Em entrevista à Najuá, Prefeita em exercício de Irati, Ieda Waydzik, falou sobre ações que serão realizadas para amenizar enxurradas causadas em função da chuva forte
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Precipitação pluviométrica em Irati foi de mais de 130 mm na segunda-feira, 18. Foto: Paulo Sava |
A prefeita em exercício de Irati, Ieda Waydzik, destacou que o município realizará ações após os diversos alagamentos registrados na tarde de segunda-feira (18). Mais de 50 pessoas tiveram que ser retiradas das casas pelo Corpo de Bombeiros em virtude das enxurradas. Além da continuidade das obras do Plano de Drenagem e da dragagem no Rio das Antas, o município analisa contratar serviços para a limpeza de bueiros e galerias, mas esbarra no alto custo dos serviços. Para a prefeita interina, também é preciso aumentar a fiscalização em obras.
O levantamento divulgado pela Defesa Civil na terça-feira (19) mostrou que os alagamentos afetaram residências, comércio, indústrias, gerando obstrução do trânsito em toda a área urbana, além de danos na área rural, como nas localidades de Serra dos Nogueiras, Caratuva e Pinho de Baixo.
O Ginásio Fortunato Colaço Vaz, no Rio Bonito, que abriga os atendimentos de Covid-19, foi inundado, obrigando a transferência dos atendimentos para o Pronto Atendimento Municipal. Estruturas da Saúde como a Vigilância Sanitária e unidades de Saúde também tiveram pontos de infiltração, com prejuízos de equipamentos e medicamentos.
Segundo a prefeita em exercício, os alagamentos registrados em diversos locais do município são resultado do alto volume de chuva que ocorreu em Irati. Em 40 minutos, choveu 130 milímetros. “O volume de água que se abateu durante um pequeno espaço de tempo, que foi aproximadamente uns 40 minutos, foi muito. E a calha do rio não suportou. Nós tivemos uma espécie de cabeça d’água, ou seja, uma inundação que vem de uma cabeceira de rio e que se abateu sobre a nossa cidade vindo lá da Serra dos Nogueiras. E isso causou essa inundação em vários pontos do rio”, conta.
O engenheiro Igor Zampier comentou que em apenas um dia, Irati registrou quase a média histórica do mês de janeiro, que é 180 milímetros. Para ele, o grande volume de água trouxe uma situação atípica. “Uma situação que vemos, desde a última interferência que foi feita no rio, da dragagem, até então a calha do rio comportava essa situação de pluviosidade. As chuvas eram distribuídas em uma situação normal. Ontem [18/01] foi anormal”, relatou Igor.
Mesmo sendo uma situação atípica, Ieda destacou que o município deve dar continuidade às ações para o combate de alagamentos. “As medidas a nível administrativo para futuro estão todas encaminhadas. O prefeito Jorge Derbli já havia encaminhado várias licitações, várias orientações para que nós continuemos esse caminho de minimizar os efeitos. Inclusive, como é sabido de todos, nós temos já aberta a licitação com autorização licitatória para fazer o final do canal hídrico, chegando da Moageira até o Rio das Antas. Estamos com um impasse ali no IAP [Instituto Ambiental do Paraná] ainda, tomamos providências e se for preciso, vou à Curitiba na segunda-feira para tentarmos resolver essa questão”, explica a prefeita interina.
Ela revelou que a prefeitura irá retomar a dragagem no Rio das Antas. “A dragagem também pretendemos retomá-la, logo que tenhamos autorização”, disse. A intenção também é dar continuidade ao Plano de Drenagem, que prevê obras no município para os próximos anos, com o objetivo de evitar novas situações de alagamentos. “Ele está sendo implementado aos poucos porque se tratam de ações caras, ações que demandam estudos e principalmente são obras estruturantes que demandam tempo para serem também efetivadas dentro da comunidade. Isso tudo está sendo providenciado desde o primeiro mandato do prefeito Jorge Derbli, que muito se preocupa com isso, e nós vamos redobrar os cuidados com os critérios nas aprovações de novas construções, fiscalizações mais ativas sobre as construções”, destacou.
De acordo com Ieda, uma das dificuldades é que as pessoas não atualizam os projetos na prefeitura. “Acontece muito de a pessoa apresentar sua propriedade para ser fiscalizada com o Habite-se e quando você volta lá, ela impermeabilizou todo o solo, após essa fiscalização. Tudo isso prejudica. Nós temos um relevo bastante difícil com relação às chuvas porque nos localizamos em uma bacia, que as águas todas descem para o centro da cidade e se nós população, pessoas que moramos aqui não tivermos consciência dessa nossa condição, nunca vamos melhorar a nossa situação com relação às águas de chuva”, disse.
