Lico Pipoqueiro conta como foi sua recuperação da Covid-19

Lico ficou internado por 40 dias com Covid-19 e teve perdas na família. Ele conta…

11 de agosto de 2021 às 21h36m

Lico ficou internado por 40 dias com Covid-19 e teve perdas na família. Ele conta como foi a experiência de ter a doença e recuperação/Karin Franco, com reportagem de Sidnei Jorge

Lico Pipoqueiro. Foto: Sidnei Jorge (Sidão)

Desde o início da pandemia, foram registrados 8.461 casos de coronavírus em Irati. Um dos moradores infectados foi Rogério Stec, mais conhecido pela população como Lico Pipoqueiro. Ele permaneceu internado 40 dias e chegou a ficar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Irati. Lico contou em entrevista à Rádio Najuá sobre sua experiência com a Covid-19 e como ela impactou a família, que chegou a ter perdas.
Confira o áudio da reportagem no fim do texto

Lico conta que uma das maiores dificuldades é identificar como ocorreu a contaminação. “É uma experiência muito triste mesmo porque você não imagina como você pega, como você contrai. Os dias de angústia, nos dias que está fazendo tratamento, quando você vai para o hospital, e às vezes, te falam para você que você vai ser entubado. Isso é uma coisa muito triste para a gente”, conta.

Mas os momentos mais difíceis foram pouco antes de ser internado na Santa Casa de Irati. “Eu acho que os momentos mais difíceis foram os primeiros dias que eu fiquei no Pronto Atendimento que eu via que a minha recuperação não estava evoluindo, parece que cada vez que era para ir para recuperar mais, ela mais caia para baixo. E a notícia de que o pulmão estava muito cansado e teria que ir para um hospital, uma UTI. Graças à Deus foi conseguido uma vaga na Santa Casa e hoje estamos aí”, afirma.

Outro momento muito incerto foi logo após Lico conseguir sair da UTI. Ele foi para um leito de recuperação, mas seu estado de saúde piorou a ponto de imaginar que pudesse morrer. “No que eu saí da UTI, logo em seguida, umas duas horas depois, que eu já estava na ala de recuperação, me dá um sangramento no meu nariz, estoura uma veia e foi um momento muito triste, porque o pessoal que estava junto no quarto estava apavorado, as enfermeiras não sabiam o que fazer porque estava muito saindo sangue. Chegou um dado momento que até pelas vistas estava saindo [sangue]. Com certeza, neste momento eu pensei na morte porque não ia sobreviver e eu estava a ponto de desmaiar porque não tinha mais o que fazer. Mas graças à Deus, acho que com o dom de Deus que dá para esses profissionais de saúde, o médico conseguiu estancar o sangue e no outro dia eu fui para a cirurgia”, relata.

Durante sua permanência no hospital, Lico acabou tendo uma notícia muito triste. A perda de uma sobrinha que também estava internada com Covid-19. A notícia foi dada por uma psicóloga, que havia sido avisada por uma enfermeira sobre a morte. “Mas é uma dor muito grande. A gente que conviveu com ela, teve na enfermaria. Um dado momento que eles levaram para fazer uma caminhada de recuperação, fisioterapia, ela estava sentada na cama passando a mão na barriga e deu um tchauzinho. Ali, parece que era a despedida dela com a gente. É uma dor muito triste mesmo”, explica.

A perda foi muito sentida pela família, mas o tratamento de Lico continuou e hoje ele já foi liberado da fisioterapia que teve que fazer. “Já estou liberado da fisioterapia, já estou trabalhando, mas não assim, direto. Estou indo devagar. A recuperação neste momento que é mais demorada. Mas não tive falta de ar, não tive cansaço, dor nas pernas. Graças à Deus, para mim não teve sequelas, a única coisa que saí do hospital mesmo foi com diabetes. Mas só que fazendo controle, tudo certinho, vamos seguindo a vida”, disse.

Lico conta que passar pela doença fez com que ele refletisse sobre a vida. “Quando você está lá dentro do hospital, numa situação dessa, você reflete muita coisa. Você tem muito a refletir, muita, pensa muita coisa. Eu particularmente não desejo nem para meu pior inimigo, uma doença como essa daí, porque não tem. Ela é uma doença que vem silenciosa e quando te pega você fica debilitado, você fica sem saber o que fazer. Mas graças à Deus estamos aí e rezo pelos que foram porque eu que tive na UTI, vi muitas pessoas morrendo lá, e não é uma coisa muito boa”, destaca.

As perdas e dificuldades da doença também trouxeram momentos de fé e de carinho. Um dos momentos que mais tocaram a população iratiense foi a ação do filho de Lico, Jean, que mostrou nas redes sociais toda sua fé e mobilização para a cura do pai durante todos os dias em que ele foi internado, chegando até montar uma barraca em frente à Santa Casa de Irati. “Eu soube depois, mais tarde, por causa que ali a gente não tem notícia. Como a gente diz, quem está fora não tem notícia de dentro, quem tá dentro não tem notícia de fora. Depois que fui saber. Eu não sei o que fazer para agradecer o que meu filho fez porque você sabe que filho é filho. A gente ama demais. E o que ele fez por mim, não tem. É sinal que o amor dele por mim é muito grande”, salienta Lico.

A iniciativa de Jean também mobilizou toda a comunidade, que fez uma corrente de orações para Lico se curar. “Eu não tive oportunidade de agradecer, agora que estou tendo uma oportunidade de agradecer. Eu rezo pedindo para Deus proteger todo mundo, abençoar todo mundo e meu muito, mas muito mesmo, obrigado pelas orações, que não fosse pelas orações…ali teve a mão de Deus que me tirou dessa daí. E eu tenho mais uma chance e devo de ter mais uma missão para cumprir na Terra enquanto eu estiver vivo”, disse.

O agradecimento também se estendeu para os profissionais de saúde. Durante a homenagem aos profissionais de saúde feita em frente à Santa Casa no dia 15 de julho, no ato cívico em comemoração aos 114 anos de Irati, Lico também conseguiu agradecer o atendimento e trabalho que os profissionais realizam no município. “Com relação à Santa Casa eu posso te dizer, hoje se eu fosse para dar uma nota para eles eu dava mais de mil. O atendimento, o que eles fazem pela gente, é uma coisa não tem o que a gente fazer para agradecer eles. Eu só digo assim para eles: meu muito obrigado de coração mesmo porque vocês são os anjos para salvar vidas”, destaca.

Ouça o áudio da reportagem

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