Aniversário da instituição foi comemorado com palestras, exposição e jantar comemorativo com homenagens/Texto de Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava
O Colégio Florestal de Irati comemorou seus 50 anos com uma programação que incluiu palestras e um jantar comemorativo com homenagens.
A programação começou no dia 13 de setembro com o evento “Mercado Florestal pós-pandemia: Um Olhar Acadêmico e Empresarial”. Durante o dia foram realizadas uma aula magna e uma mesa redonda, além de exposições de empresas. À noite ocorreu um jantar no Espaço Santo Fole, com homenagens a pessoas que contribuíram com o desenvolvimento do colégio.
O evento seguiu no dia 14 de setembro com minicursos, palestras e exposições nas áreas florestal, ambiental, de sustentabilidade e desenvolvimento de mercado com a presença de empresas e instituições como Embrapa, Unicentro, UEPA, UEMT, UEAM, Klabin, Bo Paper, 2 Tree Ambiental, Erva-Mate Giotti, Tecmater, SEAB/Deral, Sicredi, Mahindra, Climadek, Synderski Engenharia e Branco Motores.
Em entrevista à Najuá, a diretora Mariane Pierin Gemin destacou que foi especial participar dos eventos que marcaram o cinquentenário do Colégio Florestal. “É muito gratificante e emocionante, não tem como não conter assim todas as alegrias e emoções desses dias. Eu tive a grata surpresa de poder chegar em Irati e trabalhar nesse colégio. Aqui estou há 14 anos e é muito emocionante perceber o carinho que todos que aqui dedicam seu trabalho diário”, disse.
Os professores também relembraram as suas experiências com o colégio ao longo dos anos. O professor Ronald Medeiros trabalha no colégio há mais de 30 anos e conta como a instituição fez parte da sua história. “Quando me formei, há mais de 30 anos, apareceu uma oportunidade para Angola, trabalhar numa multinacional. Eu e mais uns dois amigos. Não deu certo e uma secretária, Vilma, da [Universidade] Federal do Paraná, falou: ‘Ronald, tem uma vaga para engenheiro dar aula no Colégio Florestal’. Falei: ‘Dar aula, mas nunca! Imagina que vou dar aula, não tenho esse perfil para dar aula’. Vim para ver o que era, estava recém-formado. Meu objetivo era ficar dois anos. Estou há 31 anos. Morei sete anos aqui no colégio, nas casinhas. A minha esposa, eu conheci através do Colégio Florestal e quem me apresentou minha esposa foi um ex-aluno meu, que namorava a amiga dela. Tudo está ligado ao Florestal”, brinca o professor.
O colégio também tem o retorno de ex-alunos, como caso de Elisson Girardi, que atua há 13 anos como professor. “Eu vim para cá, estudar. Sou um ex-aluno, como o professor Fernando [Dlugosz]. O professor Roni foi meu professor. A professora Mariana, que é a diretora também me deu aula. Eu fui aluno aqui. Sou técnico. Saí, fui fazer faculdade, fui trabalhar. E agora voltei como professor e coordenador. Estamos na coordenação da UDP [Unidade Didático Produtiva], na fazenda”, relata.
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O professor Fernando Dlugosz também falou sobre sua experiência durante o retorno ao colégio. “Quantos anos de colégio? Como estudante, um ano e meio e como profissional atuando na docência, já são seis anos corridos, que nós estamos aqui dividindo conhecimento e a cada dia mais aprendendo com todo esse grupo. Esse momento dos 50 anos, falando de Colégio Florestal, é um momento que mistura alegria, orgulho e, sem dúvida nenhuma, um grande pacote de recordações. Estar presente num grupo com pessoas como o professor Ronald, que foi meu professor lá no final da década de 90, mais a professora Mariana, que iniciou a sua atuação nesse momento aqui no Colégio Florestal e hoje dividindo junto com o Reinaldo, que também aprendi muito com ele e os demais colegas, não resta dúvida que dividir esse momento é muito importante e é um orgulho que não se estende só à minha fala, mas perguntando em casa para esposa, filhos, quem é o Colégio Florestal”, disse.
Para Fernando, a experiência no colégio é enriquecedora. “Não resta dúvida que o Colégio Florestal é um divisor de águas. Ele te mostra o verdadeiro caminho. Você aprende não só a ser um bom profissional, mas sim a ser uma excelente pessoa”, conta.
