Livro conta histórias das comunidades do interior de Irati

Publicação do engenheiro civil, Dagoberto Waydzik, é uma continuidade da obra “Terra Dobrada: coragem, fé…

03 de fevereiro de 2024 às 11h15m

Publicação do engenheiro civil, Dagoberto Waydzik, é uma continuidade da obra “Terra Dobrada: coragem, fé e resiliência”, lançada ano passado/Texto de Karin Franco, com entrevista realizada por Rodrigo Zub e Edinei Cruz/edição de imagens Jussara Harmuch

Lançamento do livro de Dagoberto Waydzik, Terra Dobrada II aconteceu na noite desta sexta, 03, no Centro Cultural Clube do Comércio, em Irati. Na foto, o vereador Jorge Zen; a secretária de Cultura, Samanta Regina dos Santos Ferreira; o prefeito de Irati, Jorge Derbli; Dagoberto Waydzik ao lado se sua esposa, a vice-prefeita, Ieda Waydzik e a secretária da Mulher e Igualdade Racial, Leandre Dal Ponte/Imagem Najuá

O Centro Cultural Clube do Comércio em Irati foi palco na sexta-feira (2) do lançamento do livro “Terra Dobrada– Volume II”, escrito pelo iratiense e engenheiro civil, Dagoberto Waydzik. O livro é uma continuidade da obra “Terra Dobrada: coragem, fé e resiliência”, lançada no ano passado e que contava as histórias do interior de Irati.

Nesta edição, as histórias giram em torno das comunidades do interior de Irati, trazendo personagens e curiosidades que os lugares carregam. O livro traz histórias das comunidades de Cadeadinho, Caratuva 1, Linha Ordenança, Barra Mansa, Campina de Gonçalves Júnior, Cerro do Canhadão, Cerro do Leão, Empossados, Faxinal do Rio do Couro, Faxinal dos Mellos, Mato Queimado de Cima, Papuã dos Fiores e Taquari.

Dagoberto Waydzik, autor de Terra Dobrada II, foi entrevistado no Meio Dia em Notícias, da super Najuá, 92,5. foto: João Geraldo Mitz

Em entrevista à Najuá, o autor contou que o livro demorou cerca de um ano para ser produzido. Entre os desafios, estavam as grandes distâncias entre as comunidades que o autor precisou percorrer para fazer as entrevistas com moradores das localidades. “É dificultoso fazer essas entrevistas. Você se perde em algumas viagens. Tem lugar que dá 50 quilômetros da sede de Irati. Algumas pessoas ficam resistentes em conversar. Algumas, nós antecipamos que vamos lá e eles nos atendem. Mas tem mais de 60 comunidades rurais em Irati”, conta.

O livro traz a imagem e as histórias das pessoas mais idosas das comunidades, de forma a resgatar o passado dos locais. Um dos entrevistados para a produção do livro foi Mariano Cochinski, de 93 anos, morador de Cerro do Leão. “O Seu Mariano é um preservacionista. Ele tem no terreno dele, milhares de pinheiros que ele plantou. Ele dividiu a terra com os filhos, mas não quer que mexam nos pinheiros. Mesmo antes, que poderia ser cortado, mesmo o pinheiro plantado que pode ser cortado, ele não tira aquele pinheiro de lá. Ele tem uma história de vida muito sacrificada. Já repartiu todas as terras dele. Ele é viúvo, mora com a irmã. Mas ele tem uma riqueza, um brilho naquele olhar para contar a história para nós e uma memória invejável”, disse Dagoberto.

Outra história retratada é de Helena Mikuska Bonki, de Campina de Gonçalves Júnior. “Uma mulher com 94 anos, morando sozinha, porém os netos dela moram em volta e assistem ela todo dia. Numa cadeira de balanço, contou que conhecia meu pai. Nós tínhamos armazém de secos e molhados. Trazia manteiga de carrocinha no nosso armazém. Conhecia a história de Irati. Uma pessoa sofrida. Porém, qual é o diferencial dessa pessoa? A maioria dos eslavos que vieram para o Brasil, a maioria – não é uma questão pejorativa – eles vieram com pouca instrução. Os pais dela eram alfabetizados, eram instruídos. Essa mulher praticamente me falou uma missa em latim. Falou em latim para mim. Cantou músicas em polonês”, relator o autor.

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Nem todas as entrevistas foram fáceis. Dagoberto conta que alguns entrevistados tiveram receio de dar seus depoimentos para o livro. “Eu estava atrás de um senhor. Cheguei, bati. Falei: ‘Aqui que mora fulano de tal?’. A pessoa estava em uma plantação de repolho, na frente da casa. Ele levantou, ficou a uns dez metros do portão. Eu falei o nome e o apelido dele. Ele pôs a mão na cintura e perguntou: ‘Por quê?’. Imagine a desconfiança dos eslavos. Esse era ucraniano. Eu posso falar porque eu também tenho 50% de sangue de ucraniano. Mas depois que eu falei: ‘Porque a pessoa que mais conhece da região, ele pode me contar um causo, estou escrevendo um livro’. Ele pediu para entrar. Fiquei lá duas horas conversando com ele. Hoje é meu amigo. Dançarino de baile aqui do Polonês nas Domingueiras de domingo”, conta.

Um espaço de exposição foi reservado no evento de lançamento do livro onde pode ser observado o equipamento chamado de “jorna”, um tipo de moinho de mão usado pelos descentes de imigrantes. Foto Najuá

O livro traz também histórias e curiosidades dos antepassados, resgatando costumes de épocas passadas como o uso de moinhos coloniais e sobre água do poço. Uma das curiosidades foi vista durante o lançamento do livro no Clube do Comércio, onde foi exposta a chamada jorna, um tipo de moinho de mão usado pelos descentes de imigrantes. “Eu fui me deparar que o interior de Irati teve mais de dez moinhos coloniais. Esses moinhos hoje não existem. Eu retratei em um capítulo, os moinhos da cidade. Alguns até existem, quase centenário, como do Stroparo, a Moageira, que é o nosso grande moinho. Mas lá no Cerro da Ponte Alta, as pessoas europeias, quando vinham para cá, o costume da Europa era sempre comer muito pão. Aqui, na época, quando vieram os antepassados, não havia farinha, não havia pão. Comia-se muito mandioca. Eles tinham um aparelho, feito de madeira com metal, às vezes, até com pedra, que era um moinho de mão. Eles colocavam centeio naquele lugar. Moía uma, duas, três vezes. Peneirava, mas ficava uma farinha grossa e faziam aquele pão, que era o costume deles, da Europa”, explica.

O autor destacou que escrever essas histórias ajuda a eternizar essas pessoas e trazer mais conhecimento sobre os costumes de antigamente.

É uma coisa interessante ver a luta que eles tiveram pela sobrevivência. Os arranjos que eles tiveram para poder executar, fazer aquele sagrado alimento, que era o pão

Entre as lições aprendidas com as pessoas entrevistadas para o livro, Dagoberto conta que está a necessidade do resgate da vida em comunidade que tinha antigamente. “Depois da entrevista, sentado em uma área, eu perguntei para eles: ‘A vida está melhor? Como é que está?’. Ele disse: ‘Está muito mais fácil de viver. Nós estamos pisando em um piso. Nossa casa é de tijolo. Nós temos um banheiro. Temos água. Temos luz. Aqueles tratores, dos meus filhos, ajudam a facilitar o nosso trabalho. Porém, as pessoas não se visitam mais. As pessoas não conversam mais’. Aquilo me tocou porque vamos visitar as pessoas, pega o celular, começa a olhar o celular. Antes era a televisão. Sentavam tudo numa reta só, na frente da televisão. Depois era o celular. Ele disse: ‘Nós íamos de carrocinha visitar nossos amigos, nossos parentes. Levava meio-dia para chegar e meio-dia para voltar. Ficava meio dia lá, a criançada brincando. Voltavam tudo bem, saudável. Trazia ainda os mantimentos que eles davam para nós. Parece que era tudo muito mais alegre e tínhamos menos’. Hoje, no Natal, está sobrando carne, está sobrando cerveja, mas está faltando amor e amizade”, disse.

Com o lançamento do livro, o desafio é estender o projeto para outras cidades. “Eu gostaria até, se a saúde permitir, estender para os outros municípios. Rebouças, Rio Azul, Mallet, Teixeira Soares, Fernando Pinheiro porque é muito rico o nosso interior. Tem muitas histórias de vida impactantes e curiosidades também que não sabemos. Quando escrevemos, nós eternizamos a passagem de alguma pessoa, de alguma família, através do livro”, conta.

O livro “Terra Dobrada– Volume II” tem uma tiragem de 200 exemplares e está sendo vendido no Sebo Centenário, em Irati, a R$ 40. Na mesma noite do lançamento do livro, sexta-feira, dia 02, o casal Ieda e Dagoberto completaram 39 anos de convívio no casamento.

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