Igor também destacou que as diversas obras trazem um somatório que pode causar dificuldades para que as águas da chuva escoem. “Isso nós acabamos individualmente pensando que eu não sou um problema para a sociedade, mas quando somamos todas as construções do município, toda a área impermeabilizada, isso entra asfalto, passeios públicos, entra construções de casas, empreendimentos comerciais. Nesse somatório geral do tamanho de telhados construídos ou de áreas impermeabilizadas dá o que se dá no fato de ontem”, segundo Igor.
Outro fator apontado é o acúmulo de lixo em alguns pontos. “Eu andei hoje a manhã inteira pela cidade e é com tristeza também que vemos muito lixo, muitos restos de materiais, material de construção. Tudo isso vem a tampar as bocas de lobo. Tem notícias também de algumas pessoas que tampam as bocas de lobo por causa de insetos. Tudo isso prejudica a drenagem da cidade, não deixa que a água saia pelos canais normais. Pedimos para a população, encarecidamente, que cuidem das suas bocas de lobo próximo a suas casas, que limpem. A prefeitura tem equipes, mas não vence tudo isso”, conta a prefeita em exercício.
O engenheiro Igor, que trabalha no Colégio Florestal, conta que o lixo se torna um problema para todos. Ele explica que na instituição, é preciso realizar uma limpeza porque as pessoas não respeitam o modo correto de descartar resíduos sólidos. “Todo ano nós temos que coletar os lixos que alguém joga dentro dos terrenos do nosso reflorestamento. O ano passado, com a ajuda do DER [Departamento de Estradas de Rodagem], inclusive eu agradeço a Lucimara [Ribas] que cedeu os caminhões-caçamba, juntamos cinco caminhões-caçamba de lixo jogados dentro das áreas de reflorestamento do Colégio Florestal”, disse.
Enquanto isso, a prefeitura tem feito um estudo para tentar encontrar um modo de limpar os bueiros na cidade. “Existe um projeto da prefeitura, da limpeza interna de quilômetros de bueiros porque são quilômetros de bueiros que temos na cidade. Inclusive, havia sido feito, eu tenho conhecimento pelo que a engenheira Jéssica me falou, de uma a máquina especial que estava sendo cogitada para vir limpar esses quilômetros. É uma limpeza de alto custo. Me parece que para limpar um pedaço dos bueiros era R$ 1,5 milhão sendo necessários. Por ora, estamos fazendo a manutenção nas caixas dos bueiros”, revela Ieda.
Ela explica ainda que o início das galerias está sendo limpo, mas que realizar a limpeza de todas as galerias pode gerar um alto custo. “Para se fazer o trabalho em todas as galerias do município é um investimento bastante alto que está sendo providenciado, mas que temos que fazer a longo prazo e em etapas porque muitas outras áreas demandam também recursos”, disse.
Atendimento: A prefeita em exercício explica que o atendimento à população iniciou logo após o início das chuvas, na segunda-feira (18). “Todas as equipes da prefeitura foram colocadas de sobreaviso. Entramos em contato com o serviço de Pátio, de Serviços Urbanos, de Serviços Rurais, a nossa Defesa Civil, a Ação Social já foi mobilizada, e logo em seguida, a Guarda Municipal, quero até agradecer ao [Averaldo] Lejambre pela prontidão, já tomaram as providências necessárias para interromper o tráfego em vários locais porque a passagem de veículos trazia mais problemas inclusive para comércios que estavam sendo invadidos pelas águas. Toda a estrutura da prefeitura, de imediato já foram mobilizadas”, afirmou.
O tenente Aleixo, do Corpo de Bombeiros, explica que cerca de 20 bombeiros atuaram diretamente em 26 locais da cidade. Foram mais de 50 pessoas removidas por estarem em locais de risco. “Foi um trabalho exaustivo. As equipes foram até grande parte da noite para finalizar todos os atendimentos que acabaram entrando via telefone de emergência”, explica.
A grande quantidade de água também fez com que pessoas procurassem se proteger e tivessem que ser resgatadas com o auxílio de barco. “Tivemos algumas situações que as pessoas já estavam no telhado das residências devido justamente a essa elevação rápida e em alguns pontos tivemos um nível do rio bastante elevado, colocando pessoas a esse risco”, disse.
