Em entrevista à Najuá, a turismóloga, Samanta Regina dos Santos Ferreira, contou como foi o período de internamento e a continuidade do tratamento em casa/Karin Franco, com reportagem de Rodrigo Zub e Paulo Sava
Imagem do dia que Samanta recebeu alta da Santa Casa. Ela aparece ao lado da fisioterapeuta e das técnicas de enfermagem do hospital. Foto: Assessoria da Santa Casa de Irati |
A turismóloga, Samanta Regina dos Santos Ferreira, se considerava uma pessoa saudável até que foi diagnosticada com Covid-19 no último mês de março. A doença a levou a ficar sete dias internada na Santa Casa de Irati. “Eu me considerava uma pessoa saudável. Uma pessoa com 37 anos. Uma pessoa nova com a correria do dia a dia do trabalho, mas uma vida normal. Não imaginei que passaria pelo que passei. Não imaginei que ficaria na situação que fiquei”, contou Samanta, que concedeu entrevista à Najuá na segunda-feira, 5.
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Ela começou a sentir os primeiros sintomas no dia 14 de março. “No dia 14, no domingo, eu passei super bem o dia todo. No final da tarde, começo da noite, eu comecei a sentir uma leve dor de cabeça e durante a madrugada, eu acordei com muita dor no corpo. É uma dor muito diferente. Diferente de dores musculares, dores de gripe, eu digo que é totalmente diferente”, disse.
Durante a noite, Samanta decidiu que faria o exame ainda na segunda-feira, 15. O recomendável para o exame de diagnóstico do coronavírus é que ele seja feito a partir do terceiro dia após o aparecimento dos sintomas. Se feito antes, pode haver um resultado falso, já que o exame não conseguiria diagnosticar corretamente. Mesmo assim, ela decidiu fazer. “Mas eles pedem três dias de sintomas. Então, eu decidi fazer particular o exame. Fui até o laboratório, e conversei com o dono do laboratório. Ele falou: ‘Vamos fazer para sair da cisma, Samanta, porque ele pode dar um falso negativo porque são 12 horas de sintomas’”, relata.
Apesar de ser ainda cedo, o resultado surpreendeu pela quantidade de carga viral. “Após dez minutos do exame, o dono do laboratório me chamou impressionado com a quantidade de carga viral que já estava aparecendo no meu exame. Com 12 horas de sintomas”, disse Samanta.
Com o diagnóstico, a Vigilância Epidemiológica já entrou em contato com ela. “Nesse mesmo dia, no dia 15, que fiz o exame pela manhã, o pessoal da Epidemiologia já entrou em contato comigo. Todos da Epidemiologia muito prontos a atender, a explicar, a nos orientar. Fui encaminhada para o posto do bairro Joaquim Zarpelon, onde passei por consulta, onde entraram com medicamento”, contou.
Além das dores no corpo, Samanta contou que não sentiu maiores sintomas nos primeiros dias, nem mesmo febre. Foi no quarto dia após o aparecimento dos primeiros sintomas que ela começou a sentir uma piora. “Muita fadiga, cansaço, fraqueza. Até que na sexta-feira eu não aguentava mais. Era uma sensação de morte. Uma sensação horrível. O meu marido entrou em contato com o Doutor João Henrique no hospital e o Dr. João falou: ‘Traga ela para cá. Vamos fazer uma tomografia, vamos fazer o exame nela’. Onde eu fui, na sexta-feira, no final da tarde, para o hospital e não sai mais durante sete dias”, disse.
Quando chegou no hospital, apenas 5% do pulmão estava comprometido. Mesmo não tendo uma porcentagem alta de comprometimento do pulmão, o pouco que foi comprometido fez ela ter que ser internada na enfermaria. Contudo, os leitos da Santa Casa estavam lotados, como também os leitos da Unidade de Pronto Atendimento da Vila São João.
Assim, haviam apenas duas opções para que o marido de Samanta decidisse. “A opção era no outro dia pela manhã. Eu ficaria no aguardo ou no Pronto Atendimento lá, num quarto lá embaixo, aguardando e no outro dia entraria como particular. E foi a opção que o meu marido fez. Ou eu teria que ir para a UPA aguardar uma vaga, assim como todos que passam pelo SUS e acontece”, conta.
Após ser internada de modo particular, Samanta começou a passar pelos exames diários realizados durante sua estadia no hospital, que traz cicatrizes até hoje. “Todo santo dia eles faziam a gasometria. Mesmo depois de dez dias, da saída do hospital, eu ainda estou com os hematomas porque na gasometria, o sangue é retirado da artéria. É um exame de sangue, mas é um exame muito doido. Tem que tirar da artéria. Todo santo dia eles faziam esse exame para ver como estava a oxigenação do meu sangue”, disse.
