Gê Castilho, que já trabalhou no Iraty, é preparador físico do clube pernambucano que busca uma vaga na elite do futebol brasileiro em 2016
Edilson Kernicki, com reportagem de Rodrigo Zub
Um dos responsáveis pela 28ª título pernambucano do Santa Cruz é o iratiense Gê Castilho, que já trabalhou no Iraty Sport Club e hoje é preparador físico do time nordestino, ao lado do técnico Ricardinho (ex-Paraná Clube). O gol da vitória, no jogo de volta da disputa da final, veio apenas aos 24 minutos do 2º tempo, nos pés de Anderson Aquino, que era a surpresa na escalação do treinador. O clube conquistou o quarto título estadual nos últimos cinco anos, num jogo que terminou em 1 a 0 contra o Salgueiro. A final foi disputada no dia 3 de maio no estádio do Arruda.
Em entrevista a reportagem da Najuá, o preparador físico Gê Castilho avaliou a campanha do time pernambucano e disse que a conquista foi resultado de um bom trabalho conjunto. Contudo, ele pondera que houve dificuldades para coordenar e preparar a equipe, pois, do time que ficou em 6º lugar na Série B do Brasileiro em 2014, foram dispensados 20 jogadores. A solicitação da diretoria do clube, com a chegada de Gê Castilho e de Ricardinho para a comissão técnica, era a de renovação, com novos atletas. “Foram contratados 18 novos jogadores. Com mais alguns, que sobraram e ficaram aqui. Começamos a montar um grupo e a tentar dar um padrão de jogo com essa reformulação de equipe”, destaca Gê Castilho.
Segundo ele, a principal dificuldade foi a desconfiança diante da reformulação, uma vez que o Santa Cruz é “um clube de massa, uma torcida muito grande. A paciência do torcedor e da imprensa é muito menor”, observa. Gê Castilho ressalta que, nessa fase de adaptação, houve cobrança da torcida e, até acertar o esquema tático e definir padrões de jogo, foram necessárias substituições. “Da metade da competição em diante o time encaixou, começou a fazer bons jogos e, graças a Deus, conseguiu chegar bem às finais e conseguiu esse título, o que é muito importante para o início de trabalho”, comenta o preparador físico.
Gê Castilho também falou a respeito da dobradinha ao lado do técnico Ricardinho, com quem estabeleceu parceria desde 2012, quando então trabalharam no Paraná Clube. De lá para cá, a dupla já passou também pelo Ceará (CE), pelo Avaí (SC) e teve um retorno ao Paraná Clube em 2014, de onde migraram para o Santa Cruz, em 2015. “Quanto você tem confiança no trabalho de uma pessoa, ele começa a desenvolver bem, porque você tem total liberdade de fazer o que pensa, aplicando toda a metodologia na qual você acredita. Ajuda muito ter a segurança de poder fazer o melhor, sabendo que está totalmente respaldado pelo comandante”, pondera.
O preparador físico compara a diferença entre trabalhar com times do Sul (Iraty, Avaí e Paraná Clube) com os do Nordeste (Ceará e Santa Cruz). Basicamente, ele cita que a diferença entre eles é o fato de tanto o Ceará quanto o Santa Cruz serem “times de massa”, ou seja, com numerosa torcida. “São torcidas muito grandes e muito participativas. No Sul, são torcidas grandes também, mas a grande diferença é a paixão do torcedor, que é muito diferente dos times do Sul. Aqui, o pessoal vive o futebol, vive em função disso”, observa. “Os estádios sempre estão cheios, treinamentos cheios. Para se ter uma ideia, no treinamento do Santa Cruz, dependendo da semana, chega a dar entre 3 mil até 4 mil pessoas, num treino em meio de semana, na terça ou quarta-feira”, destaca Castilho. Ele observa que anualmente a Copa Nordeste bate recorde de público, sendo o campeonato de futebol brasileiro com maior bilheteria.
Série B
Gê Castilho comentou sobre a participação do Santa Cruz na Série B do Brasileiro. A equipe pernambucana estreou com derrota para o Macaé (RJ), no sábado (9).
