Depois da saída de profissionais cubanos, secretaria de Saúde de Irati aguarda conclusão do processo de contratação de três brasileiros
Paulo Henrique Sava com edição de Jussara Harmuch
Três médicos cubanos que estavam vinculados ao programa Mais Médicos, do Ministério da Saúde, deixaram de atender em Irati. A informação foi confirmada pela secretária Magali Salete de Camargo, em entrevista coletiva concedida na tarde desta segunda-feira, 26. No total, quatro médicos atendiam pelo programa, sendo um brasileiro e três cubanos, Luis Vicente García Gomez, Annelis Leon Perez e Alcis Alidamig Corrales Robert. As vagas iniciais eram cinco, mas uma médica pediu afastamento do programa e não houve substituição pelo Ministério da Saúde.
Depois que Cuba anunciou a saída do programa, justificada por críticas feitas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), três vagas em caráter de emergência foram abertas para trabalhar em Irati, nos distritos de Gonçalves Júnior e Guamirim e no bairro Vila São João, mais precisamente no Conjunto Joaquim Zarpellon. Os médicos José Valêncio Machado, Patrícia Sikora e Adriana Moraes Carvalho estão em processo de contratação, que deve ser concluído até 03 de dezembro, para só então iniciarem o atendimento. Enquanto isso, os médicos João Marcos Filipak e a própria Patrícia Sikora, que já têm outro tipo de contratação com a prefeitura, foram convocados a ampliar a cobertura para não deixar estas comunidades desassistidas. “Até o dia 03 nós temos que abrir o formulário de aceite no site para que eles comecem a trabalhar”, garantiu a secretária e disse que os três médicos terão toda a assistência do município até que retornem à Cuba. Segundo ela, o município chegou a oferecer asilo, mas para que eles possam continuar atuando no Brasil precisam fazer o Revalida que acontece somente em março de 2019.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo na tarde de hoje (26), o Ministro da Saúde, Gilberto Occhi, anunciou que poderá haver remanejamento de médicos caso haja dificuldade em preencher as vagas. O salário dos novos médicos, que chega a R$ 11.865,00 por 32 horas de trabalho semanais e é custeado pelo governo Federal, será mantido. Já não se tem certeza quanto ao custo de alimentação e moradia, que atualmente é de R$ 2,7 mil por médico, pagos pelo município. “A todo momento sai uma nova orientação, e não saiu nem o termo novo para aderirmos”, pontuou Magali.
Os cubanos trabalhavam segundo as Estratégias de Saúde da Família (ESF), o que inclui visitas domiciliares. O vereador Roni Surek (Pros) que acompanhou a coletiva, saiu na defensiva e disse não ter ouvido reclamação. Ao ser questionada pelos repórteres se os médicos brasileiros estariam dispostos a fazer o mesmo, a secretária respondeu que o trabalho será igual. “Nós [já] temos médicos brasileiros atendendo nas ESF como o Dr. Éder, que atende no Rio Bonito e faz visitas, também o Dr. Siqueira e o Mohamed, que são brasileiros do Mais Médicos”.
Seis equipes ESF operam hoje em Irati, mas para cobrir 100% do território seriam necessárias pelo menos mais 10. Algumas Unidades de Saúde não têm atendimento todos os dias ou mantém médico apenas em meio período. “Se você tem uma unidade na qual o médico vai duas ou três vezes por semana ou diariamente por meio dia, ela não é cadastrada como Unidade Estratégia de Saúde da Família, mas é apenas uma Unidade de Saúde”, informou Magali.
Mais Médicos no Brasil
Em todo o Brasil, estão sendo oferecidas 8.517 vagas pelo programa Mais Médicos. Um balanço divulgado mostra que, até o momento, mais de 30 mil profissionais se inscreveram no edital emergencial. Deste total, 21 mil tiveram o cadastro efetivado e 8.278 já haviam selecionado o município para começar a trabalhar. Se mesmo assim as vagas não forem preenchidas, o Ministério da Saúde cogita abrir novo edital incluindo brasileiros formados no exterior.as equipes dos ESF
Algumas cidades paranaenses já receberam os novos profissionais, entre elas Ponta Grossa, que perdeu 56 médicos.
Migração do ESF para o Mais Médicos
Uma reportagem de hoje do jornal Tribuna do Norte, de Natal, informa que médicos brasileiros estão se desvinculando das equipes do ESF nos municípios para se vincularem no Mais Médicos. no Rio Grande do Norte (RN). De acordo com a secretaria de estado da Saúde do RNl das 139 vagas previstas, 98 são de médicos que já ocupam alguma equipe do ESF. A saída do médico desqualifica a ESF levando ao bloqueio do recurso não só do salário do médico, mas o geral do programa. A migração dos médicos gera um alerta aos municípios que perdem profissionais em termos práticos.