O volume de chuvas fez com que a água entrasse nas casas. “Devido ao grande volume de água em pouco tempo, muitas vezes a estrutura de calha acabava não atendendo esse grande volume de água, que caia sobre as residências, até mesmo o comércio, e acabava atingindo os imóveis, às vezes em locais que não foram atingidos pelas enxurradas, no entanto, acabavam tendo essa demanda da proteção do telhado não dar conta no momento”, explicou.
Segundo a Defesa Civil, foram 500 casas tiveram comprometimento de móveis e eletrodomésticos, roupas, gêneros alimentícios e quedas de muros em residência.
Como as águas baixaram rapidamente, muitos moradores que saíram de suas residências, puderam voltar após os alagamentos. “As águas subiram rapidamente. No início da noite, essa água baixou e as pessoas puderam retornar, apesar que o prejuízo muitas vezes fica. Diversas pessoas perderam móveis, veículos, seus pertences, muitas vezes, até a própria roupa do corpo acabaram sem ter o que resgatar nesse primeiro dia”, afirmou Aleixo.
Das mais de 50 pessoas retiradas dos locais de risco, três precisaram de abrigo e as demais foram encaminhadas para a casa de parentes, e duas pessoas necessitaram de atendimento de saúde.
O tenente destaca que as pessoas que vivem em área de risco precisam estar atentas nos próximos dias, que continua com previsão de chuva. “Pessoas que moram em locais de risco, principalmente, os que já foram afetados e sabem esse histórico dos seus locais de residência que podem ser afetados por este tipo de evento meteorológico, este tipo de desastre, que procurem a Defesa Civil municipal, podendo ser inclusive através do Corpo de Bombeiros aqui de Irati, via 193, ou mesmo comparecendo diretamente aqui no quartel. Nós vamos fazer o encaminhamento dessas pessoas”, explica.
Ele também alerta que quem estiver em local de risco no momento, precisa procurar um lugar seguro. “No caso de ocorrência, dessas situações, procure um lugar seguro de imediato. Percebemos que ontem alguns voltavam para pegar algum pertence nas residências e nesse momento acabavam ficando ilhados, pondo suas vidas ao risco”, conta.
Como muitos moradores tiveram perdas, instituições estão aceitando doações. Em Irati, as Paróquias Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro e São Miguel estão aceitando donativos. Em Imbituva, a Paróquia Santo Antônio está recolhendo até sábado, roupas e alimentos para os atingidos. Ainda em Irati, o Provopar também está recebendo donativos que estão sendo recolhidos por uma equipe na Escola Francisco Vieira de Araújo.
Cemitério: Um dos pontos críticos foram em moradias localizadas próximas à Serra dos Nogueiras. Segundo moradores, a construção de um cemitério no local fez com que a enxurrada atingisse casas localizadas abaixo do terreno.
Segundo Ieda, a construção é particular. “O cemitério que existe indo para a Serra dos Nogueiras é um investimento particular. Inclusive, é preciso que se diga que os nossos cemitérios municipais estão exauridos. Praticamente não tem mais lotes para venda. E aí um empresário resolveu investir no setor. O que acontece? Qualquer prejuízo que qualquer empresário ou seu investimento na cidade cause, esse empresário é responsável por indenizar as pessoas”, disse.
Para ela, a prefeitura já realizou sua parte exigindo a regulamentação. “Ele [o projeto] passou pelo Concidade [Conselho Municipal da Cidade], passou por audiência pública, passou pelo Ministério Público, passou pelo IAP [Instituto Ambiental do Paraná] e está trabalhando lá, onde será construído o cemitério. A prefeitura fez sua parte, no sentido de acompanhamento, e continua fazendo. Nós continuamos acompanhando, inclusive final de ano teve mais fiscalizações, notificações”, relatou.
O engenheiro destacou que a obra precisa resolver o problema de captação de água, mas destacou que a situação de segunda-feira foi excepcional por causa do grande volume de chuva. “Como todas as outras construções no município, em que eu conheço, em todos os tempos, passa por algumas câmaras específicas de aprovação aonde são apresentados os projetos e uma vez que são apresentados os projetos, eles têm que ser executados como apresentados. Passa por vários órgãos competentes, de órgãos ambientais, órgãos de fiscalização, órgãos de engenharia e esse projeto deve obrigatoriamente, deve ser executado como projetado. Nesta situação específica, deve ser observado a operação do projeto, se ele vai realmente atingir a expectativa do controle de um dano, no caso como ontem [18/01] aconteceu. Se não, alteração do projeto para que isso amenize ou se encerre”, disse.
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Imagem registrada no bairro Canisianas após chuva forte da tarde de segunda-feira, 18. Foto: Paulo Sava |