Para o preparador físico, a participação na segunda divisão do Brasileiro é um passo importante para o time. “Muitas equipes fazem um campeonato estadual com pouco investimento e no início da Série B começam a fazer suas contratações, para na metade da competição conseguir encaixar. Acredito muito que o Santa Cruz dê um passo importante, porque já fez um time muito forte, muito bom para o Estadual”, compara. Na análise do preparador, com a equipe já composta, o Santa Cruz estaria 80% pronto para disputar a Série B. Mesmo assim, Gê diz que duas contratações deixariam o time no ponto ideal de competição.
O preparador se baseia na observação dos campeonatos anteriores, em que Criciúma (SC) e Chapecoense (SC) subiram, porque já tinham equipes fortes logo no início da Série B e começaram o campeonato vencendo partidas e abrindo vantagem. “Quando outras equipes começaram a se encaixar, lá pela 13ª rodada, cada um já tinha ganhado umas 10 partidas e tinham 30 pontos e depois disso foi só administrar. Nossa equipe já vem montada, encaixada e a conquista desse título nos dá confiança e moral”, comenta.
Gê acredita que para uma boa campanha, o time depende de um bom início no campeonato. Resta agora correr atrás do prejuízo dessa primeira rodada no jogo desta sexta (15), quando enfrenta o Paraná em casa, no Estádio do Arruda, em Recife. “É uma equipe boa e um clube que depende muito de ir bem nesse início. Se o Santa Cruz, com a torcida que tem, iniciar bem esse campeonato, a torcida leva esse campeonato. É difícil jogar contra o Santa Cruz aqui, porque ele tem uma média de público de 20 a 30 mil pessoas, quando é pouco; se estiver bem, são 50 mil pessoas no estádio em todo jogo, independente do dia e contra quem for”, afirma o preparador.
Mesmo ao lado de clubes de renome, como o Botafogo (RJ), o Bahia e o Vitória (BA), Gê Castilho afirma que o Santa Cruz tem condições de estar entre os quatro que sobem para a 1ª Divisão em 2016. “O Botafogo é uma grande equipe no cenário nacional e equipes que caem vêm com um orçamento da TV quase dez vezes maior, financeiramente, que das equipes que estão na [Série] B. Sempre o primeiro ano das equipes da Série A que caem para a Série B, permanece com o mesmo investimento da televisão”, informa.
O preparador opina que o poderio financeiro desses clubes pode vir a favorecê-los no campeonato em relação aos demais e, por isso, abrir alguma vantagem na tabela de pontos, “não pelas equipes que têm no momento, mas sim pela situação financeira e pelos recursos que eles precisem gastar [durante o campeonato]”, complementa. Já em nível técnico, Gê Castilho aposta no Santa Cruz como um entre os seis ou sete clubes que irão brigar pelas quatro vagas na Série A. Nessa lista, ele inclui: Vitória, Bahia, Botafogo, Ceará, Criciúma, Santa Cruz e América (MG).
Crise do Paraná Clube
Gê Castilho falou ainda sobre a situação do Paraná Clube, que está com problemas financeiros, fez uma campanha fraca no Paranaense e já foi eliminado da Copa do Brasil pelo Jacuipense (BA). O preparador, que esteve junto ao clube em duas oportunidades – em 2012 e no ano passado, avalia que dificuldades financeiras interferem no resultado dentro de campo. Disse que tem amigos que ainda trabalham no Paraná Clube e que torce por sua recuperação. “A situação é difícil não só no futebol, mas em qualquer empresa em que se atrasem salários, é difícil haver rendimento”, sintetiza.
O preparador físico lembrou que, na sua última passagem pelo clube no ano passado, havia atletas no Paraná Clube com até seis salários atrasados. “Assim é difícil motivar um atleta. É difícil uma equipe que mantenha um atraso desse e consiga alcançar seu objetivo, porque chega uma hora em que o atleta não tem como se manter, muito problema, então o resultado não vem”, opina.