Um dos funcionários do colégio, Oldair Passos, também destacou como é trabalhar e ajudar a construir a história da instituição. “Cada um de nós que estamos aqui hoje deu uma parcela desses 50 anos. A minha parcela é 15 anos aqui dentro do colégio, trabalhando. Nós nos dedicamos. O Colégio Florestal é uma casa muito acolhedora, sempre foi muito prazeroso trabalhar no colégio. O colégio é diferenciado. É uma escola diferenciada de tudo e qualquer outra escola que você conheça aqui de Irati ou fora porque é uma escola fazenda. O colégio é 24 horas porque os alunos moram aqui dentro. Eles permanecem 24 horas aqui dentro. Nós temos atividades no colégio que são atividades de 24 horas. É diferenciado e sempre exige um pouquinho da dedicação maior de nós funcionários, dos professores que trabalham aqui. É uma escola muito diferenciada”, disse.
Oldair destacou que o internato proporciona situações diferentes de outras escolas mais tradicionais. “Uma escola regular, as atividades são diferentes, as pessoas, a formação das pessoas que vêm para cá também é diferente, o perfil do aluno que vem para cá também é diferente, as origens deles são diferentes porque ele vem de várias cidades, de várias culturas, de várias localidades. É uma miscigenação que acontece dentro do colégio e é muito gostoso ver tudo isso. É muito dinâmico”.
Com aproximadamente 60 profissionais, o Colégio Florestal de Irati completou 50 anos registrando várias histórias de vida. Para o diretor pedagógico, José Augusto Schubalski, essas histórias estão envolvidas em um esforço para levar educação de qualidade. “Cada um construindo uma história para que a história maior do colégio se concretize para que consigamos, ter um ensino de qualidade, de excelência, como sempre tivemos e prima por aperfeiçoar isso. Principalmente, hoje em dia, temos as questões florestais que estão no mercado de trabalho, mas também, o nível pedagógico nosso da humanização, do trabalho em equipe, da postura profissional, questões éticas, tudo isso, nesse espaço, primamos por uma excelência para que cada um construa uma história bonita. Para que os nossos alunos construam a história deles, com uma base com fundamento educacional, e saiam daqui do colégio prontos para o desafio da socialização, da profissionalização e para encarar o mercado de trabalho”, disse.
História: O idealizador do Colégio Florestal foi o professor Altamiro Martins, que já faleceu. Altamiro era engenheiro e trabalhava no Colégio Agrícola de Ponta Grossa, que começou a ter um curso Florestal. O curso acabou não dando certo e o professor resolveu trazer a experiência para Irati. “Ele visualizou que esse curso poderia ser uma boa aqui em Irati e veio com alguns alunos de Ponta Grossa. Se instalou aqui nesse local porque era uma área que tinha uma área de terra suficiente e ideal para que se cultivasse os pinus, que até então, ele imaginava que ia acontecer”, conta Oldair.
No terreno, funcionava uma escola de tratoristas, chamada Fomento Agrícola. O professor Altamiro conseguiu que o curso fosse implantado dentro da escola, aproveitando a estrutura e os 176 hectares de terra que auxiliariam no projeto.
Sem uma estrutura para fazer o ensino completo, os primeiros alunos se dividiam entre o curso técnico e os cursos de formação. “Os primeiros alunos tinham que fazer o ensino regular no Colégio São Vicente e à tarde, com a área técnica do Altamiro, eles faziam a parte técnica do colégio. É lógico que isso não funcionou porque houve uma discordância do padre, que era o diretor do colégio na época, e o Altamiro, como ele comentou em uma ocasião, se viu em uma situação em que ele estava com os alunos, tinha que fazer essas aulas no colégio e não tinha a estrutura. Ele foi pego despreparado, mas ele com muita garra, com muita luta, ele conseguiu que esses alunos permanecessem no colégio, estruturou essa parte pedagógica do segundo grau e conseguiu que a primeira turma já se formasse aqui no Colégio Florestal tendo a parte pedagógica do segundo grau e a parte técnica também”, conta Oldair.
No início, o acesso ao Colégio Florestal era difícil já que apenas uma estrada de chão ligava a instituição com a cidade. “Tanto é que o colégio, até hoje é a divisa do quadro urbano, ou seja, do colégio para frente, é a estrada rural que leva para a localidade do Assungui. Hoje, o colégio está no quadro urbano, mas na época não. Eu não tenho precisão dessa pavimentação [em qual ano foi realizada], dessa estrada que chegou aqui, até porque não existiam casas aqui. Não existia essa urbanização que existe hoje do colégio para lá. Era uma estradinha que chegava no colégio porque o colégio era uma zona rural”, relata o funcionário Oldair.
