejeito.Captação de recurso é o primeiro passo. “Tendo o início da construção e da destinação final, você consegue facilitar a solução de problemas hoje comuns da cooperativa. A coleta que acontece separada, com o processo incorporado, seria realizada junto, no mesmo caminhão, dividido em recipientes separados, onde o material seria prensado. Só isso já diminui em muito o custo, que poderá ser revertido em melhorias na estrutura, além de possibilitar um aumento do tempo de uso do aterro sanitário.”

“Ainda há possibilidade de que o composto orgânico, já foi transformado em adubo, seja aproveitado e com isso, dobre a renda dos cooperados”, explicou Marochi.
A partir desta proposta, surge a necessidade da criação de um projeto de lei que estabeleça penalidades contra a não adesão do domicílio que se recusa a atender às exigências do processo de separação assim definidos na mesma lei, como já existe em outros países, como a Alemanha, por exemplo.

Saiba mais:
Do que é feito o plástico
O petróleo é extraído do subsolo e levado para as refinarias, onde os diferentes derivados são separados. Um destes derivados é a nafta que é fornecida para as indústrias petroquímicas, dando origem aos gases eteno e propeno e a outros monômeros, que por sua vez são transformados, através de processamento químico especial, nas resinas plásticas ou polímeros.

Campanha para reduzir sacolas plásticas
Em março, a Rádio Najuá e o G Center lançaram uma campanha para a redução do uso de sacolas plásticas. O cliente que levar sua sacola de casa ou utilizar outros meios como caixas de papelão, carrinhos de feira para transportar suas compras, receberá um desconto de R$ 0,05, a cada 5 produtos comprados no G Center Supermercados, diretamente no caixa, na hora de pagar a conta. Sacolas de algodão com a marca da campanha foram colocadas à disposição dos clientes ao custo de R$ 3,99.

Há três coisas que podemos fazer para limitar o impacto do lixo sobre o meio ambiente:

Reduzir – A melhor solução é reduzir o lixo que produzimos em primeiro lugar.
Reutilizar – As pessoas são frequentemente muito imaginativas ao reutilizarem  – reaproveitar – os objetos, ao invés de jogá-los fora.
Reciclar – Alguns objetos que não podem ser reaproveitados podem ser reciclados. Por exemplo, o vidro é lavado em fábricas especiais, quebrado em pedacinhos e, então, derretido para fazer vidro “novo”, pronto para a fabricação de alguma outra coisa.

Serviço:
A Cocaair funciona das 8h às 17h30 de segunda a sexta-feira.
Fone: 3907-3042

O que você precisa saber

Papéis sujos (como as embalagens usadas pelos restaurantes), papel celofane e de bala, guardanapos sujos, sacos de biscoito e salgadinhos, papéis metalizados de um modo geral não precisam ser separados, pois eles não poderão ser reaproveitados. No caso de produtos compostos de dois tipos de substância (papel metalizado), é necessária a separação dos materiais antes da reciclagem e a tecnologia para este processo ainda não está amplamente difundida.

Guardanapos sujos, papéis e papelão sujos de gorduras não podem ser reciclados. Caixas de pizzas sujas de gordura e queijos não podem ser recicladas, no entanto, a parte que está limpa pode. O conveniente é não misturar os papéis sujos de alimentos com os outros que podem ser reciclados.

Em sua casa, saiba que não é preciso higienizar com detergente as embalagens que serão destinadas ao lixo, basta tirar a maior parte da sujeira com a água que se está lavando a louça. Também não se deve gastar muita água para esta limpeza. As embalagens muito sujas de comida, como as quentinhas, é melhor jogar no lixo comum do que utilizar muita água para limpá-las, por exemplo.

Pilhas e lâmpadas não devem ser descartadas porque contém substâncias nocivas ao meio ambiente. São poucas as empresas que fazem a reciclagem e o processo é muito caro. Em Irati, a secretaria do Meio Ambiente recolhe as lâmpadas inservíveis.

Confira a lista dos produtos que hoje são comercializados em Irati e o preço de cada um, por quilo,  na data da reportagem (14/04):

Filme de Policloreto de Vinilo  – PVC (cristal macio, filme plástico) – tem bom preço R$ 0,83
Jornal sujo e amassado é prensado em fardos, o limpo, vende para ser usado em oficinas na pintura de veículos – R$ 0,08
Lata – R$ 0,15
Latinha de alumínio (refrigerante, sucos e cerveja) – já chegou a 3,50 e hoje vale R$ 1,90
Longa vida/Tetra Pak sujo  – R$ 0,10
Papel misto – R$ 0,12
Papel revista e anúncios de loja R$ 0,08
Papel branco – R$ 0,30
Papelão – R$ 0,26
Polietileno de Alta Densidade – PEAD colorido (embalagens de produtos de limpeza) – R$ 0,63
PEAD leitoso (frasco leitoso, garrafas brancas) – R$ 0,98
Polietileno Tereftalato – PET óleo – R$ 0,30
PET branca (refrigerante) – R$ 0,58
PET verde – R$ 0,53
Polipropileno – PP (Embalagens de margarina, alguns copos de iogurte, o valor é menor) – R$ 0,53
Sacola plástica – R$ 0,38, todos os tipos, até mesmo a oxidegradável* (*diferente da biodegradável)

Todo o isopor recolhido fica esticado, no aguardo de uma possível comercialização no futuro
Isopor
Todo o isopor recolhido fica armazenado ao ar livre, no terreno da Cooperativa. Pode ser reciclado, explica Thiago Marochi, mas uma das maiores dificuldades está no custo do transporte da carga. “Depende de carga fechada, precisa reunir uma grande quantidade e levar até o estado de São Paulo, onde existem empresas especializadas em trabalhar com este tipo de material”.

Eletro eletrônico

As pessoas aproveitam a coleta seletiva para desfazer de todo tipo de material, inclusive eletro eletrônico. A secretaria de Meio Ambiente possui um depósito anexo ao CT Willy Lars, onde acomoda estes materiais que antes de serem encaminhados à reciclagem, precisam ser desmontados e terem seus componentes separados. Serviço que requer capacitação técnica, por isso, um convênio com o Instituto Federal do Paraná – IFPR está sendo providenciado, visando a contratação de estagiários do curso de informática.

os pneus são encaminhados para outro local até que sejam comercializados por outra associação
Pneus
“Os pneus recolhidos são encaminhados para a Associação Nacional das Indústrias de Pneumáticos, que é responsável pelo armazenamento e coleta”, informa o assessor Marochi que explicou à reportagem, como se pretende implantar brevemente em Irati, o processo de logística reversa para destinação final deste tipo de lixo. “A destinação final depende da realização de uma audiência pública entre Ministério Público, empresas do ramo – tanto no setor de transportes como borracharias e concessionárias de veículos e máquinas agrícolas – responsabilizando todos, em etapas”.

Hoje a associação paga pela coleta. A estrutura é mantida pelas empresas locais que, na forma de rateio, dividem as despesas de manutenção do barracão onde os pneus são acondicionados e funcionário da coleta. Os pneus são encaminhados para um único atravessador, conhecido como “Chineque”, que tem contato direto com a associação. “O processo não ideal, mas resolve o problema momentâneo”.

Os pneus causam problemas quando descartados e misturados ao lixo comum, pois não podem ser colocados em aterros sanitários, uma vez que tendem a subir e sair à superfície. Podem ser reaproveitados por empresas que fazem manutenção de asfalto, para utilização como combustível, na geração de energia e na indústria de cimentos.

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