Pagamento por quimioterapia e radioterapia podem tirar instituição de crise que se arrasta há anos e agrava com o aumento da demanda por serviços básicos, conforme o vereador, que é médico e atua no hospital/Jussara Harmuch
O tema saúde predominou na sessão semanal da Câmara de Irati realizada na terça-feira. Além da resposta sobre os atendimentos a pacientes com câncer encaminhada pelo chefe da 4ª Regional de Saúde, este mesmo assunto voltou no pronunciamento do Doutor João Henrique Sabag Duarte (PV). O parlamentar, que é médico e atua na Santa Casa de Irati, quer criar uma frente de apoio para trazer os tratamentos de quimioterapia e radioterapia, oferecidos por esta instituição hospitalar, que é referência regional.
João Henrique contou que vários hospitais começaram a oferecer tratamento de oncologia durante a pandemia para sair do prejuízo e que este tipo de atendimento dá lucro. Então, ele acha que a Santa Casa deve se credenciar, já que está em situação financeira de insolvência.
Para ele, está se fazendo muita política em cima dos pacientes e o atendimento total não está sendo prestado. O que é este atendimento total? É além de oferecer a quimioterapia e a radioterapia, atender o paciente que, independente do tratamento, entra em fase terminal. Estes pacientes “vão morrer na Santa Casa de Irati”, relatou o vereador.
“Levanto a bandeira hoje de nós contarmos com um serviço de oncologia na nossa cidade, na nossa Santa Casa. A Santa Casa tem estrutura para isso. Lutemos para ter a nossa rádio, a nossa onco e principalmente para que tratemos dos pacientes com integralidade e com respeito e não com politicagem. Eu, Dr. João Henrique, sei quanto se paga por uma AIH [autorização de internação hospitalar] de quimioterapia e radioterapia e eu sei que os pacientes, quando é para fazer rádio e quimio e deu bom, quando é na terminalidade vai para casa e morre em casa. Quimioterapia dá lucro. Por que você acha que o Angelina Caron montou oncologia, por que a Santa Casa de Ponta Grossa montou, porque o Evangélico montou? De bonito? Não, crise financeira, a salvação da pátria”.
Chamou atenção o “puxão de orelha” do Dr. João nos prefeitos de municípios que não oferecem atendimento básico adequado, não possuem unidade 24 horas e acabam obrigando pacientes a procurar a Santa Casa, o que aumenta a demanda nos serviços básicos que o SUS entende, deveriam ser feitos nos postos de saúde. Dos nove municípios atendidos, quatro têm hospital de pequeno porte e dois tem apenas posto de saúde com horários restritos e não possuem pronto atendimento 24 horas.
“A realidade da nossa região tem ocasionado uma grande demanda de pacientes que poderiam ser atendidos nos próprios municípios e estão sendo encaminhados à Santa Casa aumentando ainda mais os custos operacionais. Existem municípios aqui da região que não fazem o dever de casa. Não tem nem um pronto atendimento para atendimento durante a noite. Então senhores prefeitos, vamos fazer a tarefa de casa”, solicitou o médico.
Por não haver complexidade, a remuneração para este tipo de atendimento é extremamente baixa comparando a uma sessão de quimioterapia. A Najuá procurou saber quanto se paga e encontrou o valor médio de R$ 1.700,00 por sessão de quimioterapia, enquanto o SUS paga apenas em torno de 15 reais por consultas ambulatoriais.
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Em 25 de janeiro de 2023, o secretário de Estado da Saúde, Beto Preto, esteve em Irati para anunciar a liberação de mais de R$ 32 milhões para a região, R$ 2 milhões e 816 mil em equipamentos para a Santa Casa.
Parece reprise de filme, a exato um ano o provedor da Santa Casa de Irati, Ladislao Obrzut Neto, e o diretor administrativo, Sidnei Barankievicz, apresentaram no programa “Meio Dia em Notícias”, o balanço financeiro da instituição para demonstrar que a conta não fecha e não é de hoje, a situação já vem se agravando ano após ano, obrigando, inclusive, o hospital a contrair empréstimos para honrar dívidas. O déficit mensal estava na casa de R$ 462 mil. “A Prefeitura de Irati nos ajuda com R$ 100 mil. O restante dos outros municípios, só através da contratualização”, contou o provedor em entrevista à Najuá em 27 de abril de 2022. Na ocasião, Ladislau informou que as verbas de emendas parlamentares são direcionadas para compra de aparelhos e não para custeio.
Também no mês de abril, só que no ano de 2016, o então chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni e os Deputados Estaduais Artagão Junior e Alexandre Curi se reuniram para tratar de um convênio no valor de R$ 200 mil reais mensais para a Santa Casa de Irati.
Balanço apresentado pela Santa Casa mostra que o número de atendimentos mês é de 500 internamentos; mais de 1.500 exames laboratoriais; 2.000 exames de imagem; mais de 1.600 atendimentos no pronto socorro, 130 partos cesáreas e mais de 230 cirurgias.
O SUS é o principal financiador, custeando 80% destes atendimentos, os outros 20% vêm de convênios e particulares (apenas 6% de convênio).
O custo mensal operacional para manutenção dos serviços é de R$ 2 milhões e 800 mil, mas o hospital fatura R$ 2 milhões e 400 mil, sendo R$ 1 milhão e 545 mil vindos da esfera federal e estadual e R$ 855 mil de convênios e particulares, o que resulta num déficit de R$ 400 mil por mês.
São 320 funcionários e 45 médicos contratados para atender 180 mil pessoas (área de abrangência da Amcespar). A folha de pagamento é responsável por 72% dos gastos, são 2 milhões, para pagar salários. O restante dos gastos são: 250 mil em medicamentos; 50 mil com água luz e gás; 30 mil com material limpeza; 70 mil em alimentação e o pagamento de um empréstimo no valor de 170 mil.