A pavimentação chegou, mas o terreno do Colégio Florestal acabou passando por alguns problemas durante os últimos anos. Na década de 1980, parte do terreno – cerca de 18 hectares – foi repassada ao município. Assim, em 2007, foi cogitada a possibilidade de construir um Centro de Treinamento (CT) para o Iraty Sport Club. No entanto, a tentativa não deu certo. Oldair destaca que a área do Colégio Florestal também foi estudada para receber outros empreendimentos. “Isso para que acontecesse teria que fazer a extração dessa madeira, a implicação era bastante grande e não deu certo. Resolvido esse impasse, posteriormente várias outras possibilidades aconteceram de se aproveitar essa área, mas sempre se batia na questão que a área é uma área cultivada. É uma área de pinus, de reflorestamento e as coisas não davam certo. Era para ser um lixão, depois era para ser um presídio. Eu nem lembro direito as possibilidades que aconteceram e a prefeitura tentava usar essa área, mas se batia sempre nessa questão”, afirma Odair.
Em 2018, na gestão do prefeito Jorge Derbli, a prefeitura de Irati reconheceu que a área devia ser destinada ao Colégio Florestal, conforme o funcionário da instituição. “A partir daquele dia, através de uma ata em que o Jorge Derbli assinou naquele momento, ele reconheceu e retornou. Deu nesse documento o start para que os procedimentos começassem porque existe uma lei que tem que ser modificada, pela Assembleia Legislativa para que esse terreno retorne para o colégio. Hoje, o terreno está em poder no colégio, está tramitando já na Assembleia, já está bem avançado e dentro de pouco tempo vai ser novamente documentado. Essa área volta para o colégio, tanto que a prefeitura já abriu mão e não tem mais nenhuma intenção de utilização dessa área para qualquer outra finalidade”, conta.
Eventos: O Colégio Florestal deve continuar suas atividades alusivas aos 50 anos durante o ano, especialmente em outubro, quando terá o início o período de pré-inscrições para novas turmas para o ano de 2024. “Nós temos sempre uma caminhada, uma trilha, o conhecimento dos setores, a apresentação da cadeia produtiva da madeira através dos nossos estudantes, que atendem os visitantes e mostram desde a análise do solo, da semente, do plantio, da condição da floresta até o momento em que se utiliza todos os produtos, não só da madeira, mas os subprodutos como a tecnologia, e que fazem a diferença no setor econômico do nosso País. A maioria dos nossos visitantes não conhecem a expressão que tem o setor florestal dentro da economia nacional e também economia do nosso Estado do Paraná”, disse Mariane.
O Colégio Florestal ainda participará da 2ª ExpoIrati. O objetivo será mostrar os cursos ofertados pela instituição para quem ainda não conhece, conforme o coordenador do curso Técnico em Florestas, Gilcinei Linhares. “Nós vamos estar lá nos quatro dias de evento. Vamos expor nosso colégio, expor nossos cursos. O pessoal que está ouvindo, tem um filho, um parente, conhecido, alguém que não conhece direito como funciona no colégio, nós vamos estar lá para mostrar um pouco mais. Abrir isso a toda a população para que eles possam conhecer os nossos cursos, Técnico em Florestas Integrado, Técnico em Segurança do Trabalho e Técnico em Agronegócio”.
José Augusto explica como funcionam os cursos do Colégio Florestal de Irati. “Quem tem interesse de ingressar no curso Técnico em Florestas, ele é integral, tem aproximadamente dez horas todo dia. Tem o regime de internato para as pessoas que são de fora. A duração desse curso é de três anos e temos os cursos subsequentes, que a duração deles são um ano e meio, que é o Técnico em Segurança do Trabalho e o Técnico em Agronegócio. Dois ramos com o mercado de trabalho que podemos dizer que estão com as portas abertas, emergentes e que fazemos questão de quando as empresas nos procuram, fazemos questão de indicar essas pessoas que estão cursando e se destacam no curso”, disse.
A instituição é equipada com sala de aula, laboratórios de tecnologia e ciências ambientais, serraria, um viveiro florestal, marcenaria, oficina de motosserra, além de estrutura de alojamento para o internato.
Confira nas fotos abaixo um pouco mais da estrutura do Colégio Florestal: