José Maria Davaus diz que vacina contra Covid-19 “não produz rabo, não transforma em jacaré e não cria chifre nas pessoas”. Em entrevista, ele esclareceu dúvidas sobre a vacinação em geral/Paulo Henrique Sava
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Médico José Maria Davaus diz que vacina contra Covid-19 “não produz rabo, não transforma em jacaré e não cria chifre nas pessoas”. Foto: Reprodução Facebook |
O médico José Maria Davaus, especialista em medicina intensiva, neonatologia e pediatria, participou do programa Espaço Cidadão na última sexta-feira, 19, e esclareceu alguns mitos e verdades sobre a vacinação em geral. Segundo o médico, quando a pessoa se vacina, pode ter dois tipos de efeitos. “Um deles é que você deixa de ter a doença de uma forma grave, e o outro é que você não deixa que o vírus ou a bactéria entre no seu organismo. Este tipo de imunidade é a ideal, na qual o indivíduo não contrai a doença”, afirmou.
Davaus afirma que as vacinas podem apresentar algum tipo de reação, o que vai depender do tipo de vacina a ser aplicada e do organismo do paciente. Algumas delas podem causar febre, como a penta-valente (rede pública) ou hexa-valente (rede privada). “Esta vacina da rede pública pode dar reação febril. A da rede privada não porque ela é acelular e só causa reação no local, como qualquer outra vacina. As vacinas não fazem mal e são muito seguras. Temos milhões de pacientes vacinados contra a difteria, o tétano, a coqueluche (tosse comprida), a poliomielite (paralisia infantil), o sarampo e a rubéola. Todas estas doenças estão praticamente exterminadas da face da Terra”, pontuou.
Sobre a vacinação contra o sarampo, um médico britânico chegou a afirmar nas redes sociais que a vacina contra a doença causaria autismo, o que, segundo Davaus, não é verdade. O médico que divulgou estas informações falsas teve o título cassado. Ao redor do mundo, muitos seguidores dele acreditaram na ideia da ineficácia da vacina, o que provocou o ressurgimento do sarampo entre a população em 2018.
Davaus diz também que nenhum tipo de vacina tem a capacidade de alterar o DNA do paciente, mito que surgiu com a criação da vacina contra a Covid-19.
Isto é mito, e surgiu com esta nova metodologia de bioengenharia, segundo a qual você pega o RNA ou genoma do vírus e implanta em outro vírus para produzir uma vacina, e principalmente com a vacina do coronavírus, que é muito boa e não produz rabo, não transforma em jacaré e nem cria chifre nas pessoas. Isto é mito, fake news, e as pessoas vêm com esta ideia de que não poderão tomar a vacina porque isto poderá alterar sua genética. Não existe nenhuma possibilidade disto, estas vacinas são seguras.
O médico pede que as pessoas tenham paciência e aguardem a sua vez para serem vacinadas contra a Covid-19, respeitando o protocolo estabelecido pelas autoridades de saúde federal, estadual e municipais. Ele afirma que as pessoas que fazem parte dos grupos prioritários devem ser vacinadas o quanto antes. “Garantir que as vacinas estejam nas mãos daqueles que mais precisam e não dos que possam comprá-las é crucial para acabar com a pandemia global, ou seja, aquelas pessoas que estão precisando mais têm que ser vacinadas em primeiro plano, independentemente se possam comprar (as vacinas) ou não”, explicou.
Davaus esclarece que, para que as clínicas particulares possam comercializar as vacinas contra a Covid-19, é necessário que a ANVISA faça a liberação total das mesmas. Neste primeiro momento, as doses foram liberadas de forma emergencial para atender pacientes da rede pública. “No momento, a vacina chegar para as clínicas privadas está em fase de estudos, mas como é uma vacina experimental, a ANVISA não libera até que haja uma comprovação científica de que realmente ela vai funcionar. Nós estamos correndo atrás desta vacina, mas ainda não temos condições de negociar porque o governo (federal) tem algumas exigências que não conseguimos resolver de imediato. Em torno de 160 milhões de habitantes da terra já se vacinaram e nenhuma delas morreu por conta da vacina. Podem ter morrido de infarto, AVC ou outras doenças, mas ninguém morreu por causa da vacina da Covid-19, e isto é importante que as pessoas saibam”, frisou.
Vacinação no Brasil – Para Davaus, o Brasil está caminhando a passos lentos na vacinação contra a Covid-19. Ele acredita que, no ritmo atual, Irati vai demorar cerca de 3 anos e meio para vacinar toda a população. “Teremos que ter muita paciência, sabemos que alguns grupos precisam, antes de outros, porque precisamos que as pessoas que estão na linha de frente se vacinem antes de tudo, de uma forma lenta e gradativa. O problema é que o Brasil tem capacidade para vacinar 60 milhões de pessoas em um curto período de 3 a 4 meses, mas não temos vacinas. Este é o grande problema, porque estrutura e como fazer isto, certamente o Brasil teria condições”, comentou.
No Brasil, atualmente, são aplicadas mais de 300 milhões de doses de vacinas todos os anos. “O Brasil, neste mesmo instante, é um país que oferece uma série muito grande de vacinas, tanto na rede pública como na privada. Eu costumo dizer aos meus pacientes que a rede pública oferece coisas muito boas, mas faz aquilo que é possível. Existe o que é ideal e o possível, e tem diferenças neste sentido. Por isto, a vacinação é oferecida de diferentes formas e isto faz com que tenhamos coisas melhores de um lado, assim como do outro pode haver coisas muito boas”, pontuou Davaus.
Segundo o médico, a vacina é a invenção dos últimos séculos que mais salvou vidas. Historicamente, a vacinação teve início no final do século XVIII, em 1798, com a chamada “variolação”, ou seja, o combate à varíola com a utilização do próprio vírus da doença. O médico definiu este como um dos maiores momentos da história da medicina. “Isto demorou anos até se acreditar que foi um fato, mas ao longo dos anos, a medicina foi evoluindo. Hoje temos uma série de vacinas desde o nascimento até o idoso, sendo aplicadas em todos os indivíduos nas determinadas idades”, finalizou.