Endocrinologista Cristina Borazo apresentou novo método durante sessão da Câmara de Irati na última semana/Paulo Sava

Resumo: – Trata-se de um monitor contínuo de glicemia. Médica contou como o aparelho funciona;
- Vereador defendeu compra dos equipamentos pelo município e distribuição gratuita aos pacientes;
- Saiba o que é e como é feito o diagnóstico da diabetes.
A médica endocrinologista Cristina Borazo utilizou a tribuna popular da sessão da Câmara de Irati na última semana para apresentar um novo modelo de monitor de glicose para pacientes com diabetes.
Trata-se de um monitor contínuo da glicemia. Cristina contou como funciona o novo aparelho. “Com este novo monitor contínuo da glicemia, que se chama Free Style Libre, e tem mais ou menos o tamanho de uma moeda de 1 real, bem pequenininho, que o paciente vai acoplar no braço. Ele pode ser colado de forma tranquila, é bem discreto. O Libre1 fica 14 dias e o 2 fica 15 dias, e o paciente pode aferir a glicemia quantas vezes ele quiser sem furar. Ele fica acoplado, a pessoa pode tomar banho que ele não descola, fica bem seguro. Ele vai aproximar o monitor do sensor quantas vezes ele quiser para ver como está a glicemia”, frisou.
Além de apontar quando o nível de açúcar está muito alto, o novo monitor também avisa quando a glicemia do paciente está muito baixa, segundo Cristina. “A mãe não sabe se, depois da janta, aquela glicemia vai despencar de madrugada. Eles morrem de medo de fazer insulina à noite por causa desse medo de cair a glicemia. Este aparelho tem um alarme de hipoglicemia. Se, durante o sono, cair abaixo de 70, ele dispara um alarme que ajuda os pais, que vão dar algum líquido doce ou alguma coisa para a criança e já sobe, sem aquela angústia de que, durante o sono, acabar morrendo silenciosamente durante a noite”, pontuou.
O novo equipamento também ajuda a reduzir o número de internamentos por complicações causadas pelo diabetes, de acordo com a médica. “Vários estudos de mundo real mostram a custo efetividade deste dispositivo. Como ele reduz o número de internações por eventos agudos, tanto por hipoglicemia grave ou quando a glicemia sobe demais, ele acaba reduzindo em 49% os internamentos de diabéticos tipo 1 e 39% dos diabéticos tipo 02. Ele também foi capaz de reduzir internações por coma em 56% dos pacientes com diabetes tipo 01 e 52% dos diabéticos tipo 02. O uso, ao longo de 24 semanas, já mostra uma melhora no controle glicêmico e na hemoglobina glicada, que é aquela que dá a média da glicose do sangue. Ele se mostrou custo efetivo, apesar de o custo ser maior do que a picada do dedo. O internamento é muito caro, e os pacientes acabam tendo que ficar na UTI’s, que são de alto custo. Se colocarmos na balança o novo monitor se mostrou custo efetivo”, comentou.
O vereador João Henrique Sabag Duarte, que também é médico, acredita que, se o município adquirir os novos monitores e os distribuir para pacientes diabéticos, o número de internamentos por complicações da doença pode diminuir. “Eu peço o apoio de todos os nobres pares e gostaria que este fosse um projeto nosso, não somente meu e nem do Executivo, mas de nós todos. Que sensibilizasse o nosso prefeito e a secretária de saúde, para que adquiram estes aparelhos e forneçam de forma gratuita para os nossos adolescentes, crianças e adultos cm diabetes tipo 01. Isto vai trazer economia, maior qualidade de vida, vai reduzir o número de internamentos e hospitalizações, e principalmente as complicações que trazem um custo socioeconômico muito grande para o nosso município e a nossa nação”, comentou.
O que é o diabetes?
O diabetes é uma doença que está presente no mundo todo, atingindo cerca de 10% da população brasileira. Em Irati, segundo dados do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF) do Sistema Único de Saúde (SUS), em Irati estão cadastrados 77 pacientes com diabetes tipo 1 e 607 pacientes diabéticos tipo 2. Estes são pacientes que retiram medicamentos de alto custo para tratar a doença junto à 4ª Regional de Saúde. Ou seja, o número de pacientes pode ser maior.
