O associativismo levando caminhos pavimentados ao campo

24 de fevereiro de 2016 às 10h36m

Grupo de agricultores visita projeto de pavimentação de estradas em Toledo e traz proposta para ser discutida em Irati

Jussara Harmuch


No início de fevereiro, uma caravana com mais de 100 agricultores de Irati organizada pelo Sindicato Rural Patronal viajou em dois ônibus até a cidade de Toledo com o objetivo de verificar as condições das estradas rurais e a maneira como a prefeitura e proprietários encontraram para adequá-las.

Eu resolvi acompanhar o grupo. Nossa visita em Toledo iniciou com um gostoso café da manhã seguido de uma apresentação do projeto de estradas rurais.

O presidente do sindicato de Toledo, Nelson Natalino Paludo e o de Irati, Mesaque Kecot Veres nos recepcionaram.

Também nos deram boas vindas o secretário de Agricultura, José Augusto, Mário Costenaro, que preside a organização Oeste em Desenvolvimento, o prefeito Beto Lunitti (PMDB), deputado federal Dilceu Sperafico (PP) e o deputado estadual José Carlos Schiavinato (também do PP), que já foi funcionário de carreira, secretário e prefeito de Toledo, iniciou este trabalho de pavimentação, e foi ele quem nos explicou o projeto.

Em 8 anos, 218km de estradas rurais foram pavimentadas em Toledo, no mesmo modelo visto na França. O processo é simples, nas palavras de Schiavinato e me pareceu mesmo que depende mais do querer fazer tanto da parte do gestor público quanto do próprio agricultor. “É um processo de extrema confiança entre as partes não tem muita discussão jurídica e vai se investir onde quiserem os proprietários de terras. Se disser que paga tributo e a obrigação é do sistema fazer, correto, mas quantas gerações vamos esperar”?

A prefeitura destina uma certa verba no seu orçamento e a definição de onde será feito é de acordo com o interesse dos produtores. Eles se organizam e se cotizam. Em Toledo a participação dos agricultores vem sendo, desde o início, de 30%, a prefeitura arca com o restante ou vai atrás de ajuda buscando recursos na esfera estadual e federal, ou ainda através de financiamentos. Sendo assim, do custo de 150 mil o Km, 45 são assumidos pela comunidade e os 105 mil são pagos com verbas municipais, anteriormente destinadas no orçamento anual ou com emendas e empréstimos.

A discussão, de preferência, deve ser sem a participação da prefeitura para evitar interferência política. É um livre arbítrio, aqueles que podem mais, contribuem com mais, de acordo com suas posses e com a utilização que faz da rodovia, quem usa mais, paga mais.

Os financiamentos não são tão fáceis de conseguir porque antes disso é preciso readequar as áreas de acordo com a sustentabilidade ambiental. Não pode ter escoamento de águas pluviais e tem de ter curvas de níveis definidas para a obra sair barata e não ter a necessidade de ficar recuperando em período de chuvas fortes.

O serviço pode ser feito em duas etapas, com pedra irregular ou com a base primeiro e depois coloca a capa asfáltica. Da mesma forma os produtores não pagam de uma só vez e a quitação, no caso de Toledo, é sempre depois da safra, em março e setembro ou outubro.

Depois eu conversei com o Ariel Zarpelon que é estudante do último semestre de Agronomia na Universidade Federal do Paraná e José Zanlorenzi, ambos agricultores da região do Pinho, para saber qual foi a percepção deles depois do que viram. 

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 Ariel acha que a cotização é possível, porque além de ter a estrada pavimentada até a porta de casa, sai no lucro com a economia que faz em pneus e manutenção de veículos para o transporte da safra e para o uso da família. Ele acredita nas práticas de cuidado do solo. “Os agricultores não gostam de fazer terraços porque acham que vão perder área de plantio, mas terão que por em prática porque a erosão está ocorrendo”.

O seu José gostaria de imitar o projeto em Irati, mas vê resistências: “tocar de por a mão no bolso para tirar dinheiro é complicado”. Outro problema é o trânsito de caminhões com cargas pesadas que não são da comunidade. A via funciona como desvio do pedágio e do posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Já para o agricultor Élcio Filipaki da Serra dos Nogueiras, as estradas do centro-oeste excelentes, mas ele não acredita no cultivo da terra com terraços.

Veja as fotos da visita – JH/Najuá:

Em Irati, fui procurar apoio técnico para saber quais cuidados de manejo do solo são recomendados para terras com a característica de nossa região. O técnico Agrícola da Emater Décio Dalmolin me deu uma aula sustentabilidade.

Fiquei sabendo que a estrutura do nosso solo nosso é mais arenosa do que argilosa e que aqui as áreas são mais dobradas e o declive é maior, diferente do centro-oeste.
Antes de tudo é preciso reestruturar o solo para ter maior capacidade de infiltração e armazenamento de água. A matéria orgânica é levada pela erosão e água da chuva. O solo que não tem matéria orgânica, não tem capacidade de armazenar água e a planta sofrerá em épocas de seca.

Depois faz terraciamento de base larga para poder plantar em cima, cobertura verde, com aveia, ervilhaca, tremoço ou outros. “Só o plantio direto não resolve. O produtor não gosta do terraço porque atrapalha o manuseio do maquinário, mas vão precisar fazer porque senão vão ficar sem terra agriculturável e vão produzir cada vez menos”.

A partir de quando tirar a água da valeta as estradas vão melhorar. “Hoje o agricultor desvia a água do seu plantio para a estrada, com o manejo adequado vai ser o contrário, ele vai querer que a água que escoa nas estradas venha para o seu terreno”.

Está sendo dado andamento em Irati um projeto na importância de R$ 905 mil de convênio com o Estado para a realização de micro bacia, que é uma região dividida pelos divisores naturais de água. O material foi licitado com objetivo de melhorar as estruturas dos produtores de leite com maquinário para silagem, máquinas para distribuir dejetos de animais líquido e conchas para trabalhar com silagem. Será destinado recurso para a produção de fontes e conservação do solo. Serão beneficiados 114 produtores de Mato Queimado, Volta Grande e Campina de Gonçalves Junior.
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