Samanta também repetia outros exames. “Eu repetia a tomografia novamente, depois de dois dias. A qual o doutor viu que tinha piorado e no caso, não recebia alta, continuei por mais alguns dias”, relata.
Enquanto estava internada, Samanta acompanhava a rotina no hospital superlotado. A proximidade fazia com que ela pudesse ver o que enfermeiros e médicos enfrentavam no dia a dia. “Eu enquanto estava no Pronto Atendimento, eu vi gente chegando, sendo entubada no quarto ao lado e os médicos tentando salvar vidas, algumas não conseguiram. Mesmo quando estava no hospital, no quarto, eu vibrava e torcia para cada um que ganhava alta. E era aquela coisa assim: cinco recebendo alta num dia, saindo, as enfermeiras fazendo festa, agradecendo a Deus por estarem saindo. E no mesmo momento que cinco saiam, era correria porque já estava na fila mais cinco para entrar. Fora os outros que estavam no aguardo”, afirmou.
Samanta não precisou ser entubada, mas passou os sete dias internada na enfermaria da Santa Casa. Após a alta, ela ainda segue em recuperação na sua casa, o que deve durar um mês. “Estou tomando ainda corticoide. Estou tomando vários remédios ainda. É um tratamento por um mês ainda de medicação. Fora a inalação que eu faço duas vezes por dia e fora a fisioterapia para o pulmão que estou fazendo também”, conta.
A fisioterapia para o pulmão é necessária devido ao enfraquecimento do corpo após a doença. Segundo Samanta, ela ainda sente muito cansaço. “É um cansaço fora do comum. Poucos passos que a gente dá, essa boca seca o tempo todo, boca amarga. E essa [suspiro] que você tem de fazer força para respirar. Então, por isso a fisioterapia do pulmão para a gente fortalecer novamente”, relata.
A perda muscular foi outra consequência da doença. “Toda a massa magra, eu perdi. Eu sinto que perdi toda a massa magra do corpo”, disse. Agora, o dia a dia de Samanta é focado em sua recuperação. “Eu fico mais descansando. Ou estou mais sentada, estou deitada. Os movimentos são poucos. Da cama da cozinha, para comer, é voltar. Um simples banho, após o banho tenho que deitar porque é muita canseira, muita fadiga. Tenho que deitar de bruços muitas vezes para recompor o ar, principalmente. Muito cuidado. Remédio sempre na hora certa. Muita proteína, comer muita proteína, tomar muito líquido. Que agora é a hora da recuperação realmente”, conta.
Para Samanta, sua fé foi importante para conseguir atravessar esse período. “Deus me sustentou a todo momento dentro do hospital. Ele que não me deixou cair em desespero. Ele que não me deixou cair em pânico, porque quando você está dentro do hospital, escutando tudo que está acontecendo ao redor, escutando as pessoas passando mal, com falta de ar, escutando correria para tentar salvar vidas, isso te abala emocionalmente. Mas eu até falo assim, que Deus me mandou para o deserto, mas ele não me deixou sozinho lá. Ele me amparou a todo o momento. Ele ficou comigo”, disse.
Outro grande apoio foi sua família. “A força que a minha família me deu. Meu marido, meu filho, minha mãe, minha irmã. Todos os meus familiares e amigos porque eu me senti muito amada nesses momentos que tive lá, porque foram muitas mensagens de carinho e de oração”, relata.
Além de Samanta, a doença também atingiu seu marido Edmilson José Ferreira Júnior, que não teve sintomas mais graves. Já o filho Lucas Emanuel Ferreira, de seis anos, realizou o teste, mas teve resultado negativo. Ou seja, ele não foi contaminado.
Samanta conta que não sabe como pegou o vírus. Trabalhando na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Irati, ela já teve uma colega diagnosticada com a doença. Porém, a funcionária adoeceu muito antes. Por esse motivo, Samanta não acredita que foi contaminada durante esse contato.
A turismóloga destaca que as pessoas devem manter os cuidados de higiene e isolamento para evitar a contaminação. “Não é momento para festas, não é momento de se aglomerar, não é momento de achar que você é um super-herói, que você está imune a isso. A maioria das pessoas que estavam no hospital nos dias que eu estava eram da minha faixa etária. Eram pessoas novas. Se cuidem, por favor, se cuidem. É isso que peço”, disse.
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