Menino era dado como desaparecido e criou uma história mirabolante para despistar a família. Caso ocorreu em maio, mas foi divulgado somente agora

Edilson Kernicki, com reportagem de Élio Kohut

Um adolescente de 15 anos foi encaminhado ao Conselho Tutelar de Prudentópolis ao ser encontrado num posto de gasolina pedindo dinheiro para prosseguir uma viagem. Para angariar recursos para viajar pequenos trechos, de ônibus, ele contava uma história que, depois, acabou levantando suspeitas e que provou não ser verdadeira. O caso aconteceu em maio, porém, o Conselheiro Tutelar Jonacir Gomes Camargo trouxe a público a história somente agora.

De acordo com o conselheiro, o dono do posto onde o menino estava pediu que um funcionário o encaminhasse ao Conselho Tutelar, para ver que tipo de ajuda poderia ser prestada a ele. Ao conversar com Camargo, o garoto teria dito que morava em La Plata, no Paraguai, e que os pais teriam morrido na Rota 16, na Argentina. “Ele disse que tinha ficado em casa, os pais tinham viajado e que morreram os dois num acidente. Por esse motivo, ele relatou que ficou sozinho em casa e saiu”, relata.

Ocorre que a história não convence desde o início: a cidade de La Plata fica na Argentina, e não no Paraguai. É a capital da província de Buenos Aires e fica a 1722km de Prudentópolis (em linha reta). A Rota Nacional 16, por sua vez, fica na Argentina. Mas não passa nem perto da fronteira com o Paraguai. O mais próximo dela é a cidade de Corrientes, que fica a 222,6km de Paso de La Patria (Paraguai), através da Rota Nacional 11, único caminho possível a seco. A alternativa seria ir a nado pelo Rio Paraná, algo pouco provável. Já a cidade de Corrientes, um dos extremos da Rota Nacional 16, onde os pais do menino teriam morrido, fica a 975km de La Plata, onde eles morariam.

O menino disse, ainda, que pegou carona num trem e que perdeu a documentação pessoal ao saltar dele e que, posteriormente, teria ganhado uma bicicleta, com a qual veio até Prudentópolis.

“Fizemos o atendimento e aplicamos as medidas, por esse Conselho, e encaminhamos o adolescente até a casa de acolhimento”, prossegue Camargo. A equipe da casa de acolhimento acabou descobrindo que os pais do adolescente, na verdade, estão vivos e que a história era toda inventada. A família do garoto, de fato, reside na comunidade de Paraisópolis – a mesma que é retratada na novela das 19h, da Globo, distante 508,5km de Prudentópolis, via PR-151.

O Conselho Tutelar descobriu o endereço da família do adolescente ao entrar em contato com a equipe do CREAS de Paraisópolis, onde ele era atendido. Assim, conseguiu falar com o pai do menino, que já tinha registrado um boletim sobre o desaparecimento do filho. O pai do menino acabou vindo de São Paulo até Prudentópolis para reencontrar o menino e ambos retornaram para casa.

De fato, o garoto tinha vindo desde Paraisópolis até a cidade de Registro (SP) a pé – uma distância de 192,1km, pela BR-116. Em Registro, o adolescente ganhou uma bicicleta, que usou durante boa parte do trajeto. Para comer e dormir, contava com doações em dinheiro das pessoas dos locais por onde passou. Em alguns trechos, viajava de ônibus, colocando a bicicleta no bagageiro, quando permitiam, até parar em Prudentópolis.

Conselheiro Tutelar Jonacir Gomes Camargo contou detalhes da história mirabolante relatada pela menino