Cristina contou de que forma o diabetes pode se manifestar no paciente. “O diabetes ocorre quando há uma elevação na glicose sanguínea. Isto pode acontecer de duas maneiras: ou porque o pâncreas começa a produzir insulina de forma inadequada ou começa a ter uma resistência na ação dela”, destacou.
A médica também detalhou as características de cada uma das formas da doença. “O tipo 1 é uma doença autoimune, começa a haver uma destruição das células beta do pâncreas e o corpo não tem mais insulina. A produção começa a cair e há uma deficiência total de insulina. O tipo 2 é mais prevalente e tem vários fatores envolvidos, tanto genéticos quanto principalmente os ambientais. Hoje em dia, com o etilo de vida ruim, muito sedentarismo e má alimentação, tem surgido cada vez mais pacientes com diabetes tipo 02. O tipo 1 corresponde só a 10% dos casos e já começa na infância. Os pais percebem que a criança começa a comer bastante, mas vem perdendo peso, acorda muito durante a noite para ir ao banheiro fazer xixi, toma muito líquido. Isto começa a despertar a atenção dos pais e acaba tendo um diagnóstico mais no início do quadro todo, o que chama a atenção, pois é um quadro bem intenso. O tipo 02, que são 90% dos casos, aparece de uma forma mais insidiosa e geralmente após os30 anos de idade, estando muito relacionado com obesidade, sedentarismo e fatores genéticos, então geralmente tem casos na família”, relatou.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é feito de forma simples, com dosagem de sangue do paciente. Tendo duas dosagens acima de 126 mg de açúcar no sangue, a pessoa já é considerada diabética. Entre 100 e 126 mg, o índice já é considerado alterado e o paciente precisa mudar alguns hábitos de vida relacionados à alimentação e à prática de exercícios físicos, de acordo com Cristina. “O tratamento inicial, independentemente da forma de diabetes, sempre começa com a orientação para uma dieta adequada, atividade física e, aos pacientes tabagistas orientamos que parem de fumar. Sempre orientamos que eles monitorem a pressão arterial e o perfil lipídico, que é a dosagem do colesterol e dos triglicerídeos. Como o diabetes é uma doença vascular que vai agredir os vasos, é muito importante esta parte cardiovascular também ser avaliada de forma conjunta para evitarmos complicações. No tratamento da diabetes tipo 02, sempre começamos com a parte não farmacológica, que esta orientação de mudança de estilo de vida, pois está muito relacionada a perda de peso com a melhora do diabetes. O tratamento farmacológico existe na forma de medicação via oral ou injetável, que hoje está muito na mídia. Eles são para pacientes diabéticos tipo 02”, comentou.
Para os pacientes com diabetes tipo 01, o tratamento é com insulina desde o início, segundo a médica. “Mesmo para aquelas criancinhas com dois ou três anos de idade, é difícil o tratamento, que sempre vai ser na forma injetável. Então, eles terão que aplicar a insulina, e não será só uma vez por dia, mas várias vezes. Hoje em dia, a 4ª Regional de Irati tem os análogos de insulina Glargina e Lispro. A Glargina é uma insulina basal que deixa a glicemia em jejum normalizada. A Lispro é ultrarrápida, o paciente vai ter que aplicar ela em cada refeição que for fazer. Então, imagine que aquelas criancinhas vão ter que aplicar a insulina, no mínimo, quatro vezes por dia. Só que, como a criança faz um lanchinho toda hora, teoricamente cada vez que ela comer alguma coisa, tem que aplicar um pouco de insulina para melhorar a glicemia”, pontuou.
O diabetes pode causar complicações nos rins, e pode causar também neuropatia e problemas na retina. Em caso de mau controle da doença, o paciente pode ter sérias consequências e necessitar de hemodiálise, em situações mais graves. O infarto é uma das principais causas de morte de pacientes diabéticos no Brasil. No entanto, muitos pacientes descobrem a doença depois de infartarem.
O diabetes também aumenta a possibilidade de a pessoa vir a sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Por conta de tudo isto, o objetivo dos médicos é que os pacientes mudem o estilo de vida e utilizem as medicações, mantendo a glicemia controlada e evitando complicações.
“Eu acredito que, com o auxílio destas novas tecnologias, conseguiremos ajudar os pacientes a terem um melhor controle da doença para que estas famílias possam melhorar a qualidade de vida e que possamos evitar estas terríveis complicações”, finalizou.